PALITO DENTAL: RAZÕES PARA SUA UTILIZAÇÃO E PERFIL CULTURAL DE USUÁRIOS Dental toothpick: reasons for its utilization and cultural profile of users



Documentos relacionados
HIGIENE PESSOAL: A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR O CORPO HUMANO


TÉCNICAS DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA CÁRIE DENTÁRIA EM CRIANÇAS

Avaliação da higiene bucal em pacientes ortodônticos

5 Considerações finais

EDUCAÇÃO DO PACIENTE: APLICAÇÃO DO MÉTODO AUDIOVISUAL NA INSTRUÇÃO DO USO DO FIO DENTAL

Higiene bucodental. Professora Monica Zeni Refosoco Odontologia UNOCHAPECÓ

Cuidados profissionais para a higiene bucal HIGIENE BUCAL

Implantes Dentários. Qualquer paciente pode receber implantes?

AVULSÃO EM DENTES PERMANENTES: NÍVEL DE CONHECIMENTO DE ALUNOS NA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA PUCRS

DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS MATEMÁTICAS Marineusa Gazzetta *

5 dicas para uma excelente higiene oral

Índice. Passo a passo para uma higiene bucal completa

MINISTÉRIO DA FAZENDA Secretaria do Tesouro Nacional TERMO DE REFERÊNCIA

SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL NA ESCOLA

PALAVRAS CHAVE: Promoção de saúde, paciente infantil, extensão

Estudos sobre a influência de diferentes níveis de conhecimento sobre saúde bucal na distribuição de placa e medidas de higiene bucal

FÁTIMA BARK BRUNERI LORAINE MERONY PINHEIRO UNIVERSIDADE POSITIVO

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

AÇÕES COLETIVAS E INDIVIDUAIS DE SAÚDE BUCAL EM ESCOLARES DO ENSINO FUNDAMENTAL

IECEx DOCUMENTO OPERACIONAL

PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA NOS ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL ADELMO SIMAS GENRO, SANTA MARIA, RS: UMA ANÁLISE DESCRITIVA PARCIAL 1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

CURSO DE ODONTOLOGIA

Estudo do perfil docente nos cursos de odontologia da região Sul

Prof Dr.Avelino Veit Mestre Ortodontia Doutor Implantodontia Fundador projetos socio-ambientais Natal Azul e Salve o Planeta Azul

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

3 Qualidade de Software

A Meta-Analytic Review of Psychosocial Interventions for Substance Use Disorders

Como a palavra mesmo sugere, osteointegração é fazer parte de, ou harmônico com os tecidos biológicos.

Você sabe o que é cárie?

Q-Acadêmico. Módulo CIEE - Estágio. Revisão 01

Resistência de Bactérias a Antibióticos Catarina Pimenta, Patrícia Rosendo Departamento de Biologia, Colégio Valsassina

Instituição Educacional: Universidade de São Paulo USP Ribeirão Preto

SIMULADO DO TESTE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Como estimar peso vivo de novilhas quando a balança não está disponível? Métodos indiretos: fita torácica e hipômetro

POLÍTICA DE SEGURANÇA DA RCTS

O EMPREGO DOMÉSTICO. Boletim especial sobre o mercado de trabalho feminino na Região Metropolitana de São Paulo. Abril 2007

Modos de vida no município de Paraty - Ponta Negra

CONTROLE MECÂNICO DO BIOFILME DENTAL

MULHERES NO CLIMATÉRIO: FATORES RELACIONADOS AO SOBREPESO/OBESIDADE

Fabíola Mayumi Miyauchi Kubo 1, Fábio Luiz Mialhe 2

PROMOVENDO A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR EM ESCOLAS NOS MUNICÍPIOS DE UBÁ E TOCANTINS-MG RESUMO

Regulação Bimestral do Processo Ensino Aprendizagem 3º bimestre Ano: 2º ano Ensino Médio Data:

5 Considerações finais

Pesquisa inédita avalia conhecimento da população sobre a tuberculose

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

PREVALÊNCIA DE MULHERES QUE REALIZARAM MAMOGRAFIA EM TRÊS UNIDADES DE SAÚDE DECRUZ ALTA - RS

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET

BIOESTATÍSTICA: ARMADILHAS E COMO EVITÁ-LAS

CONSUMO DE ÁLCOOL E TABACO ENTRE ESTUDANTES DE ODONTOLOGIA E FISIOTERAPIA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

