APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM GEOGRAFIA: REFLEXÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR 1



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Transcrição:

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM GEOGRAFIA: REFLEXÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR 1 DAMBROS, Gabriela 2 ; CASSOL, Roberto 3 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Acadêmica do Curso de Geografia Licenciatura da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Prof. Dr. do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),Santa Maria, RS, Brasil E-mail: gabbydambros@yahoo.com.br; rtocassol@gmail.com RESUMO Com a globalização, os avanços tecnológicos impulsionam constantes transformações na sociedade e estas mudanças permeiam a prática pedagógica e a construção de novos saberes. Nesse contexto, a educação alia-se às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) visando a dinamização do processo de ensino e aprendizagem. Destaca-se que as TICs permitem a articulação de conhecimentos tecnológicos e geográficos de forma lúdica e interativa, buscando dar significados aos conteúdos trabalhados. Assim, tem-se como objetivo principal discutir a importância das TICs enquanto novas possibilidades para a uma aprendizagem significativa em Geografia. Os resultados desta análise colaboram no sentido de estabelecer uma discussão capaz de incentivar a inserção e difusão das TICs como forma de (re) significação para as temáticas abordadas na Geografia Escolar. Palavras-chave: Geografia Escolar; Aprendizagem Significativa; Tecnologias da Informação e Comunicação. 1. INTRODUÇÃO Com a globalização, os avanços tecnológicos impulsionam constantes transformações na sociedade e estas mudanças permeiam a prática pedagógica e a construção de novos saberes. Ao mesmo tempo em que esse processo evolui, o espaço geográfico incorpora novas tecnologias, se reorganiza e consolida cada vez mais o meio técnico-científico-informacional 1. 1 Segundo Santos (1997, p. 44) o meio técnico-científico-informacional é um meio geográfico onde o território inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação. 1

A educação, no mundo globalizado, no qual as informações são compartilhadas e distribuídas de forma acelerada, alia-se às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) visando a dinamização do processo de ensino e aprendizagem. A utilização de TICs dinamiza a prática pedagógica, possibilitando que a aula torne-se diferenciada e significativa, contudo, no ensino de Geografia tal fato ainda não é freqüentemente encontrado. A Ciência Geográfica, no contexto escolar, objetiva trabalhar com os educandos a leitura do mundo, privilegiando a interface sociedade-natureza, uma vez que o espaço consistiu-se em um produto histórico, fruto das inúmeras transformações sofridas ao longo dos anos. Portanto, pensar no papel da Geografia Escolar é procurar destacar a sua função alfabetizadora resgatando seu objeto de estudo: o espaço. É inserir o espaço em uma perspectiva interdisciplinar, na qual a Geografia dialoga com outras áreas do conhecimento articulando a leitura das palavras à leitura do mundo. Se o espaço é uma construção social e histórica da ação humana é importante que os educandos façam uma leitura crítica dessa realidade entendendo a organização do espaço concreto e as dinâmicas e relações virtuais próprias do atual estágio da globalização. Dessa forma, salienta-se a importância do conhecimento cartográfico para a localização e representação dos diversos fenômenos materializados no espaço. Ao conhecer e entender a forma como o espaço se organiza a partir da leitura de um mapa, o aluno pode adquirir um olhar critico frente à realidade, obtendo autonomia no pensar e tornando-se agente transformador do seu espaço de vivência. No que se refere a inserção de novas ferramentas na prática pedagógica de Geografia, destaca-se que as TICs permitem a articulação de conhecimentos tecnológicos e geográficos de forma lúdica e interativa, buscando a relação entre o ensino e a aprendizagem significativa. Nesse contexto, evidencia-se a necessidade de promover nas escolas uma prática pedagógica de Geografia mediada por TICs, na qual os sujeitos da educação apropriam-se de recursos tecnológicos para colocá-los a serviço da formação de um aluno/cidadão consciente, crítico e autônomo. Assim, o presente trabalho tem como objetivo principal discutir a importância das TICs enquanto novas possibilidades para a uma aprendizagem significativa em Geografia. 2

2. APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM GEOGRAFIA David Paul Ausubel 2 propôs uma teoria para explicar como se dá o processo de aprendizagem nos seres humanos, baseada nos princípios organizacionais da cognição, valorizando o conhecimento e o entendimento de informações e não somente a prática da memorização. Essa abordagem ficou conhecida como teoria da Aprendizagem Significativa que possui como foco de análise a relação que se estabelece entre os novos conteúdos e o conhecimento prévio dos educandos. A esse respeito Moreira (1999, p.153) enfatiza que [...] a aprendizagem significativa é um processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto especificamente relevante de estrutura de conhecimento do individuo, ou seja, este processo envolve a interação da nova informação com uma estrutura do conhecimento específica, a qual Ausubel define como conceito subsunçor 3, ou simplesmente subsunçor,existente na estrutura cognitiva do indivíduo. Deste modo, o processo de construção do conhecimento acontece de forma correlacionada com a aprendizagem prévia, pois as experiências carregadas por cada educando são essenciais para que a apreensão de conteúdos ocorra efetivamente, consistindo, assim, em uma aprendizagem significativa. Ausubel (1978, p. 56) destaca que [...] la esencia del proceso del aprendizaje significativo reside en que ideas expresadas simbólicamente son relacionadas de modo arbitrario, sino sustancial (no al pie de la letra) con lo que el alumno ya sabe, señaladamente algún aspecto esencial de su estructura de conocimientos (por ejemplo, una imagem, un símbolo ya con significado, un contexto o una proposición). Nesse processo, a interação entre o novo conhecimento e o já existente faz com que ambos se transformem. O conhecimento adquirido terá mais consistência, já que será modificado, integrado e usado, não apenas no momento da aprendizagem, mas em futuras situações de ensino e de vida. Pode-se concluir que tal aprendizagem, idiossincrática e particular, se relaciona com a estrutura de cada indivíduo e, que, ao mesmo tempo, exerce o 2 David Paul Ausubel formou-se em Psicologia e Medicina e tornou-se PhD em Psicologia do Desenvolvimento. Atuou como professor da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque e deu grandes contribuições a psicologia da educação por meio da teoria da Aprendizagem Significativa. 3 Subsunçor representa uma tentativa de tradução da palavra inglesa subsumer. Pode ser entendido como um conceito, uma idéia ou informação já existente na estrutura cognitiva do educando que serve de ancoradouro para uma nova informação, permitindo ao indivíduo atribuir-lhe significado. 3

poder de mudança sobre o indivíduo, assim como sofre o poder de ser mudada. Coaduna-se com essas reflexões Santos (2008, p.53) ao ressaltar que Quando o conteúdo escolar a ser aprendido não consegue ligar-se a algo já conhecido, ocorre o que Ausubel chama de aprendizagem mecânica, ou seja, quando as novas informações são aprendidas sem interagir com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Assim, a pessoa decora fórmulas, leis, mas esquece após a avaliação. A aprendizagem é muito mais significativa à medida que o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio. Ao contrário, ela se torna mecânica ou repetitiva, uma vez que se produziu menos essa incorporação e atribuição de significado, e o novo conteúdo passa a ser armazenado isoladamente ou por meio de associações arbitrárias na estrutura cognitiva. Assim, a aprendizagem significativa, inclui o conhecimento do cotidiano, incorporando-o ao novo conhecimento (recém construído). Ao trabalhar com os educandos, conteúdos que eles ainda não dominam, o docente se depara com um desafio na sala de aula. Diante de desafio deve-se incentivar, instigar e provocar inquietações nos educandos, para que eles busquem ir além do que já sabem. Todavia, o processo de ensino e aprendizagem, muitas vezes, tem priorizado a memorização de dados, a retenção de conceitos, a transmissão de conhecimentos que se caracterizam como pouco significativos para os alunos. Nessa prática pedagógica as áreas do conhecimento são concebidas separadamente e os saberes são fragmentados o que torna difícil a sua contextualização com outros conhecimentos e com algo que seja realmente significativo para os educandos. Para tornar a aprendizagem efetivamente significativa faz-se necessário suprimir os padrões tradicionais de uma educação disciplinadora e bancária 4. Dessa forma, são quebrados os dogmas e a relação professor/aluno se transforma em uma relação mestre/aprendiz, sem a rigidez de papéis pré-fixados. 4 Freire (2006) define a educação bancária como um ato de depositar/transferir, valores/conhecimentos em que os educandos são depositários e o educador depositante. Nessa concepção o educador adquire os conhecimentos e em frente aos educandos narra o resultado de suas pesquisas, cabendo a estes apenas arquivar o que ouviram ou copiaram. Nesse caso não há construção de conhecimento, os educandos não são instigados a conhecer/buscar informações, apenas memorizam mecanicamente, recebendo de outro algo pronto. Na visão bancária da educação, o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. 4

