ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PROCURADORIA DISCIPLINAR E DE PROBIDADE ADMINISTRATIVA

Transcrição

1 PARECER Nº PROCESSO ADMINISTRATIVO- DISCIPLINAR. PROFESSORA. FALTA DISCIPLINAR CAPITULADA NAS DISPOSIÇÕES DO ARTIGO 177, INCISOS I, III E V, ARTIGO 178, INCISO XXIV, E ARTIGO 191, INCISOS I, III, VII E IX, DA LEI COMPLEMENTAR N.º /94. EXCESSO DE PRAZO. INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA. LAUDO MÉDICO INDICANDO TRANSTORNO BIPOLAR. ABSOLVIÇÃO SUGERIDA. Vem a exame da Equipe de Revisão da Procuradoria Disciplinar e de Probidade Administrativa o processo administrativo-disciplinar, instaurado por portaria da Secretária de Estado da Educação, sem número, registrada sob o código , publicada no Diário Oficial de 29 de novembro de 2006, com a finalidade de apurar se a professora KARIN DA SILVA MARTINS incorreu nas faltas tipificadas pelos artigos: 177, incisos I, III e V, 178, inciso XXIV, e 191, incisos I, III, VII e IX, da Lei Complementar n.º /94. Encaminhado a esta Procuradoria-Geral do Estado, recebido na Procuradoria Disciplinar e de Probidade Administrativa, em 02 de janeiro de 2007, o processo foi distribuído à Autoridade Processante Dra. Maria da Graça Vicentini. Em 17 de agosto de 2007, os trabalhos foram instalados, tendo a capitulação das faltas sido adequada no respectivo termo, nas disposições da Lei Complementar /94: artigo 177, por falta de assiduidade (I), falta de zelo (III), inobservância das normas legais e regulamentares (V); artigo 178, por desídia (XXIV); artigo 191, por ineficiência ou falta de aptidão (I) ofensa física contra qualquer pessoa (III) por transgressão das disposições dos incisos VII a

2 XIV do artigo 178 (VII), por incontinência pública ou conduta escandalosa na repartição (IX). Cumpridas as formalidades legais, foi a indiciada interrogada, na presença de defensor público (fls. 231/234), tendo sido apresentada defesa prévia (fl. 236). Durante a instrução foram ouvidas 6 (seis) testemunhas, sendo que 3 (três) foram arroladas pela indiciada (fls. 236) e 3 (três) arroladas pela Autoridade Processante. Na fl. 247, a Autoridade Processante determina a realização de perícia médica. O laudo médico, fl. 276/279, conclui que a servidora possui transtorno afetivo bipolar devendo exercer suas atividades fora da sala de aula, informando, ainda, não ser o caso de aposentadoria. Encerrada a instrução, foram apresentadas alegações finais (fls. 285/291), sustentando preliminarmente a nulidade do procedimento por excesso de prazo, nos termos do artigo 212 da Lei Complementar /94, e no mérito, a absolvição da indiciada. Em 13 de outubro de 2008, fls. 294/302, vem aos autos o Relatório, opinando pela inexistência de nulidade por excesso de prazo, pelo reconhecimento da prescrição das faltas capituladas no artigo 177, incisos I, III e V, da Lei Complementar n.º /94, pela improcedência das demais imputações e conseqüente absolvição da indiciada. Em 03 de novembro do corrente ano, o processo foi distribuído à signatária, em virtude da regra do artigo 115, inciso IV, da Carta Estadual. É o relatório. O expediente encontra-se em ordem, sem nulidades a sanear, pois atendidos os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Em exame a matéria. O presente processo foi instaurado objetivando apurar irregularidades funcionais da servidora KARIN DA SILVA MARTINS que, na 2

3 qualidade de Professora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Marcelino Champagnat, não desempenhava a contento suas atribuições, apresentando desempenho pedagógico insatisfatório, não tendo iniciativa para seu aprimoramento pessoal, não efetuando planejamento das aulas, com diários de classe incompletos, notas rasuradas, falta de domínio do conteúdo, falta de empenho, engajamento e interesse, além de ausentar-se freqüentemente da escola. Primeiramente, informa-se que o Ministério Público Estadual ingressou com Ação Civil Pública (n. 051/ ) contra o Estado do Rio Grande do Sul, requerendo o afastamento da indiciada da sala de aula por suposta agressão desferida a um aluno, fl Com relação ao fato, em que pese o registro de ocorrência policial no dia 14/04/2006 (fl. 170), não houve representação criminal, fl O Estado foi citado na referida Ação Civil Pública e não apresentou contestação, conforme autorização do então Procurador-Geral Adjunto para Assuntos Jurídicos, Dr. Telmo Lemos Filho, fl Ação Civil Pública foi julgada procedente em 09/10/2006, determinando o afastamento definitivo da professora Karin da Silva Martins das atividades ligadas à docência junto à Escola Estadual de Ensino Médio Marcelino Champangnat, f Conforme consta no sítio do TJRS, não houve recurso da decisão judicial na referida Ação Civil Pública, no entanto, o juízo remeteu ao Tribunal de Justiça para Reexame Necessário. Porém, o entendimento do TJRS foi pelo descabimento de duplo grau obrigatório na referida demanda, retornando o feito à origem e estando, atualmente, baixado (documentos anexos). Assim, considerada a data da intimação do Estado na fl. 184-verso da decisão na Ação Civil Pública n. 051/ , o trânsito em julgado ocorreu em 16/11/2006, tornando-se, portanto, imutável a referida decisão. Feitas essas considerações, passo ao exame das questões postas no presente processo administrativo-disciplinar. Com relação à preliminar de nulidade argüida pela indiciada, de excesso de prazo na instrução do processo administrativo, ou seja, de que não foi atendido o prazo de 60 (sessenta) dias estipulado no artigo 212, da Lei Complementar n.º /94 para conclusão do processo disciplinar, efetivamente 3

