Unisinos Universidade do Vale dos Sinos Evento como instrumento de comunicação interna para o comprometimento e a integração na relação Organização Hospitalar - funcionário. Luana Goulart Teixeira 1 Resumo: Este artigo apresenta uma análise sobre os Eventos como instrumentos de comunicação interna na gestão de pessoas voltados para o comprometimento e a integração na relação organização hospitalar funcionário. Através de uma revisão bibliográfica, este estudo busca identificar o evento como fator potencializador de relacionamentos com o público interno da área da saúde. Palavras-Chave: Eventos; Comunicação Interna; Organizações Hospitalares. A complexidade do mercado e o avanço das tecnologias em saúde exigem das organizações hospitalares um questionamento sobre práticas atuais e um novo posicionamento a ser adotado na gestão de pessoas, que inclua revisão de paradigmas e inovação, a fim de garantir a sustentação de ambientes ricos de pessoas felizes, comprometidas e integradas. Cada vez mais este desafio recebe notoriedade dentre as instituições de saúde que buscam estabelecer relações de reciprocidade com seu público interno e acabam descobrindo o quanto investimentos em comunicação podem gerar este retorno. 1 Aluna do curso de Comunicação Social Habilitação em Relações Públicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo. RS. 1
Primeiramente, faz-se necessário uma análise sobre o que são organizações, pois se percebe que o termo organização é amplo e pode ser percebido por diversos ângulos. Segundo KUNSCH 2, existem duas maneiras amplamente usadas para conceitualizar as organizações. Um deles é o ato e ou efeito de organizar, que caracteriza generalizadamente a expressão organização para toda e qualquer ação com o intuito de estruturar ou constituir. Também, organização no sentido de constituição quando se refere ao uso do termo para expressar um agrupamento organizado de pessoas com papéis definidos e trabalhando por um objetivo comum (p 23). Esta segunda definição da autora proporciona uma visão geral do conceito de organizações aqui analisadas. Também, PARSONS (1995 apud. CHIAVENATO) 3 define organizações como unidades sociais construídas e reconstruídas com a tarefa de atingir objetivos específicos para a mesma. Segmentando esta conceitualização para a área da saúde podemos considerar de acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde - OMS, um Hospital como parte integrante de um sistema coordenado de saúde, com função de dispensar à comunidade completa assistência à saúde preventiva e curativa, incluindo serviços extensivos à família e em seu domicílio. Também, a OMS destina aos hospitais as funções de prevenir a doença, restaurar a saúde, exercer funções educativas e promover a pesquisa. Portanto, organizações hospitalares correspondem a unidades sociais, grupos de pessoas que desempenham funções de trabalho em prol de um objetivo comum que, neste caso, é o de prevenir a doença, restaurar a saúde, exercer funções educativas e promover a pesquisa. Sendo organizações, unidades sociais, onde pessoas são responsáveis por sua existência, CHIAVENATO 4 reforça a idéia de composição organizacional. A essência das organizações está nas pessoas. Sem as pessoas jamais existiriam as organizações. As pessoas são a alma das organizações, aquilo que lhes dá vida e vigor. Entendemos portanto que organizações são formadas especialmente por pessoas. Este é o elemento vital na composição de uma organização. Entenderemos estas pessoas que possuem relações com a 2 KUNSCH, Margarida Maria Krohling Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada / Margarida Maria Krohling Kunsch 4. ed ver., atual e ampl. São Paulo: Summus, 2003. (Novas Buscas em Comunicação; v. 69). 3 CHIAVENATO, Idalberto - Comportamento Organizacional: A Dinâmica das Organizações. Idalberto Chiavenato. São Paulo: Thompsom, 2004. 4 Ibid p. 22 2
