Vida Universitária Junho 2007 Ano XVII Nº 173



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Transcrição:

Futuro do planeta depende de mudanças de atitude e políticas públicas No dia 16 de maio, o francês Yves Mathieu, um dos mil multiplicadores treinados pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, apresentou a palestra Uma Verdade Inconveniente, na PUCPR. O evento, promovido pela UniPaz (Rede Internacional de Educação e Cultura para a Paz) e pelo curso de Engenharia Ambiental da Universidade, reuniu mais de 300 pessoas dispostas a entender e discutir o futuro do planeta. Yves falou à Vida Universitária sobre as principais conseqüências do aquecimento global para a Terra, entre elas o deslocamento da população e a diminuição da cobertura de gelo no planeta. A estimativa é que haja um bilhão de refugiados climáticos em 2050, alarmou. A palestra, que levou o mesmo título do documentário premiado no Oscar 2007, foi precursora da III Jornada do Pensamento Contemporâneo, que será realizada nos dias 10 e 11 de agosto na PUCPR, quando profissionais de renome debaterão temas como ciência, mitos e aquecimento global. Como foi seu treinamento com Al Gore? Foi uma experiência única na minha vida. Al Gore decidiu dedicar seu tempo, energia e trabalho para fazer com que a humanidade entenda a situação atual do mundo e consiga em tempo as soluções necessárias. É uma chance para todos nós. Ser parte do grupo de mil multiplicadores de Al Gore para divulgar a palestra Uma Verdade Inconveniente é ao mesmo tempo um privilégio e uma responsabilidade. Por isso fui convidado para participar do evento na PUCPR. Cada um de nós, independentemente da atividade, tem contribuições a fazer e deve dividir seu conhecimento. Por que o mundo chegou a essa situação crítica que vivemos hoje? São três as causas. A população cresceu. Em 1945 éramos 2,5 bilhões de pessoas no planeta. Em 2050 seremos cerca de 9,5 bilhões a dividir a Terra. Todos precisam de comida, água e energia para viver. Esse crescimento acontecerá principalmente nos países em desenvolvimento. Por isso, a prioridade precisa ser a educação, para que essa população cresça contribuindo com o meio ambiente.

A outra razão é a tecnologia que temos à nossa disposição. Toda a produção, toda a indústria atualmente usada está fora do nosso controle em termos de conseqüências. A última e provavelmente a principal causa é a nossa forma de pensar. Somos os únicos responsáveis por essa situação. Em 2050 não poderemos dizer a gente não sabia. Com nossa capacidade científica, sabemos que vamos para a pior catástrofe da humanidade. Sabemos também que se mudarmos nossa maneira de fazer as coisas, de consumir, a gente pode reduzir as conseqüências. Existe uma corrente de estudiosos que diz que a linha do Al Gore é muito radical. O que o senhor tem a dizer sobre isso? É claro que ele é radical. Como não ser radical numa situação em que pesquisas recentes estimam que mais de um bilhão de pessoas vá sofrer as conseqüências da crise climática? A maioria dos cientistas concorda com o pensamento de Al Gore. Mas, em alguns casos, interesses econômicos estão tentando transformar a verdade, como no caso da indústria de tabaco no passado. O senhor disse em sua palestra na PUCPR que o meio ambiente é uma questão de políticas públicas. Os governantes estão efetivamente fazendo alguma coisa para prevenir uma catástrofe? Não. Estamos na fase das conseqüências. Os governantes tendem a postergar o tempo das decisões. Mas nós temos responsabilidade política. Cada um de nós precisa dar sinais aos políticos, para estimulá-los a tomar iniciativas corajosas. Em quais países os problemas ambientais serão mais sérios? É difícil dizer isso, pois não há país no mundo que não será afetado pela crise ambiental. Os problemas estão por toda parte. Mas existem países que já começaram a trabalhar para evitar estragos maiores. Na Suécia, por exemplo, a cidade de Estocolmo decidiu acabar com a economia do carbono e lançou um plano para alcançar o objetivo. Estou convencido de que as soluções virão de iniciativas locais. O que cada pessoa pode fazer para salvar o planeta? Todos podem mudar dentro da sua realidade. Cada empresa, escola, hospital e até

