PRODUZINDO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: O Uso de Software Educativo Por Alunos Com Dificuldades de Aprendizagem 1



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Transcrição:

PRODUZINDO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: O Uso de Software Educativo Por Alunos Com Dificuldades de Aprendizagem 1 Maria Izabel Moro 2 Professora Orientadora: Eromi Izabel Hummel 3 RESUMO O uso de softwares educativos na produção de textos, em sala de recursos, por alunos hiperativos e disléxicos pode ser um elemento facilitador, uma vez que a tecnologia atrai muito o adolescente e os desenhos vêm desde a pré-história servindo como veículo de expressão do ser humano. É propósito de a Educação Inclusiva propiciar os mais diversos recursos para facilitar a aprendizagem de alunos portadores de necessidades especiais, e o uso da história em quadrinhos aliada ao uso da informática pode favorecer o desenvolvimento da leitura e da escrita. Este trabalho faz uma análise de uma proposta aplicada numa escola estadual no Estado do Paraná onde os resultados apresentam sensíveis avanços na aprendizagem. Objetiva-se com isso apontar a relevância da história em quadrinhos com ajuda da utilização da informática na produção de textos de alunos com dificuldade de aprendizagem. Efetivamente em qualquer situação e contexto a tecnologia faz parte do cotidiano do aluno atual e a história em quadrinhos serve como veículo de comunicação do aluno, lazer e fixação da leitura e escrita. Palavras-chave: História em quadrinhos. Softwares Educativos. Aprendizagem. 1 Trabalho de conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE 2007 2 Professora Efetiva de Língua Portuguesa da Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Pr, lotada na Escola Estadual Vicente Machado Ensino Fundamental e Colégio Estadual Carlos Silva Ensino Médio e Profissional, de São Pedro do Ivaí. Especialista em Educação Especial Áreas: Deficiência Visual e Mental e Profª PDE 2007 em Educação Especial. 3 Professora Mestra da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Orientadora do PDE 2007. 1

ABSTRACT The use of educational softwares in writing texts in the room of resource classrooms for hyperactive and dyslexic pupils can be a facilitating element, once the technology attracts the teenager a lot and the drawings have come serving since the prehistoric period as a means of expression of the human race. It is intention of the Inclusive Education to propitiate the most diverse resource to facilitate the learning of special need pupils and the use of comic books along with the use of computers can increase the development of reading and writing. This work makes an analysis of a project put into practice in a public school in the State of Parana where the results present perceptible advances in the learning. The purpose of this paper is to point out the relevance of comic books along with computers in writing texts by pupils with learning difficulties. Effectively in any situation and context, technology is part of the student s daily life and comic books serve as a means of the student s communication, leisure and setting of reading and writing. Key-word: Comics Books. Educational Softwares. Learning. 2

INTRODUÇÃO A Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em 1990 em Jomtien, na Tailândia, garante que as necessidades educacionais básicas sejam oferecidas para todos, e isto abrange também os portadores de necessidades especiais, pela universalização do ingresso, promoção da igualdade, ampliação dos meios e conteúdos da Educação Básica e melhoria do ambiente escolar. Neste mesmo ano o Brasil aprova o Estatuto da Criança e do Adolescente, que enfatiza os direitos garantidos na Constituição de 1988: atendimento educacional especializado para portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. A partir de então, tem-se procurado inovações para que a construção do conhecimento se torne a cada dia mais atraente para o aluno e mais produtivo para o trabalho docente. A sala de recursos é uma dessas inovações e o uso de softwares educativos na produção de histórias em quadrinhos é uma das ferramentas utilizadas na Escola Estadual Vicente Machado Ensino Fundamental, Pr, para facilitar a aprendizagem da escrita e da leitura. A utilização de novas metodologias para o aluno, aplicadas pelo professor, pode proporcionar uma melhor compreensão dos conteúdos, aumentar a concentração e motivar o interesse pela leitura e escrita. Portanto, este trabalho apresenta uma análise de resultados obtidos após a aplicação de atividades propostas, embasadas na idéia de que as produções de texto em forma de história em quadrinhos, auxiliadas por softwares educativos, representam um elemento novo na sala de recursos, com a finalidade de facilitar o processo de aprendizagem e de habilidades essenciais, para que o aluno tenha acesso ao conhecimento socialmente elaborado. Além de criar situações de aprendizagem capazes de auxiliar na construção do conhecimento, da leitura e da escrita. Assim, Felippin (2004) diz que: o uso da informática na educação tem como objetivo promover a aprendizagem do aluno, ajudando na construção do processo de conceituação e no desenvolvimento de habilidades importantes para que ele participe da sociedade do conhecimento. Esse uso é efetivo através de softwares educacionais capazes de tornar a prática do educador e do educando algo prazeroso (apud MORELLATO, 2006, p.3). 3

