CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL: APOSENTADORIAS POR ACIDENTES DO TRABALHO E DOENÇAS PROFISSIONAIS NO PERÍODO 2000-2003



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Transcrição:

CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL: APOSENTADORIAS POR ACIDENTES DO TRABALHO E DOENÇAS PROFISSIONAIS NO PERÍODO 2000-2003 Celso Amorim Salim 1 Daniela Monteiro Braga 2 INTRODUÇÃO No Brasil, os registros administrativos federais que cobrem a tríade trabalho, saúde e previdência são a principal fonte de informações sobre os acidentes de trabalho, embora essas informações sejam subprodutos de tais registros, que, por sua vez, perseguem objetivos diferenciados. Apesar da qualidade intrínseca, da abrangência e das especificidades de cada um desses registros, seus dados ainda não são devidamente explorados no plano da gestão e disseminação de informações na área de saúde e segurança no trabalho, ou, mais particularmente, em relação aos diferentes ramos de atividade econômica que os caracterizam (SALIM, 2000). O Ministério do Trabalho e Emprego tem se utilizado de registros administrativos no monitoramento social, destacando-se, no caso, a RAIS Relação Anual de Informações Sociais e o CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Basicamente, o primeiro subsidia o Abono Salarial, e o segundo é importante ferramenta para o pagamento do Seguro Desemprego. A RAIS é a principal fonte de informação sobre o mercado formal de trabalho no país, já que todas as empresas e empregadores são obrigados a atualizá-la anualmente. Porém, apenas os empregados que têm algum vínculo empregatício estatutário, celetista, temporário e avulso se configuram como objeto para diversos estudos sobre o mercado de trabalho brasileiro. Os dados da RAIS dispõem sobre as características básicas dos empregados sexo, idade, escolaridade, salário, funções exercidas assim como dos estabelecimentos (setor de atividade, número de admissões e desligamentos por causa). Os desligamentos por aposentadoria são as seguintes: por tempo de serviço com rescisão contratual, por tempo de serviço sem rescisão contratual, por idade com rescisão contratual, compulsória, por invalidez decorrente de outros motivos, por idade sem rescisão contratual, especial, por invalidez decorrente de acidente do trabalho, por invalidez decorrente de doença profissional. A partir de 1996, passou-se a registrar os falecimentos por doença e acidentes do trabalho. Neste trabalho examinam-se as tendências e variações das aposentadorias por acidentes e doenças do trabalho registradas na RAIS no ramo da construção civil. embora, paralelamente, busque-se contribuir para uma avaliação crítica das informações relativas aos acidentes de trabalho como um todo. 1 Sociólogo, doutor em Demografia e pesquisador da Fundacentro-MG. Coordena o Subprograma Nacional de Melhoria das Informações Estatísticas sobre Doenças e Acidentes do Trabalho PRODAT. 2 Estatística do PRODAT e Assistente Técnico na Pesquisa sobre Acidentes do Trabalho em Pequenas e Micro Empresas Industriais, convênio SESI/Fundacentro.