organização como públicos assim como ANDRADE 5 define público como: O agrupamento espontâneo de pessoas adultas e/ou de grupos sociais organizados com ou sem contigüidade física. Ainda, Andrade refere-se que quando em relação à organizações, estes públicos dividem-se de acordo com seu interesse com a mesma podendo ser considerados como Público interno, externo e misto. Neste estudo, nosso objetivo parte da análise do público interno de uma organização hospitalar. Desta forma, aprofundaremos o entendimento sobre este grupo tão particular. O público interno de uma organização da área da saúde requer reflexões específicas. As pessoas que trabalham prestando assistência ou dando suporte para que ela aconteça convivem em ambientes onde a vida e a morte traçam uma relação estreita. São pessoas que passam horas do seu dia cuidando de pessoas que sofrem, que procuram este serviço já fragilizadas e debilitadas pela situação da doença. A realidade de uma organização Hospitalar é claramente distinta de organizações de outros ramos. BERTELLI 6 reforça esta afirmação claramente. As instituições de saúde (hospitais, clínicas e postos de saúde) estão carentes de pessoas comprometidas e participativas. Enquanto organizações de outros segmentos dão grandes saltos em relação quanto à competitividade e ao dinamismo, a área da saúde está estagnada e um tanto perdida. Para isso, as organizações hospitalares investem boa parte de seu tempo e orçamento, buscando estratégias de relacionamento eficazes para com seu público interno, a fim de concretizar e estabelecer vínculos que possam gerar retornos relacionados a comprometimento e integração no que tange à comunicação. Num primeiro momento, resgata-se o que é comunicação. E valendo-se de BRUM 7. Podemos afirmar que etimologicamente, o termo comunicação vem do latim = comunis que quer dizer Por em comum ou Tornar comum. Conceitualmente, HALL (1984 apud. 5 ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Psico Sociologia das Relações Públicas. 2 Ed. Cândido Teobaldo de Souza Andrade. São Paulo: Edições Loyola, 1989. 6 BERTELLI, Sandra Benevevento. Gestão de Pessoas em Administração Hospitalar/ Sandra Benevento Bertelli. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004 p. 28. 7 BRUM, Analisa de Medeiros. Endomarketing como Estratégia de Gestão. Analisa de Medeiros Brum LePM, 1998. 3
KUNSCH) 8 relata que a comunicação compreende relações sociais estabelecidas por emissores, receptores e seus efeitos recíprocos a medida que se comunicam. Desta forma, entendemos que a comunicação trata-se de interação entre indivíduos através de mensagens que são deslocadas entre emissores e receptores. Neste mesmo sentido, BALDISSERA (2000) 9 completa com o entendimento da comunicação como um processo de construção de sentidos, onde emissores e receptores participantes de relações interativas, realizam o intercâmbio de mensagens mediante o uso de linguagens. Portanto, estas interações entre emissores e receptores através de mensagens são possibilitadas devido ao emprego de linguagens comuns a ambas as partes. Então, neste momento, trazendo para o campo das organizações que precisam comunicar-se em tempo integral entendemos a importância deste fator-sobrevivência. Para KUNSCH 10, a comunicação organizacional é a disciplina que tem por objetivo estudar o fenômeno da comunicação dentro das organizações, analisando todo o contexto de sua aplicação que engloba o sistema, o processo e seu funcionamento. Entendemos, portanto, a comunicação organizacional como o meio de produção de relacionamentos entre a organização e seus públicos e por isto torna-se fator vital da existência do negócio. No dia-a-dia das organizações vivenciam-se milhares de movimentos comunicativos, sejam eles espontâneos ou induzidos pela mesma. Todos com importância e significado diferenciados. Estes movimentos têm muito a dizer sobre uma organização. Eles desenham a cultura e o formato da mesma ao longo de sua trajetória. Com isso, a partir destas afirmações, podemos considerar a comunicação organizacional como um guarda-chuva, onde cada vareta que o sustenta é uma área da comunicação que segundo KUNSCH (2003) podem ser entendidas como comunicação administrativa, comunicação mercadológica, comunicação institucional e comunicação interna. Esta última que representa o motivo deste estudo será estudada de forma detalhada. 8 Cf. KUNSCH 2003, p. 2 9 BALDISSERA, Rudimar. Comunicação Organizacional: o Treinamento de Recursos Humanos como Rito de Passagem. Rudimar Baldissera. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2000. 10 Ibidem 3. 4
