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Brazilian Journal of Otorhinolaryngology ISSN: 1808-8694 revista@aborlccf.org.br Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico- Facial Brasil de Brito Macedo Ferreira, Lidiane Maria; Sales do Nascimento Rios, Adson; Ferreira Gomes, Érika; Ferreira Azevedo, Jorge; Araújo, Roberta de Paula; Barbosa Moraes, Robiany Degloving médio-facial como via de acesso a tumores nasossinusais Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, vol. 72, núm. 2, marzo-abril, 2006, pp. 158-162 Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=392437762003 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Rev Bras Otorrinolaringol 2006;72(2):158-62 Degloving médio-facial como via de acesso a tumores nasossinusais ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE Midfacial degloving - acess to nasal cavity and paranasal sinuses lesions Lidiane Maria de Brito Macedo Ferreira 1, Adson Sales do Nascimento Rios 2, Érika Ferreira Gomes 3, Jorge Ferreira Azevedo 4, Roberta de Paula Araújo 5, Robiany Barbosa Moraes 6 Palavras-chave: degloving médio-facial. Key words: Midfacial degloving. Resumo / Summary Abordagens cirúrgicas comuns para maxilectomia medial incluem a rinotomia lateral e a via de acesso degloving médio-facial. A rinotomia lateral fornece um excelente campo cirúrgico, mas deixa proeminentes cicatrizes na face. Já o degloving médio-facial tem sido superior à rinotomia lateral, pois não deixa nenhuma cicatriz externa, embora saibamos que este procedimento tem suas limitações¹. Este estudo tem o objetivo de descrever os resultados estéticos e de melhor acesso transoperatório de cirurgias nasossinusais via degloving, com avaliação da morbidade pós-operatória através das seguintes variáveis: hemoglobina pré e pós-operatória, necessidade de transfusão sangüínea, presença de complicações, uso de tampão nasal, uso de antibiótico, fio cirúrgico utilizado, tempo de internamento pós-operatório e presença de recidiva. Foi realizado um estudo retrospectivo a partir de 16 pacientes internados no Hospital Geral de Fortaleza SESA/SUS durante o período de dezembro de 1999 a novembro de 2003. Pelos dados obtidos, conclui-se que a via de acesso degloving é eficaz no tratamento de lesões nasossinusais extensas, com bons resultados estéticos e com reduzida morbidade pós-operatória. Common surgical approaches for medial maxillectomy include lateral rhinotomy and midfacial degloving. Lateral rhinotomy provides excellent surgical exposure but leaves a bulging scar on the face. Despite its own limitations, midfacial degloving has been preferred to lateral rhinotomy because it does not leave any external scar on the face¹. The aim of this study is to evaluate the cosmetic results and surgical exposure access of midfacial degloving. Treatment morbidity was evaluated through: post operative hospital stay length, blood transfusion needs, complications, pre and post operative hemoglobin levels, disease recurrence, nasal packing, type of suture and antibiotics. Retrospective study was carried out with sixteen patients treated at the Hospital Geral de Fortaleza SESA/SUS from December 1999 through November 2003. Based on the results, we may conclude that midfacial degloving is effective to treat extensive nasal cavity lesions and paranasal sinuses with reduced post operative morbidity. 1 Residente de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS. 2 Residente de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS. 3 Médica otorrinolaringologista, Preceptora da Residência de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS. 4 Cirurgião oncologista, Chefe do Setor de Cabeça e Pescoço do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS. 5 Residente de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS. 6 Enfermeira graduada pela UNIFOR/CE. Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS. Endereço para correspondência: Lidiane Maria de Brito Macedo Ferreira - Rua Eduardo Novaes 140 apto. 203 Sapiranga Fortaleza CE 60834030. Tel. (0xx85) 3273-3225/ Cel. (0xx85) 8873-5848 - E-mail: lidianembm@yahoo.com.br Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 8 de março de 2005. Artigo aceito em 20 de fevereiro de 2006. 158

INTRODUÇÃO Os tumores da região nasossinusal, especialmente aqueles que apresentam componente invasivo importante, necessitam de uma abordagem cirúrgica agressiva, ampla e que proporcione ao cirurgião uma boa visão das margens tumorais para que o procedimento seja o mais curativo possível. A cirurgia de maxilectomia convencional, tanto a abordagem por rinotomia lateral quanto via Weber-Fergusson ou Diffenbach, é ainda utilizada mundialmente, mas em muitos casos, esta abordagem tem sido substituída pela degloving médio-facial, a qual evita cicatrizes faciais. Esta abordagem tem sido utilizada há aproximadamente 25 anos, e sua utilização está aumentando no tratamento de extensas lesões benignas na região rinossinusal, para determinadas neoplasias malignas nesta área e para providenciar acesso para a nasofaringe e fossa infratemporal 2. A técnica cirúrgica consiste em: Após intubação endotraqueal, vasoconstritor tópico nasal e infiltração local, o procedimento é iniciado com uma incisão transfixante e uma incisão intercartilaginosa bilateral. Os tecidos do dorso nasal, parede anterior do seio maxilar, glabela e o osso frontal são elevados através da incisão intercartilaginosa, os quais são, então, estendidos lateralmente para o assoalho da cavidade nasal até encostar a parte caudal da incisão transfixante de ambos os lados, fechando circularmente a incisão. Em seguida, uma incisão sublabial é realizada no primeiro molar até o dente correspondente contralateral. Esta incisão atinge o muco-periósteo e se continua com a incisão intranasal na região da abertura piriforme. Um elevador de periósteo é usado para elevar os tecidos bilateralmente até alcançar a rima orbital inferior enquanto são tomados os cuidados necessários para proteger os vasos e nervos infraorbitais. O retalho, que inclui a cartilagem lateral inferior e a columela, é elevado até a glabela, região cantal medial e testa, de modo que todo o esqueleto médio-facial seja exposto ³. Pelo demonstrado na técnica exposta, a via de acesso degloving apresenta a grande vantagem de exposição de todas as estruturas intranasais e nasossinusais para a intervenção do cirurgião, sendo este um fator decisivo quando se trata de doenças malignas, em que as margens devem estar livres, além de apresentar resultados estéticos muito bons, pois não há incisão em pele. OBJETIVO Com o objetivo de descrever os resultados estéticos e de melhor acesso transoperatório de cirurgias nasossinusais via degloving, assim como de avaliar a morbidade pós-operatória dos pacientes submetidos às mesmas, realizamos um estudo com pacientes internados no Hospital Geral de Fortaleza SESA/SUS, portadores de nasoangiofibroma, papiloma invertido nasossinusal, estesioneuroblastoma, carcinoma adenóide cístico, cordoma do clivus, granuloma de colesterol e granuloma de células gigantes. MATERIAS E MÉTODOS Para avaliar a morbidade pós-operatória e os resultados estéticos em relação ao acesso cirúrgico de pacientes operados por via degloving, realizamos um estudo retrospectivo de 16 pacientes operados no Hospital Geral de Fortaleza SESA/SUS, no período de dezembro de 1999 a novembro