Revista Brasileira do Aço Ano 22 - Edição 145 Outubro/Novembro 2012 E hoje, como está a siderurgia no Brasil? De acordo com o Instituto Aço Brasil, os indicadores de produtividade da indústria do aço se mantiveram ou melhoraram. O País precisa de isonomia competitiva, crescimento e prevalência das regras de mercado de forma sustentável, além de mecanismos de defesa comercial diante do cenário de crise internacional A indústria brasileira do aço continua investindo em seus parques de produção para manter as usinas nos estágios mais avançados de desenvolvimento tecnológico, isso porque os empresários do setor foram motivados pelas medidas anunciadas pelo Governo Federal, que elevou a tarifa de importação para alguns produtos siderúrgicos (o que pode vir a minimizar as dificuldades enfrentadas pelo segmento). No entanto, ainda existe a necessidade de complementos para se reverter a trajetória negativa observada neste ano, buscando o crescimento do mercado interno, regulamentação para o conteúdo local da indústria e também a correção de assimetrias competitivas. Estamos vindo de um momento muito difícil, com o mercado crescendo menos do que se esperava no primeiro semestre. Fomos agredidos pelas importações predatórias, já que muitos fabricantes estavam vendendo aço a preços bem baixos, diante do excesso de capacidade da indústria siderúrgica mundial, comentou o Presidente Executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Mello Lopes. No que se refere às importações diretas do aço, registrou-se 3 milhões de toneladas de janeiro a setembro de 2012. Um crescimento de 4,9% ante o mesmo período do ano anterior. As importações indiretas totalizaram 3,6 milhões de toneladas de janeiro a setembro, o que mostra queda de 1,6% em relação ao mesmo período de 2011. No Brasil, de janeiro a setembro de 2012, a produção do aço bruto foi de 26 milhões de toneladas, ante 26,8 milhões de toneladas no mesmo período de 2011, o que representa queda de 3%. Já o consumo aparente nacional foi de 2,1 milhões de toneladas, totalizando 19,3 milhões de toneladas em 2012 (janeiro a setembro). Esses es representam um aumento de 0,5% e 1,6% respectivamente, comparado a igual período do ano anterior. A Gerdau, por exemplo, investiu no terceiro trimestre R$ 904 milhões em ativo imobilizado e, no acumulado deste ano, R$ 2,4 bilhões. Dentro deste planejamento está a construção de uma nova aciaria, ampliação da produtividade, da segurança operacional, da qualidade dos produtos e da proteção ambiental, além da redução do consumo de energia. Considerando as incertezas do mercado econômico mundial, a empresa informou que está sendo seletiva na avaliação dos projetos de investimentos futuros e que está revisando o plano de R$ 10,3 bilhões (2012-2016). Uma nova estratégia será anunciada em fevereiro de 2013. Marco Polo Mello Lopes Presidente Executivo do Instituto Aço Brasil Expectativas para 2012 Para o Presidente do Iabr, no mercado mundial há um excedente de oferta de aço de 500 milhões de toneladas e queda de consumo desse material nos países desenvolvidos. As projeções apresentadas pelo WorldSteel para o período 2011/2013 indicam ainda que o desbalanceamento na oferta deverá persistir devido aos aumentos de capacidade previstos para diversos países/regiões. Com a queda que a indústria vem sofrendo na participação do PIB e com a reprimarização da nossa pauta de exportação, há um processo de desindustrialização no País. O peso e o impacto das importações diretas e indiretas de aço na cadeia metalmecânica são significativos e contribuem para aprofundar esse processo em curso no Brasil, avaliou Lopes. É preciso corrigir distorções! Dentro desta premissa, Lopes explicou que o Senado Federal corrigiu a grave distorção na economia brasileira que prejudicava a produção e geração de empregos, aprovando o projeto de resolução 72/10, que levou a unificação em 4% da alíquota do ICMS em operações interestaduais com produtos importados. Frente às projeções macroeconômicas do País em 2012, o Aço Brasil estima o consumo aparente de produtos siderúrgicos em 26,4 milhões de toneladas, aumento de 5,4% quando comparado a 2011. No cenário atual de volatilidade, estamos revendo este número, justificou. E para 2013 Existe a sensibilidade do Governo em priorizar, de um lado, a implementação de medidas que assegurem efetivamente o crescimento sustentado do mercado interno, e, por outro lado, a eliminação do artificialismo observado no processo de importação e a correção de assimetrias. Além disso, há expectativa de que o consumo de aço seja impactado positivamente pelos chamados projetos especiais, entre eles a Copa do Mundo e Olimpíadas. No entanto, o momento é de preocupação, encerrou Lopes.
