Atividade ocupacional e dor no ombro: uma revisão da literatura dos fatores associados

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Transcrição:

Ingrid Paula Gomes Ribeiro Borges Atividade ocupacional e dor no ombro: uma revisão da literatura dos fatores associados Belo Horizonte Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG 2012

Ingrid Paula Gomes Ribeiro Borges Atividade ocupacional e dor no ombro: uma revisão da literatura dos fatores associados Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Ortopedia. Orientadora: Profª. Dra. Lygia Paccini Lustosa Co-orientadora: Maria Luisa Vieira Carvalho Belo Horizonte Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG 2012

Resumo O presente estudo apresenta os resultados de uma revisão da literatura dos fatores associados à dor no ombro e à atividade ocupacional. As publicações foram pesquisadas nos sites do Medline, Lilacs, PEDro e Scielo, os descritores utilizados foram distúrbio músculo-esquelético, dor, ombro, trabalho, saúde do trabalhador e seus similares em inglês, utilizados de forma associada. Após seleção dos artigos de acordo com os tipos estudos, publicado em inglês, português, que faziam referência às atividades laborais e dor no ombro, sem distinção de faixa etária ou gênero. Encontrou-se associação positiva entre a dor no ombro e a atividade ocupacional. Algumas variáveis como carga horária, postura adotada, atividade realizada, afastamento e retorno ao trabalho, ocorrência e recorrência de sintomatologia foram apontadas e discutidas como contribuintes para o aparecimento e agravamento da sintomatologia. Existe limitação em relação a esta revisão, devido à heterogeneidade dos artigos quanto à avaliação da exposição, ao tipo de diagnóstico, à metodologia utilizada na condução das pesquisas, e aos meios para avaliação da dor. Palavras-chave: distúrbio músculo esquelético, dor, ombro e saúde do trabalhador.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 5 2 METODOLOGIA.... 6 3 REVISÃO DE LITERATURA... 7 5 CONCLUSÃO... 9 REFERÊNCIAS... 10 ANEXOS... 13

1 INTRODUÇÃO As doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) também conhecidas como lesão por esforço repetitivo (LER) consistem em afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos nervos, fáscia e ligamentos, de forma isolada ou associada, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo, principalmente os membros superiores 1. No Brasil, a partir dos anos 80, as sintomatologias ocupacionais começaram a ser destacadas, tornando um problema de saúde pública 2. Assim, o trabalho, pode acometer o aparelho locomotor durante a execução de atividades diárias, podendo ser considerado um evento traumático que, desencadeia sofrimento físico ou afetivo, gera dor e incapacidade funcional para o trabalhador 3. Neste contexto, existem interações multifatoriais para os sintomas osteomusculares como os fatores da própria biomecânica do indivíduo, biomecânica da atividade e fatores biopsicossociais 4. Do ponto de vista da biomecânica da atividade, fatores como levantamento de cargas, frequência e intensidade de execução das tarefas, repetitividade, uso excessivo de força, vibrações e, compressões mecânicas estão associados com posturas inadequadas e conseqüentemente lesões 5. Por outro lado, em busca de uma alta produtividade, o avanço técnicocientífico permitiu a criação de um trabalhador máquina, automático e especializado. Esta condição exige a realização de movimentos corporais intensos e inadequados durante o trabalho, com conseqüente aumento do risco de desordens neuro-musculo-esqueléticas 6. Além disto, fatores biopsicossociais como um trabalho monótono, percepção elevada de carga de trabalho, alta jornada e pressão de carga horária também estão relacionadas com sintomas álgicos. Um agravante é o baixo controle sobre o trabalho, a falta de apoio social dos colegas e o estresse percebido 7. Vale ressaltar que fatores individuais também podem contribuir para o aparecimento ou agravamento dos sintomas. Neste caso, são dependentes das estruturas articulares, ósseas, musculares, nervosas e ligamentares de cada segmento corporal. O ombro é um dos complexos articulares envolvidos nas queixas ocupacionais 8. Geralmente, síndromes dolorosas do ombro estão associadas com tendinite dos músculos do manguito rotador, bursite subacromial