O objetivo do presente trabalho é apontar a relevância da história em quadrinhos, com a utilização da informática, na produção de textos de alunos com dificuldade de aprendizagem. Alunos hiperativos e disléxicos possuem capacidade e basta uma metodologia diferenciada para surgirem os primeiros resultados efetivos, como pode demonstrar este trabalho. 1 FATORES QUE INTERFEREM NA APRENDIZAGEM A aprendizagem sofre diversas influências e algumas delas podem interferir, causando dificuldades para a criança. Muitos pais se preocupam com a educação de seus filhos e quando estes enfrentam dificuldade na aprendizagem, muitas vezes se questionam onde está a falha, se na criança, na escola ou na formação dada por eles. De acordo com Piletti (1999), a primeira experiência educacional da criança acontece na família, ela é sua primeira escola e é neste meio que os fatores positivos e negativos, que interferem na aprendizagem, se desenvolvem. E quando as famílias educam os filhos em meio às dificuldades de sobrevivência, elas provavelmente enfrentarão dificuldade de aprendizagem. De acordo com Lima (2008), inúmeras pesquisas apontam que o maior índice que interfere no processo de aprendizagem, ocorre com crianças pobres. Em tais pesquisas, as explicações apontadas para o problema deste fracasso escolar dizem respeito à condição econômica da família. Ainda pode-se observar entre alguns professores a associação da imagem do mau aluno na criança carente. Não é lícito estabelecer uma regra geral e inflexível, atribuindo a todos os casos de problemas de aprendizagem um mesmo diagnóstico ou um enfoque generalizador (p.3). Ainda segundo Lima (2008), os principais fatores etiológico-sociais que interferem na aprendizagem são: Falta de estimulação precoce; Carências afetivas; Ambientes repressivos; 4

Relações interfamiliares; Deficientes condições habitacionais, sanitárias, de higiene e de nutrição; Privações lúdicas, psicomotoras, simbólicas e culturais; Nível elevado de ansiedade; Hospitalismo; Métodos de ensino impróprios e inadequados. A estrutura familiar, assim como, a condição sócio-econômica da família influencia no desenvolvimento da aprendizagem e é sabido que crianças que vivem uma situação de separação dos pais ou mesmo em um lar onde não há união, nem diálogo, podem apresentar problemas em relação à aprendizagem. Também é necessário avaliar que tipo de participação os pais têm na formação escolar de seus filhos, pois esta é de grande importância, mas ela tem que ser dosada, porque nem tudo pode ser muito autoritário, nem muito permissivo, tem que haver um meio termo onde os pais possam exigir, mas também saibam fazer concessões para que a criança se desenvolva de forma confiante e espontânea e com vontade de aprender. O fracasso escolar é causado muitas vezes, não só pela desunião familiar, mas também pelas dificuldades de aprendizagem inerentes do aluno e esta dificuldade leva-o a desatenção, ao desinteresse, a irresponsabilidade, a lentidão a agressividade, causando no aluno sofrimento, por mais que ele queira aprender, não consegue. Para Strick e Smith (2001), as dificuldades de aprendizagem referem-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico. As dificuldades são definidas como problemas que interferem no domínio de habilidades escolares básicas, e elas só podem ser formalmente identificadas até que uma criança comece a ter problemas na escola. As crianças com dificuldades de aprendizagem são crianças suficientemente inteligentes, mas enfrentam muitos obstáculos na escola. São curiosas e querem aprender, mas sua inquietação e incapacidade de prestar atenção tornam difícil explicar qualquer coisa a eles. Essas crianças têm boas intenções, no que se refere a deveres e tarefas de casa, mas no meio do trabalho esquecem as instruções ou os objetivos. (apud BELLEBONI, 2008, p.1). Não é tarefa fácil para o professor compreender e lidar com essa pluralidade de motivos que levam a discrepância entre a capacidade e o desempenho de muitos alunos com problemas de aprendizagem, já que esta mesma área tem interessado a 5