Autopeças Novo rumo às autopeças Balança comercial do setor está deficitária, mas a expectativa é de que o pacote de benefícios anunciado pelo Governo torne a indústria mais competitiva e isso reflita no segmento aço No mês de outubro, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU), um decreto que regulamenta o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), visando apoiar o desenvolvimento tecnológico, a inovação, a segurança, a proteção do meio ambiente, a eficiência energética e a qualidade dos veículos e autopeças. A preocupação do Governo brasileiro com a atual situação da indústria brasileira de autopeças reflete a gravidade e as dificuldades enfrentadas para garantir a competição, em condições de igualdade, no mercado global. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), dados da balança comercial de autopeças, elaborados com as informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), do mês de agosto, apontaram um aumento de 23,10% no déficit comercial acumulado no ano, em comparação a 2011. No mês de agosto, as importações somaram US$ 1,58 bilhão e as exportações, US$ 1,01 bilhão, o que resultou no déficit mensal de US$ 565 milhões. A balança comercial de autopeças está deficitária. O coordenador do Grupo de Manutenção Automotiva (GMA) e conselheiro do Sindipeças, Antônio Carlos Bento, ressaltou que essa inversão começou em 2006. O estudo sobre o desempenho do setor de autopeças, feito pelo Sindicato, revelou que o total de importação de 2009 a 2011 foi de US$ 38 bilhões e a exportação foi de US$ 27,4 bilhões, e a exportação, no mesmo período, foi de um déficit de US$ 10,6 bilhões. As projeções do faturamento nominal para 2012 apontaram US$ 45,28 bilhões, ou seja, uma variação de -17,2%, e para 2013 de US$ 45,77 bilhões, com variação de 1,1%. O setor vem se modificando substancialmente, devido ao aumento de modelos e diferentes montadoras, concomitante à contínua introdução de novas tecnologias. Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de São Paulo (Sincopeças), Francisco Wagner de La Torre, isso requer um grande esforço do setor varejista de autopeças para manter os estoques atualizados e com preços competitivos. No entanto, as altas taxas de inadimplência e a queda do do ticket médio têm Paulo Moraes Gerente comercial da Aços Groth dificultado o investimento e a reposição dos estoques. Esse quadro promoveu a depuração dos players e apenas as empresas com considerável saúde financeira e boa gestão superarão essa fase. La Torre argumentou que, apesar do Governo ter implementado plano de socorro à indústria automobilística, com pacote de benefícios fiscais, creditícios e restrições às importações, garantindo reserva de mercado às montadoras instaladas no Brasil, não houve ajuda direta que pudesse incrementar os negócios do segmento que atua. Porém, acredito que, ao incentivar as vendas de veículos, o setor possa se beneficiar, quando essa frota sair da garantia de manutenção das montadoras. Aço X Autopeças O gerente comercial da Aços Groth, Paulo Moraes, não vê ainda sinais claros de que a situação mudará a curto prazo. As perspectivas para o próximo ano são pouco animadoras, uma vez que o setor de aço perdeu cerca de 40% das vendas para o de autopeças, nos últimos quatro anos, com relação a clientes e à redução do volume de compras. Os distribuidores de aço, excluindo as coligadas, vêm sofrendo, durante esse tempo, margens cada vez mais reduzidas, devido à política de preços praticada pelas usinas produtoras de aço nacional e pelas importações. As vendas para o setor de autopeças não têm acompanhado o crescimento do setor automobilístico do País. Moraes acentuou que, ao receber o reajuste de preços, os distribuidores são forçados a repassá-los à indústria de autopeças, que deveria adotar o mesmo procedimento com os seus clientes. Porém, como as indústrias não foram contempladas com os mesmos reajustes impostos aos distribuidores, negam-se a aceitar qualquer alteração de preço por parte das autopeças, ameaçando-as com a importação de peças estampadas ou adquirindo aço direto da usina. Não temos como reduzir, ainda mais, nossas margens e custos internos, porque estamos lidando com uma commodity, que tem pouco agregado, e competindo de forma desigual com as coligadas. Apesar das dificuldades encontradas, Antônio Carlos Bento acredita que os efeitos práticos dos