Estudo epidemiológico e clínico sobre meningite em adultos no setor de emergência em São Paulo



Documentos relacionados
Informe Técnico: Vigilância das Meningites no Estado de Santa Catarina

Infecções do Sistema Nervoso Central

AIDS e envelhecimento: repercussões na saúde pública

Sessão De Pediatria. Discussão De Artigos

Meningites- Etiologia

Meningite Bacteriana

FACULDADE CATÓLICA SALESIANA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DISCIPLINA DE DOENÇAS INFECTO-PARASITÁRIAS MENINGITES. Prof. Ma. Júlia Arêas Garbois

A situação do câncer no Brasil 1

Meningites infecciosas em idosos: estudo de uma série de casos em hospital de referência*

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS MENINGITES BACTERIANAS

INCIDÊNCIA DA DOENÇA MENINGOCÓCICA, NO PERÍODO 2010 A 2014, NO ESTADO DE SÃO PAULO

Mudanças demográficas e saúde no Brasil Dados disponíveis em 2008

Avaliação da oportunidade do sistema de vigilância de doenças de notificação compulsória no Brasil no período de

Gastroenterocolite Aguda

ANÁLISE DOS INDICADORES DE ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CIRÚRGICO

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS: A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR JOSÉ GOMES, PATOS, PARAÍBA, BRASIL

Tipos de tumores cerebrais

DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS EM UM PROGRAMA DE SAÚDE PENITENCIÁRIO BAIANO.

Boletim Epidemiológico da Dengue

CONDIÇÕES CRÔNICAS DE SAÚDE EM IDOSOS SERVIDORES DE UMA UNIVERSIDADE DE NATAL/RN

INTERNAÇÕES POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS A ATENÇÃO PRIMÁRIA EM DOIS SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA DE MARINGÁ-PR

Atividade física. Sexo Capital Total n % IC 95%

Relato de Experiência: Enfrentamento do Surto de Meningite Viral em Pernambuco pelo Núcleo de Epidemiologia do Hospital Correia Picanço

Informe Técnico Sarampo nº 9 - ALERTA SARAMPO. Novos casos confirmados de sarampo (Genótipo D4), residentes no Estado de São Paulo.

INDICADORES SOCIAIS E CLÍNICOS DE IDOSOS EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO

SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVO DE NOTIFICAÇÃO. DICIONÁRIO DE DADOS - SINAN NET - Versão 4.0

Caracterização dos acidentes escorpiônicos em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2005 a 2009

HIV/AIDS, Envelhecimento e Transtornos Mentais Comuns: um estudo exploratório

Mercado de Trabalho. O idoso brasileiro no. NOTA TÉCNICA Ana Amélia Camarano* 1- Introdução

Do Epidemiological Bulletin, Vol. 22 No. 4, December 2001

FADIGA EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA EM RADIOTERAPIA CONVENCIONAL.

Boletim Epidemiológico Julho/2015

SAÍDA DO MERCADO DE TRABALHO: QUAL É A IDADE?

FLUXO PARA ACOMPANHAMENTO, ENCERRAMENTO E DIGITAÇÃO DOS CASOS DE DENGUE

Informe Técnico SARAMPO nº 5 Sarampo no Estado de São Paulo

ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR DA INDÚSTRIA - SESI/SC

A IMPORTÂNCIA DA FISIOTERAPIA NA INCLUSÃO DO IDOSO NO AMBIENTE ACADÊMICO

AIDS EM IDOSOS: PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM PERIÓDICOS ONLINE NO ÂMBITO DA SAÚDE

PCR em Tempo Real (RT-PCR) para o diagnóstico laboratorial das meningites bacterianas

Diretrizes Assistenciais

A evolução e distribuição social da doença no Brasil

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PRÁTICAS DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NO LAGO JABOTI

INCIDÊNCIA E TENDÊNCIAS DA MORTALIDADE POR CÂNCER DE PRÓSTATA NO BRASIL

INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS NO RESULTADO DA TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL

TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV E SÍFILIS: ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO E ELIMINAÇÃO

Perfil Epidemiológico da Meningite Brasil & Mundo

RELATÓRIO DA SITUAÇÃO DO ROTEIRO DE RESPOSTA AO ÉBOLA

HANSENÍASE EM IDOSOS NO BRASIL NO ANO DE 2012

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS ACIDENTES OFÍDICOS NO AMAZONAS NO PERÍODO DE 2008 A 2015.