de 2003, pelo serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, sob anestesia geral. Os pacientes eram portadores de nasoangiofibromas (9 pacientes, figura 1), papiloma invertido nasossinusal (2 pacientes), estesioneuroblastoma (1 paciente, figura 2), carcinoma adenóide cístico (1 paciente), cordoma do clivus (1 paciente), granuloma de colesterol (1 paciente) e granuloma de células gigantes (1 paciente), confirmados através de estudo histopatológico. A pesquisa foi realizada com a avaliação de prontuários médicos no arquivo do hospital e preenchimento de um protocolo padronizado que incluía os seguintes dados: nome, número do prontuário, data da cirurgia, idade, nome da cirurgia, topografia da lesão, hemoglobina pré-operatória, hemoglobina pós-operatória, dias de permanência pós-operatória, uso de antibiótico, tempo de tamponamento nasal, fio cirúrgico utilizado, necessidade de transfusão sangüínea, presença de complicações e tempo de acompanhamento sem recidiva (através de nasofibroscopia flexível). RESULTADOS Os pacientes da presente casuística apresentavam média de idade de 25,5 anos (variando entre 12-76 anos) (Tabela 1). Todos os pacientes necessitaram de tampão nasal, e a média de permanência foi de 4,5 dias (entre 2-9 dias). Em 15 pacientes houve uma diminuição dos níveis de hemoglobina numa média de 2,07mg/dL (entre 0,7-4,3 mg/dl). Todos os pacientes portadores de angiofibroma apresentaram queda dos níveis hematimétricos, numa média de 2,01mg/dL (0,7-3,8mg/dL). Nove pacientes necessitaram de transfusão no ato cirúrgico, dos quais 6 eram portadores de angiofibroma, e a média de volume de sangue transfundido foi de 700mL (entre 300-1200mL). Todos os pacientes fizeram uso de antibiótico, profilático ou terapêutico, e a média de uso foi de 6,5 dias (entre 3-12 dias). Dos antibióticos utilizados, o de uso mais comum foi a Cefalotina (10 dos 16 pacientes) (Tabela 2). Na sutura do vestíbulo nasal e mucosa oral foi utilizado o fio Vicryl 4.0 em 15 pacientes. Apenas em 1 paciente foi utilizado o fio Monocryl 4.0, e em dois pacientes houve associação de Vicryl 4.0 e Seda 4.0. Houve complicações em 7 pacientes, todas de pouca importância. Até o presente, apenas 2 dos 16 pacientes tiveram recidiva de suas doenças que os levaram a serem operados. A média do 159

Tabela 1. Relação entre pacientes, cirurgia realizada, idade e topografia da lesão. Paciente Cirurgia Idade Topografia da lesão 1 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 14 anos Nasofaringe 2 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 19 anos Nasofaringe 3 Etmoidomaxilarectomia medial 15 anos Fossa nasal 4 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 18 anos Nasofaringe 5 Ressecção de cordoma do clivus 31 anos Clivus 6 Etmoidomaxilarectomia 57 anos Seio maxilar 7 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 20 anos Nasofaringe 8 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 20 anos Nasofaringe 9 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 16 anos Nasofaringe 10 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 15 anos Nasofaringe 11 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 19 anos Nasofaringe 12 Maxilarectomia 26 anos Seio maxilar 13 Ressecção de papiloma invertido nasossinusal 76 anos Fossa nasal 14 Ressecção de papiloma invertido nasossinusal 42 anos Fossa nasal 15 Ressecção de estesioneuroblastoma 12 anos Fossa nasal 16 Ressecção de angiofibroma nasofaríngeo 23 anos Nasofaringe Tabela 2. Relação entre hemoglobina pré e pós-operatória, transfusão sangüínea, uso de tampão nasal e antibiótico. Paciente Hb pré-op Hb pós-op Transfusão Tampão nasal Antibiótico 1 12,0 10,9 900 ml 3 dias