Programa Sol Amigo. Diretrizes. Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA

O desafio das correlações espúrias. Série Matemática na Escola

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A EFICÁCIA DA ESCOVAÇAO ORIENTADA E SUPERVISIONADA E A PROFILAXIA PROFISSIONAL NO CONTROLE DA PLACA BACTERIANA DENTÁRIA

Manutenção Preditiva

CARTILHA SOBRE DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL APÓS A DECISÃO DO STF NO MANDADO DE INJUNÇÃO Nº 880 ORIENTAÇÕES DA ASSESSORIA JURIDICA DA FENASPS

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROF. EDGARD SANTOS- UFBA - HUPES

PROMOVENDO ATIVIDADES RELACIONADAS À HIGIENE PESSOAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM VOLEIBOL

A DEMANDA POR SAÚDE PÚBLICA EM GOIÁS

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

PLANO DE TRABALHO 2011 PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE BUCAL

A ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO

A NECESSIDADE DE UMA NOVA VISÃO DO PROJETO NOS CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL, FRENTE À NOVA REALIDADE DO SETOR EM BUSCA DA QUALIDADE

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

COOPERAÇÃO EMPRESAS-LABORATÓRIOS PARA P&D E INOVAÇÃO

Estudo das Propriedades Físico Mecânicas do Papel a ser submetido ao 4º EETCG- Encontro de Engenharia e Tecnologia dos Campos Gerais

Manual de Conciliação Bancária

ACT DEVELOPMENT. Ficha de Inscrição para Participante ou Observador

PSICODIAGNÓSTICO: FERRAMENTA DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA¹

A SEGUIR ALGUMAS DICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO CIENTÍFICO

ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Aula 1: Demonstrações e atividades experimentais tradicionais e inovadoras

PERFIL DE IDOSOS USUÁRIOS DE ÁLCOOL ACOMPANHADOS EM UMA UNIDADE DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

Copyright Proibida Reprodução. Prof. Éder Clementino dos Santos

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: IR DIFERIDO

SAÍDA DO MERCADO DE TRABALHO: QUAL É A IDADE?

3 Método 3.1. Entrevistas iniciais

Pesquisa sobre o Grau de Satisfação da População relativamente à Carta de Qualidade da Polícia Judiciária de Macau (2013)

Efeitos das ações educativas do Curso de Qualificação Profissional Formação de Jardineiros na vida dos participantes.

Linha 1: Resposta biológica nas terapias em Odontologia.

ANALISANDO O INVESTIMENTO EM TECNOLOGIA

ADMINISTRAÇÃO I. Família Pai, mãe, filhos. Criar condições para a perpetuação da espécie

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E AS NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO

Aula10 PEOPLE OF DIFFERENT KINDS. Fernanda Gurgel Raposo

Adesivos e Fitas Adesivas Industriais 3M 3M VHB. fitas de montagem. permanente. Alternativa comprovada a parafusos, rebites e soldaduras

IFRS TESTE DE RECUPERABILIDADE CPC 01 / IAS 36

PED ABC Novembro 2015

O USO DO ÁLCOOL ENTRE OS JOVENS: HISTÓRIA, POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS, CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS E TRATAMENTO.

Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa 2013: análise dos principais resultados de Goiás

08/05/2009. Cursos Superiores de. Prof.: Fernando Hadad Zaidan. Disciplina: PIP - Projeto Integrador de Pesquisa. Objetivos gerais e específicos

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

FAZEMOS MONOGRAFIA PARA TODO BRASIL, QUALQUER TEMA! ENTRE EM CONTATO CONOSCO!

6 A coleta de dados: métodos e técnicas utilizadas na pesquisa

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL PARA CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS DE UM COLÉGIO DE APUCARANA-PR.

Discussão Jurídica dos Direitos Humanos no âmbito da Saúde Pública.

