PARECER N.º 12715 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INVESTIGADOR DE POLÍCIA. ALEGAÇÃO DE ALCOOLISMO AFASTADA MEDIANTE EXAME PERICIAL, QUE DEMONSTROU TER O SERVIDOR CAPACIDADE DE DISCERNIMENTO, SENDO CAPAZ DE EXERCER AS ATRIBUIÇÕES DE SEU CARGO. AUSÊNCIA INJUSTIFICADA PELO LAPSO DE MAIS DE SEIS ANOS CONFIGURA O ABANDONO. BASE LEGAL : ART. 81, INCISO XXXVI, DA LEI Nº 7.366/80. DEMISSÃO. Para Parecer desta Equipe de Revisão da PROCURADORIA DE PROBIDADE ADMINISTRATIVA E DE PROCESSO ADMINISTRATIVO- DISCIPLINAR vem o expediente n.º 031766-12.04/98.0, originário do CONSELHO SUPERIOR DE POLÍCIA, em que CÉSAR AUGUSTO BAMMANN, matrícula 1.223856.2, investigador de polícia, 2.ª Classe, Padrão 5, responde por abandono de cargo público, infração tipificada no inciso XXXVI do art. 81, da Lei 7.366, de 29 de março de 1980 (Estatuto dos Servidores da Polícia Civil). Em 27 de julho de 1993, foi instaurada sindicância administrativa disciplinar (Portaria n.º 16/93 DRP) pelo Delegado Regional de Polícia de São Luiz Gonzaga, Dr. Amadeu José Luiz, objetivando apurar a ocorrência de abandono de cargo, pois, nessa época, o indiciado, lotado na Delegacia de Polícia de São Nicolau, contava já com 33 (trinta e três) dias de faltas não justificadas ocorridas no período de 24/06/1993 a 26/07/1993, consoante boletim de efetividade de fl. 15. Desde essa data, o indiciado não retornou mais ao trabalho. Respaldado nessa sindicância, o Conselho Superior de Polícia, através da resolução n.º 26.399, de 16 de dezembro de 1993, instaurou processo administrativo-disciplinar, que tramitou na DP de São Luiz Gonzaga, cuja decisão concluiu pela prática da transgressão enquadrada inicialmente. Diante disso e por sua vez, o Conselho Superior de Polícia, através da Resolução n.º 30.879, afastou a alegação da defesa de que o indiciado seria portador da doença crônica de alcoolismo, porque considerou não ter demonstrado
real interesse em continuar o tratamento a que estava submetido, vez que, quando assumiu junto à Delegacia de Polícia de São Nicolau, noticiou que necessitava comparecer ao SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO POLICIAL (SAS/DAP), uma vez por mês, para prosseguir o tratamento médico, mas ausentou-se deliberadamente do serviço e não compareceu ao tratamento programado. Com base nisso, foi reconhecida a culpabilidade e proposta a aplicação da pena demissória. Em 04/09/1998, os autos vieram para exame desta Procuradoria que, distribuído o feito à Dra. Márjori Teixeira Düren, entendeu baixar em diligência o feito para submeter o indiciado à avaliação do Departamento de Perícia Médica, em razão da alegação de alcoolismo. Assim, a defesa apresentou quesitos à fl. 269 e as respostas foram juntadas às fls. 288 e 289, aonde registram que o indiciado não apresenta incapacidade para o trabalho, visto que não foi constatado ter tido alguma dependência ao álcool. Ademais, concluiu que o indiciado não é portador de patologia psiquiátrica que o incapacite para o trabalho. Instada a Junta Médica a esclarecer sobre se respondeu aos quesitos apresentados pela Revisora do Processo, houve ensejo para nova manifestação : não tem patologia psiquiátrica incapacitante e não há incapacidade de juízo crítico, para o julgamento de suas ações. Nem há patologia que pudesse ter comprometido seu juízo crítico (fl. 292). Em 14/10/1999, o processo foi encaminhado à PPA, com distribuição à signatária, que devolveu o feito para ter o advogado ciência do laudo e sua complementação, o que ocorreu em 01/12/1999, passando in albis o prazo para manifestação (fl. 300). É o que consta no expediente. Com efeito, é de se confirmar a Resolução 30.879 do Conselho Superior de Polícia, porquanto afastada a hipótese da presença de alcoolismo, porque, conforme atesta a perícia técnica, não houve patologia que pudesse ter comprometido o juízo crítico do indiciado. Infere-se, desta forma, que teve discernimento para optar em não permanecer no serviço desde 24 de junho de 1993 até a presente data. Além do que, uma vez reconhecendo sua condição de doente em alcoolismo, não demonstrou qualquer vontade no sentido de se tratar, tanto que, na época, deveria efetuar consultas junto ao Serviço de Assistência Social do Departamento de Administração Policial da Polícia Civil, mas somente compareceu cinco vezes para atendimento, dificultando seu tratamento (fl. 164)
Ademais, resta evidenciada, no presente feito, o curto período com lotação na DP de São Nicolau (durante dois meses), o indiciado demonstrou um comportamento inadequado no trabalho e na vida social ao promover desordens na cidade, provocando e insultando colegas de trabalho, freqüentando bailes aonde ingeria bebidas alcoólicas e desrespeitando as pessoas ali presentes, provocando confusão, etc. Acrescenta-se, ainda, que sua ficha de antecedentes é larga, porquanto há diversas suspensões devido a insubordinação, falta de urbanidade, negligência, portar-se de modo inconveniente em lugar público, praticar ato definido como infração penal que o incompatibilize para o exercício da função policial, etc. Tendo, ao todo, sido penalizado com doze suspensões e uma remoção por conveniência da disciplina. Isto, por si só, já ensejaria a penalidade demissória. Destarte, dúvida alguma paira que a conduta indisciplinada assumida pelo indiciado foi mascarada pela utilização de álcool durante período em que o indiciado estava lotado em São Nicolau. Até porque, segundo informação do próprio indiciado perante a Junta Médica-Psiquiatra, fez uso de álcool no passado, período anterior ao abandono, mas que não fez tratamento especializado por considerá-lo desnecessário, caracterizando o desinteresse em permanecer no cargo. Por essas razões, a posição é no sentido da confirmação da RESOLUÇÃO 30.879, do CONSELHO SUPERIOR DE POLÍCIA para demitir o indiciado CÉSAR AUGUSTO BAMMANN, em razão de abandono de cargo. É o parecer. Porto Alegre, 26 de janeiro de 2000. Ivete Maria Razzera, Relatora. Igor Koehler Moreira, Roque Marino Pasternak. Processo nº 031766-12.04/98.0
Acolho as conclusões do PARECER nº 12715, da Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo-Disciplinar, de autoria da Procuradora do Estado Doutora IVETE MARIA RAZZERA. Submeta-se o expediente à deliberação do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado. Em 30 de março de 2000. Paulo Peretti Torelly, Procurador-Geral do Estado.
GABINETE DO GOVERNADOR Processo nº 031766-12.04/98.0 Aprovo o PARECER nº 12715, da Procuradoria-Geral do Estado, cujos fundamentos adoto para aplicar a pena de DEMISSÃO, por abandono de cargo público, ao Investigador de Polícia CÉSAR AUGUSTO BAMMANN, 2ª Classe, Padrão 5, matrícula nº 1.223856.2, lotado na Secretaria da Justiça e da Segurança. À Procuradoria-Geral do Estado para as devidas anotações e publicação do ato expulsivo. Após, à Secretaria da Justiça e da Segurança para as demais providências pertinentes. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 30 de março de 2000. OLÍVIO DUTRA, GOVERNADOR DO ESTADO.