AULA: RESPIRAÇÃO BUCAL CRÔNICA NA INFÂNCIA PROFESSORA: WILMA ANSELMO LIMA

Documentos relacionados
CIRURGIA DE ADENOAMIGDALECTOMIA. Informações sobre a cirurgia

OBSTRUÇÃO NASAL Regina H. Garcia Martins Disciplina de Otorrinolaringologia Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP

Causas de Obstrução Nasal na Infância

AULA: RINOSSINUSITES CRÔNICAS E SUAS COMPLICAÇÕES PROFESSORA: WILMA ANSELMO LIMA

Tomografia dos Seios Paranasais

Radiologia do crânio e face

CHEGOU DIA 24 E AGORA?

SISTEMA RESPIRATÓRIO. Prof. Sérvulo Luiz Borges UFJF

Atuação Fonoaudiológica em pacientes com Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono

Respirar pela boca prejudica o desenvolvimento do rosto

Sistema respiratório. Profa. Mirelle Saes

Hermann Blumenau Complexo Educacional Curso: Técnico em Saúde Bucal Anatomia e Fisiologia Geral. Sistema Respiratório. Professor: Bruno Aleixo Venturi

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doenças Respiratórias Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

AULA: RINOSSINUSITE AGUDA PROFESSORA: WILMA ANSELMO LIMA

CAUSAS DA SINUSITE LOCALIZAÇÃO

CURSO DE ATUALIZÇÃO SOS RESPIRADOR BUCAL ANAMNESE DIRIGIDA. Dra. Gabriela Dorothy de Carvalho Dr. Germano Brandão Dr. Pedro Pileggi Vinha

Avaliação das Crianças que Roncam

Últimos 2 anos em polipose nasossinusal Rodrigo de Paula Santos Roberto Eustáquio Guimarães Camila Atallah Pontes

Mucopolissacaridose Alterações Morfofuncionais Faciais

Anatomia do Sistema Respiratório. Prof.Gabriel Villas-Bôas

Cronograma de palestras

PROGRAMAÇÃO PRELIMINAR - IV COMBINED MEETING 23 de Maio

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA DA RESPIRAÇÃO COM ESCORES - PAFORE. Susanibar, F. 1ª DATA / / 2ª DATA / / OUTRAS / / ENTREVISTA ANAMNESE

AULA: OTITES MÉDIAS AGUDAS PROFESSOR: MIGUEL HYPPOLITO

ANOMALIAS DENTOFACIAIS

RESPIRAÇÃO ORAL: UM PROBLEMA QUE PODE COMPROMETER O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

DISFONIA. Justificativa Tipos N máximo de sessões Videolaringoscopia: é um exame

Formação da face Formação do lábio Formação do palato. Falta de fusão dos processos embrionários. > Até 12ªsem.

Autor : Larissa Odilia Costa Binoti Co-autores : Bernardo Relvas Lucas Camila Bae Uneda Daniella Leitão Mendes Juliana Cagliare Linhares

O ESTUDO. Sinusite Bacteriana Quais São os Critérios para Diagnóstico?

APARELHO RESPIRATÓRIO

Sinusite Bacteriana Quais São os Critérios para Diagnóstico?

Sistema Respiratório. Profª Karin

RELATO DE CASO DE SINUSITE MAXILAR POR FÍSTULA OROANTRAL COM DIAGNÓSTICO TARDIO

PERFIL DAS CRIANÇAS SUBMETIDAS À AMIGDALECTOMIA E/OU ADENOIDECTOMIA EM UM HOSPITAL GERAL DE TAUBATÉ-SP

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Dores na mandíbula e na face.

