MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado da Bahia



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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado da Bahia Excelentíssimo(a) Senhor(a) Juiz(a) Federal da Vara da Seção Judiciária do Estado da Bahia O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio da procuradora da República infrafirmada, no uso de suas atribuições legais, e com base nos arts. 5º, XXXII, 6º, 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988, nos artigos 5º, inciso VI, artigo 6º, inciso VII, alínea "c" e 39, inciso III, da Lei Complementar nº 75/93 e artigo 1º da Lei nº 7.347/85 e nos artigos 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8.078/90, vem propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDOS DE APRECIAÇÃO EM CARÁTER LIMINAR, em face de: 1) CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF), instituição financeira constituída sob a forma de empresa pública, CNPJ nº 00.360.305/0001-04, com sede no Setor Bancário Sul, Quadra 4, lotes 13/4, em Brasília DF; representada nesta Capital por seu Escritório de Negócios com endereço na Avenida Sete de Setembro, n.º955, Mercês, Salvador BA; 2) CONCIC ENGENHARIA S/A pessoa jurídica de direito privado, constituída sob a forma de

sociedade anônima aberta, inscrita no CNPJ sob nº 15.103.039/0001-01, com sede na Av. Luiz Tarquínio Pontes, Quadra A1 Lote 5 S/201, Bairro Pitangueiras, Município de Lauro de Freitas, BA, CEP 41700-000. 3) CAIXA SEGURADORA S/A pessoa jurídica de direito privado, constituída sob a forma de sociedade anônima fechada, inscrita no CNPJ sob nº 34.020.354/0001-10, com sede em Brasília, no SCN, Quadra 1, Lote A, Edifício Number One, 3º andar, e filial neste Estado, em Salvador/BA, Rua Dr. José Peroba, nº 349, Ed. Empresarial Costa Azul, Térreo, Bairro STIEP. 4) COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 15.144.017/0001-90, com sede nesta capital, na Rua Pinto Martins, nº 11, Edifício Comendador Pedreira, Comércio, CEP 40015-020. expostos: pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir 1. OBJETIVO DA AÇÃO A presente ação busca defender a coletividade de consumidores mutuários da Caixa Econômica Federal, em especial os moradores do Conjunto Residencial Sussuarana, nesta Capital, tendo em vista os vícios de construção que comprometeram as edificações que conformam o referido Conjunto, caracterizados em diferentes laudos técnicos que instruem a presente ação, e que chegaram a tal ordem que determinaram a interdição, pela Defesa Civil, de unidades habitacionais, em vista do risco de desmoronamento que ofereciam. Pretende-se demonstrar, na hipótese, que a primeira demandada, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, faltou com o dever de fiscalização e acompanhamento da obra; que a segunda 2

demandada, a CONCIC ENGENHARIA S/A, faltou com a obrigação contratual e ética de executar serviços de boa qualidade e, por fim, que a terceira e a quarta demandada, CAIXA SEGURADORA S/A e COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA, faltaram com a obrigação de proceder à restauração imediata e aos ressarcimentos devidos; motivos pelos quais os moradores acabaram sendo desrespeitados tanto como consumidores quanto como cidadãos, provocando assim a intervenção do Ministério Público Federal para equilibrar esta desigual relação de consumo. 2. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL O Ministério Público, elevado à categoria de Instituição permanente e indispensável à função jurisdicional do Estado, nos termos do art. 127 da Constituição de 1988, tem como funções precípuas a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Cumpre destacar que a defesa do consumidor é obrigação do Estado, erigida em garantia fundamental, conforme se constata da redação do inciso XXXII, do artigo 5. do Texto Constitucional, abaixo transcrito, in verbis: Art. 5.º (...) XXXII O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (grifou-se) No caso versado nos autos, a defesa do consumidor está sendo efetuada pelo Ministério Público Federal, tanto por dever constitucional, como por dever legal, em face das disposições do artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, dos artigos 5º, 6º e 39 da Lei Complementar nº 75/93, do artigo 1º da Lei nº 7347/85 e, também dos artigos 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8078/90. A jurisprudência tem firmado entendimento no sentido da legitimidade ativa do Ministério Público para a propositura de ações visando à defesa de interesses individuais homogêneos em relações de consumo, bem como da legitimidade de instituições financeiras para figurarem no pólo passivo como fornecedoras, conforme se extrai do julgado do Tribunal Regional Federal da 3ª Região: 3

ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA, LEGITIMIDADE, MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, REBATE DA COBERTURA DO PROAGRO. 1. O Banco Central do Brasil é Administrador do PROAGRO, sendo que seus recursos são geridos e liberados pela autarquia. Nessa qualidade, o BACEN é parte legítima para figurar no pólo passivo de relação processual. 2. Omissis; 3. O Ministério Público Federal é parte legítima, como substituto processual, para promover a Ação Civil Pública, relativamente a defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, estes últimos restritos a danos decorrentes de relações de consumo (artigo 81, parágrafo único, inciso III e 91 da Lei nº 8078/90). Em casos excepcionais, mesmo na ausência de autorização legal, o Ministério Público Federal pode atuar como substituto processual, na defesa de interesses individuais homogêneos que tenham significação social relevante (art. 127, da Constituição Federal).4. O Ministério Público Federal tem legitimidade para a propositura da presente Ação Civil Pública, como substituto processual dos produtores, titulares de interesses individual homogêneo, na qualidade de consumidores do Serviço Securitário do PRODAGRO. (TRF 3ª Região, AC 03007950-9/94, Dec. 05/12/1995, DJ 31/01/96) Compartilha do mesmo entendimento o renomado doutrinador Nelson Nery Júnior, cuja lição segue transcrita: Como é função institucional do Ministério Público a defesa dos interesses sociais (art. 127, caput, CF), essa atribuição dada pelo art. 82 do CDC obedece ao disposto no art. 129, n. IX, da 4

CF, pois a defesa coletiva do consumidor, no que tange a qualquer espécie de seus direitos (difusos, coletivos ou individuais homogêneos) é, ex vi, de interesse social no ajuizamento de ações coletivas. Consulta aos interesses de toda a sociedade, o fato de ajuizar-se uma demanda apenas, cujo objetivo seja solucionar conflitos coletivos (coletivos strictu sensu ou individuais homogêneos) ou difusos. Assim, a simples circunstância de a lei haver criado uma ação coletiva, o seu exercício já é de interesse social, independentemente do direito material nela discutido. (...) Pode o Ministério Público ajuizar qualquer demanda coletiva, na defesa de qualquer direito que possa ser defendido por meio de ação coletiva (difuso, coletivo ou individual homogêneo). ( O Ministério Público e as Ações Coletivas, in MILARÉ, Edis. Ação Civil Pública. Lei 7.347/85 Reminiscências e Reflexões após dez anos de aplicação. São Paulo: RT, 1995). A presente Ação Civil Pública visa a defender os interesses individuais homogêneos dos consumidores, mutuários da Caixa Econômica Federal, em face de vícios de construção que acometeram os imóveis adquiridos pelo Sistema Financeiro de Habitação e, até a presente data, em decorrência da mora na execução dos serviços de recuperação do prédio, sofrem as conseqüências deste fato. Ademais, o interesse aqui tutelado apresenta-se como de interesse público, revestindo-se de grande relevância social, eis que envolve o direito de moradia e as políticas públicas encetadas para sua efetivação. O Direito de moradia é direito fundamental positivado no art. 6º da Constituição Federal e diretamente ligado ao direito fundamental da dignidade da pessoa humana, art. 1º, III, da Constituição Federal. 5