e tenossinovite explicitada e embasada na síndrome do impacto, descrita por Neer 8,9. No caso das doenças ocupacionais, o trabalhador que apresentar sintomas como parestesia, dor, limitação de movimento ou incapacidade laboral será diagnosticado como LER/ DORT. Este diagnóstico muitas vezes contribui para a instauração de um processo de fadiga muscular e mental 10. Assim, o objetivo deste trabalho foi verificar a relação entre a atividade ocupacional e a presença de dor no ombro, por meio de uma revisão da literatura e, analisar as variáveis associadas a esta dor. 2 METODOLOGIA As bases de dados pesquisadas foram Medline, Lilacs, PEDro, Scielo. Os descritores utilizados foram distúrbio músculo esquelético, dor, ombro, trabalho, saúde do trabalhador e seus similares em inglês, utilizados de forma associada. Os critérios de inclusão foram artigos publicados no período de 1980 a 2012; nos idiomas inglês e português; que estavam disponíveis na rede; estudos epidemiológicos, transversal, longitudinal, experimental ou quasi-experimental; que referiam-se às atividades laborais sem distinção de faixa etária ou gênero. Aqueles que não se encaixaram nestes critérios foram automaticamente excluídos. Inicialmente a seleção foi pela leitura dos títulos. Em seguida, pela leitura dos resumos. Os textos potencialmentes relevantes foram recuperados para leitura e avaliação final. As variáveis que mais relacionaram a dor no ombro com as atividades ocupacionais foram o tipo de atividade ocupacional, carga horária, postura adotada, número de pausas, repercussões funcionais, afastamento e retorno ao trabalho, ocorrência e recorrência de sintomatologia. Doze artigos foram selecionados para a discussão e são apresentados Tabela 1. 3 DISCUSSÃO O complexo articular do ombro é queixa freqüente de dor em esportistas e em não atletas. Além disso, as dores podem estar associadas às condições de trabalho. Assim, esta revisão da literatura teve como objetivo verificar a relação entre a atividade ocupacional e a presença de dor no ombro, analisando as

variáveis associadas a esta dor. Os resultados demonstraram que existe associação entre atividades ocupacionais e a dor no ombro e que, algumas variáveis como carga horária, postura adotada, atividade realizada, afastamento e retorno ao trabalho, ocorrência e recorrência de sintomatologia podem contribuir para o aparecimento e agravamento da sintomatologia. Trelha e colaboradores (2004) avaliaram a carga horária de trabalho, anos trabalhados e ausências no trabalho, além das repercussões funcionais em 45 músicos. Os autores encontraram uma alta prevalência de dor, principalmente dos que utilizavam instrumentos de corda, sendo que 77,8% relataram sintomas musculoesqueléticos, principalmente na região de coluna e ombros. Os autores discutiram a possibilidade da influencia da postura de trabalho, assim como a repetitividade do gesto 11. Da mesma forma, Frost et al. (1999) compararam trabalhadores que permaneciam com o ombro acima de 30 de flexão, durante a metade da jornada de trabalho com aqueles que não eram submetidos a esta postura de flexão para exercer a função laboral e, comprovaram que aqueles que utilizaram da flexão tinham maior risco de dor 12, o que reforça a influencia da postura de trabalho na ocorrência de dor. Ainda neste contexto, Ludewing et al. (2003) demonstraram a influência da postura e sobrecarga de trabalho para apareciemto da dor, mas uma resposta positiva na funcionalidade do membro superior após intervenção com orientações preventivas 13. Por outro lado, um estudo que analisou operários da construção civil (pedreiro, perfuradores e engenheiros) verificou que aqueles que eram submetidos ao maior tempo de vibração, apresentavam maior risco de desenvolver lesão. Além disto, os autores demonstraram que fatores como quantidade de peso carregado durante o trabalho, anos e tempo de jornada de trabalho poderiam aumentar o risco de sintomas 14. Em acordo com estes autores, Fredriksson et al. (2002) avaliaram a relação da exposição do trabalhador ao ambiente de trabalho e demonstraram associação da dor com a vibração e o carregar peso, além de uma prevalência de 31% de tendinite em homens e 43% em mulheres 15. Uma coorte realizada por Fredriksson et al. (1999) demonstrou fortes correlações entre sintomas no ombro e quantidade de horas-extras realizadas, na população de mulheres e, entre períodos de repouso insatisfatórios e dor no ombro, entre os homens 16. Quando avaliado trabalhadores assintomáticos