Anexo I Conclusões científicas e fundamentos para a alteração aos termos das autorizações de introdução no mercado

Transcrição:

R. Periodontia - Setembro 2008 - Volume 18 - Número 03 PALITO DENTAL: RAZÕES PARA SUA UTILIZAÇÃO E PERFIL CULTURAL DE USUÁRIOS Dental toothpick: reasons for its utilization and cultural profile of users Fabrício Batistin Zanatta 1, Eduardo Machado 2, Sabrina Carvalho Gomes 3, Cassiano Kuchenbecker Rösing 4 RESUMO Objetivos: De maneira geral, o palito dental tem seu uso bastante difundido na população, apesar de sua comprovada efetividade antiplaca e antigengivite limitadas. Desse modo, esse estudo observacional transversal teve como objetivo avaliar as razões para uso e relacionar o nível cultural dos usuários de palito dental. Materiais e Métodos: A amostra foi constituída de 100 participantes que responderam a dois questionários referentes à higiene oral e ao nível cultural. Resultados: Os resultados demonstram que 62% dos indivíduos utilizavam apenas o palito dental, enquanto 38% utilizavam palito e fio dental. Entretanto, o uso do fio dental foi encontrado ser muito mais eventual do que diário. O nível cultural esteve bastante variado. Entretanto, foi observado que à medida que o nível cultural foi aumentando, o uso do fio dental foi sendo mais freqüente. Usuários apenas do palito dental justificaram seu uso principalmente na remoção de restos alimentares e a escolha pelo fio/fita dental foi devido ao fio/fita dental desfiar e a técnica do palito ser fácil e rápida. Nos indivíduos que utilizavam palito e fio dental, a preferência do palito se deu pela dificuldade técnica do fio. Conclusões: A principal razão do uso do palito dental parece estar bastante relacionada à necessidade de remoção de restos alimentares e a facilidade da técnica. Portanto, é importante a conscientização do paciente acerca das limitações da utilização isolada do palito dental como meio de limpeza interdental e maiores informações a respeito da etiopatogenia das doenças cárie e periodontal. UNITERMOS: Instrumentos odontológicos; Higiene bucal; cultural; nível de saúde. R Periodontia 2008; 18:90-96. Recebimento: 05/05/08 - Correção: 09/06/08 - Aceite: 24/07/08 INTRODUÇÃO O ser humano convive com inúmeras bactérias que estão, na maior parte do tempo, em equilíbrio com o seu hospedeiro. O fato de não haver descamação da superfície dental cria condições para o estabelecimento de um biofilme bacteriano composto por diversas colônias bacterianas permeadas por uma matriz intermicrobiana e, se medidas mecânicas e/ou químicas forem empregadas corretamente, impedindo o acúmulo e organização destas bactérias na superfície dental, o controle deste biofilme será atingido. Entretanto, falhas nestas medidas podem proporcionar uma sucessão bacteriana no biofilme, com aumento da população de bactérias mais virulentas e a conseqüente formação de um biofilme bacteriano patogênico, podendo acarretar um desequilíbrio no processo saúde-doença nos tecidos moles e duros (Cury, 1999; Oppermann & Rösing, 1999). Normalmente, o controle mecânico do biofilme supragengival é alcançado através da remoção mecânica realizada pelo paciente, por meio de recursos de controle de placa, especialmente escovação e limpeza interdental (Lövdal et al., 1961; Axelsson & Lindhe, 1981; Halla Jr. & Oppermann, 2000; Cachapuz, 2001; Piccinin, 2005). Contudo, a 90