MATERIAL E MÉTODO Na extração dos dados da RAIS no período 2000-2003, a seleção das variáveis limitou-se às faixas etárias entre 15 e 64 anos que, correspondendo ao conceito de população potencialmente ativa, mostra-se mais adequada ao presente estudo do que o conceito de população economicamente ativa PEA (cf. SALIM et al., 2002), não obstante o registro de algumas aposentadorias para idades superiores a 64 anos. Para a faixa etária e as variáveis sexo e grau de escolaridade, consideraram-se apenas as categorias e os níveis disponíveis para tais variáveis nos CD-ROM da RAIS. Aliás, uma das vantagens da RAIS é a baixíssima quantidade de registros como ignorado não só para a variável sexo como para as demais. Comparativamente, os números da RAIS foram confrontados com os números de outro registro administrativo o Sistema CAT/SUB, do Ministério da Previdência e Assistência Social. RESULTADOS Na Tabela 1, os números relativos à aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho e de doença profissional na construção civil e demais setores de atividade econômica são confrontados com as demais causas de aposentadoria. Somados, ambos mantiveram-se relativamente estáveis no período, com taxas que oscilaram de 4,7%, em 2000, para 5,3%, em 2003 apesar da brusca elevação dos casos decorrentes de acidentes em 2001 e, em menor escala, dos casos de doenças profissionais em 2002. Chama atenção o peso absoluto e relativo dos acidentes em detrimento das doenças profissionais nas aposentadorias por invalidez, que, no quadriênio, saltaram de 7,0%, em 2000, para 8,4% em 2003, porém atingindo o pico atípico de 27,6% em 2001. Essas duas formas de aposentadoria têm um peso relativo grande no rol das diferentes formas de aposentadoria no próprio setor da construção civil (Tabela 2). Tabela 1: Número de aposentadorias registradas na RAIS 2000-2003 Tipos de Aposentadorias / Setor de Atividade 2000 2001 2002 2003* Aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho Indústria 448 27,5% 501 26,2% 638 25,1% 745 32,3% Construção civil 114 7,0% 528 27,6% 180 7,1% 195 8,4% Comércio 158 9,7% 221 11,6% 276 10,8% 265 11,5% Serviços 779 47,9% 526 27,5% 1.264 49,6% 943 40,8% Agropecuária, extr.vegetal, caça e pesca 128 7,9% 137 7,2% 188 7,4% 162 7,0% Total 1.627 100,0% 1.913 100,0% 2.546 100,0% 2.310 100,0% Aposentadoria por invalidez decorrente de doença profissional Indústria 428 11,9% 550 15,6% 578 16,4% 536 14,4% Construção civil 134 3,7% 125 3,5% 153 4,4% 122 3,3% Comércio 238 6,6% 268 7,6% 305 8,7% 271 7,3% Serviços 2.592 72,1% 2.353 66,8% 2.266 64,5% 2.457 66,2% Agropecuária, extr vegetal, caça e pesca 204 5,7% 229 6,5% 213 6,1% 327 8,8% Total 3.596 100,0% 3.525 100,0% 3.515 100,0% 3.713 100,0% Aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho e doença profissional Indústria 876 16,8% 1051 19,3% 1216 20,1% 1281 21,3% Construção civil 248 4,7% 653 12,0% 333 5,5% 317 5,3% Comércio 396 7,6% 489 9,0% 581 9,6% 536 8,9% Serviços 3371 64,5% 2879 52,9% 3530 58,2% 3400 56,5% Agropecuária, extr vegetal, caça e pesca 332 6,4% 366 6,7% 401 6,6% 489 8,1% Total 5.223 100,0% 5.438 100,0% 6.061 100,0% 6.023 100,0%

Aposentadoria pelas demais causas Indústria 11.344 20,5% 9.836 16,4% 11.955 17,0% 14.639 16,7% Construção civil 836 1,5% 1.007 1,7% 1.038 1,5% 1.163 1,3% Comércio 2.975 5,4% 2.508 4,2% 3.558 5,1% 3.910 4,5% Serviços 37.727 68,2% 44.254 73,9% 50.628 72,2% 65.966 75,1% Agropecuária, extr vegetal, caça e pesca 2.409 4,4% 2.305 3,8% 2.972 4,2% 2.128 2,4% Outros/ignorado 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 24 0,0% Total 55.291 100,0% 59.910 100,0% 70.151 100,0% 87.830 100,0% Total Indústria 12.220 20,2% 10.887 16,7% 13.171 17,3% 15.920 17,0% Construção civil 1.084 1,8% 1.660 2,5% 1.371 1,8% 1.480 1,6% Comércio 3.371 5,6% 2.997 4,6% 4.139 5,4% 4.446 4,7% Serviços 41.098 67,9% 47.133 72,1% 54.158 71,1% 69.366 73,9% Agropecuaria, extr vegetal, caça e pesca 2.741 4,5% 2.671 4,1% 