comparados com aqueles expostos a movimentos repetitivos observou-se uma maior prevalência de tendinite do manguito rotador nos operários submetidos à repetitividade 17. Miranda et al. (2001), após uma coorte, observaram incidência anual de 14% de dor na região do ombro e, o avançar da idade, o aumentado do esforço no trabalho e aqueles com maior estresse mental apresentaram maior risco de desenvolver a dor no ombro 18. Por outro lado, quando comparado funções de trabalho, houve maior prevalência de dor no ombro em trabalhadores que exerceram atividades de carga como empurrar e puxar objetos pesados 19. Em relação à associação de outras variáveis que poderiam influenciar na ocorrência de sintomas osteomusculares, Carvalho et al. (2006) verificaram influencia da ausência de filhos e do tempo de atuação profissional menor ou igual há 15 anos em professores do ensino fundamental 20. Enquanto que, Carneiro et al. (2007) demonstraram associação da dor com jornada de trabalho, estado nutricional e nível de atividade física, além do alto percentual de queixa de dor em motoristas e cobradores 21. De acordo com, a avaliação das condições ergonômicas de analistas de sistemas, observou-se uma grande influência da demanda mental, do mobiliário inadequado e, da adoção de posturas incorretas 22. Neste contexto, a flexão anterior e antero-lateral de tronco, posturas de agachamento e, movimentos de extensão repetida apresentaram maior risco de lesão 23. Apesar desta revisão da literatura mostrar que existe uma alta ocorrência e prevalência de dor associada a diversas funções ocupacionais e a fatores diversificados, algumas considerações devem ser apontadas. Na análise da metodologia, assim como das funções de trabalho e os fatores influenciadores houve uma variabilidade muito grande entre os estudos, não permitindo que os mesmos fossem comparados. Da mesma forma, houve diferenças entre os critérios de avaliação para o diagnóstico de lesão, sintomatologia do ombro, coerência quanto à região afetada, o que também dificulta a comparação e conclusões acerca do tema. Além disto, fatores como carga horária, postura adotada, exposição à carga física e mental, número de pausas, anos acumulados na mesma atividade, repercussões funcionais, afastamento e retorno ao trabalho, ocorrência e recorrência de sintomatologia, entre outras, apresentam maior influencia em determinadas profissões que não são comparáveis. Assim, novos

estudos devem ser realizados, procurando estudar de forma isolada profissões com características comuns. 4 CONCLUSÃO Os resultados demonstraram que existe associação entre atividades ocupacionais e a dor no ombro e que, algumas variáveis como carga horária, postura adotada, atividade realizada, afastamento e retorno ao trabalho, ocorrência e recorrência de sintomatologia podem contribuir para o aparecimento e agravamento da sintomatologia.

