Contributo do GEOTA para a Consulta Pública do projeto de intervenção da 2.ª Circular Demasiadas dúvidas para se avançar 28 de Janeiro de 2016 28 de Janeiro de 2016 1/6
Índice 1. INTRODUÇÃO 2. CONSULTA PÚBLICA 3. OBJETIVOS E MEDIDAS A ADOTAR NA REFORMULAÇÃO DA 2ª CIRCULAR - Mais segurança - Mais fluidez - Maior Sustentabilidade Ambiental 4. ANÁLISE DE ALTERNATIVAS 5. CONSEQUÊNCIAS DO PROJETO NOS FLUXOS DE TRÁFEGO 6. MELHORIA DO AMBIENTE URBANO 7. CONCLUSÃO 28 de Janeiro de 2016 2/6
1. INTRODUÇÃO A mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML) tem sido tema de estudo e de intervenção do GEOTA ao longo dos últimos anos. A intervenção na área dos transportes é certamente uma das soluções mais eficientes para fazer face a diversos problemas ambientais, diminuir a dependência energética do país e contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas, o que é especialmente relevante nas áreas metropolitanas como Lisboa. A política que defendemos para a mobilidade de passageiros aposta num vetor fundamental prioridade ao transporte coletivo. As dificuldades de atuação neste setor não devem ser desculpa para apostas erradas, mas antes para enfrentar com maior vigor o desafio que se coloca. Naturalmente que a montante, e como complemento, é fundamental um correto ordenamento do território que não só reduza as necessidades de deslocação, como fomente a deslocação em transporte coletivo e em modos suaves. A prioridade ao transporte coletivo passa por prioridade no investimento e prioridade na operação. De modo resumido, nos investimentos públicos devem ser privilegiadas as opções pelo transporte coletivo e na operação é necessário tornar mais competitivo o transporte coletivo quando comparado com o transporte individual. Para o efeito, é necessário melhorar o funcionamento das redes de transporte coletivo (intermodalidade, multimodalidade, bilhética, etc.) e adotar medidas de restrição ao transporte individual (acalmia de tráfego, estacionamento tarifado, etc.). As questões de mobilidade nas áreas metropolitanas devem ser analisadas na escala correta, a escala metropolitana. Uma visão municipal é uma visão míope e que, na maioria das situações, não conduz à solução adequada para atingir os objetivos propostos. Terminamos a introdução precisamente com os objetivos. Qualquer intervenção (em especial quando se trata de uma intervenção de relevo) deve ter claro os objetivos que pretende atingir, as diversas opções existentes para os atingir, a justificação para a escolha da opção proposta onde desejavelmente se deve incluir uma análise custo- benefício ou custo- eficácia. A participação pública permite encontrar melhores soluções e soluções melhor compreendidas pelos cidadãos. Habitualmente investir tempo na consulta pública diminui a conflitualidade na execução e reduz o tempo de concretização. A análise que apresentamos de seguida terá como pano de fundo as opções políticas que defendemos para a mobilidade na AML e que sucintamente expusemos nesta introdução. 28 de Janeiro de 2016 3/6
2. CONSULTA PÚBLICA A consulta pública é uma boa prática que, conforme já referido, conduz a melhores soluções. Assim, o GEOTA felicita a Câmara Municipal de Lisboa (CML) por ter promovido a consulta pública do projeto para a 2ª Circular e pela divulgação de diversa informação na internet. Espera- se que após a consulta pública seja produzido o respetivo relatório, sintetizando os contributos recebidos e em que medida foram considerados para o projeto. Quem participa tem de perceber a utilidade da sua participação. Só assim se dinamizam futuras participações. Algumas notícias na comunicação social davam a entender que a aprovação do projeto ocorreria a muito breve prazo. Esperemos que exista tempo para ponderar devidamente os resultados da consulta pública. 3. OBJETIVOS E MEDIDAS A ADOTAR NA REFORMULAÇÃO DA 2ª CIRCULAR O projeto de reformulação da 2ª Circular é apresentado para cumprir 3 objetivos: - Mais segurança; - Mais fluidez; - Maior sustentabilidade ambiental. Para cumprir estes objetivos são propostas diversas intervenções que resumidamente são as seguintes: redução do número de entrecruzamentos, arborização, renovação do pavimento, renovação da iluminação e reparação da drenagem. A intervenção tem um custo estimado de 9,75 milhões de euros (representando um pouco mais do que 1% do orçamento anual da CML para 2016) e um tempo de concretização de 11 meses. 4. ANÁLISE DE ALTERNATIVAS Apesar da 2ª Circular ser uma via dentro do Concelho de Lisboa e gerida pela Câmara, tem uma influência muito significativa na mobilidade na AML. Os elementos sujeitos a consulta mostram uma visão excessivamente municipal, faltando uma visão mais ampla, de âmbito metropolitano. Por outro lado, a visão adotada é uma visão centrada no transporte individual, faltando uma visão que inclua o transporte coletivo. Não encontrámos nenhum elemento que permita concluir se, investindo quase 10 milhões de euros, esta é a melhor intervenção que permita atingir os objetivos anunciados. Não encontrámos qualquer análise de custo- benefício ou custo- eficácia que demonstrem ser esta uma intervenção eficiente, e portanto melhor quando comparada com outras opções, para atingir os objetivos 28 de Janeiro de 2016 4/6
