PARTICIPAÇÃO DE UNIVERSITÁRIOS EM PROJETO DE EXTENSÃO: NOVOS SABERES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

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PARTICIPAÇÃO DE UNIVERSITÁRIOS EM PROJETO DE EXTENSÃO: NOVOS SABERES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Resumo CRUZ, Sônia Aparecida Belletti Cruz 1 - SEESP/UNIP DOVANCI, Giovani Luis 2 - UNIP Grupo de Trabalho Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Estudos apontam a importância da formação inicial de qualidade para formar docentes reflexivos e questionadores sobre os problemas cotidianos e os fundamentos científicos. Cruz (2011) afirma que somente o professor bem formado e comprometido com suas responsabilidades torna-se capaz de se perceber e perceber seus saberes e seus alunos. Embasado nas concepções de Meirieu (1998, 2002, 2005 e 2006) sobre conhecimentos docentes e formação auto reflexiva, o presente trabalho objetiva relatar experiências de universitários do curso de Pedagogia da UNIP-Araraquara-SP no desenvolvimento do projeto de extensão de apoio escolar às crianças com dificuldades de aprendizagem do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental de três escolas públicas, visando integrar saberes e prestação de serviço. Pioneiro no curso de Pedagogia, tal projeto vem sendo desenvolvido desde 2009 e atende às crianças, aos sábados, no Laboratório de Pedagogia da universidade. No acompanhamento e intervenção, os recursos pedagógicos são diversificados e diferenciados e os jogos utilizados são confeccionados pelos acadêmicos nas aulas práticas de metodologias de ensino. Constatase interesse deles em se auto avaliar e conhecer a avaliação da professora orientadora para poderem redirecionar suas ações. Tal reflexão crítica objetiva relacionar teoria e prática e trabalhar a dinâmica de aprender a teoria para compreender a prática e corrigir os pontos deficientes. Por meio de questionário semiaberto, buscou-se saber deles o que pensam a respeito do projeto e da contribuição do mesmo para sua formação profissional. Nas respostas, afirmam que o projeto tem ampliado seus conhecimentos para que se tornem bons professores. Considera-se que a participação dos universitários no desenvolvimento do Projeto de Extensão Comunitária tem lhes trazido importantes aquisições cognitiva, afetiva e conhecimentos práticos, o que pode explicar sua manifestação de contentamento e de desejo de dar continuidade aos trabalhos realizados. Palavras-chave: Formação de Professores. Projeto de Extensão. Dificuldade de Aprendizagem. 1 Doutora em Educação Escolar pela UNESP de Araraquara-SP. Professora da rede estadual paulista e da UNIP de Araraquara-SP. E-mail: soniabelletti@yahoo.com.br. 2 Graduando em Pedagogia pela UNIP de Araraquara. E-mail: gldovanci@gmail.com.

23543 Introdução A constatação de número considerável de crianças que frequentam o banco escolar e não conseguem aprender a ler, a escrever ou a resolver problemas básicos de matemática tem trazido inquietude e questionamentos aos profissionais da educação, em especial aos estudiosos, que buscam respostas que levem à compreensão desses problemas e a formas de contribuir para reversão do quadro de insucesso destas crianças. Pesquisa realizada por Cruz (2003) mostra que as dificuldades de aprendizagem de crianças na faixa etária escolar são consequência de fatores individuais, familiares, escolares e sociais e acumulam frequentes fracassos que provocam a baixa autoestima ou mesmo a marginalidade de muitas delas. Mostra, ainda, que a intervenção pedagógica para auxiliar essas crianças na realização de suas atividades escolares é considerada recurso efetivo para promover a motivação para os estudos e a reversão do insucesso escolar. Meirieu (2005) salienta que no dia-a-dia do fazer da escola a reflexão pedagógica precisa estar a serviço dos saberes de modo a explorá-los e ensiná-los de forma mais comprometida. Ao descobrir o obstáculo daquele que não quer ou daquele que não entende é que se pode retornar aos saberes e buscar novas dimensões, tentar descobrir novos meios (p.153). É evidente que para intervir de forma eficiente, além de ter conhecimento dos conteúdos de sua área, o docente precisa conhecer as metodologias adequadas para ensinar. Porém, em alguns momentos, há aqueles que não conseguem aplicar as propostas formuladas teoricamente e se veem em situação nas quais suas concepções e seus preceitos são colocados em xeque, o que lhes traz sentimento de desconforto e de culpa. Neste caso, Meirieu (1998) exorta os professores iniciantes a não desistir de pôr em prática suas propostas teóricas, considerando-as úteis à ação pedagógica, porque mesmo que o esperado não ocorra, de alguma forma, algo de importante acontece no ato educativo. É o que o autor chama de momento pedagógico, no qual o professor após planejar sua aula, prever e programar a aprendizagem se defronta com a resistência do aluno, que rejeita e ignora o que lhe é proposto no contexto educativo. É o momento em que ele sofre, sentindo-se excluído e é sinal de que o projeto de educar não foi efetivado tal qual se apresentava inicialmente. O autor enfatiza que no momento pedagógico, ao se decidir em compreender e aceitar a resistência do aluno, o professor pode reconsiderar aquilo que deve ser transmitido e/ou a forma de transmissão daquele conhecimento, para que possam fazer juntos e partilhar