REFERÊNCIAS 1. CODO, W. et al. Lesões por esforço repetitivos. 4ed. São Paulo: Vozes, 1998. 2. MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Representação no Brasil da OPAS/OMS. Doenças Relacionadas ao Trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, 2001. 3. WINT, D. et al. State-of-the-art research perspectives on musculoskeletal disorder causation and control: the need for an intergraded understanding of risk. Journal of Electromyografy Kinesiology v. 14, p. 1-5, 2004. 4. BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, 2001. 5. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Estatísticas de acidente do trabalho. Disponível em <http://www.mpas.gov.br/conteudodinamico.php?id=423>. Acesso em 29 de abril de 2012. 6. MENDES, J. Seminário Estadual sobre Ler/ Dort: conflitos e novas perspectivas: um balanço do evento. Porto Alegre. Boletim de Saúde, v. 19, n.1, Jan/Jun 2005 Disponível em: http://www.esp.rs.gov.br/img2/v19%20n1_03seminarioestadual.pdf. Acesso em 07 de abril de 2012. 7. BONGERS, M. et al. Psychosocial factors at work and musculoskeletal disease. Scandinavian Journal of Work Environment Health, v.19, n.5, p. 297-312, 1993. 8.MAGEE, D.J. AVALIAÇÃO MUSCULOESQUELÉTICA. 5ª Ed. São Paulo: Manole, p. 211, 2010. 9. NEER CS. Anterior acromioplasty for the chronic impingement syndrome in the shoulder: a preliminary report. Journal of Bone and Joint Surgery, v. 54, p. 41-50, 1972. 10. L.E.R. LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS. Normas técnicas para avaliação da incapacidade. Brasília: INSS/CGSP; 1991.

11. TRELHA, C. et al. Arte e Saúde: frequência de sintomas musculoesqueléticos em músicos da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina. Seminário de Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 25, p. 65-72, jan./dez. 2004. 12. FROST, P. et al. Shoulder impingement syndrome in relation to shoulder intensive work. Occupational Environmental Medical. v. 56, p. 494-498, 1999. Disponível em < http://oem.highwire.org/content/56/7/494.full.pdf> Acesso em: 07 Abril 2012. 13. LUDEWIG, P. et al. Effects of a home exercise program on shoulder pain and functional status in construction workers. Occupational Environmental Medical, v. 60, p. 841-849, 2003. 14.STENLUND, B. et al. Shoulder tendinitis and its relation to heavy manual work and exposure to vibration. Scandinavian Journal of Work Environment Health, v. 19, 1993. 15. FREDRIKSSON, K. et al. Work environment and neck and shoulder pain: the influence of exposure time. Results from a population based case-control study. Occupational Environmental Medical, v. 59, p. 182-188, 2002. 16. FREDRIKSSON, K. et al. Risk factors for neck and upper limb disorders: results from 24 years of follow-up. Occupational Environmental Medical, v. 56, p. 59-66, 1999. 17. KAERGAARD, A. et al. Musculoskeletal disorders of the neck and shoulders in female sewing machine operators: prevalence, incidence, and prognosis. Occupational Environmental Medical, v. 57, p. 528-534, 2000. 18. MIRANDA, H. et al. A prospective study of work related factors and physical exercise as predictors of shoulder pain. Occupational Environmental Medical, v. 58, p. 528-534, 2001. 19. HOOZEMANS, M. et al. Low-back and shoulder complaints among workers with pushing and pulling tasks. Scandinavian Journal of Work Environment Health, v. 28, p. 293-303, 2002. 20.CARVALHO, P. et al. Sintomas osteomusculares em professores do ensino fundamental. Revista Brasileira Fisioterapia, v. 10, n. 1, p. 35-41, 2006.

21. CARNEIRO, R. et al. Sintomas de distúrbios osteomusculares em motoristas e cobradores de ônibus. Revista Brasileira Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 9, n.3, p.277-283, 2007. 22. GUIMARÃES, B. et al. Análise da carga de trabalho de analistas de sistemas e dos distúrbios osteomusculares. Fisioterapia em Movimento, v. 24, n. 1, p. 115-124, jan./mar, 2011. 23.OLIVEIRA, A. et al. Riscos biomecânicos posturais em trabalhadores de uma serraria. Fisioterapia e Pesquisa, v.16, n.1, p.28-33, jan./mar, 2009.

