MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ESTADO DE SERGIPE.



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Transcrição:

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SERGIPE EXMº SR. DR. JUIZ FEDERAL DA _ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República adiante firmado, com esteio nos artigos. 127 e l29, III, da Constituição Federal, no art. 1º, IV, da Lei nº 7.347/85, e art. 6º, VII, b, da Lei Complementar n. 75/93, vem à ilustre presença de Vossa Excelência. propor a presente: AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face de FACULDADE LOGOS, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ 04.172.529/0001-43, com sede à avenida Hermes Fontes, nº 36, bairro Suíça, Aracaju/SE, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas: I. OBJETIVO DA AÇÃO A presente Ação Civil Pública visa resguardar os preceitos instituídos pela Carta Magna no tocante aos princípios que regem o sistema educacional brasileiro relativos a iniciativa privada.

Reza o artigo 209 da Constituição Federal que: O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I-cumprimento das normas gerais de educação nacional; II-autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. Esta ação, especificamente, tem o intuito de evitar que estudantes prestem vestibular na faculdade LOGOS, tendo em vista as irregularidades detectadas no processo de credenciamento perante o MEC. Assim, o objetivo primordial da demanda que ora se põe ao desenlace perante esse Poder judiciário é garantir a população o acesso a cursos superiores que estejam em conformidade com o ordenamento jurídico brasileiro, obedecidos os critérios legais estabelecidos pela legislação pátria, e não o contrário, como ocorre no presente caso. II. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL É função institucional do Ministério Público Federal, nos termos dos arts. 127 e 129, III da Constituição Federal, defender a ordem jurídica, o regime democrático, promover ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, bem como de outros interesses difusos e coletivos. Também a Lei Complementar nº 75/93 (Lei Orgânica do Ministério da União), quanto à função institucional do Ministério Público da União e os seus instrumentos de atuação, estabeleceu: Art. 5. São funções institucionais do Ministério da União: 2

I - a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis, considerados, dentre outros, os seguintes fundamentos e princípios:... h) a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, relativas à administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da República. II zelar pela observância dos princípios constitucionais relativos:... d) à seguridade social, à educação, à cultura e ao desporto, à ciência e à tecnologia, à comunicação social e ao meio ambiente;... V zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União e dos serviços de relevância pública quanto: a) aos direitos assegurados na Constituição Federal relativos às ações e aos serviços de saúde e à educação; b) aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da publicidade; Art. 6 Compete ao Ministério Público da União:... VII- promover o inquérito civil e a ação civil pública para: a) a proteção dos direitos constitucionais; b) a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, dos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; 3

c) a proteção do dos interesses individuais indisponíveis, difusos e coletivos, relativos às comunidades indígenas, à família, à criança, ao adolescente, ao idoso, às minorias étnicas e ao consumidor; d) outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos;... XII propor ação civil coletiva para defesa de interesses individuais homogêneos;... XIV promover outras ações necessárias ao exercício de suas funções institucionais, em defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, especialmente quanto: a) ao Estado de Direito e às instituições democráticas; b) à ordem econômica e financeira; c) à ordem social; d) ao patrimônio cultural brasileiro; e) à manifestação do pensamento, de criação, de expressão ou de informação; f) à probidade administrativa; g) ao meio ambiente; No caso de que se cuida, pretende o Ministério Público Federal um provimento jurisdicional no sentido de suspender os vestibulares para os diversos cursos ofertados pela Faculdade LOGOS. Tal oferta caracteriza-se como irregular, conforme a argumentação abaixo aduzida prejudicando demasiadamente os estudantes matriculados. 4

