biodiesel GASOLINA
Ainda em busca de respostas Quando o percentual de biodiesel adicionado ao diesel passou de 4% (B4) para 5% (B5), no início de 2010, ninguém imaginava o impacto que esse mero um ponto percentual teria sobre o mercado. Naquele distante janeiro, os agentes se prepararam para arcar com maiores custos de manutenção (basicamente trocas mais frequentes de filtros) e preços mais elevados do biodiesel. Mas a realidade foi bem diferente. Não demorou muito para que postos e TRRs de todo Brasil começassem a reclamar que uma espécie de borra estava se formando em tanques e filtros, causando até mesmo entupimentos. Tratava-se de um material escuro, pegajoso, mal cheiroso e de origem orgânica. Já não bastava trocar elementos filtrantes, agora era necessário abrir as bombas (e, consequentemente, bancar os custos de novos lacres) e incrementar a periodicidade de limpeza dos tanques. Vale lembrar que esta manutenção só pode ser realizada por empresa especializada, que precisa dar destinação adequada aos resíduos, sob o risco de todos (incluindo o posto) ficarem sujeitos a multas ambientais. E os problemas não paravam por aí. Alguns postos começaram a receber reclamações de clientes, que pediam ressarcimento de despesas, com base em laudos de concessionárias atribuindo os problemas registrados em seus veículos a diesel de má qualidade. Paralelamente, as fiscalizações da ANP apontaram diesel nos postos com percentuais de biodiesel acima do permitido pela legislação (5%), chegando, em alguns casos, a 14%. A adulteração intrigava o mercado. Afinal, como o preço do biodiesel é muito superior ao do diesel, faltava o incentivo financeiro que justificasse esta prática irregular. Uma possível explicação era de que distribuidoras inidôneas poderiam recorrer à estratégia para economizar em logística. Isso porque a ANP somente autoriza a compra de diesel pelas distribuidoras após comprovada a aquisição do biodiesel, cujas usinas quase sempre se encontram em locais distantes dos centros consumidores. Ou seja, para gastar menos com deslocamento, a solução seria superabastecer algumas regiões com biodiesel e deixar outras com menos, ou até nada. Independentemente da explicação, sobrava para os postos enfrentar processos administrativos, com chances de absolvição somente quando detinham amostra-testemunha. Nova postura Diante desse cenário nada animador, a Fecombustíveis e seus Sindicatos Filiados reforçaram suas posições na Sala de Monitoramento do Biodiesel (composta por ANP, acadêmicos e agentes do mercado), apresentando fotos e laudos de concessionárias enviados por postos, e cobraram providências sobre o assunto, até então tratado apenas como problemas pontuais. No início do segundo semestre, o órgão regulador realizou o seminário Manuseio e Armazenagem de Óleo Diesel B, que resultou na confecção do Guia de Procedimentos - Manuseio e Armazenamento de Óleo Diesel B. É bem verdade, no entanto, que algumas das recomendações propostas são comercial e operacionalmente inviáveis, como aquela que prevê manutenção dos tanques no limite máximo permitido para reduzir o contato com o ar. A ANP também criou três Grupos de Trabalho para discutir: 1) aperfeiçoamento da logística de transporte; 2) aperfeiçoamento da logística de armazenagem; e 3) garantia das especificações da mistura. A Fecombus- Não demorou muito para que postos e TRRs de todo Brasil começassem a reclamar que uma espécie de borra estava se formando em tanques e filtros, causando até mesmo entupimentos. Tratava-se de um material escuro, pegajoso, mal cheiroso e de origem orgânica Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 47
biodiesel Algumas análises sugerem que o contato com cobre (presente nas conexões dos equipamentos) pode acelerar o processo de oxidação do biodiesel. Uma vez oxidado, o produto levaria a um resultado distorcido do percentual de biodiesel, indicando taxas superiores ao que realmente existia tíveis participou de todos os três. Foi solicitada ainda a revisão da norma ABNT NBR 15512, de 2008, que trata do armazenamento, transporte, abastecimento e controle de qualidade de biodiesel e/ou mistura óleo diesel/biodiesel. A partir daí, e em meio a várias discussões, inúmeras evidências começaram a surgir, indicando que o B5 não era como se diesel fosse, como indicavam as orientações anteriores. Montadoras, pesquisadoras, fornecedores e simples consumidores também relataram seus problemas. O primeiro aspecto levantado dizia respeito à contaminação e proliferação de micro-organismos, um problema que já existia no diesel e que foi potencializado pelo biodiesel (material orgânico). E essa proliferação de fungos e bactérias pode causar bloqueio de mangueiras, válvulas e filtros; formação de sedimento e sólidos suspensos; corrosão de tanques e tubulações; degradação; bloqueio de injetores e aumento do conteúdo de enxofre; e comprometimento do sistema de injeção. Além disso, em comparação com o diesel, o biodiesel possui maior higroscopicidade (tendência à absorção de água), solvência e inclinação à oxidação. Convites tentadores à formação de resíduos. E