Dar significado aos conteúdos consiste em torná-los, de certa forma, atraentes para os alunos, para que eles possam buscar mais informações sobre os temas estudados em sala de aula, pois não se pode obrigar o educando a aprender, pode-se apenas estimulá-lo. Nesse sentido, o professor torna-se um facilitador, um mediador no processo de ensino e aprendizagem. A aprendizagem só é significativa quando o aluno reconhece a importância do que estuda, assim será um conteúdo significativo tudo aquilo que o educando julgar importante. Para tanto deve-se trabalhar os conteúdos associados a valorização do cotidiano uma vez que o aluno aprenderá melhor quando buscar o conhecimento de acordo com seu dia-a-dia e sua realidade econômica e social. Trabalhar com conteúdos significativos em Geografia, consiste em desmistificar as temáticas trabalhadas, associá-las ao conhecimento empírico, ao espaço de vivência articulando as diferentes escalas de análise. 3. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: NOVAS POSSIBILIDADES PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA As Tecnologias da Informação e Comunicação estão cada vez mais integrando o mundo em redes globais e oferecem novas possibilidades à educação, como o compartilhamento de informações, a interatividade e a interdisciplinaridade. Assim, a Internet mostra-se como ferramenta essencial, pois disponibiliza, compartilha e distribui informações e inúmeros recursos hipermídia em alta velocidade. Neste contexto, Castells (2004, p.15) afirma que A Internet é o tecido das nossas vidas. Se as tecnologias de informação são o equivalente histórico do que foi a electricidade na era industrial, na nossa era poderíamos comparar a Internet com a rede eléctrica e o motor eléctrico, dada a sua capacidade para distribuir o poder da informação por todos os âmbitos da actividade humana. No entanto, as práticas educacionais mediadas por TICs ainda representam um desafio pela falta de desenvolvimento de novas metodologias que facilitem a adaptação de professores e alunos à inserção de distintos recursos pedagógicos nas escolas. Belloni (2001) sustenta que as TICs, ao mesmo tempo em que trazem grandes potencialidades de criação de novas formas de mediatização, acrescentam muita complexidade ao processo de ensino e aprendizagem, pois há grandes dificuldades na apropriação dessas técnicas no campo educacional e em sua domesticação para utilização 5

pedagógica. Ainda de acordo com a autora, as características essenciais das TICs (simulação, virtualidade, acessibilidade e superabundância e extrema diversidade de informações) são totalmente novas e demandam concepções metodológicas muito diferentes daquelas das metodologias tradicionais de ensino, baseadas num discurso linear, cartesiano e positivista. Sua utilização com fins educativos exige mudanças radicais nos modos de compreender o ensino e a didática A escola não pode ficar alheia à influência e à necessidade de inserção de TICs na prática pedagógica, devendo assim (re)pensar em novas formas de ensino e aprendizagem que contemplem o atual estágio de desenvolvimento tecnológico. Nessa perspectiva, Takahashi (2000, p.45) assinala que Educar na sociedade da informação é mais do que treinar pessoas para o uso de tecnologias de informação e comunicação: trata-se de investir na criação de competências amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. Evidencia-se que o uso das TICs na educação requer uma nova postura dos sujeitos da aprendizagem. O educando precisa superar a condição de agente passivo, que só recebe informações e conteúdos, e passar a se comprometer mais com seu aprendizado, já o professor precisa estar aberto às mudanças, as novas formas de trabalhar e a inovação para vencer desafios enquanto sujeito que aprende e ensina, que instiga a pesquisa, o debate e a interação. Todavia, conforme Leal; Alves; Hetkowski (2006) a escola ainda não se dá conta da potencialidade das TICs e mantém os atores do processo de aprendizagem presos ao relógio mecanicista, cartesiano, do início da era moderna, determinando a hora do pode e do não pode, limitando a ação no espaço físico e negando a presença das tecnologias no contexto escolar. Dessa forma, à Geografia cabe utilizar as tecnologias de forma que o educando entenda os fenômenos que se manifestam transformando o espaço e deste modo, passe a enxergar-se como um sujeito que também é capaz de (re) produzir novos espaços. Para tanto, é importante que este se aproprie de conceitos cartográficos que possibilitem a leitura de mapas e por conseqüência a leitura espacial. 6