manutenção da saúde periodontal está intimamente ligada à capacidade que o indivíduo tem de realizar os procedimentos de higiene bucal (Axelsson & Lindhe, 1981) o que, invariavelmente, dependerá de fatores relacionados ao indivíduo como interesse, motivação, destreza e habilidade (Rodrigues & Serpa, 2001). Em muitos casos, tais medidas são de difícil implementação e podem acabar por comprometer a manutenção da saúde periodontal e dental. Vários estudos mostram que as áreas interdentais apresentam maiores médias de índice de placa e gengivite, maiores perdas de inserções e profundidade de sondagem, além de índices mais elevados de lesões de cárie, mesmo em pacientes bem motivados e recebendo complementação profissional (Axelsson & Lindhe, 1978; Ferjeskov & Thylstrup, 1994; Ramberg et al., 1995). Isso pode ser explicado pelo fato de que essas áreas têm acesso limitado, necessitando de recursos adicionais a escovação convencional (Barton & Abelson, 1987). A remoção mecânica de placa interproximal pode ser realizada através da utilização de diferentes dispositivos como fio ou fita dental, escova interdental e palito. Estudos comparativos da eficácia destes recursos foram realizados ao longo dos últimos anos. Os resultados desses estudos mostram que o fio dental é o mais eficaz no controle do biofilme e gengivite em áreas com ameias pequenas, e para as ameias amplas, a melhor opção é a escova interdental (Gjermo & Flötra, 1970; Schmid et al., 1976; Kiger et al., 1991; Festugatto et al., 1997; Rösing et al., 2006). Embora o fio dental mostre bons resultados no controle do biofilme e gengivite, a utilização do mesmo é limitada na população (Hamilton & Coulby, 1991; Payne & Locker, 1996; Macgregor et al., 1998). Esta observação pode ser justificada pela dificuldade da prática do seu uso que requer habilidade, destreza manual, tempo e motivação individual, bem como seu custo elevado, limitando o seu uso a classes sociais economicamente mais favorecidas (Finkelstein & Grossman, 1979; Mauriello et al., 1987; Furuichi et al., 1992; Maruniak et al., 1992; Cancro & Fischman, 1995). Dentre os recursos disponíveis de remoção mecânica de placa está o palito dental. Não há estudos representativos do Brasil sobre a utilização deste instrumento, entretanto, Chiapinotto et al. (2001) demonstraram numa população de uma clínica privada que 45% dos pacientes são usuários do palito dental. Uma prevalência muito parecida de usuários de palito dental foi encontrada numa amostra representativa da cidade de Porto Alegre (54%) (Abegg, 1997). Este instrumento é encontrado sem dificuldades pela população devido ao baixo custo, fácil acesso e utilização (Christen & Christen, 2003). O uso do palito apresenta algumas limitações. Estudos que testaram a efetividade do uso do palito dental em relação ao fio dental na capacidade de remoção de placa das áreas interdentais consideram o palito ineficaz quando utilizado isoladamente e efetivo quando utilizado com o complemento de uma escova unitufo (Gjermo & Flötra, 1970; Brasil & Oppermann, 1987). Alguns autores consideram o palito tão eficaz quanto o fio dental na higiene das superfícies proximais vestibulares, principalmente palitos de madeira triangulares (Anaise, 1976; Bergenholtz & Brithon, 1980). Considerando que o palito dental, quando utilizado individualmente como meio de limpeza interdental, não se mostra eficaz para prevenir a gengivite e, a despeito disso, seu uso é bastante prevalente na população, este trabalho teve por objetivo analisar o perfil de usuários do palito dental, bem como os motivos vinculados a utilização do instrumento como coadjuvante ao controle de placa supragengival. MATERIAIS E MÉTODOS Descrição dos participantes Participaram deste estudo observacional transversal, 100 indivíduos voluntários (32 homens com idades médias de 42 ± 13 (desvio padrão) anos e 68 mulheres com idades médias de 36 ± 10 anos) que foram triados para serem atendidos nas clínicas integradas do Curso de Odontologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Cada participante da pesquisa deveria se adequar aos critérios de inclusão da mesma. Após explicação dos objetivos, os pacientes concordaram em participar do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFRA (CEP/UNIFRA: 204.2006.2). Critérios de Inclusão na pesquisa: Cada voluntário deveria utilizar, eventual ou rotineiramente, o palito dental, ter, no mínimo, 18 anos, apresentar no mínimo dois dentes adjacentes que necessitem de limpeza interproximal com a utilização de algum dispositivo e ter a capacidade cognitiva mínima que permitisse a compreensão do questionário. Desenvolvimento Experimental: Previamente, ao início do estudo, foi realizado um piloto do experimento para adequação dos questionários a serem aplicados aos participantes. Nesta fase, 15 indivíduos que não fizeram parte da amostra do estudo, responderam as perguntas. Após o término dos questionários, cada resposta 91