3.373 4,4% 2.617 2,8% Outros/ignorado 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 24 0,0% Total 60.514 100,0% 65.348 100,0% 76.212 100,0% 93.853 100,0% Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2000-2003 [CD-ROM] * idade entre 18 e 64 anos Tabela 2: Construção civil: número de aposentadorias registradas Tipos de aposentadoria 2000 2001 2002 2003 Aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho Aposentadoria por invalidez decorrente de doença profissional 114 10,5% 134 12,4% 528 31,8% 180 13,1% 195 13,2% 125 7,5% 153 11,2% 122 8,2% Aposentadoria pelas demais causas 836 77,1% Total 1.084 100,0% Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2000-2003 [CD-ROM] 1007 60,7% 1.038 75,7% 1163 78,6% 1.660 100,0% 1.371 100,0% 1.480 100,0% Distribuição etária e por sexo No Gráfico 1, observa-se um fato indelével: a precocidade das aposentadorias, que retiram do emprego trabalhadores ainda no auge de suas vidas produtivas. Tendencialmente, mais uma vez, os acidentes de trabalho, ao contrário das doenças profissionais, determinaram um número maior de aposentadorias entre trabalhadores em idade mais jovem. Cumulativamente, no quadriênio, 49,8% das aposentadorias atingiram trabalhadores com idade entre 30 e 39 anos. Destes, 33,2% aposentaram-se por doenças profissionais, 66,8% tiveram os acidentes como causa imediata, ou seja, na razão de dois para cada três casos. Todavia, ao longo do período, foi marcante a participação da faixa etária entre 50 e 64 anos de idade, em função do maior peso da doença profissional como causa do afastamento do trabalho (Gráfico 1) 3. 3 As aposentadorias para pessoas com 65 anos ou mais representaram 3,5% do total em 2000, 0,9% em 2001, 5,0% em 2002 e 5,4% em 2003.

Gráfico 1 - Construção: Desligamentos decorrentes de aposentadoria por acidente do trabalho e doença profissional segundo faixa etária 2000 2001 2002 2003 50 a 64 anos 40 a 49 anos 30 a 39 anos 25 a 29 anos 18 a 24 anos 15 a 17 anos 50 a 64 anos 40 a 49 anos 30 a 39 anos 25 a 29 anos 18 a 24 anos 15 a 17 anos 50 a 64 anos 40 a 49 anos 30 a 39 anos 25 a 29 anos 18 a 24 anos 15 a 17 anos 50 a 64 anos 40 a 49 anos 30 a 39 anos 25 a 29 anos 18 a 24 anos 15 a 17 anos Acidente Doença 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2000-2003 [CD-ROM] No Gráfico 2 distribuem-se as aposentadorias por acidente e doença segundo o sexo, com forte predominância do sexo masculino nas aposentadorias por acidente e doenças do trabalho na construção civil (96,4%), ou seja, 27,2 vezes maior, se considerada a soma dos registros para os 4 anos analisados. À exceção de 2001, o peso das doenças profissionais tem sido maior na determinação das aposentadorias das mulheres do que os acidentes propriamente ditos. Gráfico 2 - Construção: Desligamentos decorrentes de aposentadoria por acidente do trabalho e doença profissional segundo sexo 500 400 300 200 100 Acidente Doença 0 Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem 2000 2001 2002 2003 Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2000-2003 [CD-ROM] Grau de escolaridade No geral destaca-se uma relativa estabilidade no quadriênio, porém com ligeira queda no ano 2001, das aposentadorias por invalidez decorrentes de doenças profissionais entre os trabalhadores com menores níveis de educação formal (incluindo os analfabetos), ou seja, com até quatro anos completos de estudo, não obstante