A pretensão desta ação civil pública tem por objeto a defesa dos interesses de todos à regularidade no ensino, difusos, portanto, e de interesses individuais homogêneos dos estudantes que se matricularem na referida instituição de ensino. Sobre aspecto pouco percebido pelos processualistas, diz PAULO DE TARSO BRANDÃO 1 que quando se trata de interesses decorrentes de conflitos metaindividuais nem eles são identificáveis como puramente difuso, coletivo em sentido estrito ou individual homogêneo. Complementando, menciona o pensamento de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery 2 : o que caracteriza um direito ou interesse como difuso, coletivo ou individual homogêneo é o tipo de pretensão deduzida em juízo. Um mesmo fato pode dar origem à pretensão difusa, coletiva ou individual homogênea. Assim, quer se entenda como individuais homogêneos ou difusos os interesses defendidos na presente ação civil pública, pertinentes aos alunos candidatos ao vestibular, clara está legitimidade do Ministério Público Federal. Anote-se que o critério para admissão da legitimidade do Ministério Público, em tema de interesses individuais homogêneos, tem sido o da relevância social. O Superior Tribunal de Justiça já admitiu relevância social nos casos de defesa, pelo Ministério Público, de interesses relacionados à educação, insalubridade, mutuários, saúde, salário mínimo e taxa de iluminação pública. Na ação civil pública de que se cuida, a causa envolve o direito fundamental à educação, cuja relevância social é indiscutível, passível de ser defendido em juízo pelo parquet. Veja-se o acórdão: 1 Ação Civil Pública, p. 124. 2 Código de processo Civil e Legislação Extravagante, p.1016. 5

PROCESSO 199601507817 RELATOR JUIZ LINDOVAL BRITO CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. INTERESSES COLETIVOS. CÓDIGO DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR. UNIVERSIDADE. AUTONOMIA. CRIAÇÃO DE CURSOS. PODER PÚBLICO. FISCALIZAÇÃO. AUTORIZAÇÃO. NECESSIDADE. 1. Está pacificado o entendimento de que o Ministério Público é parte legítima para promover o ajuizamento de ação civil pública, pois lhe cabe defender interesses coletivos, assim considerados aqueles que atingem várias pessoas, pela oferta de cursos ministrados pela Apelante, sem a devida autorização do Poder Público. 2. O ajuizamento de ação civil pública, quando se tratar de danos causados ao consumidor e a qualquer interesse difuso ou coletivo (art. 1º, II e IV), poderá ser proposta pelo Ministério Público, consoante estipulado no art. 5º. 3. Visível estar em jogo a possibilidade de efetivação de gravames ao consumidor, porque se trata de uma entidade de ensino superior, que passou a oferecer cursos à comunidade goiana, sem deter a autorização do Poder Público, legitimando, assim, o Órgão Ministerial, podendo ser vista, ainda, a permissão deferida pelo art. 82, I, da Lei n. 8.078, de 11/9/90, denominada de Código de Proteção ao Consumidor. 4. A autonomia universitária não tem o alcance pretendido pela Apelante, não podendo ser confundida com independência, a ponto de não querer se submeter à fiscalização do Poder Público 6

ou à necessidade de obter autorização para a instalação de cursos. 5. O ensino é livre à iniciativa privada, "desde que atendidas certas condições, dentre as quais 'autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público'" (CF, art. 209, II), consoante decisão do colendo Supremo Tribunal Federal (RMS 22.111/DF, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, Plenário, julg. 14/11/96, DJU de 13/6/97, p. 26.721). 6. Decidiu o egrégio Superior Tribunal de Justiça: "II - A autonomia universitária, prevista no art. 207 da Constituição Federal, não pode ser interpretada como independência e, muito menos, como soberania. A sua constitucionalidade não teve o condão de alterar o seu conceito ou ampliar o seu alcance, nem de afastar as universidades do poder normativo e de controle dos órgãos federais competentes. III - Ademais, o ensino universitário, administrado pela iniciativa privada, há de atender aos requisitos, previstos no art. 209 da Constituição Federal: cumprimento das normas de educação nacional e autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. IV - Mandado de segurança denegado" (MS 3.318-2/DF, Rel. Min. PÁDUA RIBEIRO, 1ª Seção, v.u., DJU de 15/8/94). 7. Apelação e remessa oficial improvidas. 8. Sentença confirmada. Ademais, como bem analisa Kazuo Watanabe 3, há também relevância social na própria tutela coletiva em razão da peculiaridade do conflito de interesses. Na verdade, em muitos casos em que é possível a defesa individual dos 3 Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do projeto, p. 641. 7