foi discutida com os autores para que possíveis adaptações fossem realizadas para tornar as perguntas mais claras possíveis. Depois dos questionários terem suas versões finais, deu-se início ao estudo onde foram aplicados questionários após os participantes terem sido triados para os critérios de inclusão na pesquisa. Antes de receberem qualquer atendimento odontológico, dois questionários foram aplicados para todos os participantes do estudo. Estes questionários foram estruturados com uma série de perguntas fechadas, onde os voluntários poderiam marcar mais de uma resposta, se fosse o caso, por pergunta. No questionário 1, as perguntas estavam relacionadas com a freqüência de escovação diária, utilização de algum outro instrumento de higiene bucal, além da escova, e aspectos relacionados às razões da utilização do palito e/ou fio dental. Os participantes poderiam marcar quantas opções desejassem. No questionário 2, as perguntas tinham como objetivo conseguir informações do grau de instrução dos participantes. Caso algum participante não soubesse ler, foi feita uma leitura dos questionários para permitir a inclusão do mesmo no estudo. Análise dos resultados: Os resultados do presente estudo foram analisados descritivamente por distribuição de freqüência das respostas dos questionários, associando as respostas dos questionários 1 e 2. RESULTADOS Todos os participantes responderam os questionários na íntegra, o que resultou numa taxa de resposta de 100%. Dentre a quantidade de vezes que os voluntários relataram escovar os dentes, três vezes por dia foi a opção mais marcada, obtendo 64% das respostas, seguidos por 23% duas vezes por dia e 13% quatro vezes por dia. Dentre os instrumentos adicionais para limpeza dentária, 23% dos indivíduos relataram utilizar apenas o palito dental todos os dias, 39% utilizavam apenas eventualmente, 19% usavam palito e fio/fita dental eventualmente, 14% fazia uso do palito todos os dias e fio/fita dental eventualmente e 5% relataram utilizar palito eventualmente e fio/fita dental todos os dias. A pergunta 3 referia-se as razões de utilização do palito dental em usuários apenas do palito dental. Foram obtidos três padrões de respostas. Assim, 68% dos entrevistados marcaram a opção 1 utilizo para remover restos alimentares após as refeições e opção 4 prefiro o palito dental ao fio/ fita dental porque o fio/fita desfia quando vou usar e o palito, não. Já 26% dos entrevistados marcaram a opção 3 prefiro o palito dental ao fio dental porque o palito limpa melhor os Figura 1 - Tipo de instrumento utilizado de acordo com o grau de instrução restos alimentares e a opção 5 prefiro o palito dental que o fio/fita dental porque o palito é mais fácil e rápido de usar. Ainda 6% dos entrevistados marcaram a opção 1, 5 e 6 prefiro o palito ao fio/fita dental porque o fio/fita dental faz a gengiva sangrar. A pergunta 4 referia-se as razões do uso do palito dental em usuários do palito e fio/fita dental. Foram obtidos dois padrões de respostas. Assim, 34% marcaram a opção 1 utilizo fio/fita dental nos dentes que consigo e palito dental nos dentes que não consigo usar o fio e 66% marcaram a opção utilizo fio/fita dental quando apenas com a utilização do palito dental não consegui remover todos os resíduos entre os dentes. A análise das respostas do questionário 2 foi feita correlacionando-se com as respostas do questionário 1. Na Figura 1, encontra-se a freqüência do tipo de instrumental utilizado de acordo com o grau de instrução. A Figura 2 distribui os resultados de acordo com as respostas encontradas na pergunta relacionada às razões da utilização de palito dental, respondidas pelos indivíduos que utilizam rotineiramente apenas palito dental e o grau de instrução dos mesmos, enquanto a Figura 3 correlaciona as respostas referentes à pergunta para os indivíduos que utilizam palito e fio/fita dental e o grau de instrução dos mesmos. DISCUSSÃO O presente estudo buscou investigar qual(is) razão(ões) de preferências do uso de palitos dentais e/ou fio/fita dental em indivíduos que buscavam o serviço de atendimento odontológico do Curso de Odontologia da UNIFRA. Os resultados mostraram alguns achados interessantes. Primeiramente, observou-se que 62% da amostra utilizava apenas palito dentário. Interessantemente, dentre estes 62% 92

