Avaliação de um Programa de Promoção de Saúde Bucal para Crianças



Documentos relacionados
AÇÕES COLETIVAS E INDIVIDUAIS DE SAÚDE BUCAL EM ESCOLARES DO ENSINO FUNDAMENTAL

TÍTULO: AUTORES INSTITUIÇÃO:

PALAVRAS CHAVE: Promoção de saúde, paciente infantil, extensão

PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA NOS ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL ADELMO SIMAS GENRO, SANTA MARIA, RS: UMA ANÁLISE DESCRITIVA PARCIAL 1

PROGRAMA DE DISCIPLINA

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

ÁREA TEMÁTICA: Saúde. Resumo

Higiene bucodental. Professora Monica Zeni Refosoco Odontologia UNOCHAPECÓ

Tratamento restaurador atraumático: uma alternativa de recuperação da qualidade de vida

Linha 1: Resposta biológica nas terapias em Odontologia.

TÉCNICAS DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA CÁRIE DENTÁRIA EM CRIANÇAS

AVALIAÇÃO DE PROGRAMA DE EDUCAÇÃO ODONTOLÓLICO ESCOLAR, EM CRIANÇAS DE 4 A 5 ANOS DE IDADE

PERFIL DA DEMANDA AMBULATORIAL INFANTIL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UFBA NOS ANOS DE 1994 E 1999

"UMA BOCA SAUDÁVEL NA IDADE ADULTA DEPENDE DOS CUIDADOS QUE FOREM MANTIDOS DESDE O BERÇO".O que é a Odontopediatria?

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

PLANO DE TRABALHO TÍTULO: PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA DAS CRIANÇAS

Implantes Dentários. Qualquer paciente pode receber implantes?

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL PARA CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS DE UM COLÉGIO DE APUCARANA-PR.

A RELEVÂNCIA DAS ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO PROJETO DE EXTENSÃO AÇÕES DE PREVENÇÃO E DE RESOLUÇÃO DA CÁRIE E DO TRAUMATISMO DENTÁRIO

Câmpus de Araçatuba. Plano de Ensino. Docente(s) Suzely Adas Saliba Moimaz, Ronald Jefferson Martins, Renato Moreira Arcieri, Tânia Adas Saliba Rovida

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: apesb@terra.com.br Universidade Federal da Paraíba Brasil

MEDIDAS DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DE CÁRIE EM ESCOLARES ADOLESCENTES DO CASTELO BRANCO

Prof Dr.Avelino Veit Mestre Ortodontia Doutor Implantodontia Fundador projetos socio-ambientais Natal Azul e Salve o Planeta Azul

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

Filiada a e. Jenny Abanto, Paula Celiberti, Mariana Minatel Braga, Marcelo Bönecker Universidade de São Paulo

MANUAL DO DENTISTA VOLUNTÁRIO E TERMO DE COMPROMISSO DO DENTISTA DO BEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

AVALIAÇÃO DE TRATAMENTOS ENDODÔNTICOS REALIZADOS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO COM PROSERVAÇÃO DE SEIS MESES

MANUAL PARA PREENCHIMENTO DAS FICHAS

5 Considerações finais

ANÁLISE DE DIFERENTES MODELOS DE ATRIBUIÇÃO DE NOTAS DA AVALIAÇÃO INTEGRADORA (AVIN) DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DO UNICENP

CIRURGIAS ORTOGNÁTICAS

A Importância da Educação em Saúde Bucal para Pré-Escolares

Estudo do perfil docente nos cursos de odontologia da região Sul

PLANO DE TRABALHO 2011 PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE BUCAL

PREPARANDO A IMPLANTAÇÃO

3 Método 3.1. Entrevistas iniciais

REGULAMENTAÇÃO DO ESTÁGIO CURRICULAR DO CURSO DE ODONTOLOGIA Resolução nº 007/2006 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE)

INFLUÊNCIAS DA KINESIOTAPING NO DESEMPENHO DO SALTO EM DISTÂNCIA, EM INDIVÍDUOS SADIOS JOVENS

Avaliação da percepção das equipes de saúde bucal da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba (PR) sobre o tratamento restaurador atraumático (ART)

Desempenho clínico de restaurações ART (Tratamento Restaurador Atraumático) em crianças atendidas na clínica de cariologia da UFPB

A PolíticA que faz muitos brasileiros voltarem A sorrir.

SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS NA IDADE ESCOLAR EM NOVA XAVANTINA-MT 1

INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS NO RESULTADO DA TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

Índice. Passo a passo para uma higiene bucal completa

DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS DE GESTÃO DA INICIATIVA

Como a palavra mesmo sugere, osteointegração é fazer parte de, ou harmônico com os tecidos biológicos.

Relato de Grupo de Pesquisa: Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade.

Borges, Ferreira, Kruel, Scharnberg y Tazima / Variáveis possíveis de evasão...

Victor Silvano Resende. Estabilidade da margem gengival após cirurgia para recuperação do espaço biológico - avaliação clínica

HIGIENE PESSOAL: A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR O CORPO HUMANO

SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL NA ESCOLA

PLANO DE OCUPAÇÃO PLENA DOS TEMPOS ESCOLARES

PREFEITURA MUNICIPAL NOVA SANTA BÁRBARA

CONHECIMENTO DE SAÚDE BUCAL DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL

ESTUDO DA PREVALÊNCIA DO CÂNCER BUCAL NO HC DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ATRAVÉS DO CID 10


AVALIAÇÃO DE CONFIANÇA DO CPITN EM LEVANTAMENTOS EPIDEMIOLÓGICOS DE CONDIÇÕES PERIODONTAIS

PLANO DE ENSINO. Departamento. Carga horária ODONTOPEDIATRIA - ODT Odontologia

A ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO

NILCE DE MENEZES MOREIRA ISABEL CRISTINA LODI BASSANESI JULIANA MASIERO

Saúde Bucal Coletiva. 1/9/ :10 Prof. Samuel Jorge Moysés, Ph.D. 1

PROMOVENDO ATIVIDADES RELACIONADAS À HIGIENE PESSOAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL PARA PRÉ-ESCOLARES DO CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL EM VIÇOSA-MG

Monitoria como instrumento para a melhoria da qualidade do ensino em Farmacotécnica

CIRURGIA DE RINOSSEPTOPLASTIA. Informações sobre a cirurgia

PROMOVENDO A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR EM ESCOLAS NOS MUNICÍPIOS DE UBÁ E TOCANTINS-MG RESUMO

Percepções, conhecimentos e práticas em saúde bucal de escolares

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

AVALIAÇÃO CLÍNICA DE TRÊS SISTEMAS DE REMOÇÃO MINIMAMENTE INVASIVOS DO TECIDO CARIADO

Absenteísmo por causas odontológicas em cooperativa de produtores rurais do Estado de Minas Gerais

Absenteísmo por causas odontológicas em uma empresa agropecuária da Região Sudeste do Estado de Minas Gerais

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO POR MEIO DA WEB

UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA

A PRÁTICA DA CRIAÇÃO E A APRECIAÇÃO MUSICAL COM ADULTOS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Bernadete Zagonel

5 dicas para uma excelente higiene oral

Programa Sol Amigo. Diretrizes. Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA

PROJETO DE EXTENSÃO TÍTULO DO PROJETO:

Índice de Impactos Odontológicos no Desempenho das Atividades Diárias da Criança (OIDP-Infantil)

Escovação no Controle da Placa

MANUAL PARA CONFECÇÃO DE PAINÉIS CIENTÍFICOS*

Odontologia do Esporte e o atleta de elite

UERJ. Saúde Bucal Coletiva

DESENVOLVIMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE BUCAL NA REDE DE SERVIÇOS DA SMSA DOCUMENTO AUXILIAR

Política de Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

REGULAMENTO PARA A REALIZAÇÃO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

Fazendo de seu sorriso nossa obra de arte

Curso de Mestrado em Ciências Odontológicas, Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos UNIFEB.