diversos profissionais como: educadores, psicólogos, fonoaudiólogos, neurofisiologistas, entre outros. As dificuldades de aprendizagem mais conhecidas e que afeta de modo mais evidente o desempenho escolar são: a dislexia, a disgrafia, a disortografia, a discalculia, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e dislalia, etc. Para Vygotsky (1993) todos os seres humanos são capazes de aprender, mas é necessário que adaptemos a nossa forma de ensinar, pois cada pessoa é única e cada vida é uma história. É preciso saber o aluno que se tem, despertando-lhe o desejo de aprender. 1.1 DISLÉXICOS No Brasil, a inclusão escolar passou a ter destacada importância a partir da década de 90. Mas ainda há muitas contradições entre o discurso e a prática. Ainda há resistência por parte de muitas pessoas quanto à inclusão dos portadores de necessidades especiais. Existem pessoas que defendem a universalização do acesso e pela qualidade do ensino para todos e há ainda quem diga que a inclusão escolar é uma medida de contenção de despesas (MENDES, 2001). Somente conhecendo o que é dislexia, se inteirando da inclusão e do papel do educador que trabalha com esse tipo de educando, é possível avaliar a importância destes, e a busca de uma metodologia diferenciada para estimular a sua curiosidade, o gostar de aprender, o autodesafio; o uso do computador é grande aliado na construção do conhecimento destes alunos. Segundo Ellis (1995) os professores das crianças disléxicas são aqueles que, além da competência, tem facilidade interpessoal, equilíbrio emocional, tem a consciência de que mais importante do que o crescimento cognitivo é o crescimento humano e que o respeito às diferenças vem antes mesmo de toda pedagogia. Alguns autores, especialmente Ajuriaguerra (1976) aponta que a dislexia está ligada a uma barreira que impede a compreensão da leitura. Além disso, a criança com dislexia tem dificuldade em ler com compreensão, o que é fácil para crianças de sua idade, para ela se torna difícil porque sua dificuldade é na base cognitiva e prejudica as 6

habilidades lingüísticas da leitura e da escrita. No desenvolvimento da criança se estas habilidades forem afetadas, provavelmente apresentará um quadro típico de dislexia. Assim, Martins (2003) diz que: a leitura é um processo de aquisição da lactoescrita e, como tal, compreende duas operações fundamentais: a decodificação e a compreensão. A decodificação é a capacidade que temos como escritores ou leitores ou aprendentes de uma língua para identificarmos um signo gráfico por um nome ou por um som. A aprendizagem da decodificação se consegue através do conhecimento do alfabeto e da leitura oral ou transcrição de um texto (p.1). Uma criança disléxica é capaz de desenvolver seu raciocínio matemático e não conseguir ler um simples texto. Deduz-se que a dislexia é um problema na aprendizagem da leitura. Pardo (2000) afirma que: a maior parte deles tem dominância no lobo temporal direito do cérebro, o grande responsável pela área do desenho e da criatividade. O que explica a enorme esperteza dos disléxicos e, por outro lado, a dificuldade com a linguagem (área influenciada principalmente pelo lobo esquerdo). A dominância do lobo direito também justifica que 75% dos portadores de dislexia sejam canhotos, pois o cérebro age de forma invertida, fazendo com que usem mais a parte esquerda do corpo e vice-versa (p.34). Geralmente por volta dos 8 ou 9 anos de idade é que surgem as maiores dificuldades de aprendizagem, pois é nesta idade que os conteúdos escolares ficam mais difíceis, o baixo desempenho e notas ruins são evidências básicas na vida da criança disléxica. De acordo com o Jornal Escolapress Online (2008) são características dos disléxicos: leitura lenta sem modulação, sem ritmo e sem domínio da compreensão/interpretação do texto lido; confusão entre algumas letras; sérios erros ortográficos; dificuldades de memória; dificuldades no manuseio de dicionários e mapas; dificuldades de copiar do quadro ou livros; dificuldades de entender o tempo: passado, presente e futuro; 7