23544 tais conhecimentos. Trabalhar a resistência do aluno é também resistir a essa resistência, não abrindo mão do que acredita ser necessário para a sua aprendizagem. Em sua obra Aprender... sim, mas como?, o autor apresenta vários recursos que podem ser utilizados pelos professores para refletir sobre sua prática e aplicá-los como estratégias de ensino, desencadeando assim, sua inventividade didática. Estudos em torno da formação docente são constantemente abordados por pesquisadores da área da Educação. Alguns articulam formação inicial e continuada e outros se voltam às questões teórico-metodológicas e à reflexão sobre a prática pedagógica, dentre variados enfoques. Porém, para que formem bons profissionais, os cursos de licenciatura devem apresentar qualidade e valorizar o seu papel no contexto de sala de aula. Devem formar docentes que pensem e questionem os problemas cotidianos e os fundamentos científicos. Na visão de Mello (2001, p. 156), é necessário que o professor que terminou o curso de Pedagogia demonstre qualificação e se sinta preparado para atuar na educação básica, já que ninguém promove a aprendizagem de conteúdos que não domina nem a constituição de significados que não possui ou a autonomia que não teve oportunidade de construir.. Compactuando com essas ideias e indo além delas, Meirieu (2006) defende que para se formar é necessário que o professor consiga elaborar uma sequência de aprendizagem que o ajude a descobrir seus próprios conhecimentos, voltando-se para o material que dispõe, vasculhando sua biblioteca, procurando na internet, interrogando seus colegas, enfim, torne-se professor-pesquisador. Assim posto, surgem questões sobre os saberes adquiridos e percebidos pelos universitários nos cursos de formação de professores: eles dominam os conteúdos a serem trabalhados e a metodologia adequada para ensinar? Sentem-se preparados para a relação assertiva com as crianças e as acompanhar no processo ensino-aprendizagem? Aprenderam a relacionar aspectos teóricos com a prática pedagógica? O que sabem a respeito das dificuldades de aprendizagem e das formas efetivas de intervenção para ajudar os alunos a sanar tais dificuldades? Também discutindo essas questões, Cruz (2011) afirma que somente o professor bem formado e comprometido com suas responsabilidades, torna-se capaz de se perceber e perceber seus saberes e seus alunos, para bem orientá-los e lhes oferecer instrumentos adequados as suas necessidades.

23545 Em relação aos conhecimentos oferecidos pela universidade, sabe-se que sua missão baseia-se no tripé ensino, pesquisa e extensão. No ensino transmite-se de maneira sistemática o saber historicamente acumulado pela sociedade. A pesquisa é responsável pela geração de novos conhecimentos e desenvolvimento da tecnologia. Finalmente, a extensão incumbe-se de levar todo esse saber para fora da academia, servindo à comunidade e alimentando-se de novos desafios. O conceito de Extensão definido pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras de 2001 salienta que: A extensão universitária é o processo educativo que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e a sociedade. A extensão é uma via de mão dupla com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará na sociedade a oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à universidade, docentes e discentes terão um aprendizado que submetido à reflexão teórica, seria acrescido àquele conhecimento. Este fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados /acadêmico e popular, terá como consequência a mudança de conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atenção da universidade (FORUM, 2001). A esse respeito, Silva (1996) salienta que a Extensão Universitária oferece aos universitários a oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula. A possibilidade de ensino-aplicação é uma maneira planejada de preparar seus profissionais com teoria, complementando a formação com estratégias metodológicas. Partindo de tais premissas, o presente trabalho objetiva relatar as experiências de sete universitários do curso de Pedagogia da Universidade Paulista-Araraquara-SP, no desenvolvimento do projeto de extensão de apoio escolar às crianças com dificuldade de aprendizagem dos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental de três escolas públicas, duas estaduais e uma municipal, visando integrar saberes e prestação de serviço. Desenvolvimento do Projeto de Extensão O desenvolvimento do Projeto de Extensão Comunitária de Apoio Escolar às crianças com dificuldade de aprendizagem, aqui apresentado, embasa-se nas concepções de Philippe Meirieu (1998, 2002, 2005 e 2006) sobre os conhecimentos docentes e sua formação auto reflexiva. Pioneiro no curso de Pedagogia da Universidade Paulista, tal projeto vem sendo desenvolvido, nas dependências do campus de Araraquara-SP, desde o ano de 2009 e atende