Figura 2 - Tipo de instrumento utilizado de acordo com o grau de instrução em indivíduos que utilizam apenas palito dental da amostra, havia presença de pessoas com variados graus de instrução, que variaram desde analfabeto até indivíduos pós-graduados. Já os outros 38% da amostra utilizam fio/ fita dental e palito dental nas rotinas de higiene bucal. O grau de instrução neste grupo variou de 1º grau incompleto a pós-graduados. Não há estudos que tenham diferenciado indivíduos usuários somente de palito dental de usuários de palito e fio dental, o que dificulta uma comparação específica com nosso estudo. Entretanto, Madléna et al. (2007), utilizando uma metodologia parecida, verificaram que apenas 11% e 7% de indivíduos adultos Húngaros utilizavam palito e fio dental, respectivamente. Já o estudo de Chiapinotto et al. (2001), verificou que 45% das pessoas que freqüentavam uma clínica privada utilizavam palito dentário, 34% fio dental e 20.2% não utilizavam nenhum meio de limpeza interproximal. As razões que podem explicar estas diferenças nas prevalências de indivíduos que utilizam dispositivos interdentais incluem diferenças metodológicas referentes ao tamanho da amostra avaliada. Ainda, devido a diferenças de nível sócio-econômico-cultural, na medida em que este pode influenciar uma série de fatores na vida das pessoas, os quais podem refletir nos hábitos e comportamentos, como, por exemplo, o aspecto preventivo em relação às doenças bucais. A análise da Figura 1 revelou que os indivíduos de menor grau de instrução utilizavam apenas eventualmente o palito dental e que, à medida que o grau de instrução foi aumentando, foi observada a introdução do fio/fita dental como instrumento para limpeza dental. Não há evidências diretas que mostrem esta relação dentro da mesma população. Entretanto, Kirtiloglu & Yavuz (2006), demonstraram que estudantes provenientes de países subdesenvolvidos apresentam um comportamento Figura 3 - Tipo de instrumento utilizado de acordo com o grau de instrução em indivíduos que utilizam palito e fio dental preventivo menor que estudantes de países desenvolvidos. Abegg (1997) demonstrou numa população proveniente da região de Porto Alegre (RS), Brasil, que a utilização de palito e fio dental esteve fortemente associada ao nível econômico, onde a utilização do fio dental era mais comum em indivíduos com nível econômico mais alto e o uso do palito em indivíduos com nível econômico mais baixo. Esta diferença, condicionada ao nível econômico, pode ser atribuída ao fio dental ser um produto caro e acessível apenas para uma parcela da população brasileira. Não existem evidências claras sobre as razões da utilização dos dispositivos interdentais para comparar com os achados do presente estudo, os quais revelaram que, dentre as razões atribuídas para a utilização apenas do palito dental, a opção devido ao palito ser mais fácil e rápido de usar que o fio dental foi mais freqüente em indivíduos com terceiro grau completo. Ainda, a opção que justificava a escolha do palito ao invés do fio, devido ao fato do fio/fita desfiar quando utilizado, recebeu freqüências de respostas maiores em indivíduos com terceiro grau incompleto. É importante ressaltar que a razão de que o palito dental é utilizado para remoções de restos alimentares recebeu a mais alta freqüência de resposta, sem diferenças significativas entre os diferentes graus de instrução. A razão de utilizar o palito dental para remoção de alimentos impactados e melhorando a sensação desagradável de alimentos entre os dentes, parece ser a razão mais associada ao uso do palito dental (Mandel, 1990; Fischman, 1997; Christen & Christen, 2003). Um aspecto interessante da pesquisa foi de que a razão da necessidade de utilização do palito dental para a remoção de placa bacteriana não recebeu nenhuma resposta entre os indivíduos entrevistados. Já nos indivíduos que utilizam 93