interesses, há necessidade de que a proteção se faça por via processual única. Sendo pequena a lesão, é improvável que as pessoas sintam-se estimuladas a buscar individualmente a reparação dos danos sofridos. É também muito evidente que, se todas as pessoas resolvessem demandar individualmente, o funcionamento do Poder Judiciário seria inviabilizado, tornando-se impossível obter-se a prestação jurisdicional. III DO INTERESSE DA UNIÃO E DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL Nos termos do art. 9º, IX da Lei de Diretrizes e bases da Educação nacional (Lei nº 9.394/96), compete a União autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos de seu sistema de ensino. A mesma Lei, em seu art.16 estabelece que o sistema federal de ensino compreende: I. as instituições de ensino mantidas pela União; II. As instituições de educação superior criadas e mantidas pela iniciativa privada; III. Os órgãos federais de educação. Da análise destas disposições legais, podemos concluir que sendo a demandada uma instituição de ensino superior criada e mantida pela iniciativa privada, compreendida está no sistema federal de ensino e, portanto, sujeita ao poder de fiscalização da União no que pertine a autorização, reconhecimento, credenciamento, supervisão e avaliação de seus cursos. Evidente, portanto, que a União deveria impedir o funcionamento dos cursos da demandada antes de obtida a devida autorização para efetivo funcionamento. A demandada não possui autorização para a abertura de nenhum curso superior de graduação, segundo informou o Ministério da Educação, não estando a demandada credenciada como instituição de ensino superior pelo MEC. 8

Assim, para funcionar regularmente, a demandada deveria obter do MEC a devida autorização para ofertar a comunidade cursos superiores, sejam de graduação, sejam cursos seqüenciais. Sem o mínimo, qual seja, o registro no MEC como Instituição de Ensino Superior, a demandada não pode oferecer nenhum curso à população. Primeiramente deve-se obter a autorização para abertura de curso para, depois, ofertá-lo a sociedade. Nos termos da legislação em vigor, não é licita a atividade consistente na oferta de cursos superiores, por entes privados, sem a prévia autorização do MEC para depois obter-se a devida regularização. Ou se tem autorização, iniciandose a partir da efetiva oferta do curso as atividades de supervisão visando, ao final, o credenciamento do curso. Se a demandada fosse devidamente credenciada junto ao MEC como Instituição de Ensino Superior, integraria, por expressa disposição legal, o sistema federal de ensino. Não sendo ainda credenciada, está oferecendo cursos sem a devida autorização do poder competente, no caso a União, violando a prerrogativa legal da própria União em fiscalizar as entidades que compõem seu sistema de ensino. Nítido, pois, o interesse da União na presente demanda, o que determina a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109,I da CF/88. Mesmo não admitindo o interesse da União no feito, o simples fato da demanda ter sido ajuizada pelo Ministério Público Federal para a defesa de interesses compreendidos no âmbito de suas prerrogativas constitucionais e legais, já seria, por si só suficiente para fixar a competência da Justiça Federal, segundo decisões do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, nos seguintes termos: 9

