INCIDÊNCIA DE DOR EM TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM SANTA MARIA, RIO GRANDE DO SUL 1
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- Liliana Tavares de Almada
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1 INCIDÊNCIA DE DOR EM TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM SANTA MARIA, RIO GRANDE DO SUL 1 Nascimento, Eduardo Silva do²; Ribeiro, Felipe Brum²; SILVA JÚNIOR, Gerson Ribeiro da²; Ruviaro, Luiz Fernando²; Braz, Melissa Medeiros³ 1 Trabalho de Pesquisa _UNIFRA 2 Acadêmicos do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Professora do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. Grupo de Pesquisa Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas à Fisioterapia. gersonribeiro.jr@hotmail.com RESUMO Os trabalhadores da construção civil estão continuamente expostos à presença de dores musculares, em decorrência da grande demanda de trabalho e do estresse imposto por ela. Desta forma, este trabalho visou investigar a incidência de dores em trabalhadores da construção civil em Santa Maria, RS. A amostra foi constituída de dez trabalhadores do gênero masculino, com idades variando entre 20 a 45 anos, oriundos de uma empresa privada da construção civil. A coleta de dados foi desenvolvida através de entrevista individual realizada com operários nos canteiros de obras, no período de junho de Observou-se que 80% dos entrevistados referiram apresentar dor na coluna lombar, 20% nos ombros, 20% na pelve, 50% nos punhos e 20% não referiu dor. Sendo assim, a orientação desses trabalhadores é de suma importância a fim de que se evite tais distúrbios. Palavras-chave: Dor; Construção civil; Fisioterapia. 1. INTRODUÇÃO Os trabalhadores da construção civil estão continuamente expostos à presença de dores musculares, em decorrência da grande demanda de trabalho e do estresse imposto por ela. A indústria da construção civil é estressante por natureza: os trabalhadores atuam ao ar livre, sujeitos a mudanças climáticas freqüentemente, expostos a riscos ergonômicos devido a uma má orientação com relação à postura que deve ser adotada durante a jornada de trabalho. Além disso, é exigido um grande esforço físico por parte dos operários devido, 1
2 muitas vezes, à falta de equipamentos apropriados, com uma sobrecarga de trabalho devido aos prazos muitas vezes reduzidos para o término da obra. Segundo Smallwood e Ehrlich apud Costa (2002), as causas do estresse na construção podem ser classificadas de acordo com nove categorias: ambiente físico do trabalho; a organização em si; a forma na qual a organização é gerenciada; a função individual dentro da organização; relações dentro da organização; desenvolvimento da carreira; relacionamentos pessoais e sociais; equipamento; as ansiedades do indivíduo. Segundo Morais e Veronesi (2006), a falta de conhecimento sobre as dinâmicas posturais adequadas ocasiona uma adoção de posturas inadequadas por parte dos trabalhadores, o que leva à realização de movimentos repetitivos inadequados e estafantes. Isso ocasiona dores e alterações posturais que diminuem a eficiência e a capacidade para o trabalho. A incidência destas dores provém em grande parte de alterações na coluna lombar devido a um desgaste ocasionado por uma grande demanda de exigência da musculatura desta região causada por posturas inadequadas. As perturbações de coluna são consideradas um dos grandes motivos de afastamento prolongado do trabalhador do seu ambiente de trabalho e de padecimento humano, pois normalmente ocasionam dores fortes e muitas vezes incapacitantes (COUTO; 1995). Esse afastamento é prejudicial ao trabalhador, pois em sua grande maioria trata-se de pessoas de baixa renda, que trazem nessa renda o único meio de sustento de toda a família. A difícil situação econômica somada à tristeza pela incompreensão de amigos e parentes, ao temor, e ao constrangimento ao terem que enfrentar as perícias médicas fazem com que se aprofundem os estados de ansiedade e de depressão (HOEFEL et. al.; 2004). Desta forma, este trabalho visa investigar: qual a incidência de dores em trabalhadores da construção civil em Santa Maria, Rio Grande do Sul? 2. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo teve abordagem quantitativa, sendo caracterizado como do tipo descritivo. Foi realizado em uma empresa da construção civil em Santa Maria, Rio Grande do Sul. 2
