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Transcrição:

AULA 2.2 - A SIGNIFICAÇÃO NA ARTE TEXTO DE APOIO 1. A especificidade da informação estética Teixeira Coelho Netto, ao discutir a informação estética, comparando-a à semântica, levanta aspectos muito interessantes. A informação estética, ao contrário da informação semântica, não é necessariamente lógica. Ela pode ou não ter uma lógica semelhante à do senso comum ou à da ciência. Ela também não precisa ter ampla circulação, isto é, não há necessidade de que um público numeroso tenha acesso a ela. A informação estética continua a existir mesmo dentro de um sistema de comunicação restrito, até interpessoal, ou mesmo quando não há nenhum receptor apto a acolhê-la. Sabemos que isso aconteceu inúmeras vezes. Por exemplo, a informação estética contida numa tela de Van Gogh permaneceu lá, embora em sua época poucos pudessem entendê-la. Outra característica da informação estética que a diferencia da informação semântica é o fato de não ser traduzível em outras linguagens. Quando dizemos "O tempo hoje está ruim", podemos traduzir a informação semântica contida nessa frase para qualquer outra língua, sem perda da informação original. No entanto, quando vemos uma cena de tempo ruim num filme, observamos a qualidade da cor, a força do vento, da chuva ou da neve, a vegetação, os ruídos ou o silêncio, a névoa, a qualidade da luz e inúmeros outros detalhes que nos são mostrados pelas câmeras e que nos causam um determinado sentimento. Essa informação estética não pode ser traduzida nem para a linguagem verbal nem para qualquer outra sem ser mutilada, isto é, sem perder parte de sua significação. A informação estética apresenta, ainda, um outro aspecto distintivo, que é o fato de não ser esgotável numa única leitura. Por exemplo: a informação sobre o tempo ruim só me conta algo de novo na primeira vez em que for dada. Ela se esgota. A informação estética contida em uma obra de arte, no entanto, pode ser lida de várias maneiras por pessoas diferentes ou por uma mesma pessoa. Na primeira vez que lemos um livro ou ouvimos uma música, recebemos certa quantidade de informações; numa segunda leitura ou audição, podemos receber outras informações; anos mais tarde, ainda outras. Essa característica de inesgotabilidade permite que as obras de arte não envelheçam nem se tornem ultrapassadas. A obra de arte é aberta, no sentido de que ela própria instaura um universo bastante amplo de significações que vão sendo captadas, dependendo da disponibilidade dos receptores. 2. A forma Roman Jakobson, conhecido linguista, definiu algumas características da função poética da linguagem e ampliou muito a noção do poético. Com ele, a função poética ganha uma dimensão estética, podendo ser aplicada às outras formas artísticas além da poesia. A função poética: a transgressão do código A função poética da linguagem, segundo Jakobson, caracteriza-se por estar centrada sobre a própria mensagem, isto é, por chamar a atenção sobre a forma de estruturação e de

composição da mensagem. A função poética pode estar presente tanto numa propaganda, num outdoor, quanto numa poesia, numa música ou em qualquer outro tipo de obra de arte. Mas como se chama a atenção para a própria mensagem? Como vimos, no interesse naturalista pela arte, a atenção do espectador não se detém na obra, na mensagem, mas é remetida para o contexto fora da obra. Na classificação de Jakobson, a função presente seria a referencial, centrada exatamente no contexto externo à obra. A estruturação da obra, a sua organização interna, não chama nossa atenção. Para que isso aconteça, é necessário sair do habitual, daquilo a que estamos acostumados e que, por isso mesmo, nem percebemos mais. Isso implica transgredir o código consagrado. Quando o código é usado de maneira incomum, a forma de apresentação da mensagem chama nossa atenção pela sua força poética. Isso fica bastante claro em poesia. As palavras de que nos utilizamos para escrever um poema ou para nos comunicarmos no dia a dia são fundamentalmente as mesmas. Na fala diária, no entanto, não prestamos atenção à forma das palavras, porque o que nos interessa para que a comunicação se efetive é o seu conteúdo semântico. A poesia, ao contrário, chama nossa atenção para essa forma. Vamos examinar um trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade, Esboço de figura: Antonio Candido ou Antonio lúcido, límpido Que conhece e pratica a força imponderável da intuição? Que funda o juízo crítico no gosto -o gosto que em vão se tenta anular, e permanece, Mesmo negado e ignorado, sal da percepção? O poeta chama a atenção para a construção da mensagem quando brinca com o nome do professor de literatura e crítico literário Antonio Candido de Mello e Sousa, usando cândido como se fosse adjetivo e não nome próprio: iguala cândido com lúcido e límpido. O poeta usa, ainda, outra estratégia para chamar a atenção para a forma de estruturação da mensagem, dessa vez subvertendo o código: em vez de afirmar categoricamente as qualidades do professor, ele faz perguntas, como que se dirigindo ao leitor e pedindo sua concordância. O que precisa ficar claro, no entanto, é que essas inovações e subversões do código não são gratuitas, não são feitas só para serem engraçadas. Elas contribuem para o significado da obra, nesse caso, o poema. A partir dessa discussão sobre a função poética, que leva necessariamente à transgressão dos códigos habituais e consagrados, podemos justificar por que, no capítulo 5, "Linguagem e pensamento", incluímos as linguagens artísticas entre as que são estruturadas de forma mais flexível. Se romper o código é uma característica própria da arte, nenhum código artístico pode ser inflexível {por exemplo, os códigos matemáticos) nem exercer força coercitiva sobre a produção dos artistas. Ou estes não seriam artistas. 3. O conteúdo Interpretar uma obra de arte é buscar compreendê-la e apreciá-la. Isso exige que melhoremos nosso nível atual de compreensão e apreciação. A interpretação da obra de arte, ou seja, a atribuição de significados pelo espectador, como vimos no capítulo anterior, se dá em vários níveis. O primeiro nível é o do sentimento,