Nesse sentido já tendo decidido o STJ, no pertinente à legitimidade do Ministério Público: Processual civil e SFH. Recurso especial. Ação civil pública. Direitos individuais homogêneos. Ministério Público. Legitimidade. - Os interesses individuais homogêneos são considerados relevantes por si mesmos, sendo desnecessária a comprovação desta relevância. - O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública na defesa de interesses individuais homogêneos referentes aos contratos de mútuo vinculados ao Sistema Financeiro de Habitação, porquanto é interesse que alcança toda a coletividade a ostentar por si só relevância social. - O Código de Defesa do Consumidor incide nos contratos vinculados ao Sistema Financeiro de Habitação. - Recurso especial conhecido e provido. (STJ. RESP nº 635807/CE. Rel. Min. NANCY ANDRIGHI. DJ. 20.06.2005). Portanto, demonstrada a legitimidade ativa do Ministério Público Federal para a propositura da presente Ação Civil Pública, sendo competente a Seção Judiciária da Justiça Federal no Estado da Bahia para processar e julgar o feito, pois a demanda envolve diretamente a Caixa Econômica Federal, empresa pública federal, cujo foro decorre do art. 109, inciso I, da Constituição Federal. 3. DOS FATOS Em meados da década passada, foi edificado nesta capital o Conjunto Habitacional Sussuarana, composto por 46 (quarenta e seis) blocos de apartamentos, financiados com recursos oriundos do FGTS pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, na qualidade de agente do Sistema Financeiro da Habitação. A empresa contratada para a construção foi a CONCIC ENGENHARIA S/A (cópia 6

do contrato às fls. 65/95 do Procedimento Administrativo MPF nº 1.14.000.000240/2000-71; cópia de contrato de mútuo às fls. 18/28). A contração dos seguros obrigatórios foi feita junto à COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA (fls. 62/64). As reclamações dos moradores do Conjunto Habitacional Sussuarana, mutuários da Caixa Econômica Federal, junto a este Órgão Ministerial datam de abril do ano 2000, quando foi instaurado o Procedimento Administrativo nº 1.14.000.000240/2000-71, que instrui a presente petição. Os vícios, então reclamados, consistiam em rachaduras nas paredes e infiltrações, que, de acordo com os moradores, eram progressivos e comprometiam as estruturas da edificação. O histórico dos problemas naquele conjunto habitacional, entretanto, é ainda mais antigo e remonta ao período da sua construção, pois logo após a sua conclusão se evidenciaram graves vícios construtivos, resultado, principalmente, da utilização de escória siderúrgica no lugar de brita, sem o devido ensaio do material, na composição do concreto utilizado em placas pré-moldadas. Os danos resultantes revelaram-se progressivos, conduzindo à condenação de vários blocos, por ameaça de desmoronamento. Tal fato foi comprovado através de vários laudos juntados ao Procedimento Administrativo do MPF. Entre eles, o Laudo de Vistoria Especial, produzido em 03/09/1996 (fls. 439-443 do Procedimento Administrativo), que embasou a intervenção inicial da CAIXA SEGURADORA S/A. Esse laudo indica:...o construtor usou como material de construção em substituição à brita, escória de usina siderúrgica, especificamente da USIBA, na composição do concreto que foi utilizado na moldagem das placas... sem que fosse efetuado teste ou ensaio sobre o produto, no sentido de ser determinado as condições mínimas de durabilidade, resistência, 7

etc. desobedecendo frontalmente as normas NBR-7211 E 1265/92, no seu item 004. (fls. 439) O sinistro foi provocado pelo uso de material inadequado na composição do concreto que foram moldadas as placas. Salientamos que sequer foram feitos testes de tal material (escória metalúrgica) para comprovar sua resistência e reações com tal uso. (fl. 440). o sinistro foi causado exclusivamente pela expansão do material utilizado (escória metalúrgica) na obra, provocando assim a deterioração das placas de sustentação dos imóveis (fl. 440). Recomendamos a desocupação em caráter de URGÊNCIA dos Blocos 02 e 09 da Quadra 03 e do Bloco XV, pois constatamos caraceterísticas inequívocas de perigo de desabamento. (fl. 442) Houve também, em 09/08/2004, perícia realizada por comissão designada pelo Ministério Público do Estado da Bahia, com participação da Associação de Moradores, do CREA, da SUCOM, da CODESAL, da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, da CAIXA SEGURADORA S/A, cujo laudo, fls. 389/395 do Procedimento Administrativo MPF, indica: o conjunto foi construído em desacordo com a Norma Técnica ABNT para Concreto Armado - NB1 vigente à época da construção. (fl. 391) Os imóveis possuem aproximadamente 10 (dez) anos de construído, tendo sido observado o início das patologias há cerca de 08 (oito) anos, havendo progressão das mesmas, até a presente data. Em inobservância do prescrito nas normas técnicas quanto à vida útil das edificações, verificou-se que o estado apresentado nas 8