ANÁLISE DA DENTIÇÃO MISTA

Revista QUAL O PAPEL DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO CONTEXTO DA UNIVERSIDADE DO CONTESTADO: O QUE FAZ O TUTOR?

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

A experiência e o conhecimento acumulados dos profissionais do Programa Caminho Melhor Jovem em relação à saúde oral

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Desenho de Cursos: introdução ao modelo ADDIE. Módulo6 Avaliação

PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA EM BRASÍLIA, BRASIL (1)

Transcrição:

TRABALHO DE PESQUISA Avaliação de um Programa de Promoção de Saúde Bucal para Crianças Evaluation of a Program of Oral Health Promotion for Children Maria Laura Menezes BONOW* Janusa de Fátima CASALLI** BONOW, M.L.M.; CASALLI, J. de F. Avaliação de um programa de promoção de saúde bucal para crianças. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v.5, n.27, p.390-394, set./out. 2002. A saúde bucal da população brasileira é precária, por isto são necessários programas de promoção de saúde bucal. Estes programas, quando aplicados a pré-escolares, podem possibilitar a mudança precoce de maus hábitos e, conseqüentemente, dentição permanente e gengiva saudáveis. A boa relação do paciente com o Cirurgião-dentista é fator determinante da motivação e obtenção de benefícios. Vinte e três crianças, de 4 a 5 anos, pertencentes a uma creche, foram avaliadas quanto à relação com o Cirurgião-dentista, à condição da gengiva (sangramento ou não à escovação) e ao estado dos dentes. Os procedimentos necessários foram planejados e realizados. As crianças receberam orientações de escovação a cada duas semanas. O grupo foi composto por 25 crianças. Os resultados foram submetidos ao teste c 2 e ao teste exato de Fisher. Comparando o exame inicial com o exame final, houve aumento do número de cavidades de cárie nos grupos experimental e e não houve diferença significante entre estes grupos. Quanto à condição da gengiva, houve melhora significante no grupo experimental e não houve diferença significante no grupo. Quanto à relação da criança com o Cirurgião-dentista, houve melhora no grupo experimental, porém a diferença não foi estatisticamente significante (p=0,05). Assim, este programa foi eficaz para melhorar o estado da gengiva e a relação da criança com o Cirurgião-dentista, além de promover a adequação do meio bucal através dos procedimentos realizados, mas não reduziu o incremento de cárie. PALAVRAS-CHAVE: Promoção de saúde bucal; Educação em Odontologia; Crianças; Odontopediatria. * Doutoranda em Odontopediatria pela FOUSP, Professora-assistente de Odontopediatria na UFPel, Pelotas, RS; Rua Menna Barreto, 580 CEP 96077-640, Pelotas, RS; e-mail: mlauramb@zaz.com.br ** Aluna do Curso de Especialização em Endodontia UFPel, Pelotas, RS As doenças bucais mais comuns na população brasileira são a cárie e as doenças periodontais. Com prevalências elevadas, elas constituem um problema de saúde pública (UNFER & SALIBA, 1995). A alta prevalência de cárie pode ocorrer em todas as idades, independentemente de sexo, raça e cor (BRE- GAGNOLO et al., 1990). Por isto, há imperiosa necessidade da aplicação de métodos preventivos eficazes para controlar e evitar a manifestação da cá rie dentária e da doença periodontal (ZINGA- NO,1985; MOREIRA & HAHN, 1994). Sendo a placa o fator etiológico determinante da cárie e doenças periodontais, a limpeza adequada e sistemática dos dentes é a medida mais direta e abrangente de e tratamento das doenças dentárias (ZINGANO, 1985; KRIGER, 1997). BIJELLA et al. (1995) avaliaram um programa odontológico desenvolvido em pré-escolares durante 12 meses. Na oportunidade, concluíram que a aplicação integrada das bases educativa, preventiva e curativa na faixa etária de pré-escolares foi eficaz, pois nesta época é possível conseguir, devido ao melhor aprendizado, mudanças de hábitos ou práticas que levam à preservação e à manutenção da saúde bucal. Alguns autores relataram a importância da motivação na obtenção de bons resultados. Dentre eles, MOREIRA & HAHN (1994), que defenderam a importância da motivação da população para a adoção de hábitos de higiene bucal, objetivando melhorar os resultados dos programas de Odontologia. UNFER & SALIBA (1995) realizaram avaliação de conhecimentos e práticas preventivas em Odontologia e verificaram alto consumo de açúcar, deficiência na escovação e deficiência de orientação por parte do profissional. Portanto, programas que levem à execução INTRODUÇÃO