3 A população constou de trabalhadores da construção civil de Santa Maria. A amostra foi constituída de dez trabalhadores da construção civil, sendo todos do gênero masculino, com idades variando entre 20 a 45 anos, oriundos de uma empresa privada da construção civil. Estes atenderam aos seguintes critérios de inclusão: atuar na mesma função, no mínimo, há um ano; aceitar participar da pesquisa, após ter recebido as informações sobre a mesma, assinando termo de consentimento; não estar fazendo tratamento de fisioterapia; não praticar atividade física que cause desgaste excessivo fora do trabalho. A coleta de dados foi desenvolvida através de entrevista individual realizada com operários nos canteiros de obras, no período de junho de As questões constituintes da entrevista eram relacionadas com carga horária, instrumentos utilizados, métodos de trabalho, presença e localização de dores. A pesquisa foi realizada com duas visitas semanais, durante duas semanas, no intervalo de almoço dos trabalhadores da construção civil. O procedimento seguiu as seguintes etapas: primeiramente o projeto foi encaminhado ao engenheiro da empresa para aquisição de consentimento. Após a aquisição do consentimento, os operários foram abordados aleatoriamente e convidados a participar como sujeitos. Foram dados os devidos esclarecimentos aos operários e, então, fornecido o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para assinatura. Após a assinatura do TCLE, foi aplicado o instrumento de coleta de dados, e colhidas as informações sobre os trabalhadores. Após a coleta de dados foi elaborada uma cartilha com os métodos de prática. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 10 trabalhadores da construção civil do gênero masculino, com idades variando entre 25 e 51 anos (média de idade de 38,7 anos). Quanto às características do trabalho a amostra foi constituída de trabalhadores com tempo de experiência de 3 a 30 anos de serviço (sendo a média de 17,6 anos de trabalho nestas funções), com uma carga horário de 8 horas diárias de trabalho em média e 5 dias de trabalho semanais. 3
4 Sujeitos 3.1 Incidência de dor Observou-se que 80% dos entrevistados referiram apresentar dor. O gráfico 1 apresenta a distribuição da dor nos entrevistados, ressaltando-se que cada entrevistado poderia referir mais de um local de dor. Queixas de dor em trabalhadores de construção civil coluna lombar ombro pelve punho sem dor Gráfico 1 Queixas de dor em trabalhadores de construção civil. Observa-se que 80% dos pesquisados referiu dor na coluna lombar, 20% nos ombros, 20% na pelve, 50% nos punhos e 20% não referiu dor. Os locais referidos de dor variaram entre os trabalhadores de uma mesma construção, devido ao fato de que cada função é exercida utilizando uma postura e materiais diferentes. Em pedreiros a maior incidência de dor ocorreu na região lombar (100% dos entrevistados), possivelmente pelo fato destes trabalhadores utilizarem de forma inadequada essa musculatura no levantamento de carga. O levantamento de cargas bem como a flexão e a rotação do tronco e os movimentos forçados feitos durante a realização do trabalho constituem-se em risco para lombalgias (PUNNETT et al. apud VIEIRA, KUMAR, 2004). Nos azulejistas as dores concentram-se nas regiões do punho (50% dos entrevistados), lombar e quadril, devido ao fato de que esses profissionais utilizam uma postura de agachamento durante toda a jornada de trabalho. Nos trabalhadores que fazem o acabamento da obra, as dores apresentam-se na região dos membros superiores (50%dos entrevistados), sendo que a articulação do ombro é a mais afetada, devido ao fato de que esses trabalhadores utilizam com grande mobilidade 4
5 os membros superiores, e trabalham na maior parte do tempo com o ombro em flexão maior do que 90. Segundo Chaffin, Anderson e Martin (2001), o uso de um posicionamento dos membros superiores acima dos ombros é considerado prejudicial devido a alguns fatores, dentre eles os principais são a redução da irrigação sanguínea na musculatura do membro superior e a solicitação biomecânica das estruturas envolvidas em tal postura. O trabalho com a elevação dos braços acima da linha dos ombros, especialmente sustentando uma carga, deve ser minimizado para evitar fadiga muscular associada a tendinites (CHAFFIN, ANDERSON e MARTIN, 2001). Os mesmos autores afirmam que ao utilizar essa postura, onde os membros se encontram em flexão ou abdução superior a 90, os trabalhadores ocasionam um estresse das estruturas articulares, tais como cápsula, ligamentos e musculatura do ombro e braço. O desenvolvimento das lesões do ombro, assim como de outros distúrbios ósteomusculares relacionados ao trabalho, pode ter origem em muitas causas, como: postura incorreta, sobrecarga na musculatura e articulações (BRASIL, 2001). Foi constatado que dos trabalhadores entrevistados, 60% faziam uso de algum medicamento para o alívio da dor regularmente. O gráfico 2 apresenta a incidência do uso de medicamentos pelos trabalhadores da construção civil. Uso de medicação entre os trabalhadores da construção civil 40% 60% não sim Gráfico 2 Uso de medicação entre os trabalhadores de construção civil A importância da Fisioterapia, dos exercícios e orientações 5