edificações em análise, não é comum em face da precocidade da manifestação das patologias. (fl. 392) No referido laudo consta, ainda, o seguinte quesito e resposta: O restante do conjunto, não relacionado acima, pode ser atingido?, respondeu: Sim, Estamos tratando do conjunto como um todo, não de edificações isoladas. A precoce evidenciação dos vícios provocou inclusive a suspensão do projeto inicial, que previa a construção de um total de sessenta e um (61) blocos de apartamentos. Já em 1997 houve o primeiro aviso de sinistro caracterizado na comprovada ameaça de desmoronamento, com cobertura reconhecida pela Seguradora, documento de fls. 643/652. Seguiu-se a demolição e reconstrução de cinco (5) dos blocos edificados, pois todos eles ameaçavam ruína, fls. 647/648. Relativamente a outros eventos do mesmo tipo, a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, reconhecia, em maio de 1999, a existência de vícios de construção, conforme laudos de fls. 45/62 do Procedimento Administrativo; porém apresentava como escusa de sua responsabilidade (fls. 12 e 29/30), a responsabilidade exclusiva da construtora, a CONCIC ENGENHARIA S/A, CNPJ 15.103.039/0001-01, já que, de acordo com o Agente Financeiro, os vícios apresentados não se enquadravam entre os riscos cobertos pelo seguro obrigatório do SNH (documento fl. 53 do Procedimento Administrativo). A Construtora, por sua vez, negava sua responsabilidade alegando que os vícios apresentados eram decorrentes da falta de manutenção predial por parte dos proprietários, conforme missiva de 25/07/2001 (fls. 103/105 do Procedimento Administrativo). Entretanto, com o agravamento dos vícios e a ameaça de desmoronamento, houve, em relação a diversos blocos de apartamentos, a assunção da responsabilidade por parte da 9

Seguradora (documentos fls. 124, 131/133), que contratou empreiteiras para as obras de recuperação que consistiam, em regra, na demolição parcial dos blocos, isto é, eram demolidas as torres de apartamentos, conservando-se a estrutura das escadas e caixas d água, conforme documentos acima citados e o de fls. 155/165, seguida da reconstrução. Dessa forma, entre 2003 e 2004, mais dezoito (18) blocos foram demolidos e reedificados. Portanto, ao longo dos dez (10) anos decorridos desde a construção do referido conjunto habitacional, vinte e três (23), dos quarenta e seis (46) blocos de apartamentos que o compõem, sofreram intervenção consistente na demolição e reedificação, em face de vícios que remontavam à construção original dos mesmos. A mesma solução pretendem os proprietários das unidades que compõem os Blocos 06 e 08, Quadra 3, do Conjunto Habitacional Sussuarana, uma vez que, à semelhança dos demais, apresentaram vícios de construção, conforme o laudo elaborado em 09/08/2004, fl. 393 do Procedimento Administrativo: Dentre os Blocos vistoriados, constatou-se que os de nº 06 (seis) e 08 (oito)m apresentam risco iminente. Esse risco determinou a interdição dos mesmos pela Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município - SUCOM, em face da ameaça de desmoronamento, tendo sido seus ocupantes notificados, em 17/07/2004, para desocuparem o imóvel (documento de fls. 346/383, 600 e 601, do Procedimento Administrativo). Tal pretensão dos moradores, entretanto, sofre oposição na conduta da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, que atribui responsabilidade exclusiva à Seguradora, conforme documento de fl. 420/423; bem como na da CAIXA SEGURADORA S/A, que ainda quando reconhece o sinistro como risco coberto, nega a cobertura, sob diversos argumentos. No caso específico dos Blocos 06 e 08 da Quadra 03 do Conjunto Sussuarana, a seguradora alega que não poderia arcar com os custos necessários à demolição e reconstrução de tais 10