diária da limpeza adequada dos dentes por crianças e adultos, com reforço da motivação, treinamento em higiene bucal e aplicação tópica de flúor, resultam em níveis menores de placa e gengivite, inibem o desenvolvimento da cárie e promovem a saúde (TOLEDO & BEZERRA,1996). Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar um programa de promoção de saúde bucal aplicado a um grupo de crianças de uma creche na cidade de Pelotas (RS). exames iniciais e os finais, sendo que, ao final do programa, as crianças de ambos os grupos assistiram a palestras educativas. Este programa foi realizado por três alunas da faculdade de Odontologia da UFPel, que se revezaram em diferentes duplas, sob supervisão da professora responsável. Os resultados foram submetidos ao teste c 2 e ao teste exato de Fisher. CASUÍSTICA, MATERIAL E MÉTODOS Vinte e oito crianças de uma turma, de 4 a 5 anos de idade, pertencentes à Casa da Criança São Francisco de Paula da cidade de Pelotas (RS), foram examinadas quanto à presença ou ausência de cavidades de cárie e à condição da gengiva, que foi considerada saudável ou inflamada. Segundo a proposta de ROSSETTI (1995), gengiva inflamada é aquela que sangra durante a escovação. Para determinação da relação do paciente com o Cirurgiãodentista, as crianças foram classificadas, conforme o autor anteriormente citado, em 2 grupos: aquelas com mente sã e aquelas com mente enferma. As crianças com mente sã são aquelas que respondem sim à pergunta Gostas de ir ao Cirurgião-dentista? ; em caso de pré-escolares, aquelas crianças em que o Cirurgião-dentista percebe atitude positiva. Também WANDERLEY et al. (1998) enfatizam que, para que o profissional conheça o paciente, ele deve observar sua expressão facial, a rigidez do seu corpo e o aparecimento de tiques nervosos. Os dados foram registrados em ficha clínica elaborada com base na ficha clínica proposta por ROSSETTI (1995). Foram planejados e executados tratamentos restauradores atraumáticos (FRENCKEN et al., 1994; FRENCKEN et al.,1996; PHANTUMVANIT et al., 1996; FRENCKEN et al., 1998a; FRENCKEN et al., 1998b; MALLOW et al., 1998; HO et al., 1999), utilizando-se cimento de óxido de zinco e eugenol modificado em cavidades de cárie ativa não-profundas e retentivas. Também foram feitas aplicações tópicas de flúor-fosfato acidulado a 1,23% gel por 1 minuto, quando a criança apresentava cavidades de cárie ativas. As crianças receberam escovas dentais e realizaram escovações supervisionadas a cada duas semanas. Estes momentos tinham também o propósito de melhorar sua relação com o Cirurgião-dentista e sua motivação. Após 8 meses, foi feito o exame final. Este trabalho foi desenvolvido no ano de 1998. No grupo, composto por outra turma de 28 crianças de 4 a 5 anos, pertencentes à mesma instituição, foram realizados apenas os RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos no exame inicial estão apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3. O exame final não foi realizado em cinco crianças do grupo experimental e em três do grupo em função de as mesmas não comparecerem à instituição ou não mais a freqüentarem nos dias de sua realização. Inclusive, o período de avaliação foi de oito meses, com a finalidade de coincidir com um ano letivo, evitando-se desta maneira um número significativo de perdas, o que desqualifica uma pesquisa, e que muitas vezes ocorre na sucessão de anos letivos. Ao comparar o exame inicial com o exame final, foi verificado aumento do número de cavidades de cárie no grupo experimental e no grupo (Tabela 4), porém não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,62). Quanto à condição da gengiva (Tabela 5), houve melhora significante no grupo experimental (p=0,02) e não houve diferença estatisticamente significativa no grupo (p=0,75). Quanto à relação da criança com o Cirurgiãodentista (Tabela 6), houve melhora no grupo experimental, porém estatisticamente não-significante (p=0,05). Devido ao valor de p ser muito próximo ao considerado significativo estatisticamente, é possível que a melhora seja significante em uma amostra maior. Quanto ao aumento de cavidades de cárie no grupo experimental, alguns fatores podem ser especulados, como diagnóstico falso negativo no exame inicial, quando na realidade poderia já haver pequenas cavitações. Um outro fator seria a possibilidade de algumas crianças apresentarem alto risco e/ou atividade de cárie, o que pode ter propiciado o surgimento destas cavidades, levando em consideração que alterações dietéticas não fizeram parte deste programa. Não deve ser descartada, também, a possibilidade de diagnóstico falso negativo no exame final. Segundo o trabalho de PIMENTEL et al. (1999), é possível que o clínico diagnostique como hígidos dentes que possuam lesões incipientes de cárie oclusal. Seu estudo microscópico permitiu concluir que os exames clínico e radiográfico não são definitivos para diagnóstico 391