tendência para uma escrita descuidada, desordenada e por vezes incompreensível; não utilização de sinais de pontuação/acentuação gramaticais; inversões, omissões, reiterações e substituições de letras, palavras ou sílabas na leitura e na escrita. As dificuldades de aprendizagem relacionadas à linguagem, no caso leitura e escrita, podem levar ao fracasso escolar, a repetência e até a evasão escola. 1.2 HIPERATIVIDADE E TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO Além da dislexia existem outros distúrbios que afetam a capacidade de ler e escrever de uma criança, e dentre estes tem a TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade). Para Poplin (2003) a hiperatividade e déficit de atenção é um distúrbio observado em crianças desatentas e agitadas. Essas características são encontradas em crianças que aparentemente não demonstram, só são realmente percebidas quando interferem na sua vida e no seu desenvolvimento. Para este estudioso a estimativa é de que cerca de 3 a 5% das crianças na idade escolar (de 5 a 10 anos de idade) apresentam hiperatividade e/ou déficit de atenção. É muito difícil o diagnóstico em crianças menores de cinco anos, pois seu comportamento é muito instável. A porcentagem deste transtorno em adolescentes e adultos é pouco conhecida, mas ambos os grupos podem desenvolver o transtorno. O sexo masculino é mais afetado do que o feminino. Rodhe (1999) observa que é o distúrbio mais percebido quando a criança inicia sua vida escolar. Na adolescência o quadro pode manter-se o mesmo, mas o transtorno pode vir acompanhado de problemas de conduta como: mau comportamento, problemas com trabalho e de relacionamento com outras pessoas. Segundo Silva (2003) as: dificuldades maiores começam a surgir no âmbito escolar quando a criança é solicitada a cumprir metas e seguir rotinas, executar tarefas e ser compensada ou punida de acordo com a eficiência com que são cumpridas. Os pais e/ou 8

cuidadores e familiares já não estão presentes e não podem cumprir tarefas ou facilitar as coisas para a criança (p.62). Pain (1992) destaca que a hiperatividade e déficit de atenção é um transtorno com estudos recentes. O problema não tem causa específica. Alguns genes podem ser causadores do transtorno, lesões neurológicas mínimas ocorridas durante a gestação ou nas primeiras semanas de vida. Alterações das substâncias químicas cerebrais também estão sendo sugeridas como causadores dos sintomas. Supõe-se que todos esses fatores formem uma predisposição básica (orgânica) do indivíduo para desenvolver o problema, que pode vir a se manifestar quando a pessoa sofre ação de eventos psicológicos estressantes, como uma perturbação no equilíbrio familiar, ou outros fatores geradores de ansiedade (PAIN, 1992, p. 123). Se uma pessoa apresenta desatenção e hiperatividade, a ponto de ser considerado como transtorno de déficit de atenção, tem a maioria dos seguintes sintomas ocorrendo a maior parte do tempo em suas atividades: Desatenção: Hiperatividade: freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras; com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; com freqüência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra; com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções); com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades; com freqüência evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa); com freqüência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo: brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais); é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa; com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias. freqüentemente agita as mãos ou os pés e se remexe na cadeira; freqüentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; freqüentemente corre em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação); freqüentemente tem dificuldades para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; 9

está freqüentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor ; freqüentemente fala em demasia; (Tabela para DDA do DSM-IV, apud SILVA, 2003, p.187-188). De acordo com as características dos alunos hiperativos e disléxicos, faz-se necessário que a escola busque estratégias pedagógicas para possibilitar a aprendizagem dos mesmos. Uma das propostas adotadas pelas escolas são as salas de recursos. A sala de recursos é parte integrante da escola e segue as mesmas normas e diretrizes administrativas do estabelecimento de ensino. Os alunos freqüentam em período contrário ao da sala regular e são atendidos individualmente ou em grupos, observando a faixa etária, e o cronograma é organizado de acordo com suas necessidades. As atividades são diferenciadas e parte dos interesses, das necessidades e dificuldades de aprendizagem específicas de cada um, oferecendo subsídios pedagógicos para auxiliar na aprendizagem dos conteúdos da sala regular. De acordo com o Departamento de Educação Especial da SEED - Pr, as salas de recursos têm por objetivo atender os educandos, cujo desenvolvimento educacional requer atendimento complementar diferenciado, de forma a subsidiar com métodos, atividades diversificadas e extracurriculares os conceitos e conteúdos defasados no processo ensino-aprendizagem. As escolas têm se preparado para receber pessoas com todo tipo de necessidade especial, empregando ações, cujo objetivo é o desenvolvimento pedagógico dos alunos, considerando suas necessidades especiais. E dentre estas ações temos: a capacitação docente, os espaços físicos adaptados, o mobiliário, os materiais pedagógicos diversificados aliados ao uso do computador com ajuda pedagógica. Quanto ao computador é um recurso extraordinário e fundamental para os dias atuais, devido às facilidades trazidas para as pessoas, especialmente aos portadores de necessidades especiais. Assim, será abordado o uso do computador no ambiente escolar, com destaque para o atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais. 10