anunciados. Aliás, em nosso entender, os objetivos devem ser reformulados de modo a garantir que um dos objetivos é melhorar a mobilidade na AML (melhorar a fluidez numa via não significa melhorar a mobilidade na AML). No estudo de tráfego apresentado não encontrámos elementos que permitam responder à seguinte questão quem hoje utiliza a 2ª circular vem de onde e vai para onde? O estudo foca- se na 2ª Circular, indicando onde entram e onde saem os veículos da via, ou seja, os pares origem- destino centram- se na 2ª Circular. A adoção de políticas favoráveis ao transporte coletivo certamente contribuiriam para reduzir o tráfego na 2ª Circular e assim cumprir parte dos objetivos anunciados para o projeto. 5. CONSEQUÊNCIAS DO PROJETO NOS FLUXOS DE TRÁFEGO O estudo de tráfego é claro ao estimar a redução de tráfego previsto para a 2ª Circular, bem como o efeito que provoca noutras vias. Todavia, não estima eventuais efeitos que possa ter na utilização do transporte coletivo. No quadro ao lado apresentam- se os efeitos estimados em termos de variação no tráfego médio diário 1. É visível o desvio de trânsito para a CRIL, via menos urbana, o que se considera positivo. Todavia, as vias que são mais sobrecarregadas com o trânsito que deixa de circular na 2ª Circular são a Av. Infante D. Henrique e a Av. Mar. A. Spínola, vias de carácter mais urbano que a 2ª Circular (como reconhece o próprio estudo de tráfego) e já hoje com algum nível de congestionamento. Este efeito parece contrário aos objetivos pretendidos pelo estudo. Parte do tráfego da 2ª Circular e, em maior quantidade, da CRIL podia ser desviado para a CREL. A CREL é por vezes preterida pelos automobilistas por ter portagens. Importa ainda referir que nas horas de ponta é frequente o congestionamento na CRIL. Assim, uma intervenção que desvie trânsito da 2ª Circular para a CRIL devia também equacionar medidas que desviem trânsito da CRIL para a CREL. A intervenção, ao limitar a velocidade de circulação, funciona como medida de acalmia de tráfego, opção que o GEOTA tem aplaudido, desde que complementadas com outras medidas que garantam a mobilidade das pessoas. 1 Página 33 do Estudo 28 de Janeiro de 2016 5/6
6. MELHORIA DO AMBIENTE URBANO A intervenção proposta permite certamente melhorar o ambiente urbano na envolvente à 2ª Circular, uma vez que diminuirá o ruído associado à via (pelo melhor piso, menor tráfego e melhores barreiras acústicas incluindo da vegetação), permitirá um melhor enquadramento paisagístico tão necessário e induzirá a criação de um corredor verde ao longo da via. Neste âmbito, sugerimos que seja analisada a hipótese de incluir no projeto a criação de uma via ciclável, tirando partido da orografia favorável. Importa analisar a procura que tal via teria e a possibilidade de integração neste novo corredor verde. 7. CONCLUSÃO O projeto apresentado tem, numa primeira análise, um conjunto de benefícios com os quais o GEOTA concorda, tais como a restrição ao tráfego automóvel, a redução do ruído, emissões atmosféricas e a criação de um corredor verde. Todavia, os elementos apresentados à consulta não permitem responder a um conjunto de questões fundamentais: - Que outro tipo de medidas poderiam ser tomadas, com o mesmo investimento, para atingir objetivos semelhantes? - Que outro tipo de medidas, em especial no apoio ao transporte coletivo, podiam ser adotadas e qual o seu contributo para a melhoria da mobilidade na AML? Como comparariam os benefícios obtidos com os benefícios estimados para o projeto da 2ª Circular? Os elementos apresentados a consulta não apresentam uma análise custo- benefício ou custo- eficácia. A análise é essencialmente municipal e não metropolitana. A análise é focada no transporte individual, não incorporando a alternativa do transporte coletivo. Com a intervenção proposta, parte do tráfego que hoje circula na 2ª Circular será desviado para vias mais urbanas, consequência que preocupa o GEOTA. Estamos a desviar trânsito de um via circular para vias radiais em direção ao centro da cidade. Tendo em conta o exposto, reconhecemos a necessidade de melhorar as condições de circulação na 2ª Circular e o seu enquadramento paisagístico. Reconhecemos ainda que o projeto em consulta apresenta benefícios ao nível do ambiente urbano local. Todavia, as dúvidas apresentadas e o montante de investimento em causa aconselham que o projeto não seja aprovado e se aprofundem os estudos existentes. Como forma de valorizar a consulta pública, que aplaudimos, deixamos o desafio à Câmara Municipal para que divulgue um relatório da consulta pública e torne transparente a razão da opção tomada (avançar/não avançar com o projeto) e, caso o projeto seja para concretizar, quais os contributos da consulta pública integrados no projeto. 28 de Janeiro de 2016 6/6