392 Avaliação de um Programa de Promoção de Saúde Bucal para Crianças seguro das lesões iniciais de cárie. Os resultados do presente estudo concordam com os de MALTZ (1976) e KAY & LOCKER (1996). MALTZ (1976) não encontrou resultados animadores quando desenvolveu um programa baseado em sessões supervisionadas de higiene bucal durante 12 meses e verificou que a diferença de incremento de cárie entre o grupo de crianças pertencentes ao programa não foi estatisticamente significativa em relação às crianças avaliadas no grupo. KAY & LOCKER (1996), realizando uma revisão sistemática da literatura, de 1982 a 1994, sobre a efetividade da educação para a saúde bucal, constataram que, de acordo com os artigos científicos avaliados, os programas não mostraram redução no incremento de cárie entre os grupos. Estes autores avaliaram a educação pelos efeitos positivos ou não das medidas tomadas em programas com diferentes objetivos: reduzir a placa e melhorar a saúde gengival, reduzir o incremento de cárie, alterar a dieta e melhorar o conhecimento e as atitudes. Por outro lado, o período deste estudo, oito meses, pode ser suficiente para avaliar incremento de cavidades de cárie. Podem ter ocorrido cavidades, neste período, a partir de lesões de cárie incipientes, já que estas não foram avaliadas no exame dentário. BACKER DIRKS (1966) relatou que a mancha branca opaca sempre precedeu a cavidade por um período próximo de dois anos; portanto, mesmo que as lesões incipientes tivessem sido avaliadas no exame inicial, não se saberia há quanto tempo elas teriam surgido, e cavidades poderiam ocorrer durante o período desta pesquisa. Em relação à condição da gengiva, o de placa por meios mecânicos, de acordo com vários estudos, é considerado como um procedimento de proteção específica contra a doença periodontal inflamatória (ZINGANO, 1985; MOREIRA & HAHN, 1994). KAY & LOCKER (1996) concluíram que os programas que objetivaram reduzir a placa e melhorar a saúde gengival obtiveram sucesso em alguns casos, embora os efeitos positivos fossem somente a curto prazo, e as reduções nos escores de placa e sangramento gengival, mesmo estatisticamente significantes, eram geralmente pequenas e de importância clínica desconhecida. De acordo com a meta-análise realizada pelos referidos autores, a educação para a saúde bucal resultou numa redução de 30% no índice de placa e de 10% no número de superfícies dentárias com placa. No presente estudo, houve melhora da saúde gengival, respaldando os resultados anteriormente citados. O selamento de cavidades por meio do tratamento restaurador atraumático proporcionou a diminuição de nichos retentivos de placa, além de melhores condições para o paciente realizar os procedimentos de sua auto-remoção mecânica (PESSOA BRUM, 1978). Além disto, foi relatado que crianças da zona rural da Tailândia haviam gostado de receber este tipo de tratamento e que não haviam sentido medo (FDI World, 1994), o que certamente auxilia na aceitação do tratamento odontológico pelo paciente. Quanto à relação da criança com o Cirurgiãodentista, as 4 crianças que não permitiram serem examinadas no exame inicial foram receptivas ao atendimento odontológico após algumas sessões de escovação supervisionadas. ROSSETTI (1995) salienta que a OMS recomenda não esquecer que a boca é uma parte de um ser humano integral; mesmo que sejam feitos os índices CPO e gengival, a situação da mente pode ser negligenciada. O mesmo autor afirma que é importante medir a angústia, o medo e a dor em uma ciência humanística. E ainda, MOREIRA & HAHN (1994) destacaram a importância da limpeza dos dentes associada à fluorterapia em programas de saúde bucal, enfatizando a necessidade da motivação dos pacientes para a incorporação de hábitos de higiene bucal, visando à obtenção de eficácia nos programas de Odontologia. Na oportunidade, verificaram, em sua revisão bibliográfica, que um paciente bem motivado pode alcançar excelentes resultados em termos da melhoria de saúde bucal. Também, conforme PETRY & PRETTO (1997), a grande maioria das pessoas sabe que, para ter uma boa saúde bucal, é necessário escovar os dentes diariamente. Mesmo assim, com freqüência, a higiene oral é deficiente. Os procedimentos de mecânico da placa, por exemplo, são difíceis: exigem tempo, destreza e perseverança. Conseqüentemente, apenas pacientes bem motivados realizam de modo adequado estes procedimentos. De acordo com WANDERLEY et al. (1998), há motivação quando o paciente é estimulado e muda seu comportamento. No presente estudo, as crianças foram motivadas, pois foram estimuladas e mudaram seus procedimentos de higiene bucal, o que ocasionou a melhora da condição da gengiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista os resultados obtidos, este pro grama, aplicado a um grupo de crianças de uma creche: Melhora a condição da gengiva; Poderá melhorar a relação da criança com o Cirur gião-dentista;