não é só isso. À medida que as discussões nos Grupos de Trabalho foram avançando, surgiram pesquisas indicando, inclusive, que os resultados das análises de não-conformidade podem estar distorcidos. Atualmente, a ANP utiliza o método do infravermelho em seus testes, o que, segundo indicam pesquisas, pode apresentar diferenças nos resultados, a depender da matéria-prima originadora do biodiesel. No exterior, os institutos de pesquisa e controle usam a cromatografia gasosa, que é considerado um método mais preciso, menos sensível ao tipo de matéria-prima utilizada. Algumas análises sugerem ainda que o contato com cobre (presente nas conexões dos equipamentos) pode acelerar o processo de oxidação do biodiesel. Uma vez oxidado, o produto levaria a um resultado distorcido do percentual de biodiesel, indicando taxas superiores ao que realmente existia. Por enquanto, todos os estudos precisam ser confirmados e referendados. Ninguém ainda sabe com certeza qual será o melhor caminho para resolver os problemas atuais. Duas coisas, no entanto, parecem quase certas. A primeira é que, seja qual for a solução, provavelmente trará custos maiores para toda a cadeia, incluindo consumidores finais, que podem ver reduzidos os intervalos de manutenção e trocas de óleo. A segunda conclusão é de que, mais do que nunca, é preciso cautela antes de elevar o percentual obrigatório de biodiesel no diesel. Apesar de existir excesso de capacidade instalada suficiente para suprir uma mistura de quase 8% (e facilmente expandindo para 10%), agentes do mercado avaliam que a elevação do percentual neste momento, sem resolver os problemas existentes, colocaria em risco a credibilidade e o desenvolvimento do Programa. E aí todos perderiam. HISTÓRICO DO BIODIESEL Lançamento do Programa Nacional do Biodiesel Percentual sobe para 4% 2005 2008 2009 2010 Em janeiro, tem início a obrigatoriedade do B2 Em julho, passa a vigorar o percentual mandatório de 3% Em janeiro, o diesel passa a ter 5% de biodiesel Agravam-se os problemas em postos, TRRs e distribuidoras Em maio, Fecombustíveis apresenta fotos e pesquisas junto aos postos indicando que não se tratavam de problemas pontuais Em julho, ANP realiza seminário para discutir o biodiesel e lança o manual de procedimentos para manuseio e estocagem do biodiesel. Em seguida, são criados três grupos de estudos para investigar o que está acontecendo com o biodiesel Norma ABNT NBR 15512 entra em processo de revisão 48 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011
Borra formada em tanques e filtros Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 49
biodiesel 6.1 RESULTADOS DOS LEILÕES DE B100 período percentual da mistura preço médio (em R$/m 3 ) Volume arrematado (em m 3 ) Jan a Mar/09 3% 2.386,52 330.000 Abr a Jun/09 3% 2.155,22 315.000 Jul a Set/09 4% 2.308,97 460.000 Out a Dez/09 4% 2.265,98 460.000 Jan a Mar/10 5% 2.326,67 575.000 Abr a Jun/10 5% 2.237,05 565.000 Jul a Set/10 5% 2.105,58 600.000 Out a Dez/10 5% 1.744,00 615.000 Fonte: ANP Nota: O preço médio de cada período consiste na média ponderada entre preços e volumes negociados em cada lote do leilão. 6.2 MATÉRIAS-PRIMAS UTILIZADAS NA PRODUÇÃO DE B10 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 82% 78% 14% Óleo de soja 16% 4% Gordura bovina Óleo de algodão 2% 3% Outros 2% Fonte: ANP 2010 2009 50 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011
6.3 PRODUÇÃO X CAPACIDADE INSTALADA Em 1.000 m 3 8.000 7.000 6.000 5.000 Capacidade Instalada Produção 4.000 3.000 2.000 1.000 0 Fonte: MME A conferir: 4Neste primeiro semestre, a ANP deve concluir as atividades dos três Grupos de Trabalho, o que, espera-se, gerará modificações em itens importantes como especificação do produto, técnica de análise das amostras 6.000 para detectar não-conformidades, entre outras; 5.256 5.000 4A revisão da Norma ABNT NBR 15512 também deve apontar a necessidade de mudanças nos procedimentos e equipamentos 4.000 atualmente utilizados; 3.666 3.660 4Apesar da 3.000 2.483 pressão dos produtores, a expectativa da revenda é de que não haja elevação no percentual de mistura do biodiesel no diesel até que todos os problemas estejam devidamente solucionados. Além disso, a 2.000 2.350 indústria automobilística precisa de tempo para testar misturas maiores de biodiesel e, nesse momento, todos os esforços estão voltados para 64 o 511 1.000 desenvolvimento dos 1.608 novos motores Euro V; 1.167 404 1 69 4Já há um temor 0 no mercado sobre como o diesel com baixo teor de enxofre (S10) irá se comportar com Capacidade Instalada o biodiesel. Afinal, trata-se de um combustível altamente sensível à contaminação e que, dependendo da região, poderá ficar meses parado nos tanques, em meio à previsão Produção de uma baixa demanda inicial; 2005 2006 2007 2008 2009 4O preço do biodiesel segue como um dos principais pontos de atenção. O governo aposta em redução a longo prazo, mas com as commodities cada vez mais valorizadas no mercado internacional, parece que menores preços ainda são uma realidade distante. 2010 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 51