Face e cavidade bucal

Objetivos. Rinossinusite. Sinusite (Rinossinusite): o que o pneumologista precisa saber? Esclarecer dúvidas sobre diagnóstico

recomendações Atualização de Condutas em Pediatria

TC e RM DOS SEIOS DA FACE

TC e RM DOS SEIOS DA FACE

Apresentação RINO Relato de caso

INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRAs) NA INFÂNCIA. Enfermagem na Atenção Básica Profa. Maria De La Ó Ramallo Veríssimo

Calendário Distúrbios do sono. ed. Lisboa. 2018

Questão 1: Sobre as alterações no desenvolvimento dos pacientes com fissuras labiopalatinas, responda: a) Época em que ocorrem essas malformações:

SISTEMA RESPIRATÓRIO PROF. JAIR

Carcinoma adenoide cístico de nasofaringe localmente avançado: Relato de caso

INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRAs) NA INFÂNCIA. Enfermagem na Atenção Básica Profa. Maria De La Ó Ramallo Veríssimo

Dr. Bruno Pinto Ribeiro Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio

área acadêmica Anatomia Anatomia radiológica do crânio e face

e Apneia na Reabilitação Oral - parte I

AULA: CORPOS ESTRANHOS E EPISTAXE PROFESSORA: Fabiana Valera

área acadêmica Anatomia Anatomia radiológica do crânio e face

Alterações respiratórias da Síndrome de Down. Marina Buarque de Almeida

Lesões inflamatorias otite media aguda

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃO

Sistema Estomatognático

2º Congresso do Instituto de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço

AVALIAÇÃO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO DE CRIANÇAS RESPIRADORAS ORAIS SUBMETIDAS A AMIGDALECTOMIA E ADENOIDECTOMIA

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM OTORRINOLARINGOLOGIA PROJETO PEDAGÓGICO

Rita Maria Bastos de Jesus Relógio

CIRURGIA DE SEPTOPLASTIA E TURBINECTOMIA. Termo de ciência e consentimento

Malformações Congênitas Pulmonares. Leonardo A. Pinto, MD/PhD Pneumologia Pediátrica

Sistema Respiratório. Clínica Médica Patrícia dupim Universo

Nariz e Laringe. Anatomia Aplicada à Medicina IV MOR 044 Prof. Sérvulo Luiz Borges

II Combined Meeting ABORL-CCF

Métodos Diagnósticos em SAOS: Imagem. sexta-feira, 23 de março de 12

INTUBAÇÃO TRAQUEAL. Profª Enfª Luzia Bonfim


FEIRA DE SANTANA - BA. Relato De Caso

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE - UNICENTRO

Seminário Interdisciplinar. Traumas Faciais: Atuação Fonoaudiológica e Odontológica

CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL ALTERAÇÕES MUSCULARES E ESQUELÉTICAS NO RESPIRADOR BUCAL

Radiologia médica - Anatomia I. Total de 7 páginas 1

VIVER BEM O SONO DE CARLOS ROBERTO SONO

CURSO DE RONCO E APNEIA DO SONO. Ficha de diagnóstico e anamnese.

OBSTRUÇÃO AMÍGDALA/ADENÓIDE E ATIVIDADE ELÉTRICA MUSCULAR EM RESPIRADORES NASAIS E EM RESPIRADORES ORAIS VICIOSOS E OBSTRUTIVOS

Rinoplastia. Saiba como essa cirurgia pode auxiliar na harmonia do seu rosto.

TRATAMENTO DE MORDIDA CRUZADA ANTERIOR: RELATO DE CASO CLÍNICO

A deglutição é definida como processo que resulta no transporte do alimento da boca ao estômago. Preparatória

A GIC IRUR A C IC CLÍN

Página 1 de 5 GABARITO - PRÁTICA QUESTÃO 1 ITEM A

Anatomia da orelha media e interna

Intervenção Multidisciplinar: evidências sobre Sequência de Pierre Robin, Síndrome de Crouzon e Velocardiofacial

AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA E CORRELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO EM RESPIRADORES ORAIS

04/07/2014. Caso Clínico. Neste momento, qual é o próximo passo? CASO CLÍNICO. III Curso Nacional de SONO

Acta Otorrinolaringológica

FLUXOGRAMA PARA COLETA DE H1N1 E COQUELUCHE COQUELUCHE. A coleta deverá ser realizada pelo corpo técnico de enfermagem da unidade do HU/UFSC;

DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO. Profª Me. Tatiane da Silva Poló

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TRATAMENTO AMBULATORIAL DA ASMA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Andréa da Silva Munhoz

E-book. Como prevenir as típicas doenças de inverno

RESSONANCIA VOCAL DE CRIANÇAS COM RESPIRAÇÃO ORAL.