benefícios fiscais, oferecidos pelo governo, possam ser sentidos nos próximos anos, tornando a indústria nacional de autopeças mais competitiva. O setor de aço tem papel importante no de autopeças, cuja matéria-prima é utilizada em sua produção. Entretanto, o custo do aço reflete no da autopeça, uma vez que o setor já sofre muito com a alta carga tributária e perde competitividade diante dos importados, destacou ele, acrescentando que, para combater os custos, a indústria utiliza estratégias mais focadas em resultados e em melhorias de processos, para se manter competitiva no mercado. Ano Fiscal 2008 2009 2010 2011 2012 (projeção) 2013 (projeção) unidade monetária variáveis 2008/2007 FATURAMENTO NOMINAL (1) 2009/2008 2010/2009 2011/2010 2012/2011 R$ bilhões 75,17 10,1% 75,67 0,7% 86,39 14,2% 91,50 5,9% 87,84-4,0% 91,08 3,7% US$ bilhões 40,99 16,9% 37,90-7,6% 49,77 31,3% 54,66 9,8% 45,28-17,2% 45,77 1,1% 2013/2012 1. Faturamento com ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) e sem IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) Fonte: Sindipeças 2 Autopeças
Estatísticas Por Oberdan Neves Oliveira Compra e venda da rede voltam a crescer As compras de aços planos em outubro registraram acréscimo de 14,1% quando comparadas ao mês anterior, atingindo o volume de 388,8 mil toneladas. Frente ao mesmo período do ano passado (341,6 mil toneladas), as compras subiram 13,8%. As importações de aços planos³ de outubro apresentaram recuo de 38,8% diante ao mês anterior, com volume total de 108,2 mil toneladas. Já às vendas, no mês de outubro também tiveram alta, 13,4% frente a setembro, com volume total de 401,2 mil toneladas, segundo maior volume do ano. Quando comparadas a outubro de 2011 (371,3 mil toneladas), as vendas da rede associada cresceram 8,1%. Para novembro, a expectativa da rede é que a compra permaneça estável enquanto a venda recue em torno de 7%. Com isso, os estoques de outubro marcaram pequena retração de 1,3% em seus volumes, atingindo o montante de 936,9 mil toneladas. Quando comparado ao mesmo período do ano anterior (1017,9 mil toneladas), o armazenamento recuou 8%. Assim, o giro dos estoques recuou para 2,3 meses. PANORÂMICA DO AÇO PRODUÇÃO MUNDIAL AGOSTO 123.737 125.042-1,0% PRODUÇÃO AMÉRICA LATINA AGOSTO 5.546 5.808-4,5% PRODUÇÃO BRASIL SETEMBRO 2.848 2.859-0,4% 1 Incluem importações informadas pelos associados 2 Incluem os embarques das usinas para outros setores via distribuição DESEMPENHO DOS ASSOCIADOS ESTOQUE 1 OUTUBRO 936,9 1.017,9-8,0% COMPRAS 2 OUTUBRO 388,8 341,6 13,8% VENDAS 1 OUTUBRO 401,2 371,3 8,1% Unid:1000 ton. 3 Produtos: LCG, BQ, BF, CZ, CPP, CAZ e EGV. Estatisticas 3
Visão econômica Meses depois...... A indústria no Brasil volta a respirar? Passado alguns meses da implantação de alguns benefícios fiscais oferecidos pelo Governo, qual a avaliação do setor feita por alguns economistas? No segundo semestre de 2012, o Governo resolveu atuar e tomou algumas medidas para estimular a indústria do País, que a cada mês perdia espaço e apresentava números decrescentes assustadores. E este quadro não mudou... O Banco Central divulgou no início de novembro o relatório Focus com as expectativas do mercado financeiro sobre a economia brasileira, e o resultado é desanimador. Segundo a pesquisa, os analistas acreditam que a queda da produção industrial em 2012 deva ficar em 2,31%. Essa foi a sexta vez que se reavaliou para baixo a previsão do desempenho industrial. Mas nem tudo é notícia ruim: para 2013, o relatório Focus prevê uma recuperação do setor, com crescimento de 4,15%. Mas e os efeitos práticos dos incentivos fiscais? A atuação do Governo (ao reduzir impostos na energia, desonerar a folha de pagamento, aumentar a alíquota de importação etc) visa fomentar, no curto prazo, a competitividade da indústria em particular nos setores expostos à competição internacional, como é o caso da indústria do aço. Uma forma direta para isso é reduzir os custos. Para a economista Patrícia Marrone, mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP), as decisões, reclamações antigas do mercado, podem ter, realmente, impactos positivos na cadeia industrial. Sobretudo, no caso da desoneração da folha de pagamento, que promete, com o fim da cobrança fixa de 20% sobre os custos patronais, ajudar na recuperação das margens de lucro do mercado nacional, prejudicado com a concorrência das importações, que se acirraram ainda mais com a ização do real, frente a outras moedas do planeta. Com a mudança, a partir de agora, as empresas do setor passarão a recolher 1% sobre o faturamento bruto. A alteração na forma de cobrança, além de diminuir os custos sobre a mão de obra, poderá adequar parte da carga tributária na relação entre produtos internos e insumos importados, que não con- 4 Visão econômica