palito e fio/fita dental, observou-se que, quanto maior o grau de instrução, mais freqüente foi a resposta de que o palito dental era utilizado somente nos dentes que o indivíduo não conseguia utilizar o fio/fita. Por outro lado, foi observado que quanto menor o grau de instrução, mais freqüente foi à resposta de que o fio dental só era utilizado quando apenas a utilização do palito dental não conseguia remover os restos alimentares. Novamente, a razão de que o palito dental é um instrumento utilizado para remoção de restos alimentares esteve bastante presente, sendo a remoção da placa bacteriana pela utilização tanto do palito quanto pelo fio/fita dental uma resposta infreqüente. Assim, maiores informações a respeito da etiopatogenia das doenças cárie e periodontal e do papel dos instrumentos para controle de placa necessitam ser disseminadas para otimizar os potenciais de cada instrumento. CONCLUSÕES Baseado na análise realizada sobre as respostas aos questionários podem ser extraídas as seguintes conclusões: - Indivíduos que utilizam apenas palito dental justificam seu uso na remoção de restos alimentares. Ainda, a sua escolha sobre o fio/fita dental é devido ao mesmo desfiar e devido à técnica do palito ser fácil e rápida; - Indivíduos que utilizam palito e fio/fita dental objetivam prioritariamente a remoção de restos alimentares; - A utilização do fio/fita dental mostra-se mais freqüente na medida em que o grau de escolaridade aumenta; - Em indivíduos usuários de palito dental com ou sem coadjuvar a utilização do fio/fita dental, independente do grau de instrução, a razão de sua utilização baseia-se basicamente na remoção de restos alimentares e não da placa bacteriana. ABSTRACT Objectives: Toothpicks, culturally, are widely used in the populations, regarding its limited effectiveness related to plaque and gingivitis. Thus, the aim of this cross-sectional observational study was to analyze reasons for use and relate the cultural level of toothpick users. Materials and methods: The sample comprised 100 participants that answered two inquires related to oral hygiene practices and cultural level. Results: The results demonstrated that 62% of the individuals utilized only toothpicks while 38% used toothpick and dental floss. However, dental floss was found to be much more eventual instead daily. Cultural level was found to be very variable. However, as the cultural level was raising dental floss was being more frequent. Toothpick just users justified its use mainly for food remove and its choice over the use of floss is due to breakness of floss less timing and technique facility required for toothpicks. In the individuals that used toothpick and eventually dental floss the preference of toothpick was due to the technique difficulty of dental floss. Conclusions: Thus, the mainly reason for toothpick seems to be related to the foods removal and technique facility. Thus, it is important to provide understanding of the patients about the limitations of toothpicks as an interdental cleaning agent and the pathogenesis of caries and periodontal diseases. UNITERMS: Dental instruments; Oral hygiene; Cultural; health status. 94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Cury JA. Controle químico da placa dental. In: ABOPREV - Promoção de saúde bucal. 2 a ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. 2- Oppermann RV, Rösing CK. Prevenção e tratamento das doenças periodontais. In: ABOPREV- Promoção de saúde bucal. 2a ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. 3- Lövdal A, Arno A, Schei O, Waerhaug J. Combined effect of subgingival scaling and controlled oral hygiene on the incidence of gingivitis. Acta Odontol Scand 1961; 19: 537 555. 16- Festugatto FE, Daudt FAR, Rösing CK, Oppermann RV. The plaque removal capacity of three interdental devices in periodontaly treated patients. J Dent Res 1997; 76: 288. 17- Rösing CK, Daudt FAR, Festugatto FE, Oppermann RV. Efficacy of interdental plaque control aids in periodontal maintenance patients: A comparative study. Oral Health Prev Dent 2006; 4: 99-103. 18- Hamilton ME, Coulby WM. Oral health knowledge and habits of senior elementary school students. J Public Health Dent 1991; 51: 212-9. 