Cefalotina 7 dias 2 12,1 11,4 Não 2 dias Cefalotina 7 dias 3 11,5 12,8 600 ml 2 dias Cefalotina 5 dias 4 15,5 12,0 600mL 6 dias Cefalotina 7 dias 5 13,2 8,93 1200ml 5 dias Ceftriaxona 10 dias 6 14,5 11,4 Não 3 dias Ampicilina 12 dias 7 12,7 11,0 600ml 3 dias Cefalotina 06 dias 8 16,0 14,7 300ml 3 dias Cefalotina 03 dias 9 16,3 12,5 300mL 5 dias Cefalotina 3dias 10 15,2 13,8 Não 6 dias Cefalexina 10 dias 11 12,0 10,0 Não 4 dias Cefalotina 04 dias 12 13,9 12,7 Não 9 dias Cefalexina 10 dias 13 14,0 12,7 Não 5 dias Clindamicina 04 dias 14 12,4 10,6 600mL 4 dias Clindamicina/Amicacina 06 dias 15 14,0 12,5 Não 5 dias Cefalotina 07dias 16 11,6 9,0 1200ml 3 dias Cefalotina 03 dias 160

Tabela 3. Relação entre fio cirúrgico utilizado na sutura das mucosas nasal e oral, tempo de permanência no hospital depois da cirurgia, presença de recidiva e complicações. Paciente Fio cirúrgico Permanência Recidiva Complicações 1 Vicryl 4.0 7 dias Não. 55 meses Sangramento 2 Vicryl 4.0 7 dias Não. 40 meses Não 3 Vicryl 4.0 5 dias Sim. 29 meses Não 4 Vicryl 4.0 7 dias Não. 31 meses Deiscência de sutura 5 Vicryl 4.0 16 dias Sim. 6 meses Não 6 Vicryl 4.0 12 dias Não. 37 meses Fístula oroantral 7 Vicryl 4.0 6 dias Não. 28 meses Queda de asa nasal 8 Vicryl 4.0 e Seda 4.0 6 dias Não. 24 meses Trismo 9 Vicryl 4.0 e Seda 4.0 6 dias Não. 24 meses Não 10 Vicryl 4.0 7 dias Não. 21 meses Epistaxe e perfuração de septo 11 Vicryl 4.0 4 dias Não. 19 meses Não 12 Vicryl 4.0 10 dias Não. 9 meses Trismo 13 Monocryl 4.0 5 dias Não. 15 meses Não 14 Vicryl 4.0 6 dias Não. 12 meses Não 15 Vicryl 4.0 8 dias Sim. 6 meses Não 16 Vicryl 4.0 5 dias Não. 8 meses Não Figura 1. Acesso a nasoangiofibroma via degloving médio-facial. Figura 2. Acesso a estesioneuroblastoma via degloving médio-facial. tempo de permanência no pós-operatório foi de 7,3 dias (entre 4-16 dias) (Tabela 3). O acompanhamento pósoperatório foi feito com o uso de videonasofibroscópio flexível, e todos os diagnósticos foram confirmados com exame histopatológico. DISCUSSÃO A rinotomia lateral é uma abordagem tradicional para cirurgias de tumores envolvendo a cavidade nasal e os seios paranasais. Esta abordagem fornece uma excelente exposição cirúrgica; entretanto, mesmo com esta vantagem, seu uso é limitado, pois ela deixa uma proeminente cicatriz na face. A via de acesso degloving foi primeiro descrita em 1974 por Casson et al.¹ e tem se tornado popular devido às suas maiores vantagens em evitar incisões faciais e em providenciar exposição bilateral da cavidade nasal. Desta forma, a via de acesso degloving médio-facial tem sido usada como primeira opção para maxilectomia medial, maxilectomia radical e cirurgias crânio-faciais não 161

complicadas 4-6. Têm sido descritas algumas modificações da cirurgia de degloving para se evitar estenose vestibular, a qual representa a complicação mais freqüente e significante 7. O procedimento padrão consiste em uma extensa incisão gengivobucal, uma incisão septal transfixante, uma incisão intercartilaginosa e uma incisão na abertura piriforme. A estenose vestibular ocorre como uma conseqüência da incisão circunferencial no vestíbulo durante o procedimento. Dos dezesseis pacientes operados no nosso serviço, houve complicações pós-operatórias em sete pacientes, mas nenhuma relacionada à estenose do vestíbulo nasal, demonstrando, assim, que o procedimento cirúrgico em si, associado à experiência dos cirurgiões e ao fio cirúrgico utilizado (Vicryl na sua grande maioria), fornece bons resultados estéticos. Apenas 1 paciente apresentou deiscência de sutura. O fio utilizado na sutura da região vestibular é um ponto de análise importante a ser vistoriado, para garantir o sucesso do procedimento