CABEÇA E PESCOÇO. As manifestações otorrinolaringológicas (ORL) são as mais frequentes. (2,5) Elas incluem:

Tumores renais. 17/08/ Dra. Marcela Noronha.

SISTEMA RESPIRATÓRIO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP. Rafaela Schmidt

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Área: Biologia

Transcrição:

AULA: RESPIRAÇÃO BUCAL CRÔNICA NA INFÂNCIA PROFESSORA: WILMA ANSELMO LIMA TRANSCRIÇÃO: Luís Felipe Visconde EDIÇÃO: Sara Caixeta INTRODUÇÃO A respiração fisiológica deve acontecer pelo nariz. A criança ou adulto que respira pela boca deve ser encarado como um indivíduo em condição anormal. A respiração bucal, em longo prazo, pode trazer uma série de consequências para a criança, dentre elas, pode-se citar alterações na face, que são muito sugestivas desse quadro. Além disso, o respirador bucal crônico se caracteriza por: Ser acometido por infecções de repetição (otites, amigdlites e rinosinusite de repetição) Possuir lábios entreabertos Alterações no desenvolvimento dos ossos da face Alterações miofuncionais (a musculatura da face acaba se desenvolvendo de uma forma errada, hipotônica. Impedindo, com o tempo, a criança consiga fechar os lábios e a boca) Alterações comportamentais (as dificuldades de respiração normal prejudicam a qualidade do sono da criança e, consequentemente, seu desempenho na escola. Com isso, além das alterações comportamentais, há déficits de aprendizado e cognição) SINAIS E SINTOMAS DE UM RESPIRADOR BUCAL CRÔNICO Roncos Noturnos Apneia (muitos pais ficam preocupados e permanecem acordados ao lado do filho enquanto este dorme, pois o quadro de apneia faz com que, durante o sono, a criança tenha pausas respiratórias, dando a impressão de que ela parou de respirar e vai morrer) Dificuldade respiratória diurna Sono alterado, normalmente agitado Sudorese Enurese noturna Bruxismo Déficits cognitivos Na face do respirador bucal crônico nota-se uma retração do lábio superior e hipertrofia do lábio inferior, fazendo com que essas crianças fiquem com a boca entreaberta o tempo todo. Diante de uma criança com essas características, é função do clínico geral ou pediatra investigar