igreja pode ter um plano para neutralizar a emissão do carbono em poucos anos. É preciso também redimensionar a vida. Com pequenas mudanças, as pessoas vão descobrir uma nova forma de viver, novas escolhas, novas tecnologias, uma nova maneira de passar suas 24 horas. Comece mudando a maneira de gastar seu dinheiro, como, por exemplo, diminuindo seu consumo de energia. Quais são as principais conseqüências para o mundo se não forem tomadas as devidas providências em relação ao Aquecimento Global? Os problemas estão aqui e agora. As principais conseqüências para a humanidade são os deslocamentos das populações das cidades litorâneas (estimativas garantem que mais de um bilhão de pessoas perderão suas casas em 40 anos), a redução da biodiversidade (60 mil espécies já desapareceram no último século, para reverter essa situação o ecossistema precisa de milhões de anos) e problemas de saúde. Como o senhor analisa a situação do Brasil hoje? O Brasil tem uma extraordinária experiência que pode ser dividida com o resto do mundo nas áreas de biodiesel e gerações limpas de energia. Fiquei muito contente em saber que a PUCPR tem um projeto para neutralizar a emissão de carbono e que o governo do Paraná tem um programa com soluções para a crise climática. Por favor, divulguem isso! Mas é necessário transformar a economia e começar a buscar benefícios a longo prazo e não apenas a curto. O país tem também um problema muito grave que é a educação dos adolescentes. Não é possível ser um adulto capaz de contribuir para o futuro do planeta se tem o primeiro filho com 14 ou 15 anos. A partir deste momento, os jovens passam a ter a responsabilidade de pai, quando deveria na verdade estar construindo sua personalidade e seu lugar na sociedade. Universidade contribui para a economia de municípios do Paraná Atendimento médico veterinário ajuda pequenos proprietários ruraisatendimento médico veterinário ajuda pequenos proprietários rurais Um serviço do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do

Paraná (PUCPR), em parceria com o Programa de Ação Comunitária e Ambiental (ProAção), tem colaborado desde 2000 para a economia dos municípios de Tijucas do Sul e Agudos do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Uma vez por semana, um grupo de estudantes voluntários se reveza para prestar atendimento veterinário gratuito a cavalos de pequenos produtores rurais da região. Com atividade econômica baseada na agropecuária e na venda de madeira, o animal é instrumento de trabalho imprescindível na região, pois ajuda os agricultores na preparação do terreno para o plantio, na colheita da safra e na busca de toras de madeira em locais onde o trator não pode chegar. São atendidos em Tijucas do Sul cerca de 500 cavalos por ano. Sempre com a supervisão de um professor veterinário, os alunos, além de prestarem um serviço à comunidade, colocam em prática a teoria da sala de aula. Este é o único serviço especializado oferecido nos dois municípios, com cerca de 22 mil habitantes, segundo o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho é possível graças a um conjunto de ações, que vai desde a estrutura, trabalho de professores, medicação oferecidos pela Universidade e o empenho dos estudantes. Se o bicho adoece, eu não posso trabalhar. Por isso, trago o Tostado sempre aqui, diz João Ari, de 58 anos, que desde os 13 trabalha na roça. Ari é dono também de outro cavalo e os animais trabalham em seu sítio, que produz milho e feijão. Eles são o meu ganha pão. Tem que cuidar bem, conta ele com a ficha de atendimento do cavalo nas mãos. Tostado e os outros eqüinos são submetidos a exames clínicos, vacinas para raiva, aplicação de vermífugos e, se necessário, pequenas cirurgias. Segundo o professor responsável pelo atendimento de eqüinos, Peterson Triches Dornbusch, o estudante da PUCPR que atua no serviço tem várias vantagens. Permite o contato dos nossos alunos, acostumados com o meio urbano, com a realidade do campo. Possibilita a experiência para o trabalho em pequenas cidades do interior e capacita na formação técnica, já que podem colocar em prática o que aprenderam no atendimento direto com os cavalos, explica o professor. Valderi Bonfim é outro pequeno agricultor que não descuida da saúde dos cavalos. Desde que o atendimento veterinário gratuito começou na cidade, faz questão de levar sempre os animais para consulta. Eu tive um cavalo que morreu por falta de

atendimento. Mas isso não acontece mais, diz. Alazão, utilizado apenas para a montaria, estava com um problema na pata e passou por um exame clínico. Depois da consulta com a residente Aline Bonfá, uma das suspeitas foi a má colocação da ferradura. A jovem fez a limpeza do casco, a retirada da ferradura, aplicou a medicação e deu orientações para Bonfim sobre a colocação correta das ferraduras. Para Aline, que fez estágio com pequenos animais e depois passou a fazer o serviço voluntário com eqüinos, o trabalho extracurricular só acrescentou. A experiência adquirida aqui é muito importante. Não teria isso em outra faculdade, diz ela, que faz residência em Clínica Médica e Cirúrgica de Eqüinos. Os estudantes Pedro Kaiseler e Solange de Jesus optaram pelo serviço voluntário. Nós fazemos desde a radiografia até a revelação, conta Solange. Atendimento para cães e gatos previne doença em humano Os animais de companhia também têm a sua vez em Tijucas do Sul. Em média, cerca de 1500 cães e gatos são atendidos por ano. Para o professor responsável pelo atendimento de pequenos animais, José Luiz Moreira, as consultas periódicas ajudam na prevenção de zoonoses. É um trabalho preventivo. A orientação constante ajuda a evitar a transmissão de doenças dos animais para a população. Se não fosse esse serviço, os animais da região não teriam nenhum tipo de atendimento. Prova disso é Miguel Ventura, dono da vira-lata Milady e de outros cinco cães. Ele conta que os animais costumavam ficar doentes e eram tratados por conta própria, de forma caseira. Quando não tinha o serviço aqui, eu mesmo receitava um chazinho, às vezes dava certo. Mas agora só confio no tratamento veterinário da PUCPR, conta.