em relação à fisiologia e à estética nasais 8. Apesar de já ser estabelecido que uma hora a mais no tempo operatório duplica a incidência de infecção e certamente é um fator a mais no aumento do trauma e suas repercussões, o tempo operatório é ainda discutido. Atribui-se ausência de relação entre o tempo de cirurgia e complicações pós-operatórias, morte ou longo tempo de sobrevida. Desta forma, é sabido que um dos inconvenientes do tipo de cirurgia em estudo é que ela tende a ter uma maior duração que a via endoscópica, a qual se apresenta como uma alternativa viável e bastante eficaz no tratamento de tumores nos estágios iniciais envolvendo a cavidade nasal, visto que se realiza de forma menos agressiva e compromete menos a recuperação pós-operatória do paciente. No entanto, em se tratando de lesões maiores, mesmo de caráter benigno, a via endoscópica não é apropriada. Outro inconveniente é que por se tratar de uma cirurgia extensa, o sangramento é maior, requerendo maior necessidade de reposição volêmica, de modo que 9 dos 16 pacientes receberam transfusão de concentrado de hemácias, com uma média de 700mL/paciente, havendo queda dos níveis de hemoglobina em 15 pacientes, com uma média de 2,07mg/dL. Entretanto, vale a ressalva de que destes nove, seis pacientes eram portadores de angiofibroma (a média transfusional foi de 650mL de concentrado de hemácias), lesão vascular que por si só remete a sangramento ativo, e dos nove pacientes portadores de angiofibroma, todos tiveram diminuição dos níveis hematimétricos. Todos os pacientes portadores desta lesão foram submetidos à embolização tumoral previamente à cirurgia. Na avaliação do sangramento dos demais tumores, 4 pacientes não necessitaram de transfusão sangüínea, e 3 necessitaram numa média de 800mL. Portanto, a avaliação do sangramento intra-operatório está muito mais relacionada ao tipo histológico do tumor que mesmo à técnica cirúrgica utilizada. Embora esteja demonstrado na literatura que a transfusão perioperatória seja um indicador de mau prognóstico, com decréscimo da sobrevivência pós-operatória, no seguinte estudo isto não foi demonstrado. Além disso, foi também necessário o uso de tampão nasal em todos os pacientes, com média de permanência de 4,5 dias. Mesmo assim, o tempo de hospitalização pósoperatória foi de apenas 7,3 dias em média, e apenas 2 pacientes apresentaram recidiva. Estes dois fatores isolados, aliados à vantagem de não deixar cicatrizes, demonstra que embora a cirurgia via degloving apresente alguns incovenientes já demonstrados, é eficaz no tratamento de lesões extensas envolvendo a cavidade nasal e seios paranasais. CONCLUSÃO Com os dados apresentados no presente estudo, podemos concluir que a via de acesso degloving para ressecção de tumores nasossinusais é efetiva e apresenta as vantagens de uma ampla exposição cirúrgica, ótimos resultados estéticos, poucas taxas de complicações pósoperatórias e baixos índices de recidiva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Jeon SY, Jeong JH, Kim HS, Seong K, Kim JP. Hemifacial deglonvig for medial maxillectomy: a modification of midfacial degloving aproach. Laryngoscope 2003; 113(4):754-6. 2. Casson PR, Bonnano PC, Converse JM. The midfacial degloving procedure. Plast Reconst Surg 1974;53:102-3. 3. Cultrara A, Turk J, Har-El G. Midfacial Degloving Aproach For repair of Naso-orbital-ethmoid And Midfacial Fractures. Plast Reconst Surg 2004;6(2):133-5. 4. Maniglia AJ. Indications and techniques of midfacial degloving. Arch Otolaryngol Head and Neck Surg 1986;112:750-2. 5. Price JC, Holliday MJ, Johns MR, Kennedy DW, Richtsmeier WJ, Mattox DE. 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