unidades pela insuficiência de número de proprietários segurados. Das dezesseis unidades existentes em cada bloco, apenas quatro delas no Bloco 06 e três no Bloco 08 estariam seguradas, conforme Memo nº 95/05 GESIM, de 02/05/2005, da CAIXA SEGUROS, item i (fls. 437 do Procedimento Administrativo). Segundo a própria seguradora, item p (fls. 438), o agente financeiro a Caixa Econômica Federal promoveu, em 1998, uma novação nos contratos de mútuo, alterando a cobertura securitária. De fato, conforme demonstram os documentos de fls. 604/633, valendo-se da flexibilização no seguro habitacional obrigatório, que foi introduzida em 24/06/1998 pela Medida Provisória nº 1.696/1998 que tratava da possibilidade de novação nos contratos de mútuo do SFH, o agente financeiro inseriu, na renegociação feita com mutuários do Conjunto Habitacional Sussuarana, uma migração para nova apólice de seguro, com cobertura mais restrita e que não mais contemplava o sinistro ameaça de desabamento. A novação acima referida foi feita em 1998 e 1999 (documento de fls. 617/621 do Procedimento Administrativo). Portanto, muito após às evidências dos mencionados vícios construtivos, conforme comprova o Aviso de Sinistro de fls. 643/652. A CAIXA, na oportunidade, cooptou a adesão dos mutuários, utilizando propaganda conforme documentos às fls. 722/725 do Procedimento Administrativo, subtraindo-lhes a cobertura securitária para o evento que, naquela oportunidade, já havia incidido em 5 (cinco) dos blocos do Conjunto Habitacional, quer seja, a ameaça de desabamento. É essa novação que a CAIXA SEGUROS invoca, em relação aos moradores dos Blocos 06 e 08 da quadra 03, para exonerar-se da obrigação contratual originária. Diante do impasse, continuam interditados os Blocos 6 e 8 da Quadra 3 do Conjunto Habitacional Sussuarana e aqueles que eram proprietários e moradores de 11

suas unidades habitacionais encontram-se impotentes para fazerem valer os seus direitos, suportando o indevido ônus de buscarem alhures a sua moradia. A mesma infausta situação pode vir ainda a atingir moradores de outros blocos, a exemplo dos Blocos 05 e 07 da Quadra 03 e Blocos XVIII, XIX e XXII da Rua A, que de acordo com a vistoria conjunta de agosto de 2004, fl. 393, devem ser monitorados a fim de acompanhar a progressão das patologias encontradas. Por fim, a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, a despeito dos vícios que acometem as edificações, continua a oferecer aos mutuários vantagens para que promovam a quitação de tais imóveis, a exemplo do que ocorreu em 2003, com a oferta de descontos (fls. 657 do PA). Também a despeito dos vícios apresentados nas unidades habitacionais, da negativa e da mora em solvê-los, bem como do efeito dessas circunstâncias sobre os mutuários, seu ânimo em relação ao sonho frustrado da casa própria e do ferimento do sentimento de Justiça que experimentam, o Agente Financeiro não se absteve de promover a execução da garantia hipotecária que caracteriza o contrato de mútuo, conforme documentos juntados às fls. 744-766 e 789-803, do procedimento administrativo do MPF. 4. DO DIREITO 4.1 DA PRESENÇA DA RELAÇÃO DE CONSUMO. Indubitavelmente a questão aqui tratada versa sobre relação de consumo onde há o fornecimento de um produto (a unidade imobiliária), a prestação de serviços (construção, empréstimo bancário e contratação de seguro), com a ocorrência de um acidente de consumo, fato do produto ou do serviço, na terminologia do Código de Defesa do Consumidor, por apresentar defeito, além do vício de qualidade. 12