porque a criança respira pela boca, encaminhando-a, se necessário, para um especialista. O diagnóstico e intervenção (clínica ou cirúrgica) precoce podem prevenir uma evolução desfavorável do quadro e restituir a qualidade de vida da criança. CAUSAS DA RESPIRAÇÃO BUCAL CRÔNICA Existem etiologias bem definidas para a respiração bucal crônica. A maioria dos casos é consequência de algum grau de obstrução nasal, mas há respiração bucal sem obstrução nasal. 1) OBSTRUÇÃO NASAL: uma importante etiologia da respiração bucal crônica é a obstrução nasal, quadro que pode ocorrer devido a uma série de alterações. ANATOMIA DA CAVIDADE NASAL Cavum (nasofaringe) Conchas nasais Vestíbulo nasal A obstrução nasal pode acontecer por alterações ao nível de: 1) Cavum (também conhecido como rinofaringe ou nasofaringe) 2) Conchas nasais 3) Septo nasal 4) Vestíbulo nasal 5) Na fossa nasal como um todo. 1.1 ) OBSTRUÇÕES POR ALTERAÇÕES AO NÍVEL DO CAVUM a) ATRESIA DE COANA (ou mesmo imperfuração coanal): é uma má formação congênita que se caracteriza pela presença de uma placa que cobre as coanas (essa placa é um resquício embrionário. Em indivíduos normais, essa placa se abre, por volta da 33ª semana de desenvolvimento, permitindo a abertura das coanas). Essa condição gera sintomas que se manifestam desde o nascimento, tais como: o Obstrução nasal o Dificuldade de amamentação o Secreção nasal mucoide o tempo todo o Respiração bucal crônica Na prática médica, essa condição pode ser diagnosticada pelo pediatra: ao se tentar passar uma sonda nasal na criança (para aspirar secreção), pode-se, com a própria sonda, verificar se a coana está pérvia e permite a passagem da sonda. No berçário, se uma criança tem sinais de cianose e verifica-se dificuldade respiratória, devemos aventar a possibilidade de atresia de coana e, caso necessário, deve-se proceder com intubação ou instalação de uma traqueostomia. Essa condição, quando bilateral e total (fechamento total das coanas) é incompatível com a

DIAGNÓSTICO vida, pois a criança não consegue respirar. A grande maioria dos casos, no entanto, é unilateral (ou, quando bilateral, a atresia é parcial). Assim, a criança tem todas as dificuldades respiratórias, mas, aos poucos, ela se adapta e desenvolve a respiração bucal, podendo permanecer nessa condição por anos até que o diagnóstico seja feito. O diagnóstico dessa condição é simples e barato, feito com um Raio X (de perfil e axial). Para o diagnóstico, coloca-se uma solução contrastada dentro das narinas do paciente e, posteriormente, faz- se uma radiografia de perfil. Se houver atresia de coana, o corante não descerá pela rino e orofaringe no lado obstruído, ficando represado dentro da fossa nasal correspondente ao lado obstruído. Além da radiografia de perfil, devemos fazer uma radiografia axial isto é, crânio-caudal - para determinar, com precisão, qual lado é afetado pela atresia); Naturalmente, esse exame apresenta limitações, sendo de difícil realização em lactentes, pois a introdução do contraste no nariz dessas crianças é difícil. Nesses casos, uma alternativa é realizar uma nasofibroscopia, usando uma sonda de fino calibre e imobilizando a criança. A nasofibroscopia permite observar uma obstrução total da coana a nível de cavum, confirmando o diagnóstico. Uma vez confirmado o diagnóstico de atresia de coana, devemos proceder com a TC, que nos mostrará maiores detalhes sobre o ponto da obstrução, sua relação com as estruturas ósseas e mucosas, além de permitir programação da intervenção cirúrgica mais adequada. Imagem: a seta mostra uma massa composta, predominantemente, por tecido mole obstruindo a região posterior da fossa nasal esquerda

b) HIPERTROFIA DA ADENÓIDE (TONSILA FARÍNGEA) É, provavelmente, a segunda causa mais comum de obstrução nasal na criança. À radiografia de perfil (do cavum) é um bom exame para se realizar o diagnóstico. Nele, nota-se a presença de uma adenoide hipertrófica, em topografia de base de crânio, obstruindo a passagem de ar na porção posterior da fossa nasal: Imagem: o círculo vermelho marca os limites da adenoide hipertrófica, e a seta mostra o caminho, ainda pérvio, pelo qual o ar passa na nasofaringe. Caso persistam dúvidas quanto ao diagnóstico, ou, após o tratamento, o paciente ainda manifesta os sintomas de obstrução nasal, é recomendado fazermos uma análise mais detalhada com a nasofibroscopia. A nasofibroscopia permite visualizar toda a região do cavum, em uma visão tridimensional, permitindo diferenciar se existe uma obstrução, seja ela total ou parcial. OBSTRUÇÃO PARCIAL PELA HIPERTROFIA DA ADENÓIDE OBSTRUÇÃO TOTAL PELA ADENÓIDE (em vermelho) IMPORTANTE: A nasofibroscopia é o melhor exame para o diagnóstico dessa condição, porém, por ser um exame relativamente caro, que exige preparação prévia do paciente, além de ser incômodo para a criança, ele é reservado para os casos em que há dúvidas quanto ao diagnóstico. Quando a hipertrofia promove uma obstrução superior a 75% e não responde ao tratamento clínico, a cirurgia está indicada. c) HIPERTROFIA DE TONSILA PALATINA (AMIGDALA) As hipertrofias amigdalianas grau III e grau IV (em que a amigdala vai da loja amigdaliana até a úvula) são etiologias importantes de quadros de apnéia, que impossibilitam uma respiração nasal