4 não há qualquer nulidade no procedimento, pois o referido prazo não é peremptório, na forma dos pareceres da PGE ns e , já citados no relatório da Autoridade Processante, de fl Por outro lado, correto o reconhecimento de ofício, pela Autoridade Processante da prescrição das infrações presentes no artigo 177, incisos I, III e V, da Lei Complementar n.º /94, in verbis: Antes da análise do material probatório, é necessário que se reconheça o implemento da prescrição, no que tange a capitulação nas disposições do artigo 177, incisos I, III e V, da Lei Complementar n.º /94, pois se comprovadas ensejariam a aplicação da pena de repreensão, cujo prazo prescricional previsto no inciso I do artigo 197 do mesmo diploma, já se encontra fluído integralmente, levando-se em conta que a portaria de instauração foi publicada no Diário Oficial do Estado em 29 de novembro de 2006 (fl. 208). Com relação ao mérito do processo, em que pese a prova testemunhal ter indicado graves problemas na conduta da professora, andou bem a Autoridade Processante ao opinar pela improcedência das demais imputações, pois o laudo médico atestou que a professora é portadora de transtorno afetivo bipolar, recomendando que a mesma exerça suas atividades fora da sala de aula, in verbis: 7. Essa(s) moléstia(s) poderia afetar o comportamento particular e funcional da servidora? Sim, as moléstias poderiam afetar o comportamento particular e funcional da servidora. 8. É possível informar se a servidora se submeteu ou está se submetendo a algum tratamento médico. Caso positivo, quais? Sim, está em tratamento psiquiátrico, usando medicação e em tratamento psicológico submetendo-se à psicoterapia. 9. Situações de estresse decorrentes dos problemas enfrentados pela indiciada podem afetar ou refletir na sua vida funcional? Sim, as situações de estresse podem afetar ou refletir em sua vida funcional e em sua saúde psíquica. 4

5 10. Outros dados pertinentes. Recomenda-se após avaliação psiquiátrica e psicológica, que a servidora deve exercer suas atividades fora da sala de aula. Segue em anexo, laudo circunstanciado. Assim, resta evidente que os problemas de conduta da indiciada derivam da enfermidade que a mesma possui, o que afasta a imputabilidade das infrações a ela atribuídas, inclusive, a agressão desferida ao aluno. Pelo exposto, adoto como fundamento a conclusão trazida pela autoridade processante, a qual transcrevo abaixo: A indiciada foi submetida a exame pericial junto ao Departamento Médico e de Saúde do Trabalhador DMEST, cujo laudo recomenda que a servidora deve exercer suas funções laborativas fora da sala de aula (fls. 276/279). Conforme se vê do laudo pericial, a indiciada é portadora de transtorno afetivo bipolar, moléstia psiquiátrica que pode incapacitála temporária ou definitivamente para o exercício de suas funções. Tal moléstia, ainda, pode afetar o comportamento particular e funcional da indiciada. Portanto, como demonstrado, as atitudes da indiciada no exercício de suas funções são provocadas pela enfermidade e não por indisciplina, desídia ou inaptidão para o exercício do cargo. Pelo que ficou demonstrado, não se pode imputar qualquer tipo de responsabilidade à indiciada até mesmo pela agressão ao aluno vez que seus impulsos e a interferência do meio externo intensificam os sintomas do transtorno que lhe acomete. Tal conclusão encontra-se fundamentada no quesito n.º 09 da perícia realizada que refere: Sim, as situações de estresse podem afetar ou se refletir em sua vida funcional e em sua saúde psíquica. (fl. 277). Pelo exposto, o parecer é pela rejeição da preliminar de excesso de prazo na instrução argüida, pelo reconhecimento da prescrição das infrações capituladas no artigo 177, incisos I, III e V, da Lei Complementar n.º /94 e pela improcedência das imputações dos artigos 178, inciso XXIV, e 191, incisos I, III, VII e IX, da Lei Complementar n.º /94. 5

6 É o parecer, relatado em reunião realizada no dia 20 de novembro de 2008 e devidamente aprovado pela Equipe de Revisão desta Procuradoria Disciplinar e de Probidade Administrativa, com os votos da signatária e dos Procuradores do Estado Adriana Krieger de Mello, Carolina Oliveira Lima, Luciane Pansera, Maria da Graça Vicentini, Carlos Henrique Kaipper e Luiz Felipe Targa. Porto Alegre, 18 de novembro de Jucilene Pereira. Relatora. Expediente nº /06.0 6

7 Processo n.º /06.0 Acolho as conclusões do PARECER n.º , da Procuradoria Disciplinar e de Probidade Administrativa, de autoria da Procuradora do Estado Doutora JUCILENE PEREIRA. Submeta-se o expediente à deliberação da Excelentíssima Senhora Governadora. Em 02 de junho de José Guilherme Kliemann, Procurador-Geral Adjunto para Assuntos Jurídicos.

8 GABINETE DA GOVERNADORA Processo n.º /06-0 Aprovo o PARECER n.º , da Procuradoria-Geral do Estado, cujos fundamentos adoto para ABSOLVER a servidora KARIN DA SILVA MARTINS, professora, matrícula nº , lotada na Secretaria de Educação, da imputação objeto do Processo Administrativo-Disciplinar n.º /06-0, instaurado para apurar falta funcional a ela atribuída. À Procuradoria-Geral do Estado para adoção das medidas cabíveis. Após, à Secretaria da Educação, para ciência da interessada e demais providências. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 02 de junho de YEDA RORATO CRUSIUS, GOVERNADORA DO ESTADO.