EMENTA: PROCESSUAL. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. PARTE. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. Se o Ministério Público Federal é parte, a Justiça Federal é competente para conhecer do processo (Rel. Humberto Gomes de Barros, julg. em 14.09.93, CC n 4.927-0-SP). "EMENTA: PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE DO MPF. Se a ação proposta pelo MPF está incluída dentro de suas atribuições, prevista na CF/88 e na LC nº 75/93, como é o caso dos autos, basta esse fato para legitimar o Parquet Federal para a causa e, consequentemente, a Justiça Federal é a competente para o processo e julgamento do feito. Precedentes da jurisprudência. Apelação conhecida e provida." (TRF4, TERCEIRA TURMA, APELAÇÃO CÍVEL Nº 2001.04.01.065054-8/SC, Relator JUIZ CARLOS EDUARDO T F LENZ, data da decisão 26/03/02, DJU 25/04/02, PAGINA 471). Inegável, portanto, a competência da Justiça Federal para processar e julgar e apresente demanda, ante a indubitável presença do interesse da União e, ainda, ante o exercício da ação civil pública pelo Ministério Público Federal atuando em estrita obediência às disposições legais que definem suas atribuições. IV DOS FATOS Através de representação perante esta Procuradoria da República em Sergipe que deu origem ao procedimento administrativo nº 1.35.000.000390/2002-17 anexo, o Secretário de Educação Superior Substituto relatou que a faculdade LOGOS está oferecendo, em Aracaju, cursos de graduação sem o devido credenciamento do MEC para funcionamento. 10

De fato, constatou-se através das informações coligidas aos autos do procedimento que instrui a presente ação, que a LOGUS disponibiliza à população os cursos superiores nas áreas de teologia, administração pública, filosofia, pedagogia e turismo. Entretanto, sem o devido permissivo legal para fazê-lo. Os próprios diretores desta faculdade afirmaram que o processo de credenciamento perante o MEC estava em andamento, reconhecendo, de forma explícita, que estava atuando na comunidade sem a respectiva autorização para operar. Oficiada a Secretária Executiva do MEC, informa, através de substitutos, que a oferta de cursos de graduação pela LOGUS é realizado ao arrepio da lei, tendo em mira que o processo de credenciamento deve ser anterior ao funcionamento da faculdade, como reconhecido pela própria impetrada. Além do mais, o processo em voga no MEC gera apenas expectativa de direito, já que o simples fato de peticionar não gera direito adquirido algum para quem o faz. Conforme acordado em audiência com alguns diretores da LOGOS, estes se comprometeram a comunicar a situação da instituição aos alunos que fossem se matricular em um dos cursos. Porém isto não se afigura suficiente para coibir a manutenção da situação fática irregular. Diante dos fatos mencionados, não resta alternativa senão a propositura da presente ação perante o Poder Judiciário, último reduto aonde podem os cidadãos lesados em seus direito fundamental a uma educação nos moldes da lei, depositar suas esperanças. V DO DIREITO 11

Após a constatação dos fatos, passou o MPF a empreender uma verificação acerca de seu respectivo enquadramento jurídico, analisando a pertinência ou não do modelo adotado aos princípios e regras que regem a oferta de cursos superiores no Brasil. Como a LOGOS não é instituição de ensino superior devidamente credenciada no MEC, resta ao MPF demonstrar que tal circunstância inviabiliza seu atual funcionamento, pois, como se demonstrará, por não ser instituição de ensino superior devidamente credenciada, para ofertar qualquer curso de graduação, deve ter sua atividade totalmente paralisada, até que obtenha, nos termos da lei, a devida autorização, nos termos da legislação em vigor. Antes de mais nada, cumpre citar o preceito orientador contido no artigo 209 da Constituição Federal, o qual reza que: O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I-cumprimento das normas gerais de educação nacional; II-autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. Segundo o regramento legal estabelecido pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei 9.394/96) a educação superior brasileira é oferecida por instituições públicas ou privadas, que atendem ao seguinte desenho legal: Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam-se nas seguintes categorias administrativas: (...) II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. 12

Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes categorias: I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as características dos incisos abaixo; II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e alunos que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; IV - filantrópicas, na forma da lei. Pela simples análise do texto legal e considerando que a LOGUS é uma instituição comunitária, conclui-se, facilmente, que se trata de instituição privada. Tratando-se de instituição privada, encontra-se compreendida no sistema federal de ensino, conforme estabelece o art. 16 da LDB, nos seguintes termos: Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: I - as instituições de ensino mantidas pela União; II - as instituições de educação superior criadas e mantidas pela iniciativa privada; III - os órgãos federais de educação. 13