23546 às crianças semanalmente, aos sábados, das 9h00 às 11h00, no Laboratório de Pedagogia, levadas por uma pessoa de sua família. Segundo as mães e as professoras, elas apresentam dificuldades na leitura e escrita e problemas de comportamento, tais como agressividade e indisciplina ou timidez, resistência, falta de iniciativa, insegurança e auto estima rebaixada. No processo de acompanhamento e intervenção, os recursos pedagógicos adotados são diversificados e diferenciados daqueles utilizados nas aulas regulares da escola, na tentativa de estimular o interesse e o envolvimento da criança e levá-la a se sentir sujeito da construção do conhecimento. São apresentados jogos, brincadeiras, músicas e instrumentos musicais (bandinha), almejando aprendizagem que tenham significado e aplicabilidade em outras situações da vida das crianças. Utiliza-se, também, atividades de jogos educativos no ambiente do laboratório de informática da universidade. Alguns jogos são confeccionados pelos acadêmicos nas aulas práticas de metodologias de ensino. A respeito da pedagogia diferenciada, Meirieu (1998) recorre à ideia de que nem todos aprendem ao mesmo ritmo, de acordo com os mesmos padrões, assimilando da mesma forma, com a mesma facilidade. Por isso, é necessário estabelecer caminhos e alternativas para cada conjunto de alunos. Não se pode fechar cada um na sua própria estratégia de aprendizagem; devem ser abertas perspectivas e a aprendizagem deve abrir caminhos para a metacognição. O saber não é a soma de técnicas, mas sim o aprender a refletir, a esmiuçar os conteúdos, a pensar para além de. O trabalho em grupo é priorizado, valendo-se do princípio de que a prática coletiva de execução de atividades permite produções mais elaboradas e mais corretas que as exibidas individualmente. Junto ao seu igual, a criança sente-se menos intimidada e mais à vontade para manifestar seu posicionamento e suas dúvidas. Para Meirieu (2005, p. 196), este tipo de trabalho tem o objetivo de garantir a participação de todos e proporciona a verificação da coletivização das aquisições. De fato, ele permite variar os métodos, estimular a curiosidade, favorecer as discussões entre as pessoas e atingir objetivos específicos [...]. Como resultado, o que se tem observado no decorrer destes anos é que, aos poucos, as crianças vão diminuindo sua resistência às atividades e aumentando a participação nas mesmas. Em consequência da mudança de comportamento, atingem melhores resultados na aprendizagem e se mostram satisfeitas em suas realizações, com elevação da auto estima.

23547 A avaliação da criança ocorre por meio de observação de seu desempenho, englobando os aspectos cognitivo, afetivo e social. À medida que realiza suas atividades, ela vai elaborando seu portifólio, traçando o seu percurso e expressando suas realizações, transformações e evoluções, enfim, acompanhando sua evolução na aprendizagem. Os Universitários Em 2012 participaram do desenvolvimento do Projeto de Extensão Comunitária sete universitários do 2º e 3º anos, tendo um deles, do 3º ano, a função de monitor do Projeto. São orientados pela professora responsável, presente contínua e permanentemente em todas as suas ações. No que se refere aos encontros dos universitários com a professora orientadora para avaliação de suas ações e atitudes, constata-se interesse deles em se auto avaliar e conhecer a avaliação da professora, para poderem redirecionar seus trabalhos. Tal reflexão crítica objetiva relacionar teoria e prática e trabalhar a dinâmica de aprender a teoria para compreender a prática, corrigir os pontos deficientes e até descobrir novas aplicações para suas ações. A esse respeito, Meirieu (2005) considera essencial levar-se em conta orientações e análises de aquisições de uns e de outros, permitindo, assim, que cada um encontre a sua melhor maneira de trabalhar. E é sempre conveniente que o professor recontextualize regularmente o trabalho e faça um balanço dele, que realize sínteses, formalize as aquisições e indique os objetivos a serem atingidos. (p. 202). A participação dos universitários implica a realização de duas ordens de atividades. A primeira diz respeito àquelas realizadas com a professora orientadora do projeto, constituídas de elaboração do planejamento dos encontros e dos recursos didáticos; de elaboração de relatório dos encontros; de estudo de textos literários sobre metodologias de ensino; de avaliação do projeto para revisão e reformulação de ações; de avaliação final do projeto e elaboração de relatório que será entregue à coordenação da universidade. A segunda ordem de atividades refere-se àquelas realizadas diretamente com as crianças, ou seja, a aplicação de avaliação diagnóstica; a elaboração de relatório e análise preliminar dos resultados da avaliação; a elaboração de propostas de atividades, de acordo com os resultados apresentados na avaliação diagnóstica; a observação constante do