2. O PROCESSO DA LEITURA E ESCRITA A leitura e a escrita formam um sistema simbólico representativo do visual e do auditivo, e ambos são extremamente necessários no processo de ensino e aprendizagem. A leitura envolve a utilização de signos lingüísticos, e estes permitem que o leitor construa o significado do texto. Para que se realize uma leitura com significado é necessária uma operação cognitiva que contenha processos específicos como à codificação, a decodificação, a memória, a percepção e a tradução. De acordo com SOLÉ (1998): [...] ler é compreender e que compreender é, sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que pretendemos compreender. É um processo que envolve ativamente o leitor, à medida que a compreensão se realiza não deriva da recitação do conteúdo em questão. Por isso, é imprescindível o leitor encontrar sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupões a leitura [...] (p.44). É preciso dar significado às letras, às palavras, às frases e ao texto. Assim é necessário fazer uma decodificação dos signos, que são fixos e coletivos, e dão significado às palavras, e ainda relacionar a mensagem de forma coerente dentro de um contexto, reconhecendo os códigos, dando sentido a eles e integrando-os à mensagem. Para que isto ocorra é necessário que vários processos cognitivos entrem em funcionamento. [...] a linguagem considerada [...] como a capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los, em sistemas arbitrários de representação, que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido. (PCNEM, 1999, p.125) Para MARTINS (2003) existem quatro as habilidades da linguagem verbal: a leitura; a escrita; a fala; a escuta. 11

E dentre estas, a leitura é a habilidade lingüística mais difícil e complexa. E ainda para ele, há dois processos de leitura: básicos: voltados à decodificação e à compreensão de palavras; perceptivos: voltados à percepção visual que permite a extração de informações sobre coisas, lugares e eventos do mundo visível. A escrita é um processo complexo, que envolve habilidades diferentes da leitura, mas requer a construção da mesma estrutura, a representação cognitiva. Para FERREIRO (1993) a fala se confunde com a escrita. Escrever é transformar o que se ouve em formas gráficas, assim como ler também não equivale a reproduzir com a boca o que o olho reconhece visualmente (p.34). Para escrever a pessoa deve saber articular a letra de modo a produzir uma mensagem dotada de significado, deve conhecer as regras de representação, precisa diferenciar significado de significante. Caso as representações não forem devidamente construídas, a aquisição do código ficará falha. Muitas vezes ocorrerão casos de dificuldade de aprendizagem da leitura e da escrita, mas sempre haverá a possibilidade de reestruturação do sistema, visando a atender os alunos que apresentam mais dificuldade e que podem vir a fracassar. Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade (ANDERLE, 2005, p.12). Por isso, é importante uma metodologia diferenciada para as salas de recursos, para que a novidade da diferença estimule a criança com dificuldade, visando à aprendizagem desta. Pensando assim, propõe-se a utilização da história em quadrinhos como recurso metodológico, para auxiliar na dificuldade de produção de texto e leitura na sala de recursos, com alunos hiperativos e disléxicos. 12

3 A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL Pesquisadores como Manzini (2005) Santa Rosa (2006), Galvão e Damasceno (2005), Hummel ( 2007), Valente (2007) entre outros comprovam em seus trabalhos que o uso do computador têm sido um grande aliado no processo de desenvolvimento de alunos com necessidades especiais. Para Valente (2001, p.31) o computador permite o desenvolvimento de produtos que têm uma assinatura intelectual, porque feitos com o conhecimento de que o aprendiz dispõe, com seu estilo e criatividade. No entanto, para alguns casos de deficiências os computadores podem ser adaptados com diversos recursos, segundo Hummel (2007): o computador oferece diferentes recursos de acessibilidade, as quais podem ser compreendidos como instrumentos que permitem às pessoas com NEE participarem de atividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação, com restrições mínimas possíveis propiciando-lhes a inclusão nos mais diversos contextos sociais [...] (p.27). Muitos são os recursos de acessibilidade do computador, tanto no que se referem aos hardwares como aos softwares, há, por exemplo, os teclados virtuais criados para ajudar os portadores de necessidades especiais a acionar o computador com um mouse adaptado. Para Barth e Santarosa (2005) estes teclados [...] têm seu funcionamento parecido com um teclado de padrão convencional, com teclas divididas em subgrupos que contém as vogais, as consoantes, os números, os símbolos diversos e teclas com funções específicas. Acima há um pequeno espaço para a edição de textos (p.2). E ainda para estas autoras, ele traz [...] a possibilidade de unir a fala interna do usuário (pensamentos) com seu registro gráfico. Para tanto, seu desenvolvimento terá como base linguagens de programação que possibilitem maior facilidade na sua aquisição pelos usuários [...] (p.4). O Teclado Virtual para escrita da LIBRAS é explicado da seguinte forma por estas autoras: O propósito primordial no desenvolvimento deste teclado está na concepção de que sujeitos surdos não possuem uma escrita condizente com a natureza da sua língua materna, ou seja, a LIBRAS. A grande justificativa acerca deste projeto está na observação, ao longo do tempo, em relação à dificuldade de 13