A comunicação interna pode ser entendida segundo KUNSCH (2003 p. 154) como Um setor planejado, com objetivos bem definidos, para viabilizar toda a interação possível entre a organização e seus empregados. Entende-se desta forma que, a comunicação interna é responsável por formar elos de relacionamentos com seu público interno através de ações planejadas. RHODIA (1985 apud. KUNSCH 2003) 11 ressalta a importância da comunicação interna quando refere-se que ela está relacionada ao comprometimento de equipes e colaboradores, bem como a satisfação dos funcionários desde que elaborada estrategicamente para este fim. Ainda, a autora traz a comunicação interna como uma ferramenta que aplicada, permite a socialização dos interesses da organização para os empregados e vice-versa. Possibilitando a troca de informações e experiências contando com o envolvimento de todos os níveis hierárquicos. Desta forma, entendemos a comunicação interna como responsável por estabelecer vínculos entre a organização e seu público interno, propiciando relacionamentos efetivos entre si. Temos, portanto, a comunicação interna como responsável por formar elos de integração e fortalecer o comprometimento do funcionário com a organização. Função esta demasiada difícil, já que propor ações e utilizar ferramentas que possibilitem esta relação é uma tarefa que depende essencialmente de estratégia. Resgataremos, neste ponto, o conceito de comprometimento no trabalho que segundo Lodahl e Kejner (1965, p.24) definem como: o grau ao qual uma pessoa se identifica psicologicamente ao seu trabalho, ou a importância que tem o trabalho na imagem total que ela tem dela mesma Está, portanto, a importância de se ter uma equipe comprometida. Possuir pessoas trabalhando que se identifiquem com suas tarefas e com isso façam do seu trabalho um local agradável. Para ULRICH 12 As Empresas que esperam obter uma força de trabalho comprometida têm que aprender que somente pensamentos de compromisso externo, funcionários protegidos das conseqüências e conhecimento de causas e efeitos não o garantem. Elas apenas podem produzir honestidade superficial e aprendizado, mas jamais alavancarão a verdadeira mudança. Neste mesmo sentido, ROSSO 11 Ibidem 3 12 ULRICH, Dave. Recursos Humanos Estratégicos Novas Perspectivas para profissionais de RH. São Paulo: Futura, 2000. 5
(Apud. BERTELLI ) 13 nos diz que a liga que une as pessoas com os processos em um Hospital é o comprometimento, o mais difícil pilar de se edificar em uma gestão de pessoas. Percebemos a dificuldade instalada nas organizações hospitalares no momento de estabelecer uma relação de comprometimento com seu público interno. Isso se dá muitas vezes devido a falta de investimento em ações sistemáticas e estratégicas em busca deste fim. O que muitas organizações deixam de perceber é que possuir um funcionário identificado com a sua tarefa representa ter um funcionário comprometido com seu trabalho. Portanto, vemos as organizações hospitalares frente a um desafio que perpassa muitas vezes de gestão para gestão, ano após ano, muitas vezes sem sucesso. O desafio de integrar e comprometer funcionários através de ferramentas efetivas de comunicação interna. Visivelmente, diversas são as práticas adotadas por estas organizações, porém, o desafio encontra-se no momento da eficácia dos mesmos. Podemos observar algumas críticas às tradicionais e, muitas vezes, únicas ferramentas utilizadas por organizações para com seu público interno. Conforme nos diz AMORIM 14, No aspecto da comunicação com os funcionários, as instituições contam com jornais de circulação interna, murais para avisos, circulares, memorandos, etc. A sutileza e sobretudo a fragmentação destes expedientes são as melhores evidências do desperdício de potencial da comunicação planejada e intencionalmente voltada para a ação coordenada. Esta fragmentação de instrumentos de comunicação que nos traz Amorim pode ser entendida como a falta de ações estratégicas que busquem resultados e entregas. A inovação nos instrumentos de comunicação faz-se necessária. Cada vez mais preza-se por custo-benefício nas organizações que contam geralmente com orçamentos restritos e metas ousadas. A seguir, conheceremos o Evento como instrumento potencializador das relações organizacionais. O Evento como instrumento de comunicação interna. 