TABELA 1: Freqüência de cavidades de cárie ao exame inicial. Nº de cavidades de cárie experimental 0 13 (46%) 10 (35%) 1 2 (7%) 5 (18%) 2 5 (18%) 2 (7%) 3 4 (14%) 3 (11%) 4 0 (0%) 2 (7%) 5 0 (0%) 1 (4%) 6 0 (0%) 2 (7%) 7 1 (4%) 0 (0%) 8 3 (11%) 1 (4%) 10 0 (0%) 2 (7%) TABELA 4: Comparação do exame dentário inicial com o fi nal (8 meses após). Nº de cavidades de cárie experimental Inalterado 20 (87%) 2 2 (88%) experimental: 4 cavidades novas (Total) TABELA 5: Condição da gengiva, após 8 meses. TABELA 2: Condição da gengiva ao exame inicial. Avaliação experimental TABELA 3: Relação da criança com o Cirurgião-dentista ao exame inicial. Mente experimental Sã 24 (86%) 28 (100%) Não reduz o incremento cárie; Promove a adequação do meio bucal mediante os procedimentos realizados. BONOW, M.L.M.; CASALLI, J. de F. Evaluation of a program of oral health promotion for children. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Avaliação experimental Saudável 22 (96%) 19 (76%) TABELA 6: Relação da criança com o Cirurgião-dentista, após 8 meses. Avaliação experimental Melhorou 4 (17%) 0 (0%) Curitiba, v.5, n.27, p.390-394, set./out. 2002. The oral health of Brazilian population is poor; therefore, it is necessary to establish oral health promotion programs. When these programs are focused on preschool children, we may change deleterious habits and consequently, promote healthy gingiva and permanent dentition. A good dentist surgeon-patient relationship is a determinant factor for motivation and gain of benefits. Twenty-three 4-to-5-years-old children attendeding a nursery participated in this study. Their relationship with the dentist surgeon, gingival condition (presence or absence of bleeding during toothbrushing), and dental health were evaluated. Required dental procedures were planned and performed. Children received toothbrushing instructions every two weeks. Control group was composed of 25 children. Results were submitted to c 2 and Fisher exact tests. Comparing initial and final evaluations, there was an increase in the number of carious lesions in both control and experimental groups, with no significant difference between them. Regarding gingival condition, there was a significant improvement in experimental group, and no significant difference in the control group. As for the relationship between children and dentist surgeon, there was an improvement in the experimental group, but the difference was not statistically significant (p=0.05). Therefore, it can be concluded that this program was effective to improve gingival condition and may improve the child-dentist surgeon relationship; it also helped in oral health promotion, but did not reduce caries prevalence. KEYWORDS: Oral health promotion; Education dental; Children; Pediatric dentistry. 393