Visão econômica tam com nenhuma contribuição acerca da produção. Além disso, a queda no preço das tarifas de energia elétrica, que propiciará redução de até 28% no preço do Giorgio Romano insumo para as indústrias, também pode ser vista como ponto fundamental nesse processo de crescimento da esfera industrial brasileira. Com o corte de impostos e encargos, que hoje respondem por aproximadamente 45% do total cobrado pelo setor energético, as empresas ganham mais um fator de aceleração à competitividade, tornando os produtos mais baratos e mais atraentes para o consumo interno e para exportações, afirmou Patrícia. Outra decisão que afetará diretamente a área siderúrgica é o aumento da alíquota do imposto de importação do Aço, que subiu para 25% (antes, variava de 10 a 18%, dependendo do tipo de produto). A decisão atinge, principalmente, a compra de bobinas a quente e chapas grossas e visa o controle de importações especulativas e o aumento da demanda interna por artigos nacionais. Outra consequência, segundo analistas econômicos, poderá ser o reajuste de forças do setor, diante de concorrentes estrangeiros, apontou Patrícia. De acordo com o Professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano Schutte, é preciso também mais investimentos em tecnologia e desenvolvimento para estimular a produtividade e a qualidade dos produtos, o que sempre corresponde à forma mais consistente de incentivar a competitividade. No curto prazo, porém, o Governo está agindo corretamente diante da pressão dos importados que cresceram consideravelmente depois de 2010 e já deixaram o País com o déficit expressivo na balança comercial dos manufaturados, analisou Schutte. É evidente que as empresas beneficiadas pelas medidas deverão ficar com uma saúde financeira melhor. Cabe verificar se estão aproveitando essa folga para melhorar seu desempenho em qualidade e produtividade, alertou. Para Schutte, todos os países industrializados estão sofrendo uma pressão muito grande da China. Se pegarmos a indústria de bens de capital, há uma pressão pela qualidade da indústria alemã na outra ponta. O câmbio é um fator crucial. Assumir uma política deliberada de administração do câmbio vai ao sentido certo, mas demorará ainda para mostrar efeito. O mesmo vale pela recente de redução dos juros isso a curto prazo. Já a médio e longo prazo, o que deve pesar é a capacidade de inovação, concluiu o professor. É preciso mais O ex-diretor do Banco Central e economista Paulo Yokota (hoje, diretor gerente da Ideias Consultoria), disse que tais soluções implantadas pelo Governo Federal é somente a preservação de parte do mercado interno, quando as empresas siderúrgicas brasileiras carecem de mais força perante a concorrência internacional (como as que fazem a Paulo Yokota redução direta do minério de ferro com a utilização de gases de custos baixos). É preciso articular melhor o conjunto, com o estabelecimento das condições de competitividade (que dependem de juros, impostos, câmbio, encargos trabalhistas, custo de infraestrutura competitiva), deixando claro o prazo de sua duração. Pesquisas adicionais devem ser estimuladas para que as usinas instaladas tenham condições de inovações (já implantadas no exterior). Até agora, só estamos na expectativa, e uma das medidas urgentes seria o aumento do prazo do recolhimento dos impostos, compatível com o limite de recebimento dos pagamentos dos clientes, de forma a reduzir os encargos financeiros que estão sendo arcados, explicou Yokota. De acordo com o economista, o longo período que a indústria ficou relegada a segundo plano, sem uma política industrial objetiva, deteriorou a sua situação, e agora, há a necessidade de um programa de grande magnitude. O Brasil dispõe de minérios de boa qualidade e deveria contar com uma siderurgia competitiva internacionalmente, como já foi no passado. Medidas pontuais não resolvem mais o problema, enfatizou. Realidade A utilização dessas medidas fiscais não é algo novo