Existem, ademais, vários fornecedores envolvidos, formando uma cadeia: o agente financeiro, a construtora e a seguradora; e os consumidores que são os destinatários finais: tanto os compradores das unidades, quanto todos aqueles que foram atingidos de uma ou outra maneira, independentemente de fazerem ou não parte de qualquer relação com os fornecedores. São os consumidores por equiparação, a teor dos seguintes artigos da Lei nº 8.078/1990: art. 2º, parágrafo único, os intervenientes na relação de consumo, art. 17, como vítimas do fato do produto ou do serviço, e art. 29, expostos às práticas comerciais previstas no Código. Nesse sentido, a doutrina: Muitas preocupações têm surgido no Brasil quanto ao contrato de financiamento com garantia hipotecária, e os contratos de mútuo para a obtenção de unidades de planos habitacionais. Nestes casos o financiador, o órgão estatal ou o banco responsável, caracteriza-se como fornecedor. As pessoas físicas, as pessoas jurídicas, sem fim de lucro, enfim todos aqueles que contratam para beneficio próprio, privado ou de seu grupo social, são consumidores. Os contratos firmados regemse, então, pelo novo regime imposto aos contratos de consumo, presente no CDC. (CLÁUDIA LIMA MARQUES in "Contratos no Código de Defesa do Consumidor", Editora RT, 2ª ed., pág. 144) O liame existente entre os consumidores (mutuários e moradores), substituídos na presente lide pelo Ministério Público Federal, e os requeridos, baseia-se na relação de consumo concretizada em face da construção dos imóveis pela construtora CONCIC ENGENHARIA S/A, com financiamento pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL; que ao firmar contrato de mútuo, por força de normatização do Sistema Nacional de Habitação, obriga o mutuário a 13

contratar seguro, o que foi feito através da CAIXA SEGURADORA S/A, que terceirizou a administração do serviço para a COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA. Nesse diapasão o seguinte excerto jurisprudencial: "PROCESSUAL E ADMINISTRATIVO. CONTRATOS DO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. REAJUSTE DO SALDO DEVEDOR: INCIDÊNCIA DA TAXA REFERENCIAL. DEFESA DO MUTUÁRIO CONSUMIDOR. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. 1.... 2. O mutuário do Sistema Financeiro da Habitação de interesse social está compreendido no conceito de consumidor, nos termos da lei n.º 8.078, de 11/09/90, que, definindo serviço, para fins de incidência de suas normas, faz incluir no conceito as atividades de natureza bancária, financeira e de crédito art. 3º, 2º." (TRF 1ª Região, AG 96.01.45428-4/MT, Dec. 15/04/1997, DJ 15/08/1997, p. 63706) (grifos). 4.2 DA RESPONSABILIDADE POR VÍCIOS DO PRODUTO OU DO SERVIÇO A colocação de bens ou serviços no mercado de consumo a cargo dos fornecedores in genere suscita, em contrapartida, a relação de responsabilidade, decorrente do inadimplemento da obrigação contratual (responsabilidade contratual) ou da violação de direitos tutelados pela ordem jurídica de consumo (responsabilidade extracontratual). O Código de Defesa do Consumidor, Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990, instituiu dois sistemas de responsabilidades, os quais foram nominados, respectivamente, de responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço e a responsabilidade pelo vício do produto ou do serviço. 14