Insta asseverar que os cursos de graduação estão incluídos entre os quais a educação superior abrange, como preleciona o artigo da LDB que segue: Art 44 A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: (...) II de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; (...) Consideradas, pela legislação federal de normas gerais de ensino (LDB) como entidades privadas, integrantes, portanto, do sistema federal de ensino, as instituições comunitárias que oferecem cursos de graduação devem ser submetidas ao regime próprio de autorização para funcionamento empregado para as demais instituições privadas, qual seja, prévio credenciamento junto ao MEC, conforme estabelece o artigo 46 da LDB, nos seguintes termos: A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação Ademais, o Decreto 3.860/01, que dispõe sobre a organização do ensino superior, avaliação de cursos e instituições, aduz, em seu artigo 19 que: A autorização para funcionamento e o reconhecimento de cursos superiores, bem assim o credenciamento e o 14

recredenciamento de instituições de ensino superior organizadas sob quaisquer das formas previstas neste Decreto, terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação O próprio MEC, em ofício encaminhado a esta Procuradoria da República (ofício 3434/2003-MEC/SESu/GAB/CGLNES, cópia em anexo), indagado sobre a existência de autorização do MEC para funcionamento da LOGOS, assim se manifestou: (...) A legislação educacional, a partir do disposto no art. 209, II, da Constituição Federal, é clara no sentido de que a autorização do poder público para a atuação no setor do ensino superior deve necessariamente anteceder o início dessa atividade. A aludida entidade não possui, até a presente data, a prévia autorização para ministrar educação formal à população. Desta forma, cumpre informar que atividades acadêmicas exercidas sem a prévia autorização não tem respaldo perante o sistema federal de ensino e, consequentemente, as certificações emitida pela entidade mencionada, não tem validade acadêmica. Por todo o exposto e considerando que o procedimento legal não foi rigorosamente observado, resta concluir que a demandada LOGOS está atuando indevidamente. Tais circunstâncias tornam inválidas as ofertas de todos os cursos desta faculdade, ou seja, torna indevido o funcionamento de todas suas atividades, até ulterior regulamentação. 15

VI DOS PEDIDOS FEDERAL requer: Liminarmente Diante do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO a) suspensão imediata das atividades de todos os cursos de graduação da faculdade, bem como a suspensão de abertura de novas turmas, pelas razões acima expostas, até a obtenção do credenciamento da demandada como Instituição de Ensino Superior junto ao MEC e autorização para funcionamento, também expedida pelo MEC; b) alternativamente, caso este Juízo não defira a imediata suspensão das atividades dos cursos de graduação da demandada já em funcionamento, que seja, apenas, determinada a suspensão da abertura de novas turmas, até que sejam cumpridas todas as formalidades legais acima referenciadas, ou seja, credenciamento da demandada como Instituição de Ensino Superior junto ao MEC e prévia autorização do MEC para abertura de cada curso de graduação a ser oferecido; c) a imediata comunicação formal a todos os seus alunos, mediante documento próprio e individualizado, caso não seja deferida a suspensão imediata dos cursos em andamento, dos termos da presente demanda; 16

No mérito d) caso não seja determinada a imediata suspensão de abertura de novas turmas dos cursos oferecidos, conforme requerido no item b, que, quando da abertura de novas turmas, seja efetivamente informado, já no processo seletivo, através da propaganda de divulgação deste, e, quando da celebração dos respectivos contratos de prestação de serviços educacionais, que os cursos oferecidos encontram-se questionados em juízo, nos termos da presente demanda. a) seja confirmada integralmente a liminar requerida; b) a citação dos demandados, nos endereços de suas respectivas sedes, para, querendo, virem, através de seu representante legal, contestar os termos da presente demanda; c) a intimação da União, para manifestar seu interesse em integrar a presente demanda, no pólo ativo ou passivo da presente relação jurídica processual; d) seja a presente Ação Civil julgada procedente, em todos os seus termos. Aracaju (SE), 14 de julho de 2004. João Bosco Araújo Fontes Júnior Procurador da República 17