AGRADECIMENTO Ao Prof. Dr. Guilherme Brião Camacho (UFPel) e à Prof. Maria Ângela Ferreira (UFRN), pela realização da análise estatística. REFERÊNCIAS BACKER DIRKS, O. Posteruptive changes in dental enamel. J Dent Res, Chicago, v.45, n.3, part 1, p.503-511, May/June 1966. BIJELLA, M.F.T.B.; BIJELLA, V.T.; FIGUEIREDO, M.C. Avaliação de um programa odontológico, com bases educativa, preventiva e curativa, desenvolvido com préescolares durante 12 meses. CECADE News, Bauru, v.3, n.2, p.1-5, maio/ago. 1995. BREGAGNOLO, J.C. Ocorrência de cárie dentária nas faces do primeiro molar permanente, em crianças. II Dentes cariados. Rev Paul Odontol, São Paulo, v.10, n.6, p.10-19, nov./dez. 1990. FRENCKEN, J.E.; SONGPAISAN, Y.; PHANTUMVANIT, P.; PILOT, T. An atraumatic restorative treatment (ART) technique: evaluation after one year. Int Dent J, Bristol, v.44, n.5, p.460-464, Oct. 1994. FRENCKEN, J.E.; MAKONI, F.; SITHOLE, W.D. Atraumatic restorative treatment and glass-ionomer sealants in a school oral health programme in Zimbabwe: evaluation after 1 year. Caries Res, Basel, v.30, n.6, p.428-433, Nov./Dec. 1996. FRENCKEN, J.E.; MAKONI, F.; SITHOLE, W.D. ART restorations and glass ionomer sealants in Zimbabwe: survival after 3 years. Community Dent Oral Epidemiol, Copenhagen, v.26, n.6, p.372-381, Dec. 1998a. FRENCKEN, J.E.; MAKONI, F.; SITHOLE, W.D.; HACKENITZ, E. Three years survival of one-surface ART restorations and glass ionomer sealants in a school oral health programme in Zimbabwe. Caries Res, Basel, v.32, n.2, p.119-126, Mar./Apr. 1998b. HO, T.F.T.; SMALES, R.J.; FANG, D.T.S. A 2-year clinical study of two glass ionomer cements used in the atraumatic restorative treatment (ART) technique. Community Dent Oral Epidemiol, Copenhagen, v.27, n.3, p.195-201, June 1999. KAY, E.J.; LOCKER, D. Is dental health education effective? A systematic review of current evidence. Community Dent Oral Epidemiol, Copenhagen, v.24, n.4, p.231-235, Aug. 1996. KRIGER, L.; MOIZÉS, S.T. A Filosofi a de Promoção de Saúde na Clínica Privada. In: KRIGER, L. ABOPREV Promoção de Saúde Bucal. São Paulo: Artes Médicas, 1997. Cap.17, p.409-431. MALLOW, P.K.; DURWARD, C.S.; KLAIPO, M. Restoration of permanent teeth in young rural children in Cambodia using the atraumatic restorative treatment (ART) technique and Fuji II glass ionomer cement. Int J Paediatr Dent, Oxford, v.8, n.1, p.35-40, Mar. 1998. MALTZ, M. Efeito de um Programa de Higiene Oral sobre a Gengiva e Cárie Dental em Escolares. Porto Alegre, 1976. 