Construindo uma Cultura de Segurança



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Transcrição:

Construindo uma Cultura de Segurança 3as Jornadas de Enfermagem do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, E.P.E. Patrícia Fernandes patricia.arfernandes@gmail.com Lisboa, 19 de Maio de 2011

44000 a 98000 mortes/ano ERROS MÉDICOS (Fragata e Martins, 2006) Cuidados de saúde mais mortíferos do que acidentes viação, cancro e SIDA (Deskin e Hoye, 2004)

Inglaterra em 1999, 400 doentes sofreram reacções adversas a dispositivos médicos. Reacções adversas a fármacos 10000 doentes Espanha 9,3% dos doentes internados em 2005 sofreram efeitos adversos, 42,8% dos quais poderiam ter sido evitados A União Europeia estima que 8% a 12% dos doentes internados sejam vítimas de eventos adversos Países desenvolvidos 7,5% a 10,4% têm reacções adversas a fármacos. 28% a 56% dessas reacções são evitáveis (Comissão das Comunidades Europeias, 2008)

Estimativas 1300 a 2900 mortes anuais, provocadas por erros médicos (Fragata e Martins, 2006)

Eventos adversos provavelmente a maior causa de mortalidade e morbilidade em todo o mundo (Ashid, 2008)

O ERRO é a parte visível do icebergue, assinalando causas estruturais que estão subjacentes ao sistema organizacional, nas suas diferentes dimensões: - Formal (objectivos, procedimentos, normas) - Informal (cultura, atitudes, níveis motivacionais, conflitualidade) - Tecnologia (competências, tecnologia) - Física (condições de trabalho, espaço físico, condições ambientais,...) Porras (1987 referido por Fragata e Martins, 2006)

Quando um acidente acontece é normalmente devido a uma sucessão infeliz de erros (Fragata, 2006, 193) O acidente resulta do alinhamento, num determinado momento de causas, chamadas buracos de segurança Falhas activas cometidas pelos seres humanos (lapsos, enganos, violações de regras) Falhas passivas problemas do sistema, da organização

Se não é possível modificar a condição humana, então temos de tentar modificar as condições nas quais o ser humano trabalha (Reason, 2000)

World Alliance for Patient Safety (2004) National Agency for Patient Safety (2004) Declaração do Luxemburgo (2005) (França, 2005) Cultura de Segurança

Cultura de Segurança É o produto dos valores individuais e do grupo, atitudes, percepções, competências e modelo de comportamento, que determina o compromisso para com a gestão de uma organização saudável e segura (ACSNI referido por Antonsen, 2009; Choudhry, Fang, Mohamed, 2007; Cooper, 2000; Westat, Sorra e Nieva, 2004) Uma cultura de segurança é uma cultura informada (Reason, 2000)

Cultura de Segurança Associação entre a cultura e a ocorrência de erros de medicação e infecções (Ashid, 2008) 3 sub-componentes: Cultura de reporte Cultura justa Cultura de aprendizagem (Reason, 1997 referido por Fragata, 2006)

We can only be sure to improve what we can actually measure Lord Darzi Caracter multidimensional Apoio dos líderes da organização Trabalho de equipa Comunicação aberta Resposta não punitiva ao erro Staff / Recursos humanos... (Westat, Rockville et al 2008)

Evidência crescente da relação entre a dotação de enfermeiros e a ocorrência de eventos adversos (ex. Quedas de doentes, erros de terapêutica, IACS, readmissões) (OE, 2006) Impacto das dotações nas: Taxas de mortalidade Taxas de morbilidade Readmissões Redução de complicações no pós-operatório... (OE, 2006)

Uma CULTURA DE SEGURANÇA, é essencialmente, uma cultura onde TODOS estão conscientes do seu papel e da sua contribuição para a organização e são responsáveis pelas consequências das suas acções.

Elementos Essenciais para uma Cultura de Segurança Eficaz Compromisso Líderes da Organização Definição da Segurança como uma prioridade Compromisso de todos os profissionais na melhoria contínua (IOM, 2004)

A segurança emerge da interacção dos vários componentes do sistema; não se limita à ausência de falhas ou à prevenção ou minimização das mesmas (Pedroto, 2006, 168)

Bibliografia Antonsen, Stian (2009), safety Culture and the issue of power. Safety Science 47, 183-191. Ashid, J. e colaboradoresw (2008), Summary of the Evidence on Patient Safety. World Health Organization. Choudhry, Rafiq M., Fang, Dongping e Mohamed, Sherif (2007), Developing a Model of Construction Safety Culture. Journal of Management in Engineering 23(4), 207-212. Comissão das Comunidades Europeias (2008), Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho sobre a Segurança dos Doentes, incluindo a prevenção e o controlo de infecções associadas aos cuidados de saúde, COM (2008) 836 Working paper, Bruxelas. Cooper, M. D. (2000), Towards a Model of Safety Culture. Safety Science 36, 111-136. Deskin, William C. E Hoye, Robert E. (2004), Another Look at Medical Error. Journal of Surgical Oncology 88, 122-129. Fragata, José e colaboradores (2006), Risco Clínico: complexidade e performance. Almedina. Fragata, José e Martins, Luis (2006), O Erro em Medicina: perpectivas do individuo, da organização e da sociedade, Almedina. França, Margarida (2005), Qualidade e Segurança na ordem do dia. Instituto da Qualidade em Saúde 13, 23-25 Institute of Medicine (2004), Keeping Patients Safe: Transforming the Work Environment of Nurses. Institute of Medicine. Ordem Enfermeiros (2006), Dotações Seguras salvam Vidas, Conselho Internacional de Enfermeiros, Dia Internacional do Enfermeiro. Pedroto, Isabel (2006), Risco Clínico e Segurança do Doente. Revista do Hospital de Crianças Maria Pia 15 (3), 168-173 Reason, James (2000), Human Error: models and management. BMJ 320, 768-770. Westat, Rockville et al (2008), Hospital Survey on Patient Safety Culture: 2008 Comparative Database Report, AHRQ Publication No. 08-0039 Working Paper, United States. Westat, Rockville; Sorra, Joann e Nieva, veronica (2004), Hospital Survey on Patient Safety, AHRQ Publication No. 04-0041 Working Paper, United States

The journey of a thousand miles begins with one single step (Latsu) Muito Obrigada