23548 desempenho da criança na realização das atividades e a elaboração de avaliações para acompanhamento dos avanços e recuos no processo ensino-aprendizagem. Reflexão sobre o projeto Como parte da reflexão sobre o desenvolvimento do projeto, procurou-se em um dos encontros realizados no final de 2012 com a professora orientadora, conhecer o nível de satisfação dos universitários em relação a sua participação. Por meio de questionário semiaberto, buscou-se saber deles, o que pensam a respeito do projeto e da contribuição do mesmo para sua formação profissional. Para isso, os sete universitários participantes, aqui chamados de A, B, C, D, E, F e G responderam a oito questões, sendo que quatro delas, foco deste trabalho, estão aqui apresentadas. Na primeira questão, foi solicitado que os universitários descrevessem o motivo que os levou a querer participar do Projeto. De forma geral, a resposta deles mostra que consideram ser uma oportunidade de experiência, na qual podem aprender a ser bom professor, adquirindo novos conhecimentos. A resposta dos universitários: Universitário A: Um dos motivos foi o fato de estar me aperfeiçoando para o futuro professor que desejo me tornar e adquirir no dia a dia a prática fundamentada numa teoria sólida. Universitário D: Eu pensei em conhecer realmente a prática docente e aprimorar as atitudes com os alunos. Saber ser uma boa pedagoga. Universitário G: Além de querer ver de perto como que é trabalhar, ser professora de crianças com dificuldade na aprendizagem, foi a curiosidade, a vontade de saber mais, de me aprofundar no assunto. E saber ao certo como se deve trabalhar com elas, quais os materiais que devem ser usados, quais as atitudes que devo tomar com cada uma e ter certeza do que posso fazer futuramente com a minha sala. A segunda questão refere-se à expectativa dos universitários em relação ao desenvolvimento do projeto. Buscou-se saber se durante os encontros em que participaram, eles encontraram os conhecimentos considerados importantes para sua formação profissional. A unanimidade na resposta positiva desta questão indica a satisfação das expectativas dos universitários em relação às propostas do projeto. A resposta dos universitários:

23549 Universitário C: Sim, pois estou interagindo melhor com as crianças, Sim, aos poucos vou modificando atitudes e postura para interagir melhor com as crianças e aprendendo a trabalhar em grupo que, no meu entender, o essencial para o andamento do projeto. Universitário B: Sim, pois ao interagir melhor com as crianças, aos poucos estou deixando a timidez, e também estou sabendo lidar com as necessidades e os desafios propostos. Universitário F: Com certeza corresponde. Pude ao longo do tempo, me deparar com situações problemas que me proporcionaram um grande amadurecimento para no futuro poder exercer a profissão de pedagogo. A terceira questões quis saber dos universitários qual aspecto do Projeto consideram mais importante na formação docente. Constatou-se que a relação com as crianças é o aspecto considerado mais importante na opinião de cinco deles. A resposta dos universitários: Universitário D: Sim, Ajudou na interação e mediação, professor e aluno. Universitário E: O contato direto com alunos com dificuldade em aprendizagem. Universitário G: Na interação com as crianças porque com a ajuda do projeto eu saberei trabalhar com elas, entender mais quando o professor falar sobre comportamentos em sala de aula etc. E também sei que o que aprendo não vou usar só com crianças com dificuldades, mas também para conhecimento e fortalecimento das outras crianças. E, finalmente na oitava e última questão, intencionou-se saber se os universitários tinham interesse em continuar participando do Projeto e todos, sem exceção, confirmaram o desejo de dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos. A resposta dos universitários: Universitário C: Sim, pois tenho uma sede imensa de adquirir todos os conhecimentos para que possa ser boa profissional. Universitário E: Sim, pois o projeto tem trazido experiência com problematização que pouco se observa na escola. Universitário G: Claro que sim, porque eu sei que é uma oportunidade que jamais poderia ter, e que tudo o que aprendo, levarei comigo e passarei à diante. A minha maior alegria é ver um sorriso, sentir um abraço, ouvir um obrigado ou algo que demostre que valeu a pena naquela manhã e não tem coisa melhor no mundo! Portanto, o que se pode reter das respostas dos universitários é que consideram importante o Projeto de Extensão Comunitária para sua formação profissional. Afirmam que o mesmo lhes tem ampliado os conhecimentos para que se tornem bons professores.