aprendizagem de pessoas surdas e deficientes auditivas durante sua vida escolar e mesmo na interação social, pelo problema de comunicação. (p.3). Na sua grande maioria, os teclados virtuais são direcionados para pessoas que possuem deficiências físicas ou motoras severas, permitindo sua inclusão social e digital por meio dos softwares educativos. Assim como há os recursos em hardwares, existem softwares destinados para o desenvolvimento da história em quadrinhos (HQs) e dentre esses softwares há o HagáQuê, um editor de HQs com fins pedagógicos desenvolvido para facilitar o processo de criação de HQs, disponível gratuitamente no site www.neid.unicamp.br/agaque/ e o stripcreator é outro recurso que permite a criação de tiras em quadrinhos, disponível gratuitamente no site www.stripcreator.com. Para que o professor possa propor boas situações de aprendizagem utilizando os computadores, é fundamental conhecer os softwares que pretende utilizar para problematizar conteúdos. Por isso, cada software deve ser explorado pelos professores com o objetivo de identificar as possibilidades de trabalho pedagógico. (PCN, 1998, p.151, apud MORELLATO, 2006, p.7). Através do planejamento, o uso da informática e dos softwares educativos pode vir a apresentar resultados significativos no processo de aquisição ou construção do conhecimento, proporcionando um desenvolvimento independente do aluno. São inúmeros os benefícios que o uso desta ferramenta pode trazer para a Educação Especial, especialmente, no que se refere à sala de recursos. 4 DESCRIÇÃO DE PESQUISA Com o intuito de comprovar a importância da história em quadrinhos como estratégia de aprendizagem na produção de texto, em sala de recursos, foram desenvolvidas diversas atividades compreendidas entre leitura e interpretação de textos informativos, narrativos, descritivos e literários, e observação de seqüência da história escrita de diversas formas. Para tanto, esse projeto de pesquisa foi realizado com alunos de sala de recursos de 5ª a 8ª série, de uma Escola Estadual do município de São Pedro do Ivaí, 14

Paraná, no período de março a junho de 2008 e buscou através de software educativo desenvolver a produção de texto com esses alunos. A produção de texto foi realizada com a utilização do computador, com o software stripcreator, mostrando a importância do uso desta ferramenta como recurso pedagógico na construção da aprendizagem destes alunos. O público a que se destinou esse trabalho foi um grupo composto de cinco alunos, todos do sexo masculino, sendo três disléxicos e dois hiperativos. O aluno mais novo tinha doze anos e o mais velho dezessete, dois eram egressos de 1ª a 4ª série (um disléxico e um hiperativo) e três encaminhados pelos próprios professores da sala regular da escola devido a grande dificuldade de aprendizagem e comportamento muito inadequado. Os alunos foram divididos em dois grupos; o primeiro grupo foi composto por dois alunos (um hiperativo e um disléxico) e o segundo grupo de três alunos (um hiperativo e dois disléxicos). O tempo destinado para as atividades correspondeu a duas horas/aulas, duas vezes por semana cada grupo. Para as atividades impressas foram destinadas uma hora/aula e para as atividades on-line duas horas/aula, porém respeitando a temporalidade de cada aluno. Visando preservar a identidade dos alunos utilizou-se letras precedidas de número para identificá-los, apresentamos no quadro a seguir o perfil dos mesmos no que se refere a sua faixa etária, série que estudam e suas características comportamentais. Quadro: Perfil dos alunos Aluno Idade Série Perfil A1 14 5ª Hiperativo, tem comportamento infantilizado, ansioso, dificuldade em se manter concentrado, é o mais carinhoso do grupo. A2 12 5ª Hiperativo, ansioso, faz uso de medicamentos para controlar a ansiedade, tem dificuldade de relacionamento e vem apresentando avanços significativos, conforme os professores da sala regular. A3 14 5ª Atencioso, simpático, bem humorado. No início do ano chegou transferido de outro estado e no primeiro momento observou-se que não era alfabetizado, após sondagem pedagógica foi encaminhado a profissionais competentes 15