na política industrial brasileira. Quando usadas de forma isolada, apenas trazem alívio momentâneo. A empresa respira com ajuda de aparelhos. É eficaz para uma sobrevida... Mas ainda há muito que fazer. O empresário precisa observar os seus investimentos, independente da política encorajá-los ou não. Tem que se atentar aos concorrentes, pois boa vontade do Governo não será capaz de fazer com que a concorrência desapareça. Basta olhar quem são os maiores produtores mundiais de aço, a frente do Brasil: 1º China, 2º Japão, 3º EUA, 4º Índia, 5º Rússia, 6º Coréia, 7º Alemanha, 8º Ucrânia e 9º Brasil. Logo percebemos que se trata de um setor fundamental para países emergentes ou avançados, ou seja, siderurgia não é commodity. A competitividade no setor não está apenas atrelada à redução de custos, mas sim, na forma como a redução de custos é obtida. Inovações tecnológicas e organizacionais são incorporadas a produtos e processos. O problema é bem mais complexo e a solução proposta pelo Governo não é suficiente para resolvê-lo. A indústria brasileira precisa se capacitar internamente, buscando reduzir custos com eficiência e inovação. Ou seja, fazer exatamente e melhor o que os concorrentes já fazem. Visão econômica 5
Artigo - Octavio de Barros O 'novo normal' Em maio de 2009, o economista Mohamed El-Erian (sócio de uma importante gestora de investimentos) publicou um artigo que teve e tem até hoje grande repercussão, na medida em que trata do conceito da economia operando em um modelo chamado de novo normal ("A new normal", Mohamed A. El-Erian, Secular Outlook, maio 2009). O artigo refere-se à situação da economia global pós-crise de 2008, que deverá perdurar por um período longo em substituição a uma configuração que prevaleceu até 2007. A ideia do novo normal traduz o reconhecimento de que a economia mundial passará a conviver com características inéditas bem distintas daquelas que prevaleceram até poucos anos atrás. Para recapitularmos, na visão do autor, o antigo normal modo de funcionamento da economia era marcado por taxas de crescimento bem mais elevadas, propiciadas por uma expansão global do crédito e por uma despreocupação com o financiamento soberano. No período de 2000 a 2007, tivemos o crescimento exuberante da China, um sistema financeiro pouco regulado, baixa intervenção do Estado na economia, elevadas taxas de retorno, crescimento econômico baseado, sobretudo, no consumo etc. Esse modo de funcionamento da economia teria se esgotado na visão do mencionado artigo seminal. O novo normal envolveria a China crescendo menos e convergindo gradualmente para padrões clássicos de desenvolvimento; os países emergentes focando cada vez Octavio de Barros, Diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, é doutorado pela Universidade de Paris X-Nanterre mais no investimento e no aumento da produtividade do que no consumo; maior e mais rígida regulação do setor financeiro; mais moderada expansão do crédito, taxas menores de retorno dos negócios em geral e busca de menor concentração de renda. Parece intuitivo que o novo normal da economia esperado pelas economias maduras dialoga com um novo normal também dos países emergentes, como o Brasil. Daí nos cabe refletir não apenas sobre o que seria esse possível Banco de imagens Criatura 6 Artigo
Artigo novo normal que a economia brasileira estaria obrigada a inaugurar ou que já teria inaugurado. Ou seja, discute-se qual será o novo padrão de crescimento, a normalidade econômica que marcará um período longo, de pelo menos uma década no Brasil e no mundo emergente. O fato de a economia mundial estar vivendo um momento especial, que poderíamos classificar como ajuste de contas, acaba nublando a compreensão do alcance de um novo modelo de crescimento das economias em geral, que imaginamos que venha a ter vida longa. Alguns analistas, precipitadamente, ainda acalentam a tese de que, passada a fase crítica de ajustes na Europa, nos Estados Unidos e na China, todas as economias reencontrarão taxas elevadas de crescimento e se observará a volta da euforia do crescimento dos negócios a taxas novamente invejáveis. Minha visão é a de que, depois do inevitável ciclo de ajustes que ainda durará alguns anos, sobretudo nas economias maduras, não veremos tão cedo assim a volta da Era da euforia nos negócios. Mesmo em ambientes que poderíamos classificar como otimistas, passaremos