23550 Apontam o relacionamento com as crianças como aspecto mais importante para seus saberes e, em discussões e reflexões com a professora orientadora, dizem-se preocupados quanto às intervenções pedagógicas e afetivas que deverão adotar para ajudar seus alunos quando forem trabalhar na escola e surgirem problemas de aprendizagem ou de comportamento. Acreditam que tais conhecimentos lhes trarão mais segurança para lidar com os alunos quando, por exemplo, na sala de aula, estes se encontrarem em desentendimentos ou lhes fizerem certos questionamentos. Em relação à preocupação dos universitários, Meirieu (2002) defende que para cumprir seu projeto de educar, o professor não pode dispensar as emoções em suas ações e suas principais virtudes devem ser a indignação e a inquietude. Enfatiza a solicitude pedagógica que, segundo o autor, é a verdadeira expressão da preocupação consigo e com o outro. Ela se insere em um fundo de inquietude, beira o tormento, manifesta-se pela preocupação assumida pelo futuro do outro tanto quanto pela vontade de estimulá-lo a agir ele mesmo, a se pôr em movimento e a decidir sua própria trajetória. ( p. 70). Vale ressaltar que é observado cuidado especial dos universitários no trato com as crianças durante os encontros, o que os leva ao bom relacionamento com elas. Orientados, tentam manter um clima de disciplina e organização para trabalhar na sala. No aspecto afetivo, incentivam-nas, conversando, questionando, elogiando ou advertindo de maneira encorajadora, atentos às diferenças de nível de desenvolvimento e de temperamento e à adequação do momento, para não atingir negativamente a autoestima da criança. Em contrapartida, as crianças manifestam carinho por eles, parecem gostar muito deles. Considerações finais Considera-se que a participação dos universitários no desenvolvimento do Projeto de Extensão Comunitária de Apoio Escolar às crianças com dificuldades de aprendizagem tem lhes trazido importantes aquisições cognitiva, afetiva e conhecimentos práticos, o que pode explicar a manifestação de contentamento e de desejo de dar continuidade aos trabalhos realizados. Apesar de, em certos momentos mostrarem-se inseguros e angustiados por não terem certeza se suas ações são adequadas para ajudar as crianças, o que é plenamente compreensível, considera-se positivo o fato de se mostrarem empenhados e perceptivos às

23551 ações desenvolvidas, receptivos às observações e orientações da professora responsável pelo projeto. Logicamente, somente a formação sólida e consistente, baseada em conhecimentos teórico, prático, científico e técnico, os tornarão aptos a compreender melhor as crianças e suas dificuldades, atingindo condições de intervir eficientemente. REFERÊNCIAS CRUZ, S. A. B. Aprender pela escola à luz de Meirieu: experiência de formação de professores em meio à sala de aula. 2011. 248m f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2011. CRUZ, S. A. B. O professor diante das dificuldades de aprendizagem dos seus alunos: concepções e intervenções. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2003. FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS. Plano Nacional de Extensão (1999-2001). Brasília. SESU/MEC,1999. MELLO, G. N. Formação inicial de professores para a educação básica: uma (re)visão radical. In Revista Iberoamericana de Educación, Madrid / Buenos Aires, nº 25, 2001, pp. 147-174. MEIRIEU, P. Carta a um jovem professor. Porto Alegre: Artmed, 2006. MEIRIEU, P. O quotidiano da escola e da sala de aula. Porto Alegre: Artmed, 2005. MEIRIEU, P. A Pedagogia entre o Dizer e o Fazer. Porto Alegre: Artmed, 2002. MEIRIEU, P. Aprender sim,...mas como? Porto Alegre: Artmed, 1998. SILVA, Oberdan Dias da. O que é extensão universitária? (1996) <Disponível em http://www.ecientificocultural.com/ecc2/artigos/oberdan9.html > acesso em 01set, 2008.