TABELA 1. Autor, ano, desenho metodológico, variáveis analisadas e resultados encontrados nos artigos selecionados. Autor, ano Desenho N Ocupações Variáveis avaliadas Resultados Stenlund, 1993 Transversal 207 Construção Civil - Exposição à carga - Dor - Tipo de trabalho Presença de tendinite do ombro em 8% dos encarregados, 15% dos pedreiros e 40% dos perfuradores. Frost, 1999 Transversal 1141 Trabalhadores de abatedouro - Dor - Anos trabalhados - Intensidade das tarefas - Idade A função do ombro mostrouse diminuída entre os participantes com longa duração de sintomatologia. A prevalência da síndrome do impacto variou de forma crescente para extrabalhadores e com exposição cumulativa de anos trabalhados. Fredriksson, 1999 Coorte 484 Funcionários administrativos - Carga mental - Dor Presença de sintomatologia esteve associada à recorrência de distúrbio. - Horas extras de trabalho - Tempo de lazer - Riscos relacionados ao trabalho Houve relação entre horas extras de trabalho, alta carga mental e tempo de lazer insatisfatório na presença de dor no ombro para as mulheres. Para os homens a associação de dor foi com o trabalho administrativo, alta carga mental e trabalho doméstico. Kaergaard, 2000 Coorte 243 Costureiras - Dor - Tempo de trabalho - Faltas no trabalho Nas operadoras com mais de 20 anos de trabalho, 15% apresentava associação à tendinite do manguito rotador. Houve correlação de prevalência de síndrome do manguito rotador com alta freqüência e duração curta do trabalho.

Miranda, 2001 Andersen, 2002 Ludewing, 2003 Trelha, 2004 Coorte 3312 Empresa Florestal - Dor Transversal 3123 Funcionários administrativos Ensaio clínico - Idade - Índice de massa corporal - Estresse mental - Riscos relacionados ao trabalho - Outras atividades realizadas - Estresse - Repetitividade - Fatores físicos 67 Construção Civil - Funcionalidade dos MMSS - Idade Transversal 45 Músicos - Dor - Peso e altura - Anos de trabalho - Gênero - Horas, anos e faltas no trabalho - Inaptidão funcional Dentro de um ano de atividade, 15% dos funcionários apresentaram dor no ombro. A incidência de dor no ombro é agravada com aumento da idade, índice de massa corporal, estresse mental e trabalho fisicamente cansativo. Trabalhar com o ombro acima da cabeça, movimento de torção do tronco, rotação de pescoço ou na postura sentado agravou o risco de incidência de dor no ombro. A dança aumentou ligeiramente o risco de dor no ombro. Houve associação significativa para estresse aumentado, fatores físicos e repetitividade. Houve melhora estatisticamente significativa nos indivíduos que fizeram parte do grupo de exercícios domiciliares. 48,9% apresentaram dor relacionada à profissão nos últimos 12 meses. A inaptidão foi: dificuldade em cortar as unhas, pentear os cabelos, pegar objeto, serviço doméstico e atividades de lazer. Carvalho, 2006 Caso controle 212 Professores - Dor - Realização de tarefas - Consulta a profissional 58% apresentavam dor no ombro, 10,8% relataram dificuldade em realizar tarefas e 15,9% consultaram algum profissional.

Carneiro, 2007 Transversal 79 Trabalhadores de transporte - Dor - Horas trabalhadas, ausência - Consulta a profissional 32,5% dos cobradores e 33% dos motoristas apresentaram dor no ombro. Os motoristas trabalhavam cerca de 7-15 horas por dia, 21,8% deles consultaram algum profissional e 26,6% faltaram ao trabalho. Os cobradores trabalhavam de 6-12 horas por dia, 23,5% consultaram algum profissional e 33,3% relataram faltas. Oliveira, 2009 Transversal 15 Trabalhadores de uma Serraria - Análise ambiental - Posturas assumidas nas funções 26,8% apresentaram dor nos ombros associada às posturas de risco biomecânico. Guimarães, 2011 Transversal 45 Analistas de sistemas - Observação ergonômica - Avaliação da carga mental de trabalho 55% dos homens e 74% das mulheres relataram dor associada à posição ruim do teclado e mouse. Dor foi agravada pela demanda mental em 67,95%.