a menor participação dos analfabetos ao final do período. Essa participação variou de 63,7%, em 2000, para 52,7%, em 2003 (dados não mostrados). Em contrapartida, entre os trabalhadores com níveis mais altos de instrução igual ou superior ao segundo grau ocorreu, no cômputo das aposentadorias por doenças profissionais, um contínuo decréscimo de sua participação ao final do período, indicando uma possível relação direta entre os maiores níveis de escolaridade e a menor ocorrência de doenças profissionais. Quanto às aposentadorias por acidentes do trabalho, diferentemente, observaram-se tendências mais atípicas, impossibilitando o delineamento de perfis mais definidos. Categorias de estabelecimentos Tomando-se como referência a distribuição dos estabelecimentos por categoria de tamanho segundo o número de pessoas ocupadas 4, temos uma situação onde fica evidente o ônus para a sociedade, representado pela elevada participação dos segmentos das pequenas e micro empresas na conformação da grande maioria dos casos de aposentadorias por doenças acidentes do trabalho no ramo da construção civil. Infelizmente, uma tendência que recrudesceu no quadriênio em foco (Tabela 3). Tabela 3: Desligamentos por acidente de trabalho e doença profissional por ano segundo categorias de estabelecimento Causa do desligamento Ano Idade Acidente Doença Total 2000 Micro 51 44,7% 53 39,6% 104 41,9% Pequena 32 28,1% 26 19,4% 58 23,4% Média 25 21,9% 32 23,9% 57 23,0% Grande 6 5,3% 23 17,2% 29 11,7% Total 114 100,0% 134 100,0% 248 100,0% 2001 Micro 207 39,2% 59 47,2% 266 40,7% Pequena 155 29,4% 37 29,6% 192 29,4% Média 9 1,7% 22 17,6% 31 4,7% Grande 157 29,7% 7 5,6% 164 25,1% Total 528 100,0% 125 100,0% 653 100,0% 2002 Micro 105 56,8% 77 49,4% 182 53,4% Pequena 37 20,0% 36 23,1% 73 21,4% Média 34 18,4% 25 16,0% 59 17,3% Grande 9 4,9% 18 11,5% 27 7,9% Total 185 100,0% 156 100,0% 341 100,0% 2003 Micro 110 56,4% 60 49,2% 170 53,6% Pequena 46 23,6% 22 18,0% 68 21,5% Média 31 15,9% 32 26,2% 63 19,9% Grande 8 4,1% 8 6,6% 16 5,0% Total 195 100,0% 122 100,0% 317 100,0% Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 1998-2000 [CD-ROM] 4 Pelo critério do número de pessoas ocupadas, teríamos, segundo o SEBRAE, o seguinte: Microempresa: na indústria, até 19 pessoas ocupadas; no comércio e serviços, até 09 pessoas ocupadas. Pequena empresa: na indústria, de 20 a 99 pessoas ocupadas; no comércio e serviços, de 10 a 49 pessoas ocupadas. Média empresa: na indústria, de 100 a 499 pessoas ocupadas; no comércio e serviços, de 50 a 99 pessoas ocupadas. Grande empresa: na indústria, acima de 499 pessoas ocupadas; no comércio e serviços, acima de 99 pessoas ocupadas.

Comparação com os dados da Previdência Segundo a Previdência Social, a rubrica Incapacidade Permanente consolida duas modalidades distintas: Incapacidade Permanente Parcial e Incapacidade Permanente Total (cf.salim et al, 2002, pág.70-71). Rigorosamente, a última habilitaria o benefício aposentadoria por invalidez por acidente de trabalho. Diante disso, a comparação abaixo, embora careça dos devidos ajustes, pressupõe que os números de aposentadorias por Incapacidade Permanente Total da Previdência Social, que incluem acidentes típicos, de trajeto e doenças, sob hipótese plausível, não poderiam ser tão discrepantes em relação aos números totais das aposentadorias por acidente de trabalho e por doenças profissionais da RAIS. Entretanto, à parte da questão conceitual, ou abstraindo-se das peculiaridades inerentes a cada um dos registros, os números estariam a indicar, para a RAIS, importante sub-registro das aposentadorias por invalidez no trabalho, seja por acidente ou doença. Aliás, apesar de mais abrangentes, também os dados da Previdência Social, referidos ao universo de trabalhadores do setor formal, apresentam problemas de subnotificação, ainda que teoricamente minimizados sob a concretude dos acidentes liquidados sob a rubrica Incapacidade Permanente (Tabela 4 e Gráfico 3). Tabela 4 Construção civil: desligamentos por acidentes do trabalho segundo a RAIS e o AEAT/CAT 2000-2003 Aposentadoria por Acidente do Trabalho e Doença Profissional Acidentes do Trabalho Liquidados (Incapacidade Permanente) Ano RAIS AEAT/CAT 2000 257 1378 2001 659 1106 2002 359 1470 2003 335 1165 Fonte: Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho (AEAT) 2000 [CD-ROM] Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2000-2003[CD-ROM]