4- Axelsson P, Lindhe J. Effect of oral hygiene instruction and Professional toothcleaning on caries and gingivitis in schoolchildren. Community Dent Oral Epidemiol 1981; 9: 251-255. 19- Payne BJ, Locker D. Relationship between dental and general health behaviors in a Canadian population. J Public Health Dent 1996; 56: 198-204. 5- Halla Jr.R, Oppermann RV. The effect of flossing on supervised Brushing. J Dent Res 2000; 79: 300. 20- Macgregor ID, Balding JW, Regis D. Flossing behaviour in English adolescents. J Clin Periodontol 1998; 25: 291-6. 6- Cachapuz MF. Comparação da eficácia de duas técnicas de escovação na remoção de placa bacteriana. [Tese de doutorado]. Canoas: ULBRA, 2001. 7- Piccinin FB. O efeito do controle da placa supragengival sobre parâmetros clínicos periodontais em pacientes fumantes e nunca fumantes. [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: UFRGS, 2005. 8- Rodrigues R, Serpa AB. Perfil bioemocional do paciente e o controle da placa bacteriana. In: Periodontia Ciência e Clínica, São Paulo: Artes Médicas, 2001. 9- Axelsson P, Lindhe J. Effect of controlled oral hygiene procedures on caries and periodontal disease in adults. J Clin Periodontol 1978; 5: 133-51. 10- Fejerskov O, Thylstrup A. O ambiente oral uma introdução. In: Cariologia Clinica. 2 a ed., São Paulo: Editora Santos, 1994. 11- Ramberg P, Axelsson P, Lindhe J. Plaque formation at healthy and inflamed gingival sites in young individuals. J Clin Periodontol 1995; 22: 85-8. 12- Barton J, Abelson D. The clinical efficacy of wooden interdental cleaners in gingivitis reduction. Clin Prev Dent 1987; 9: 17-20. 13- Gjermo P, Flötra L. The effect of different methods of interdental cleaning. J Periodontal Res 1970; 5: 230-6. 14- Schmid MO, Balmelli OP, Saxer UP. Plaque-removing effect of a toothbrush, dental floss, and a toothpick. J Clin Periodontol 1976; 3: 157-65. 15- Kiger RD, Nylund K, Feller RP. A comparison of proximal plaque removal using floss and interdental brushes. J Clin Periodontol 1991; 18: 681-4. 21- Finkelstein P, Grossman E. The effectiveness of dental floss in reducing gingival inflammation. J Dent Res 1979; 58: 1034-9. 22- Mauriello SM, Bader JD, George MC, Klute PA. Effectiveness of three interproximal cleaning devices. Clin Prev Dent 1987; 9: 18-22. 23- Furuichi Y, Lindhe J, Ramberg P, Volpe AR. Patterns of de novo plaque formation in the human dentition. J Clin Periodontol 1992; 19: 423-33. 24- Maruniak J, Clark WB, Walker CB, Magnusson I, Marks RG, Taylor M, Clouser B. The effect of 3 mouthrinses on plaque and gingivitis development. J Clin Periodontol 1992; 19: 19-23. 25- Cancro LP, Fischman SL. The expected effect on oral health of dental plaque control through mechanical removal. Periodontol 2000 1995; 8: 60-74. 26- Chiapinotto GA, Santos FB, Meller D. Avaliação de meios mecânicos de limpeza. Revista Gaúcha de Odontologia 2001; 49: 161-4. 27- Abegg C. Hábitos de higiene bucal de adultos Porto-Alegrenses. Revista Saúde Pública 1997; 31: 586-93. 28- Christen AG, Christen JA. A historical glimpse of toothpick use: etiquette, oral and medical conditions. J Hist Dent 2003; 51: 61-9. 29- Brasil CF, Oppermann RV. Efeito comparativo da capacidade de limpeza interproximal do fio dental e palito com escova monotufo. Revista Brasileira de Odontologia 1987; 44: 2-7. 30- Anaise JZ. Plaque-removing effect of dental floss and toothpicks in children 12-13 years of age. Community Dent Oral Epidemiol 1976; 4: 137-9. 31- Bergenholtz A, Brithon J. Plaque removal by dental floss or toothpicks. An intra-individual comparative study. J Clin Periodontol 1980; 7: 95

516-24. 32- Madléna M, Hermann P, Tollas O, Gerle J, Fejérdy P. Oral hygienic, nutritional habits and dental surgeon attendance of Hungarian adult population. Fogorv Sz 2007; 100: 91-7. 33- Kirtiloglu T, Yavuz US. An assessment of oral self-care in the student population of a Turkish university. Public Health 2006; 120: 953-7. 34- Mandel ID. Why pick on teeth? J Am Dent Assoc 1990; 121: 129-32. 35- Fischman SL. The history of oral hygiene products: how far have we come in 6000 years? Periodontol 2000 1997; 15: 7-14. Endereço para correspondência: Fabrício B. Zanatta Rua Humberto de Campos, 250/302 CEP: 97095-230 - Santa Maria - RS - Brasil Tel.: (55) 3221-2225 Fax: +55 51 3338-4221 Email: fabriciobzanatta@yahoo.com.br 96