a assistir com muito mais frequência a um posicionamento cauteloso por parte de empresas e famílias. Seria como se, mesmo em ambientes positivos, a Era da euforia passasse a ser substituída pela Era do otimismo com cautela e parcimônia, sem que isso necessariamente signifique que o espírito animal do empresário não volte mais a estar presente. A economia mundial e a brasileira ingressam em uma fase aparentemente irreversível de maior regulação governamental, em que o novo normal significa taxas mais moderadas e menos voláteis de crescimento e, consequentemente, de investimento. Por consequência, estamos a um pulo de taxas também mais moderadas de retorno dos negócios empresariais em geral, analisando-os de forma agregada. É como se tivesse havido um aprendizado com a crise, que faz com que as empresas e as famílias deem passos mais calculados e menos afoitos nas suas decisões de consumo e de investimento. Até quando esse comportamento prevalecerá é difícil prever, mas parece que será um longo processo. Do lado mais exagerado, observa-se que em momentos de crise, sobretudo de crises da envergadura desta a que estamos assistindo, há uma recorrente reaparição de teses estagnacionistas, como se o crescimento econômico fosse seguir medíocre por muito tempo, como se o mundo tivesse se transformado em um grande Japão, que cresce pouco há décadas. Há também análises que olham para o ambiente de incerteza global com reverberação midiática constantemente negativa e observam, por exemplo, o crescimento brasileiro muito baixo por quatro trimestres e, mesmo em um ambiente de estímulos governamentais e de taxas de juros em patamares historicamente inéditos, projetam mecanicamente um futuro quase sombrio. O que quero aqui sugerir é que as populares teses estagnacionistas são muito frágeis, ainda que sedutoras, e não podem ser confundidas com a alta probabilidade, que defendo, de que estejamos ingressando em um novo normal, com recuperação da atividade econômica no mundo e no Brasil. Essa recuperação será, porém, em patamares mais moderados, mais condizentes com a realidade de economias mais reguladas do ponto de vista de crédito e do ponto de vista dos incentivos fiscais. Isso talvez ajude a explicar o tipo de recuperação que podemos esperar daqui para diante. Mas, como sabemos que política monetária funciona desde que a aversão ao risco não seja exagerada, apostamos na recuperação cíclica tão logo os temas globais mais nevrálgicos sejam adequadamente endereçados e os riscos de ruptura se dissipem. Saídas de crise na forma de V parecem fora do radar, tanto no mundo como no Brasil. Seria mais plausível uma saída de crise mais parecida com um V mais aberto, plasticamente similar ao símbolo da marca Nike, só para trazermos um pouco de humor a um artigo austero como este. Estamos falando de um otimismo repaginado, com menores comportamentos pro-cíclicos e com agentes econômicos agindo com um pouco mais de racionalidade e parcimônia, pelo menos por um bom tempo. As boas oportunidades estarão sempre à disposição, mas identificá-las exigirá mais trabalho e mais competência estratégica em todos os países, inclusive no Brasil. Crescimento decenal do PIB real do Japão (em %) Fonte: Bloomberg. Elaboração: Bradesco Artigo 7
Artigo - Dr. Carlos de Freitas Nieuwenhoff Convenções coletivas de trabalho O Sindisider tem durante todo ano negociações coletivas de trabalho com vários sindicatos dos empregados. Sendo ele um sindicato nacional, representa as empresas da distribuição de produtos siderúrgicos em todo o território nacional. A grande maioria das empresas tem sua predominância formada por empregados no comércio, e em número menor as formadas por empregados metalúrgicos. Este ano, de forma geral, grande parte das negociações tratou somente da parte econômica, poucos foram os que discutiram benefícios e cláusulas sociais. Com a inflação mantida em níveis médios entre 5 e 5,9% (INPC), previa-se negociações mais rápidas com aumentos reais muito próximo da inflação (cerca de 10 a 20% dela), mas não é o que ocorre. Os pleitos de aumento real variam de 2,0% a 3,5%, o que representa 40% a 70% da inflação do período. As principais negociações em andamento são: Comerciários de Criciúma, Santa Catarina Data base maio reajuste de 8,5%, mantidas as demais cláusulas da CCT, já encerrado. Comerciários do Paraná Diversos municípios Data base junho