O Código protege o consumidor franqueando-lhe a possibilidade de reparação por vícios ou defeito de adequação do produto ou serviço. Neste caso, o vício ou defeito do produto compromete sua prestabilidade ou servibilidade ensejando uma desvantagem econômica para o consumidor, que não ultrapassa a medida exata de sua inservibilidade ou imprestabilidade. Esse é o caso do art. 18, que assim está redigido: "Art. 18 - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas." A própria Caixa Econômica Federal, como agente financeiro e responsável pela supervisão e fiscalização das obras do Conjunto Habitacional Sussuarana, bem como a CAIXA SEGUROS S.A., em vistorias técnicas realizadas, reconhecem os vícios advindos de erros na execução da obra, como já descrito e demonstrado acima, na narração dos fatos. Os prejuízos advindos da construção do Conjunto Habitacional Sussuarana, com a utilização de material construtivo de péssima qualidade, os tornam, em curto espaço de tempo, impróprios à finalidade a que se destinam. Na melhor das hipóteses, esses vícios implicam na diminuição de valor das unidades imobiliárias, desvalorização que, por si mesma, não fossem os demais agravantes, já demandaria o ressarcimento aos moradores daquele Conjunto. Embora estejamos tratando nesta ação, primordialmente, da responsabilidade pelo fato do produto e do 15

serviço (artes. 12 e 14, CDC), para o que caberá ressarcimento, não se há de negar que também houve vício no produto e no serviço (artes. 18 e 20, CDC), pois os imóveis sofreram por vícios de qualidade que os tornaram impróprios para o uso a que se destinavam. Assim, há que se abrir aos lesados o leque de escolhas de que trata o art. 18 do CDC, quais sejam: "(...) 1. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 (trinta) dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I. a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II. a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos III. o abatimento proporcional do preço." Como se vê, os incisos I e II são perfeitamente aplicáveis à espécie. Muito semelhante é o que o Código dispõe quanto aos serviços. "Art. 20 - O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumidor ou lhes diminuam o valor... podendo consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I. a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II. a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III. o abatimento proporcional do preço." Aqui também, pertinentes os incisos I e II. Acrescente-se a isso o que dispõe o 1. do art. 20, sobre o caso da reexecução do serviço: "(...) 1. A reexecução dos serviços poderá ser 16

confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor." É, pois, perfeitamente cabível que seja dado aos consumidores a escolha entre receber o dinheiro que empregaram, corrigido, e mais perdas e danos, ou fazer com que sejam construídas novas unidades residenciais por empresa(s) devidamente capacitada(s), de sua(s) escolha(s), por conta das empresas Requeridas, aqui também sem prejuízo de indenizações por perdas e danos. Esta opção, além de tutelar de forma mais plena os consumidores lesados, tutela também o patrimônio social (o direito à moradia) já que os imóveis são pertencentes à própria empresa pública federal enquanto não quitados tutelando os possíveis futuros consumidores destas unidades habitacionais devidamente reformadas e prontas para atender perfeitamente o direito à moradia e o sonho da casa própria. 4.3. - DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO Por fato do produto se entende o dano causado por defeito apto a ensejar a responsabilidade do fornecedor. A idéia de dano, segundo entendimento da doutrina, abrange não apenas os chamados danos emergentes, mas também os chamados lucros cessantes e, ainda, os já conhecidos danos morais. Essa a interpretação sistemática que se extrai da leitura da Constituição Federal (CF/88, art. 5º, incs. V e X), que admite, inclusive, a cumulação com danos materiais (Súmula 37 do STJ), desde que o fato do produto dê ensejo a estes e àqueles. O Código do Consumidor, no art. 12, assim dispõe: "Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de 17

culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos." Do texto temos que para a responsabilização do fornecedor pelo fato do produto, há, pois, de haver um dano e, mais do que isso, este deve ter ocorrido de um defeito do produto. Daí a trilogia defeito-dano-nexo de causalidade para o ensejo da responsabilidade pelo fato do produto. Sem defeito, pela sistemática do Código, não há falar-se em responsabilidade objetiva do fornecedor. Por isso mesmo, aliás, o Código elenca a inexistência de defeito, como causa excludente da responsabilidade do devedor, no parágrafo 3º, inc. II, do art. 12. A esse respeito, Sílvio Luis Ferreira da Rocha diz: "Um pressuposto essencial da responsabilidade do fornecedor é que o produto seja defeituoso, isto é, no momento em que foi colocado no mercado apresente um defeito potencial ou real e que esse defeito potencial ou real seja a causa do dano". (ROCHA, Sílvio Luís Ferreira da. Responsabilidade civil do fornecedor pelo fato do produto no direito brasileiro. São Paulo: RT, 1992). Para a responsabilização do fornecedor pelo fato do produto, há, pois, de haver um dano e, mais do que isso, este deve ter decorrido de um defeito no produto. Imprescindível, portanto, ter havido o defeito, o dano, e, entre esses, o nexo de causalidade. O produto é defeituoso, na dicção do Código consumerista, "quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera" (art. 12, 3º). Assim, é preciso identificar, à 18

luz do caso concreto, o que se encontra e o que não se encontra na expectativa legítima do consumidor. O fato de produto, exsurge à perfeição no caso do Conjunto Habitacional Sussuarana, face aos graves prejuízos materiais e morais advindos dos vários vícios e defeitos inerentes à sua construção, como sobejamente comprovado através de perícias. Surge daí, inexorável, o direito dos consumidores (mutuários) de obterem a reparação desses graves prejuízos materiais e morais sofridos. De efeito, para o Código, são direitos básicos do consumidor, art. 6º, II e VI: "(i) a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; (ii) a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. No caso, a responsabilidade pelo fato do produto decorre da existência de defeito de concepção, de projeto, e de produção, que envolve os vícios de construção narrados. Defeitos que resultam de erro no projeto e escolha de material impróprio, não submissão do mesmo a ensaios conforme prescrito nas Normas Técnicas Brasileiras. Da escolha do material e da execução defeituosa, derivou a ocorrência de rachaduras nas paredes e infiltrações, decorrentes da expansão da escória de siderurgia indevidamente utilizada, com posterior comprometimento da estrutura dos edifícios a ponto de determinar o risco de desabamento do imóvel. Esses defeitos das unidades habitacionais, sem dúvida, importam fragorosamente em prejuízos materiais e morais aos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação. Por prejuízos materiais, espécime acidente de consumo (capaz de adicionar riscos à segurança) tem-se a perda da qualidade e expectativa de vida dos moradores, proporcionada por situação de insalubridade e de risco a que submetidos. 19

Sofreram portando tais consumidores, dano que devem ser indenizados. Em matéria de relação de consumo, diferentemente dos ditames do Código Civil, que em seu art. 159 exige que o ato ilícito venha acompanhado de demonstração de culpa do agente, para que seja reparado o dano, o Código de Defesa do Consumidor veio em socorro dos consumidores, antes desprotegidos pela impossibilidade de comprovar o que estava fora de seu alcance fazê-lo. Agora está explícito na lei: a responsabilidade é independente da existência de culpa. Por este motivo não haverá necessidade, no decorrer do processo, de que haja laudos periciais que denotem se houve isso ou aquilo a contribuir para o acidente. Houve os danos e os motivos foram, dentre outros, a) técnica inadequada ou não suficientemente testada; b) a utilização de material inadequado para a construção dos imóveis residenciais. Assim, aqueles que forneceram o produto e os serviços, isto é, as empresas construtoras e seus responsáveis e sócios, terão que ressarcir os consumidores. Os fornecedores só poderiam escapar de serem responsabilizados se pudessem provar: "Art. 12 (...) 3. : I. que não colocou o produto no mercado; II. que o defeito inexistiu; III. que teria havido culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro." Quanto a tal possível defesa, não resta dúvida de que: 1) os Requeridos foram os fornecedores que colocaram o conjunto residencial no mercado, portanto não podem se valer do inciso I; 2) existiu um defeito a ponto de deixar a construção com grandes possibilidades de desabamento, afastando o inciso II; e 3) a culpa da vítima ou de terceiros, se existisse, teria que ser exclusiva, 20