ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN
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- Raul Lobo Carreiro
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1 REDE DE VIGILÂNCIA EM CÂNCER DE MAMA MUNICÍPIO DE NOVA SANTA ROSA PR Viviane Delcy da Silva 1 1. INTRODUÇÃO Este relato de experiência descreve a forma de reorganização dos serviços de saúde do SUS do município de Nova Santa Rosa PR, como estratégia para a detecção precoce de câncer de mama e vigilância de fatores de risco. Em 2007, a equipe de Vigilância em Saúde em parceria com a Atenção Básica (AB), através da elaboração e análise dos instrumentos de gestão, identificaram no município um baixo índice de mamografias para rastreamento de câncer de mama, principalmente em mulheres na faixa etária de risco: 50 a 59 anos, ausência de um sistema de vigilância dos fatores de risco e a deficiência de indicadores para acompanhamento e avaliação dos programas. Esta situação motivou as referidas equipes a desenvolverem estratégias, que visassem a vigilância e monitoramento dos casos de câncer de mama, o aumento da oferta dos exames e detecção precoce de câncer evitando óbitos. Analisando a organização do processo de trabalho das equipes da AB na assistência às usuárias, observou-se que a mulher passava por várias etapas e profissionais até conseguir realizar seus exames, não tinha um acompanhamento contínuo e sistemático e nem atendimento integral. Primeiramente vinha até a UBS por livre demanda para agendar o preventivo ginecológico ou consulta; na data marcada voltava a UBS para fazer o preventivo e durante a avaliação clinica das mamas, ao identificar nódulos ou situação suspeita, a enfermagem orientava a usuária a agendar consulta com o médico e esta 1 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública (UNIOESTE), pós- graduanda em Gestão Pública Municipal (UEM); Coordenadora da Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Santa Rosa. Rua Guarani, 581, Centro. Nova Santa Rosa PR. Fone: (45) viviannedasilva@yahoo.com.br.
2 novamente procurava a UBS para agendar consulta médica; na data vinha consultar e o médico solicitava mamografia; a usuária se dirigia a Secretaria de Saúde no setor de agendamento com a solicitação do médico para agendar o exame, cuja demora na fila de espera era de cerca de 6 meses. Durante este tempo tinha que ficar vindo a UBS para verificar se a data já havia sido marcada. Quando finalmente conseguia realizar a mamografia, tinha que esperar o resultado por mais 15 a 20 dias, retornar a UBS para buscar o exame, agendar nova consulta com o médico, consultar, e caso houvesse necessidade de outros exames complementares ou procedimentos, o médico realizava outro encaminhamento e a mulher deveria novamente fazer todo o percurso. Neste processo ou peregrinação, muitas mulheres simplesmente desistiam ou as que tinham condições realizavam o exame particular; as que não tinham ficavam angustiadas a esperar. Em casos graves em que o tempo é precioso, havia uma piora do quadro, pois sabe-se que o tumor após a fase palpável duplica de tamanho em 3 a 4 meses. 2.OBJETIVOS Geral Criar uma estratégia para aumentar a realização de exames de diagnóstico precoce, bem como um sistema municipal de vigilância de fatores de risco para câncer de mama. Específicos Reestruturar o fluxo de assistência a saúde nas UBS, melhorando o acesso; Aumentar a oferta e realização de Exame Clínico de Mamas e mamografias; Integrar e criar uma rede entre Vigilância em Saúde, AB e os serviços de média e alta complexidade, buscando-se melhor aproveitamento da estrutura física, recursos humanos e materiais; Proporcionar atendimento e monitoramento mais direcionado aos grupos de risco.