Gráfico 3 - Construção: Aposentadorias por acidentes do trabalho e doença profissional segundo a RAIS e o AEAT/CAT 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1378 1470 1106 1165 659 257 359 335 2000 2001 2002 2003 RAIS AEAT/CAT Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2000-2003 [CD-ROM]; Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho (AEAT, 2000 [CD-ROM] CONCLUSÕES A RAIS é um retrato parcial do mercado de trabalho, posto que não cobre o setor informal ao excluir de seus registros os trabalhadores autônomos, os empresários sem vínculo formal com a sua organização, a mão-deobra sem registro em carteira e categorias com peso importante em vários ramos de atividade, incluindo a construção civil, assim como para a sua complexa cadeia produtiva. Apesar disso, pode ser ferramenta importante para o planejamento público em níveis que se estendem do nacional ao micro-regional ou municipal. Por outro lado, permite-nos uma contextualização dos eventos por categorias de estabelecimentos. No caso ficou evidente o peso relativo das pequenas e micro empresas indústriais na participação da maioria das aposentadorias por doenças e acidentes do trabalho no ramo da construção civil. Contudo, mesmo em relação ao setor formal, a RAIS apresenta deficiências quanto aos registros relativos às aposentadorias por invalidez decorrente de acidente de trabalho e doença profissional. Afinal, no período em tela, seus registros indicaram números bem inferiores aos da Previdência Social relativos aos casos liquidados de desligamento da atividade laborativa por incapacidade permanente. Como as informações da RAIS se suportam em declarações dos empregadores, é possível que também se caracterizem pelo elevado grau de omissões (Veras, 2000: 50), mormente no que respeita às informações que, eventualmente, possam vir a se tornar indicadores de inadequadas condições ou de inobservância da legislação sobre os quesitos saúde e segurança no ambiente de trabalho. O presente estudo não é outra coisa senão um indicativo dessa possibilidade. Afinal, os dados aqui analisados constituem uma amostra representativa da questão das aposentadorias por invalidez decorrente de acidentes ou doenças do trabalho no país no caso, sobre as suas tendências e variações no ramo da construção civil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO Departamento de Emprego e Salário Coordenação Geral de Estatísticas do Trabalho e Identificação Profissional DES/CGETIP. RAIS2000-2001-2002-2003 Relação Anual de Informações Sociais. Brasília. CDROM/Dados. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO; MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL. Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho: AEAT 2000. Brasília: MTE-MPAS, 2002. 499 p. SALIM, C.A. Estatísticas sobre doenças e acidentes do trabalho no Brasil: limites e possibilidades. In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTATÍSTICAS SOBRE DOENÇAS E ACIDENTES DO TRABALHO NO BRASIL: SITUAÇÃO E PERSPECTIVAS. Anais. São Paulo: Fundacentro, 2000. p. 83-87. SALIM, C. A. et. al. Aposentadorias por acidentes de trabalho e doenças profissionais no Estado de Minas Gerais entre 1998 e 2000, segundo a RAIS: uma contribuição à prospecção e análise. In: SALIM, C. A.; CARVALHO, L.F. Saúde e segurança no trabalho: contextos e vertentes. Belo Horizonte: UFSJ/FUNDACENTRO/Segrac Editora Ltda, 2002. PRODAT: Coleção de Estudos e Análises, v.1,n.2. p. 61-73. SPSS. STATISTICAL PACKAGE FOR SOCIAL SCIENCES. Interactive Graphics 10.0. Chicago, USA. v.11. 2001. VERAS, M.E.P. Afastamentos e licenciamento segundo o sistema RAIS-CAGED. In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTATÍSTICAS SOBRE DOENÇAS E ACIDENTES DO TRABALHO NO BRASIL: SITUAÇÃO E PERSPECTIVAS. Anais. São Paulo: Fundacentro, 2000. p. 47-51. SEBRAE BOLETIM ESTATÍSTICO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Disponível em <http://www.sebrae.com.br/br/mpe_numeros/empresas.asp>. Acessado em 05 de setembro de 2005.