reajuste médio de 8,0%, mantidas as demais cláusulas da CCT, já encerrado. Comerciários de Caxias do Sul Rio Grande do Sul Data base julho reajuste de 7,3%, mantidas as demais cláusulas da CCT, já encerrado. Metalúrgicos de Taubaté Negociações em fase final. Índice negociado de 7,5% de reajuste e abono salarial já aprovado e assinado em Termo aditivo à CCT, no de R$ 1.300,00, mantidas as demais condições já estabelecidas em nossa Convenção Coletiva de Trabalho. Data base agosto de 2012, texto final com todas as condições negociadas já está disponível em nosso site. Pagamento das diferenças na folha de novembro/12. Metalúrgicos de Campinas e Limeira Negociações encerradas. Índice de reajuste de 8,5% e manutenção das demais cláusulas de nossa Convenção Coletiva de Trabalho. Data base setembro de 2012, texto final com todas as condições negociadas já está disponível em nosso site. Pagamento das diferenças na folha de novembro/12. Comerciários de São Paulo Capital Negociações em andamento. Foi momentaneamente suspensa a Convenção Coletiva dos Comerciários de São Paulo, em função de desacordo quanto ao índice do reajuste salarial. Inicialmente as partes haviam acertado um reajuste de 7,5%. Porém, no momento da assinatura para registro na SRT, o Presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo declinou Expediente Negociações 2012/2013 das tratativas anteriormente realizadas, pleiteando novo índice de 8% (documento disponível no site). Comerciários de Osasco Negociações encerradas. Índice de reajuste de 7,5% e algumas alterações nas cláusulas sociais. Data base Dr. Carlos Freitas Nieuwenhoff setembro de 2012, texto final com todas as condições negociadas já está disponível em nosso site. Pagamento das diferenças na folha de novembro/12. Comerciários de Santo André Negociações encerradas. Índice negociado de 8,0% de reajuste e 8,5% nos pisos, mantidas as demais condições já estabelecidas em nossa Convenção Coletiva de Trabalho. Data base setembro de 2012, texto final com todas as condições negociadas já está disponível em nosso site. Pagamento das diferenças na folha de novembro/12. Comerciários do Interior (federação e demais sindicatos) Negociações encerradas. Índice negociado de 8,0% de reajuste e 8,5% nos pisos, mantidas as demais condições já estabelecidas em nossa Convenção Coletiva de Trabalho. Data base setembro de 2012, texto final com todas as condições negociadas já está disponível em nosso site. Pagamento das diferenças na folha de novembro/12 Comerciários de Guarulhos Negociações encerradas. Índice negociado de 8,0% de reajuste e 8,5% nos pisos, mantidas as demais condições já estabelecidas em nossa Convenção Coletiva de Trabalho. Data base outubro de 2012, texto final com todas as condições negociadas já está disponível em nosso site. Pagamento das diferenças na folha de novembro/12. Metalúrgicos da Capital e interior (Força Sindical) Negociações encerradas. Índice de reajuste de 8,0% a partir de 01/01/2013, com pagamento de um abono de 22% (equivalente aos meses de novembro, dezembro e 13º salário) a ser pago em duas parcelas de 11% do salário vigente em 31/10/12, nos dias 7 e 21 /12/2012, respeitado o teto de R$ 6.050,00, mantidas as demais cláusulas da Convenção Coletiva de Trabalho. Data base novembro de 2012, termo aditivo da Convenção disponível em nosso site. Empregados na Distribuição de Minas Gerais SEEDSIDER Negociações encerradas. Índice de reajuste de 7,0% e algumas alterações nas cláusulas sociais. Data base novembro de 2012, texto final com todas as condições negociadas já está disponível em nosso site. Para maiores informações acesse www.sindisider.org.br Diretoria Executiva Presidente Carlos Jorge Loureiro Vice-presidente José Eustáquio de Lima Diretor administrativo e financeiro Miguel Jorge Locatelli Diretor para assuntos extraordinários Heuler de Almeida Conselho Diretor Alberto Piñera Graña, Carlos Henrique, Stella Rotella, Philippe Jean Marie Ormancey, Ronei Kilzer Gomes, Newton Roberto Longo Superintendente Gilson Santos Bertozzo Conselheiro Editorial Oberdan Neves Oliveira Revista Brasileira do Aço 11 2272-2121 revista@inda.org.br Editora Isis Moretti (Mtb 36.471) isis@liberdadedeideias.com.br Projeto gráfico, diagramação e editoração www.criatura.com.br Impressão Pigma Distribuição exclusiva para Associados ao Inda. 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