13 Cf. BERTELLI 2004. 14 AMORIM, Maria Cristina Sanches. Comunicação nas organizações: descobrindo possibilidades de ação. In: DAWBOR, Ladislau...[et al.]. Desafios da comunicação. Petrópolis, Rj: Vozes, 2000. (p. 227 230) 6
De acordo com o dicionário Aurélio, o Evento significa um acontecimento ou sucesso. Podemos entender a partir desta informação que todo acontecimento trata-se de um evento. E sem dúvida, o conceito de Evento é abrangente. Para MELO NETO 15. Evento é um conceito de domínio amplo. Tudo é evento. De cursos e palestras até shows, jogos e competições esportivas. Porém, é importante ressaltar que o Evento 16 referido neste estudo trata-se de um instrumento de Relações Públicas como afirma CESCA 17 Para as Relações Públicas, Evento é a execução do projeto devidamente planejado de um acontecimento, com o objetivo de manter elevar ou recuperar o conceito de uma organização junto ao seu público de interesse. Portanto, o evento inserido na estratégia comunicacional da organização pode ser entendido como o planejamento e a execução de uma ação com objetivos e resultados. Neste sentido, GIACAGLIA (2006) afirma que as empresas como partes integrantes da sociedade também participam e organizam eventos para seus públicos com uma forte intenção de estreitamento de relações. Portanto, é interessante ressaltar a importância do alinhamento dos eventos com os planos de comunicação organizacionais. Conforme afirma GIACAGLIA 18, para que o evento esteja em harmonia e alcance seu resultado plenamente, sua execução deve caminhar alinhada ao planejamento comunicacional da organização. Para que a análise dos eventos organizacionais na área da saúde seja proposta, faz-se necessário o estudo da classificação deste instrumento. Diversas são as classificações encontradas na literatura. Conforme CESCA 19 nas organizações, os Eventos podem ser considerados de forma abrangente como folclóricos, cívicos, religiosos, políticos, sociais, artísticos, científicos, culturais, desportivos e técnicos. Esta classificação nos remete exatamente à realidade organizacional. Onde os eventos podem ser explorados de acordo com esta segmentação. 15 MELO NETO, Francisco Paulo de - Criatividade em eventos, São Paulo : Contexto, 2004, p. 13. 16 A palavra Evento será usada com letra maiúscula para diferenciá-la como instrumento de Relações Públicas. 17 CESCA, Cleuza Gertudre Gimenes Organização de Eventos São Paulo: Summus, 1997 p. 14. 18 GIACAGLIA, Maria Cecília Organização de Eventos: Teoria e Prática. - - São Paulo: Thomson Learning, 2006. 19 Ibidem. 7
Considerações Finais Finalmente, após esta revisão bibliográfica, entendemos as organizações Hospitalares como portadoras de um grande desafio com relação ao comprometimento do seu público interno. Desta forma, cada vez mais se torna necessário a revisão das práticas e instrumentos de comunicação adotados para com este público. Temos, portanto, esta mídia poderosa chamada de Evento como possível aliada das organizações de saúde a partir do momento que podemos observar a oportunidade que este segmento possui em explorar os eventos como parte integrante do seu planejamento. Sejam eles religiosos, políticos, sociais, artísticos, científicos ou culturais os eventos desenvolvidos para profissionais da área da saúde precisam de uma atenção em especial tratando-se de uma mídia integradora em massa de pessoas. Porém, muitas vezes a tradição imposta pela cultura milenar da medicina e o modelo de gestão formal destas organizações impede que este instrumento seja aplicado. Deixando o desafio do comprometimento e da integração a cargo, muitas vezes, somente de programas de comunicação ineficazes devido a suas características de fragmentação. 8