3 3. METODOLOGIA Para obter indicadores sobre os principais fatores de risco de câncer de mama, foi elaborado um mapa de rastreamento contendo: dados sobre realização de mamografia, antecedentes familiares de câncer de mama, informações sobre auto-exame e realização do ECM, tipo de anticoncepcional utilizado pela mulher. A pesquisa foi realizada pelas agentes comunitárias de saúde durante a visita domiciliar. A partir dos dados obtidos a equipe possui as informações sobre as mulheres com maior risco, podendo monitorá-las. Seguindo o Consenso para Controle do Câncer de Mama do Inca, é realizado ECM para mulheres de todas as faixas etárias, como parte do atendimento integral e para mulheres acima de 50 anos, agendado mamografia de acordo com as recomendações. Também se providenciou acesso aos demais procedimentos de investigação diagnóstica e de tratamento, quando necessário. A partir da reestruturação do fluxo de acesso, a usuária só precisa vir até os serviços de Saúde três vezes: na consulta inicial, na data agendada da mamografia e para buscar o resultado. São encaminhadas pelo PSF ou livre demanda para consulta de enfermagem, onde é coletado o preventivo de câncer de colo de útero e realizado o ECM para todas as mulheres. Nos casos de risco (todas acima de 50 anos ou menor se indicação) a enfermeira preenche a requisição e agenda as mamografias com as clinicas por ou telefone; conforme o caso a usuária já fica sabendo a data que deve retornar para a mamografia ou USG de mama, ou dentro de alguns dias é ligado ou avisado pelos ACS. A própria enfermagem entra em contato com o setor de agendamento da SMS para informar a data e número de usuárias agendadas que deverão ser transportadas para o município onde é realizado as mamografias, pois não possuímos mamógrafo. Os resultados dos exames são enviados às enfermeiras que realizam a entrega, orientação e aconselhamento, diminuindo a ansiedade e preocupação das usuárias; também realizam o encaminhamento segundo protocolo, para ginecologista, mastologista ou oncologista conforme o caso. Também fica arquivado no prontuário uma cópia dos exames para futuras avaliações e acompanhamento.
4 Nos casos de necessidade de cirurgia ou tratamento as usuárias são acompanhadas pela ESF, incluindo o agendamento dos exames de retorno conforme rotina. As familiares já são inclusas na lista de pessoas com fatores de risco. As usuárias com fatores de risco, além de serem monitoradas com exames regularmente, são encaminhadas para acompanhamento com outros profissionais: nutricionista e professores de educação física, objetivando cuidar dos fatores alimentação saudável e redução do sedentarismo. As fumantes são orientadas sobre o Serviço de Abordagem e Tratamento do Fumante existente no município. Também são realizadas atividades educativas na comunidade, como palestras nos clubes de mães, damas, igrejas e distribuição de material educativo. Há parceria com outros setores Governamentais (Secretaria de Ação Social) e não Governamentais (Associação Municipal de Proteção a Maternidade e a Infância, Clube de mães, Igrejas e Conselho Municipal de Saúde). 4. RESULTADOS Dentre os principais resultados obtidos ressaltamos a diminuição do tempo nas filas de espera para realização das mamografias, que antes era de 6 meses em média para 1 a 3 dias nos casos de urgência, ou no máximo 15 dias para exames de rotina. Agilizou-se consideravelmente o processo de diagnostico precoce e tratamento dos casos de câncer de mama. Houve diminuição nas idas e vindas da usuária a UBS e da passagem por vários profissionais até conseguir o tratamento necessário. Além disso, ela é orientada sobre todos os passos e procedimentos que serão necessários: onde deve ir, os exames que irá realizar e o profissional que irá lhe atender. Desta forma, havendo diminuição da ansiedade e preocupação da usuária pelo fato de saber que está sendo acompanhada e monitorada por um profissional que lhe transmita confiança e segurança. Também foram observadas modificações na quantidade de exames realizados. Na Tabela 1 estão relacionados os procedimentos diagnósticos pelo SUS efetuados nos dois anos de reorganização do programa.