adequada. 1.2) CAUSAS DE OBSTRUÇÃO A NÍVEL DE CONCHAS/CORNETOS NASAIS a) RINITE ALÉRGICA (CRÔNICA) A rinite alérgica é a causa mais comum de obstrução nasal na infância. A longo prazo, a rinite alérgica evolui para uma forma crônica, conhecida como rinite hipertrófica crônica. Seus sintomas envolvem: Obstrução Nasal Secura de Faringe Infecções descendentes das vias respiratórias inferiores Obstrução das tubas auditivas (que cursam com otites médias agudas, rinossinusites agudas de repetição) Cefaléia Dores faciais Não é raro a rinite alérgica estar associada à hipertrofia adenoidiana, pois os quadros de rinite crônica favorecem a ocorrência frequente de infecções virais na via aérea superior, que promovem hipertrofia da tonsila nasofaríngea. De forma concomitante, sabe-se que crianças com adenoide aumentada tendem a apresentar maiores descompensações da rinite. Nesses casos, trata-se primeiro a rinite alérgica e espera-se que ocorra regressão da adenoide. Se isso não acontece, recomenda-se a retirada cirúrgica da tonsila faríngea. b) CONCHA BOLHOSA É uma variação anatômica marcada pela presença de uma concha média que apresenta, em sua estrutura óssea, um espaço vazio no centro. Desconfia-se dessa condição quando, ao exame fibroscópico, nota-se uma concha média desproporcionalmente grande. O diagnóstico é confirmado por um corte coronal em Tomografia computadorizada:

Essa variação pode ser causa importante de obstrução nasal. Além disso, conforme a criança cresce a concha também se amplia e pode promover desvio do septo nasal e obstrução do meato de drenagem dos seios maxilares, gerando quadros de sinusites de repetição. Imagem: note o velamento dos seios maxilares, sugerindo um quadro de sinusite. O diagnóstico deve ser realizado precocemente, pois o tratamento desses casos é cirúrgico e deve ser realizado rapidamente a fim de se evitar maiores consequências para a vida da criança. 1.3) ALTERAÇÕES A NÍVEL DO SEPTO NASAL a) DEFORMIDADES SEPTAIS (posteriores e anteriores) Pela simples elevação da ponta do nariz, é possível notar a presença de desvios septais anteriores que promovem obstrução nasal: Quando a obstrução se faz na parte posterior do septo, é necessário o exame endoscópico para diagnosticála. O septo nasal apresenta dois importantes centros de crescimento: I) Borda anterior II) Área central (que une o septo cartilaginoso ao septo ósseo) Essas duas áreas são importantes por que, durante a cirurgia de correção dos desvios septais, o cirurgião deve preservá-las, para garantir que o septo continue a se desenvolver normalmente com o crescimento da criança. Antes do conhecimento dessas áreas de crescimento, esperava-se que a criança passasse pela puberdade e só se realizava a cirurgia após os 14 anos. Hoje, a cirurgia é feita o mais precoce possível, pois se a cirurgia for feita após os 12 anos, a criança poderá colecionar uma série de alterações irreversíveis para a respiração e o desenvolvimento orofacial em função da deformidade septal. 1.4) CAUSAS DE OBSTRUÇÃO AO NÍVEL DAS FOSSAS NASAIS a) PÓLIPOS: são tumores benignos que podem ser