onde se constatou que o mesmo apresenta quadro típico de dislexia. Lê frases e pequenos textos com muita dificuldade. A4. 15 8ª Tem leitura lenta e silabada, faz troca e omissões de alguns fonemas, tem dificuldade na produção e interpretação de texto. Reside na zona rural e ajuda o pai na lavoura, inclusive no manejo dos maquinários. Conforme laudo médico apresenta quadro típico de dislexia associado ao déficit de atenção. A5 17 8ª Lê apenas sílabas simples, apresenta elevada destreza visomotora, articula bem as palavras, tem bom vocabulário, atencioso, tem muita dificuldade em noções temporais. Conforme laudo médico apresenta suspeita de dislexia. 4.1 METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido considerando duas etapas: formação dos docentes e aplicação de atividades com os alunos. Inicialmente foram feitos estudos e debates junto aos professores de Língua Portuguesa sobre o desenvolvimento da leitura dos alunos que freqüentam a sala de recursos. Em seguida, foi oferecido para estes professores uma reflexão teórica básica sobre as HQs e a produção de histórias em quadrinhos como estratégia de ensino da leitura e da escrita. O uso da história em quadrinhos como recurso auxilia no método de ensino, é uma forma de ajudar o aluno na compreensão, construindo relações significativas em cada etapa do processo de formação. Os professores deveriam estar cientes, pois seriam os observadores diretos dos resultados da intervenção. A proposta foi elaborada e desenvolvida junto com o professor da sala de recursos, durante um período pré-estabelecido. E para que o professor possa realmente ajudar o aluno nessas construções, é necessário que o mesmo vivencie e pratique atividades pedagógicas relacionadas com a construção de HQs antes que seus alunos. No decorrer das atividades com os alunos, os mesmos demonstraram interesse, especialmente naquelas que envolviam o desenhar/pintar e produzir HQs no computador. Foi iniciada com atividades impressas, pois o laboratório de informática da escola ainda não estava pronto no início do ano, neste sentido a proposta foi adequada para dar início aos trabalhos. 16

No computador foi utilizado o stripcreator disponível no site http://www.stripcreator.com/, o software apresenta elementos da narração como personagens, tempo, espaço e fatos organizados em seqüência; planos de fundo para diversos personagens, além da possibilidade de acrescentar balões da fala ou do pensamento e da narração. No stripcreator os alunos criam tiras em quadrinhos, escolhem as personagens, os cenários e escrevem as falas. Basta selecionar as personagens, que são no máximo duas por quadro, o cenário no qual a cena se desenrola, o diálogo entre as personagens e a narração se houver. Apesar de ser em língua inglesa é de fácil compreensão e aplicação. É uma prática pedagógica interessante, pois a história fica arquivada em uma pasta individual da web e o aluno pode acessá-la quando quiser. 4.2 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES IMPRESSAS Estas atividades tiveram como objetivo fazer com que os alunos despertassem o interesse pela leitura das HQs e passassem a conhecer como é composta uma revista em quadrinhos, os recursos utilizados pelos autores para que pudessem ler com entendimento e criar suas próprias histórias. As atividades foram: leitura de textos sobre o surgimento das HQs observando a evolução dos desenhos, desde a pré-história até os dias de hoje; leitura de diversos tipos de gibis; identificação dos elementos do texto narrativo (enredo, personagens, tempo, espaço); identificação dos elementos das HQs (balões, quadro, onomatopéias, metáforas visuais); ordenação de HQs, leitura e compreensão oral; produção de diálogo para HQs já prontas; desenho das personagens e cenário de acordo com a história; produção de roteiro para HQs: de uma HQs em texto narrativo e de um texto narrativo em HQs. produção de HQs com tema livre. 17

4.3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES ON-LINE Nestas atividades foram utilizados diversos sites de HQs para leitura, produção de HQs e outras atividades educativas para estimular e ajudar no desenvolvimento da aprendizagem. As atividades foram: cadastramento dos alunos no laboratório de informática e em um e-mail gratuito e orientações sobre o uso dos equipamentos; leitura on-line de HQs da turma da Mônica, disponível em http://www.turmadamonica.com.br/ ; realização de atividades educativas (leituras, palavras cruzadas jogos, pintura...); exploração livre do site http://www.stripcreator.com/ para que se familiarizassem com os recursos existentes; produção de HQs on-line; divulgação das HQs produzidas na biblioteca da escola. 4.4 DESCRIÇÃO DAS PROPOSTAS A intervenção compreendeu quatorze propostas, com atividades diversificadas, conforme relatadas a seguir: 1ª Proposta: Reunião de todos os alunos no salão de eventos da escola. O início das atividades se deu por meio de leitura do texto Como as HQs surgiram e, na seqüência um debate com vários questionamentos. Como recurso pedagógico especial utilizou-se o retroprojetor com textos, figuras de personagens e caricaturas. Foi utilizado também o mapa mundi e o globo terrestre. Em conversa informal, cada um colocou suas experiências de leitura, principalmente leitura de gibis. 2ª Proposta: Trabalho com os elementos da narração, entonação de voz, respeito à pontuação e questionamento sobre o enredo da história. 3ª Proposta: Esta proposta foi um tanto quanto curiosa, foi realizada durante o transcorrer de todo o projeto, uma vez que consistia na leitura de HQs. Isso era 18