que já foi discutido. Sentir em uníssono com a obra, deixar que ela nos leve e enleve, seguir seu ritmo interno são os modos próprios de decodificação que se dão na experiência estética. O sentimento apresenta-se como uma unidade não dissociável da experiência, isto é, ele só pode acontecer na presença da obra. O segundo nível de interpretação se dá por meio do pensar e envolve a análise cuidadosa da obra. Como se pode fazer essa análise? Em primeiro lugar, precisamos fazer um levantamento da forma, em termos descritivos. Para isso, é necessário conhecer alguns aspectos fundamentais das linguagens artísticas. Por exemplo, a linguagem teatral difere da linguagem cinematográfica. Se formos analisar, portanto, um espetáculo teatral, precisamos antes saber o que caracteriza a linguagem específica do teatro. Em seguida, descrevemos a obra do ponto de vista denotativo, isto é, a partir do que realmente vemos ou ouvimos. Por exemplo, antes de percebermos que se trata do afresco Última ceia, de Leonardo da Vinci, nós vemos, representados na parede, treze homens atrás de uma mesa, de frente para nós, agrupados três a três, exceto a figura central, com determinado tipo de indumentária, fazendo tais gestos etc. Essa descrição dos signos que aparecem na obra e de como se combinam é muito importante, pois vai nos fornecer dados para estabelecermos relações que não são tão evidentes, mas que se encontram implícitas na obra. Por isso é imprescindível que façamos uma descrição detalhada, cuidadosa, a mais completa possível. Finalmente, como na leitura de um livro, vamos levantar os significados conotativos de cada signo e dos signos combinados entre si. Ao se colocar uma figura sobre um determinado fundo, combinar determinadas cores, sons ou formas, associar uma música a uma imagem, os significados de cada signo vão sendo alterados pelos significados dos outros signos, formando um espesso tecido de significações que se entrecruzam. No levantamento dessas conotações, precisamos sempre levar em conta a época e o lugar em que a obra foi criada. Por exemplo, no Renascimento, o unicórnio simbolizava a virgindade. Se desconhecemos essa informação, a interpretação de uma obra desse período em que apareça tal símbolo será deficiente. Por outro lado, além do significado conotativo cristalizado, podemos encontrar outros significados a partir da perspectiva de nossa época. Por isso, para podermos penetrar a significação mais profunda de qualquer obra de arte, são necessários conhecimentos de história geral, de história da arte e dos estilos, da história dos valores e da filosofia da época em que a obra foi criada, a fim de podermos situá-la em seu contexto. Precisamos, também, estar engajados no nosso tempo para podermos perceber o que a obra nos diz hoje. É por isso que dissemos que a arte nos traz o conhecimento de um mundo e não somente o conhecimento de uma obra. A arte instaura um universo de significações que jamais é esgotado e que ultrapassa em muito a intenção do autor. Esquematicamente, podemos representar esse processo da seguinte forma:

4. A educação em arte Se a interpretação de uma obra de arte depende de termos conhecimento não só das várias linguagens como também da história da arte, dos estilos e dos movimentos, a educação em arte terá um papel fundamental em nossa capacidade de compreender a arte. A educação em arte só pode propor um caminho: o da convivência com as obras de arte. Aquelas que estão assim rotuladas em museus e galerias, as que estão em praças públicas, bancos, repartições do governo, nas casas de amigos e de conhecidos. Também aquelas, anônimas, que encontramos às vezes numa vitrina, numa feira, nas mãos de um artesão. As que estão em alguns cinemas, teatros, na televisão e no rádio. As que estão nas ruas: certos edifícios, casas, jardins, túmulos. Passamos por muitas delas, todos os dias, sem vê-las. Por isso, é preciso uma determinada intenção de procurá-las, de percebê-las. Quanto mais ampla for essa convivência com os tipos de arte, os estilos, as épocas e os artistas, melhor. É só por meio desse contato aberto e eclético que podemos afinar nossa sensibilidade para as nuanças e sutilezas de cada obra, sem querer impor-lhe nosso gosto e nossos padrões subjetivos, que são marcados historicamente pela época e pelo lugar em que vivemos, bem como pela classe social a que pertencemos. Lembraremos, ainda, que é na frequentação da obra que a intersubjetividade pode se dar. É através dela que podemos "encontrar" com o autor, sua época e também com nossos semelhantes. É pelas veredas não racionais da arte que a frequentação permite descobrir e percorrer, que nos "sintonizamos" com o outro, numa relação particular que a vida cotidiana desconhece. Terreno da intersubjetividade, a arte nos une, servindo de lugar de encontro, de comunhão intuitiva; ela não nos coloca de acordo: ela nos irmana. Em seguida, precisamos aprender a sentir. Em nossa sociedade, dada a importância atribuída à racionalidade e à palavra, não é raro tentarmos enquadrar a arte nesse tipo de perspectiva. Assumimos, então, tamanha distância da obra que não é possível recebê-la

através do sentimento. Por outro lado, o sentimento como já dissemos, não é a emoção descabelada. No sentimento, a emoção é despida de seu conteúdo material e elevada a outro estado: retirado o peso da paixão, permanecem o movimento e as oscilações do sentir em comunhão com os objetos. Finalmente, já fora da experiência estética, podemos chegar ao nível da recepção crítica, da análise intelectual da obra, do julgamento de seu valor, que é o trabalho do crítico e do historiador da arte. Para essa tarefa, só a convivência com a obra não basta. É necessário o conhecimento histórico dos estilos, da linguagem de cada arte, além de um profundo conhecimento da cultura que gerou cada obra. Por tudo isso, fica claro o cuidado que o educador seja ele de museu ou de escola, e os pais devem ter ao escolher, para seus alunos e filhos, as exposições ou mesmo as vivências artísticas em artes visuais, música, teatro, dança. É importante não infantilizar a cultura, menosprezando a capacidade de crianças e adolescentes, ou do público carente cultural, de compreender por meio do sentimento, de estabelecer diálogos imaginativos, de buscar informação. 5. A importância de saber ler uma imagem No mundo contemporâneo, vivemos cercados por imagens visuais de todos os lados. Das indicações de trânsito às propagandas, dos ícones do computador à imagem televisiva e cinematográfica e aos graffiti, pichações, decalques e ilustrações nos muros, enfim, a imagem parece prevalecer em nossa vida. Já se disse que a palavra perderá seu lugar privilegiado na comunicação humana. Podemos discutir a validade dessa afirmação, mas não podemos negar a importância que a imagem tem hoje. Por isso, aprender a ler a imagem, isto é, os modos como atribuímos significados a elas, é um passo que nos leva à compreensão mais profunda de nossa sociedade e de nossa vida. Dentre as imagens, destacamos as de arte por serem mais difíceis de decodificar, uma vez que a informação estética exige conhecimento específico de linguagens artísticas e de história da arte; conhecimento do contexto de produção da obra; disponibilidade interna para entender a arte a partir de suas propostas. Além disso, ela é inesgotável em uma única leitura e não pode ser traduzida para outra linguagem sem perder parte de seu conteúdo. Todas essas características fazem da atribuição de significados às obras de arte uma tarefa que necessita de aprendizado específico, que se dá na convivência com elas, educando nossa sensibilidade. Essa é a grande tarefa de pais e educadores. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA 1. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. Capítulo 36.