ISOLADOS ÚNICOS, nascendo no seio maxilar e projetando-se para a coana (por isso chamado de pólipo antrocoanal) mais comum em meninos, dos 9 aos 14 anos. MÚLTIPLOS, com presença de vários pólipos na fossa nasal e seios maxilares (É um quadro conhecido como polipose nasossinusal). Diante desse quadro, devemos pensar em três possíveis condições relacionadas com tal apresentação: - FIBROSE CÍSTICA - ASMA GRAVE - INTOLERÂNCIA À ASPIRINA. Imagem: note um pólipo grande, saindo do seio maxilar e dirigindo-se posteriormente para o cavum, funcionando como uma verdadeira válvula de obstrução. Quando muito grande, esses pólipos podem ser vistos na oroscopia, descendo pelo cavum. Comum em meninos de 9-14 anos; Imagem: polipose nasossinusal. Note a presença de vários pólipos à nasofibroscopia. A TC mostra a completa obstrução dos seios nasais e etmoidais e das fossas nasais por vários pólipos. b) CORPO ESTRANHO NASAL É outra importante causa de obstrução que sempre deve entrar nas hipóteses de diagnóstico diferencial. O quadro clínico é marcado pela presença de rinorréia fétida unilateral. c) TUMORES NASAIS MALIGNOS São mais raros, mas devemos lembrar sempre dessa possibilidade. Não devemos confundir um quadro de obstrução nasal por tumor com uma obstrução nasal por hipertrofia adenoidiana. Esta tende a regredir com o avançar da idade. Nos casos de tumores, a obstrução é arrastada. Dentre os possíveis tumores temos: o Linfomas o Estesioneuroblastoma 2) CAUSA DE RESPIRAÇÃO BUCAL NÃO RELACIONADA COM OBSTRUÇÃO NASAL Nem sempre o respirador bucal crônico usa a boca para respirar devido a algum problema nasal. A respiração bucal pode acontecer: Por hábito (sobretudo em crianças que usam chupeta ou chupam o dedo)

Por macroglossia (comum na Sd. de Down) Por insuficiência labial ALTERAÇÕES FACIAIS CONSEQUENTES DA RESPIRAÇÃO BUCAL CRÔNICA: Bruxismo Olheiras Lábios inferiores hipotrofiados Atresia de palato (que fica em formato ogival, como na primeira imagem) Mordida cruzada posterior e aberta posterior (segunda imagem) Alterações da deglutição MANEJO DO PACIENTE RESPIRADOR BUCAL CRÔNICO Na suspeita clínica de respiração bucal crônica (seja pelo pediatra, clínico geral, otorrino ou alergista), devemos buscar tratar, primeiramente a causa que está levando a esse quadro. Se a causa for identificada e tratada antes dos 5 anos, é provável que essa criança, após os 7 anos e a fase de estirão, volte a ter uma vida normal e sem grandes consequências. Contudo, se o diagnóstico e terapia forem postergados para além dos 5 anos, é provável que, além do médico, essa criança tenha de passar por outros profissionais para uma reabilitação que envolve: fonoaudiologia (para corrigir alterações miofuncionais ) fisioterapeuta ortodontista (para correção da mordida e atresia de palato) Toda essa reabilitação é onerosa e custa dinheiro e tempo. Mas ainda é capaz de recuperar a harmonia orofacial da criança. Se o atraso na terapia for muito grande, acima de 10 anos, provavelmente as alterações serão irreversíveis e as medidas instituídas pouco eficazes. Em suma: um diagnóstico e intervenção precoce se traduzem em: 1) Maior harmonia estética e funcional da face 2) Adequado desenvolvimento neuropsicomotor e somático da criança 3) Menor morbidade