6 Exame cinético-funcional, realizado por fisioterapeutas, contribui para a prevenção e a sensível redução dos afastamentos causados por lesões ocupacionais que são a maior causa de dor nestes trabalhadores. O fisioterapeuta é cada vez mais reconhecido como um agente fundamental para prevenir e melhorar a saúde do trabalhador. A Fisioterapia do Trabalho é uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito). O campo de atuação da fisioterapia nessa área tem se expandido rapidamente, devido a programas de educação do trabalhador e de prevenção de lesões de trabalho implantados pelas empresas onde atuam os trabalhadores. É cada vez mais comum a contração de fisioterapeutas por parte das empresas privadas para a realização de testes cinético-funcionais, durante os próprios exames de admissão e periódicos dos trabalhadores, como um complemento ao exame médico. Esse teste avalia a condição de movimento que o trabalhador apresenta para o posto de trabalho específico que pleiteia ou ocupa. Compreende uma análise do sistema músculo-esquelético do profissional, que apontará eventuais limitações de função ou dor para a realização de movimentos. Quanto ao tratamento das dores nas costas, ombro, punho e quadril, o profissional com a formação necessária para tal procedimento é o fisioterapeuta. O tratamento consiste não apenas em uma avaliação postural do paciente, mas também do alívio da dor por meio de recursos físicos como manipulações, alongamentos, exercícios, massagem, calor, eletroterapia, crioterapia, biofeedback entre outros métodos próprios do exercício da profissão do fisioterapeuta, com o intuito de buscar uma melhora da dor e um melhor condicionamento e resistência da estrutura afetada. O tratamento é realizado de acordo com o tipo da dor e os fatores mecânicos que a ocasionam, e a opção de tratamento é feita por meio dos relatos do próprio paciente. Além de tratar a dor e sua causa, o profissional da fisioterapia tem uma grande importância na orientação do trabalhador quanto aos métodos e hábitos de trabalho e do cotidiano. Após o alívio da dor e das principais alterações físicas, o fisioterapeuta vai indicar as formas de condicionamento físico mais indicadas para o paciente, a fim de melhorar a sua aptidão física e assim, evitar novos episódios de dor. 4 CONCLUSÃO 6
7 A aplicação da pesquisa sobre a incidência de dor nos trabalhadores da construção civil em Santa Maria permitiu que se constatasse a grande deficiência existente na orientação de trabalhadores da construção civil, quanto aos métodos e hábitos corretos de trabalho para que se possa evitar ou ao menos reduzir a presença de dores que dificultem ainda mais o cumprimento de um trabalho que por si só já exige em demasia o esforço físico do trabalhador. Sabendo-se que estes profissionais são acometidos por dores nas articulações com maior importância funcional dentro da profissão em que atuam, a redução dos distúrbios relacionados as dores nessas articulações diminuiria a baixas e afastamentos do trabalho por lesões ocupacionais. Sendo assim, a orientação desses trabalhadores é de suma importância a fim de que se evite tais distúrbios. Dessa forma o profissional da fisioterapia possui um campo de atuação ainda pouco explorado, a inserção do profissional de fisioterapia em empresas que contratam trabalhadores para atuar na área da construção civil deveria ser maior diante a grande demanda de dores que acometem tais trabalhadores. REFERÊNCIAS CHAFFIN, F. B.; ANDERSON, G. B. J.; MARTIN, B. J. Biomecânica ocupacional. Belo Horizonte: Ergo, COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: Manual Técnico da Máquina Humana. vol. 1 e 2. Belo Horizonte: Ergo, COSTA, S. T. F. L. Critérios de Avaliação da Segurança Ocupacional em uma Empresa de Construção Civil: Um Estudo de Caso. Monografia (Especialização em Segurança do Trabalho) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, HOEFEL, M. G. et al. Uma proposta em saúde do trabalhador com portadores de LER/DORT: grupos de ação solidária. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 7, p , dez BRASIL - Ministério da Saúde, Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde, Brasília: Editora MS, 2001 MORAES, L. B. ; VERONESI, J.R. Biomecânica ocupacional de trabalhadores da construção civil e sua relação com os fatores etiológicos Disponível em < Acesso em 22 de junho de 2009 VIEIRA, E. R.; KUMAR, S. Esforço físico ocupacional e saúde musculoesquelética. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 12, Fortaleza. Anais. Fortaleza: ABERGO, CD- ROM. 7
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