REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES N.º, DE 2009 Do Nos termos do art. 50, 2., da Constituição Federal, combinado com o art. 216, inciso I, do Regimento Interno do Senado Federal, requeiro ao Sr. Ministro de Estado da Saúde as informações relacionadas abaixo acerca da contratação de consultores por intermédio de Organismos de Cooperação Técnica Internacional (tais como a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura UNESCO e a Organização das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes UNODC) para atuarem no Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais. 1) Informar, por cada Unidade pertencente à estrutura organizacional do Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais, as seguintes informações referentes a todas as contratações ocorridas nos últimos cinco anos: Nome e CPF do profissional contratado Data da contratação Período a que se refere a contratação (início e fim) Objeto da contratação Organismo de Cooperação Técnica Internacional contratante Valor do contrato Termo de referência da contratação Local de exercício das atribuições
2) Informar, por cada Unidade pertencente à estrutura organizacional do Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais, o número total de: servidores efetivos prestando serviços consultores contratados por Organismo de Cooperação Técnica Internacional empregados terceirizados 3) Informar se há algum tipo de subordinação entre os consultores contratados por Organismo de Cooperação Técnica Internacional JUSTIFICATIVA É de conhecimento notório na Administração Pública que o Poder Executivo, principalmente o Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, utiliza corriqueiramente e de forma inconstitucional o Acordo Básico de Assistência Técnica com a Organização das Nações Unidas e suas Agências Especializadas, para contratação de pessoal incumbido de desempenhar atividades meramente administrativas, sob o título de consultoria. Esse procedimento já foi condenado pelo Ministério Público do Trabalho, como registrado no Termo de Conciliação celebrado entre a União e o Ministério Público do Trabalho nos autos do processo 1044/2001 da 15.ª Vara do Trabalho de Brasília, verbis: nos projetos de cooperação técnica implementados através de acordos internacionais, que exijam funções de caráter permanente para sua execução, a União contratará servidores por tempo indeterminado, mediante concurso público, nos termos do art. 37, II, da Constituição.
Tal entendimento inclusive já restou firmado pelo Tribunal de Contas da União, nos termos do Acórdão 1.339/2009 TCU Plenário, verbis: os acordos básicos de cooperação técnica internacional prestada ao Brasil não autorizam que a contraparte externa efetue, no interesse da Administração demandante, o desempenho de atribuições próprias dos órgãos públicos, nas quais não haverá transferência de conhecimento por parte do organismo internacional executor ou em que a assessoria técnica de um ente externo é dispensável, por se tratar de temas e práticas já de domínio público, demandados rotineiramente pela Administração, a exemplo da contração de bens e serviços de natureza comum, usualmente disponíveis no mercado; ainda que o projeto de cooperação internacional contemple, em sua globalidade, tanto atividades de efetiva assistência técnica como ações complementares, de caráter instrumental, apenas aquelas podem ser assumidas pelo organismo internacional cooperante, devendo as de caráter ordinário ser integradas ao projeto pela Administração Pública, valendo-se dos mecanismos institucionais próprios do regime jurídico administrativo; (grifos nossos). De forma contrária aos entendimentos expostos, o Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde entre muitos outros órgãos utiliza-se recorrentemente de acordos de cooperação técnica internacional para contratação de pessoal com o intuito de executar atividades corriqueiras que deveriam ser desempenhadas por funcionários públicos concursados. Tal prática visa burlar a obrigatoriedade de realização de concurso público para contratação de pessoal, conforme reza o art. 37, inciso II da Carta Magna:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:... II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Dessa forma, o Poder Executivo vem deliberadamente desrespeitando a Constituição ao contratar como consultores por produto, utilizando-se de acordos de cooperação técnica internacional, profissionais que exercem atividades típicas de funcionários públicos. Um exemplo clássico desse desvio de conduta é a contratação de consultores para o planejamento e organização de eventos para divulgação de ações do Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais, no Setor de Eventos da Unidade de Administração e Finanças daquele Órgão. Inclusive tem-se notícia de profissionais que vem tendo seus contratos renovados há mais de cinco anos, ora pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura), ora pela UNODC (Organização das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes) para prestarem tais serviços a esse setor. Esse revezamento de Agência Internacional contratadora não passa de um embuste para tentar prestar algum caráter de seriedade a essa prática ilegal, pois trata-se de um processo seletivo realizado pela Agência já com o vencedor previamente selecionado. Ou seja, um processo seletivo viciado.
Tal procedimento deve ser imediatamente abolido, como determinado no Acórdão 1.339/2009 TCU Plenário: faça cessar as demandas (expressas em termos de referência, pedidos de compra ou qualquer outro instrumento requisitório) que tenham por objeto o atendimento de necessidades típicas da Administração, a exemplo da produção, impressão e distribuição de material para treinamentos; da organização de eventos, inclusive quanto ao fornecimento de transporte aéreo, hospedagem e alimentação para os participantes; da execução de serviços comuns, como revisão ortográfica e gramatical de textos e serviços gráficos; da aquisição de materiais de expediente e equipamentos de informática. Nesse sentido, as informações ora solicitadas são fundamentais para que o Congresso Nacional possa exercer com plenitude sua competência fiscalizadora, conforme dispõe o art. 49, X, da Constituição Federal, estando de acordo com o Regimento Interno do Senado Federal e com o Ato da Mesa n. 1, de 2001.