Nesse sentido, emergem como novas possibilidades para o ensino e aprendizagem da Geografia, os materiais educacionais de caráter multimídia, pois estes ativam capacidades, competências cognitivas, novas habilidades, dinamizam a prática docente, despertam o interesse do educando e promovem a inclusão digital, sobretudo, em escolas da rede pública. Vale resgatar Kenski (2007, p. 32) quando a autora afirma que Com a hipermídia, acessam-se informações em uma variedade enorme de formatos. É possível assistir a um vídeo, ver imagens de vários ângulos, fotos, desenhos, textos, sons, poesias, enfim, hipertextos e hipermídias realizam sínteses e se articulam. Mas, é você que dá os saltos entre os muitos tipos de informação disponíveis e define o caminho que mais lhe interessa aprender. A tecnologia faz parte do cotidiano dos educandos, entretanto, os diversos recursos não podem ser considerados apenas ferramentas para brincar, mas acima de tudo para aprender. Por isso, destaca-se a atuação do professor como mediador entre aluno e tecnologia/informação fazendo com que os alunos/sujeitos desenvolvam a capacidade de estabelecer relações, contextualizar e atribuir significados aos novos conhecimentos. Conforme Sacramento; Munhoz (2009) na Geografia Escolar a prática pedagógica mediada pelo computador ou outros meios digitais pode criar novas possibilidades de ensino e aprendizagem ao propor ambientes diferenciados, no qual educadores e educandos podem simular eventos, criar situações problemas, tornando mais concreto e próximo do real, conceitos muitas vezes abstratos e sem significado para o aluno. Desta maneira, faz-se necessário que os professores de Geografia utilizem as TICs como ferramenta suplementar na investigação, análise e leitura do mundo. As TICs podem tornar a aprendizagem significativa uma vez que se inserem no contexto econômico, social e tecnológico contemporâneo, estando relacionadas com a forma ver o mundo, de aprender novos conceitos e receber informações. Se a tecnologia influencia a sociedade consequentemente influencia o conhecimento geográfico. Assim, precisa-se de novos instrumentos que sejam capazes de superar os desafios impostos à ciência e que sejam adequados para se fazer a leitura do espaço geográfico. 4. CONCLUSÃO Com a utilização das TICs na prática pedagógica de Geografia são possíveis novos estudos geográficos alicerçados na utilização do computador como mediador do processo de ensino e aprendizagem. 7

Para (re) signifcar os conteudos geográficos é imprescindivel que se associe as novas informações ao conhecimento empírico, valorizando aquilo que o educando já sabe, as experiencias cotidianas, o espaço de vivência, para que os alunos possam atribuir significados ao conhecimento que está sendo construído. A escola deve criar novas estratégias de ensino e aprendizagem que possam dar conta do atual estágio de desenvolvimento tecnológico vivenciado pela sociedade.nesse contexto, as TICs emergem como potenciais ferramentas a serem incorporadas na prática pedagógica de Geografia, a fim de articular conhecimentos de forma lúdica e interativa, tornando a aprendizagem significativa. Ressalta-se ainda, que faz-se necessária uma reflexão do docente no que se refere à importância da aprendizagem mediada por TICs, uma vez que a tecnologia constitui-se em um recurso didático que deve contribuir no processo de ensino e aprendizagem, mas sozinha não garante necessariamente uma boa aula, tampouco substitui o papel do educador. REFERÊNCIAS AUSUBEL, D. P. Psicologia educativa: un punto de vista cognoscitivo. Tradução: Roberto Helier Dominguez. México: Trillas, 1978. BELLONI, M. L.. O que é mídia-educação. São Paulo: Autores Associados, 2001. CASTELLS, M.. A Galáxia Internet: reflexões sobre internet, negócios e sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 33 ed. São Paulo: Paz e Terra; 2006. KENSKI, V. M.. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 3.ed.São Paulo: Papirus, 2007. LEAL, J.; ALVES, L.; HETKOWSKI, T. M.. Educação e tecnologia: rompendo os obstáculos epistemológicos. In. SANTOS, E.; ALVES, L. (Org.). Prática pedagógica e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: E-papers, 2006. p. 17-29. MOREIRA, M. A.. Teorias de aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999. SACRAMENTO, A. C. R.; MUNHOZ, G.B. Animações e jogos digitais: uma alternativa pra auxiliar professores de geografia. In:10º ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO 8

EM GEOGRAFIA, 2009, Porto Alegre. Disponível em: < http://www.agb.org.br/xenpeg/artigos/gt/gt5/tc5%20(23).pdf>. Acesso em: 27 jan. 2010. SANTOS, J. C. F. dos. Aprendizagem significativa: modalidades de aprendizagem e o papel do professor. Porto Alegre: Mediação, 2008. SANTOS, M.. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-informacional. 3. ed. São Paulo: HUCITEC, 1997. TAKAHASHI, T. (Org.). Sociedade da Informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. Disponível em: <http://www.mct.gov.br./index.php/content/view/18878.html>. Acesso em: 25 de maio de 2011. 9