5 TABELA 1: Procedimentos diagnóstico de mama pelo SUS e ano de processamento. Nova Santa Rosa a 2009 Procedimento Mamografia bilateral para rastreamento Mamografia unilateral Ultra-sonografia mamaria bilateral Exame citopatologico de mama 4 4 Consulta de enfermagem a mulheres Fonte: DATASUS (2010). De acordo com a Tabela 1, observamos que em 2008 não foram realizadas mamografias bilaterais para rastreamento de câncer de mama. Em 2009, após a reorganização dos serviços foram realizados 224 exames para detecção precoce de câncer de mama. Em relação a mamografias unilaterais também houve um aumento considerável de 97 exames em 2008 para 140 em As mamografias unilaterais são realizadas naqueles casos em que há alteração mamaria e é necessário acompanhamento somente daquela mama. Houve uma ligeira diminuição de Ultra-sonografia mamaria bilateral, de 22 em 2008 para 17 exames em Estas ultra-sonografias são realizadas em casos de suspeitas de lesões especificas, idade inferior a 35 anos ou Birads 0 na mamografia. Também foram coletados quatro exames citopatológico de mama em 2008 e quatro em Este exame é coletado pelas próprias enfermeiras no momento do exame clinico de mamas e para os casos em que há secreção de mama espontânea. Ao total em 2008, foram acompanhadas pela equipe de enfermagem da Atenção Básica, 806 mulheres, aumentando para 984 mulheres em Calculando a proporção de mulheres na faixa etária de risco (acima de 50 anos) que realizaram mamografia no ano pelo SUS, obtivemos um aumento de 4% em 2008 para 17% em Na tabela 2 estão relacionadas o total de internamentos por neoplasias de mama no município para tratamento, nos dois últimos anos.
6 TABELA 2: Internações por Ano de competência. Neoplasias de mama. Nova Santa Rosa a 2009 Morbidade Neoplasia benigna da mama 5 15 Neoplasia maligna da mama 3 6 Fonte: DATASUS (2010) Podemos perceber que houve um aumento das internações para tratamento de neoplasias de mama do ano de 2008 para O número de casos identificados de neoplasia maligna duplicou; em relação a neoplasias benignas em 2009 foram identificados três vezes mais casos do que em relação a CONCLUSÕES Além dos usuários, esta estratégia beneficia também as equipes de saúde da Atenção Básica, porta de entrada dos serviços de saúde do SUS, que sabemos na realidade de todo o Brasil, encontram-se abarrotadas de usuárias que procuram assistência. Muitas vezes a equipe não possui tempo para proporcionar um atendimento adequado considerando a grande demanda. Com a adoção desta estratégia, é possível desafogar as UBS, diminuir as consultas médicas somente para pegar requisição para exames, sobrando mais tempo da equipes para acompanhamento de outros casos. Beneficia do mesmo modo as equipes de Vigilância em Saúde, que passam a ter dados e indicadores para acompanhamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis, em importante parceria com a Atenção Básica. Outro beneficio é o econômico: a curto, médio e longo prazo. Diminuindo a burocratização, diminuem os custos com materiais, insumos e equipamentos. A detecção precoce de câncer de mama reduz os gastos com tratamento do câncer em fase avançada e os custos com internamentos e reabilitações. Diversos estudos têm demonstrado que no Brasil as usuárias têm dificuldade de acesso ao exame físico das mamas por médicos nos Postos de Saúde, e grande parte das
7 usuárias têm dificuldade para realizar a mamografia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e acabam desistindo de realizá-la. O que também se observa é que muitas vezes o médico somente fornece a requisição da mamografia sem realizar o exame clinico de mamas, importante na detecção de nódulos que nem sempre aparecem na mamografia. Todos os benefícios foram obtidos a partir da simples reorganização do processo de trabalho e fluxos de atendimento. Ao colocarmos no lugar de uma mulher que percebe um nódulo em sua mama e que precisa voltar a unidade de saúde por cerca de 10 vezes, passar por diversos profissionais e esperar cerca de meio ano até conseguir realizar seu exame, para descobrir se possui ou não um câncer de mama, podemos imaginar a ansiedade e preocupação que com certeza, afligirá esta mulher, sem contar no tempo precioso que perdeu caso fosse um câncer maligno. Somente por este motivo já vale a pena reorganizar os serviços de forma a proporcionar um atendimento mais ágil, humanizado e integralizado. Palavras Chaves: Câncer de mama, assistência ambulatorial, fatores de risco, Atenção Primária à Saúde.
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