feito a cada aula, quando os alunos levavam para casa os gibis para leitura e traziam na próxima aula para trocá-los. 4ª Proposta: Descobrimento de como as HQs são formadas, os diversos tipos de balões, as metáfora visuais, o quadro, as onomatopéias e seus significados. 5ª Proposta: Ordenação de história com a colocação dos quadrinhos para se chegar a uma conclusão. 6ª Proposta: Observação de cenários, expressão facial das personagens e criação de uma história. 7ª Proposta: Desenho de personagens, dos cenários através da análise das falas. 8ª Proposta: Atividade coletiva e através de questionamentos do professor e respostas dos alunos elaborou-se um roteiro. 9ª Proposta: Interpretação oral e escrita de uma história. 10ª Proposta: Atividade no laboratório de informática onde leram HQs on-line da turma da Mônica, fizeram palavras cruzadas, pinturas e jogos educativos. 11ª e 12ª Proposta: Exploração livre do site, para se familiarizarem com os recursos existentes nele, no laboratório de informática. 13ª Proposta: Divulgação de uma revista impressa com as histórias produzidas durante o projeto. A revista foi exposta no cantinho da leitura da biblioteca, onde ficam os livros do mês (para divulgação), textos e recados dos estudantes e professores para a leitura dos demais alunos da escola e cada aluno participante do projeto recebeu um exemplar. 14ª Proposta: Passeio a cidade de Maringá para ir ao cinema. 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS É importante considerar que os resultados que serão analisados trata-se de produção de adolescentes com características diferentes entre si, mas, com condições semelhantes de dificuldades. O aluno aqui codificado como A1 é uma criança hiperativa que não guarda mágoa, demonstrou muito interesse nas atividades com o computador, faz leitura silabada. Houve um avanço na leitura e interpretação de HQs no decorrer do 19

projeto, sempre se propunha a ficar além de seu horário. As atividades com o computador prenderam sua atenção. O aluno codificado como A2, também hiperativo, foi o aluno que mais leu e interpretou as HQs e sempre que participava das aulas, na sala de recursos, levava vários gibis para ler em casa. Por ter gostado da HQs foi muito tranqüilo trabalhar com ele; no laboratório de informática não teve dificuldade em fazer suas produções de HQs. Fez todas as atividades tanto impressas como as on-line com atenção e criatividade. Suas notas melhoraram significativamente na sala do ensino regular. Já o aluno codificado como A3 é disléxico, um adolescente que registra a letra cursiva com traçado perfeito, porém na junção de sílabas as palavras não têm sentido. Fez leitura das figuras, demonstrou um interesse muito grande na leitura utilizando o computador. É receptivo, esforçado, interessado, inteligente, articula bem as palavras, criativo na oralidade, apresenta uma boa destreza viso-motora e desenha muito bem. Lê frases e textos pequenos com muita dificuldade, recusava-se a ler junto a outros alunos. Participou ativamente de todas as atividades, foi o aluno que mais produziu HQs no computador, pois comparecia além do cronograma estabelecido para ele. No final do projeto foi quem mais progresso teve quanto ao uso do computador e sempre ajudava os colegas, quando estes tinham alguma dificuldade em encontrar certos recursos no site e precisavam de auxílio. No início do projeto seus textos eram pequenos e com o desenrolar das atividades foi ficando mais seguro para escrever. Tinha consciência que não escrevia de forma convencional e quando terminava de escrever sua história chamava o professor para ler e explicar o texto (dizia que era para traduzir a história). Na sala regular houve uma melhora significativa na sua aprendizagem. O aluno codificado como A4 é um adolescente que se interessou pela leitura e produção de HQs no laboratório de informática, e não teve dificuldade em trabalhar no site. No transcorrer do projeto faltou muito, pois mora na zona rural e ajuda o pai na lavoura. O aluno codificado como A5, é um adolescente de 17 anos, não faz leitura coletiva, só faz leitura de pequenas frases isoladamente. Não encontrou dificuldade em trabalhar com o computador, nem de navegar pelo site. Faltou muito no desenrolar do 20