70f. Dissertação (Mestrado em Odontologia Social) Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. MOREIRA, S.G.; HANH, M.A. A importância dos hábitos de higiene bucal. Rev Gaúcha Odont, Porto Alegre, v.42, n.3, p.161-163, maio/jun. 1994. PESSOA BRUM, C.A. Efeito de um programa de higiene oral supervisionada e pronto-tratamento na prevenção da cárie em escolares. Porto Alegre, 1978. 65f. Dissertação (Mestrado em Odontologia Social) Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. PETRY, P.C.; PRETTO, S.M. Educação e motivação em saúde bucal. In: KRIGER, L. ABOPREV Promoção de saúde bucal. São Paulo: Artes Médicas, 1997. Cap.15. p.363-370 PHANTUMVANIT, P.; SONGPAISAN, Y.; PILOT, T.; FRENCKEN, J.E. Atraumatic Restorative Treatment (ART): a three-year community fi eld trial in Thailand survival of one-surface restorations in the permanent dentition. J Public Health Dent, Albany, v.56, n.3, p.141-145, 1996. Número especial. PIMENTEL, D.A.S.; TOLEDO, O.A.; BEZERRA, A.C.B. Diagnóstico clínico, radiográfi co e histológico de lesões de cárie oclusal em molares decíduos. Estudo in vitro. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v.2, n.5, p.28-31, 1999. ROSSETTI, H. Salud para la Odontología. Argentina: [s.n.], 1995. 151p. Técnica de Tratamiento Reparativo Atraumático. FDI World, Londres, v.3, n.6, p.19-21, nov./dez. 1994. TOLEDO, O.A.; BEZERRA, A.C.B. Atendimento odontológico para pacientes especiais. In: TOLEDO, O.A. Odontopediatria Fundamentos para a prática clínica. 2.ed. São Paulo: Premier, 1996. Cap.13, p.295-318 UNFER, B.; SALIBA, N.A. Avaliação de conhecimentos e práticas preventivas em Odontologia. Saúde, Santa Maria, v.21, n.1-2, p.48-56, jan./jun. 1995. WANDERLEY, M.T.; NOSÉ, C.C.; CORRÊA, M.S.N.P. Educação e motivação na promoção da saúde bucal. In: CORRÊA, M.S.N.P. Odontopediatria na primeira infância. São Paulo: Santos, 1998. Cap.28, p.389-402 ZINGANO, E.L. Higienização bucal Motivação dos pacientes. Odontol Mod, São Paulo, v.12, n.10, p.13-20, nov./dez. 1985. Recebido para publicação em: 28/08/01 Enviado para reformulação em: 23/10/01 Aceito para publicação em: 19/04/02 394