Imagem da Semana: Radiografia de tórax

POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO

ATENÇÃO PRIMÁRIA (SAÚDE COLETIVA, PROMOÇÃO DA SAÚDE E SEMELHANTES)

A AIDS NA TERCEIRA IDADE: O CONHECIMENTO DOS IDOSOS DE UMA CASA DE APOIO NO INTERIOR DE MATO GROSSO

O CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA REALIZAÇÃO DO EXAME CLÍNICO DAS MAMAS

A doença meningocócica na região de Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008

Comparação da força da musculatura respiratória em pacientes acometidos por acidente vascular encefálico (AVE) com os esperados para a idade e sexo

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Dengue NS1 Antígeno: Uma Nova Abordagem Diagnóstica

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

3º Imagem da Semana: Ultrassonografia da Tireoide

I CURSO DE CONDUTAS MÉDICAS NAS INTERCORRÊNCIAS EM PACIENTES INTERNADOS

Caracterização dos doentes toxicodependentes observados pela equipa de Psiquiatria de Ligação - análise comparativa dos anos de 1997 e 2004

Clipping Eletrônico - Sexta-feira dia 17/07/2015

Indicadores de Segurança do Paciente Prevenção e Controle de Infecção

ESTUDO DA PREVALÊNCIA DO CÂNCER BUCAL NO HC DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ATRAVÉS DO CID 10

HIV/TB Desafios. MD Teresinha Joana Dossin Infectologista HNSC / Hospital Sanatório Partenon

INCIDÊNCIA DE TROMBOEMBOLISMO VENOSO NO PÓS-OPERATÓRIO DE PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA ORTOPÉDICA DE QUADRIL E JOELHO EM UM HOSPITAL DE GOIÂNIA.

PROTOCOLO DE ABORDAGEM E TRATAMENTO DA SEPSE GRAVE E CHOQUE SÉPTICO DAS UNIDADES DE PRONTO ATENDIMENTO (UPA)/ ISGH

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES CADASTRADOS NO SISTEMA HIPERDIA DO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA, RS

CAMPANHA DE DIABETES E HIPERTENSÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Secretaria da Área da Saúde

IDENTIFICAÇÃO DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS.

Comentários sobre os Indicadores de Morbidade e Fatores de Risco até 2006

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada, exame de líquor e EEG

IV MOSTRA ACADÊMICA DE ENFERMAGEM DA UFC

Graduada em Nutrição pela UFPE Especializanda em Saúde Coletiva e Sociedade do IBPEX/FACINTER walmafra@oi.com.br

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

IDOSO MUITO IDOSO. Medidas preventivas da Equipe do Gerenciamento do Idoso para reduzir quedas no Núcleo de Atenção à Saúde.

NOTA TÉCNICA N o 014/2012

Avaliação da linguagem na síndrome de Down: análise de protocolos desenvolvidos em extensão universitária

A FEMAMA Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (IMAMA),

DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO EM PROFISSIONAIS DA LIMPEZA

AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM DENGUE NA REDE MUNICIPAL DE SAÚDE DE DOURADOS/MS Fernanda de Brito Moreira bolsista UEMS 1

Análise da Prevalência e Epidemiologia da Catarata na População Atendida no Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal De Goiás

O IMPACTO DA DOR CRÔNICA NA VIDA DAS PESSOAS QUE ENVELHECEM

PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS

PESQUISA DIA DAS CRIANÇAS - MOSSORÓ

Secretaria Municipal de Saúde. Atualização - Dengue. Situação epidemiológica e manejo clínico

ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN

Influência da técnica de peritoneostomia na recuperação dos pacientes

Aspectos Clínicos Relevantes da infecção

PERFIL DE IDOSOS COM ALTERAÇÕES PODAIS ATENDIDOS EM UM AMBULATÓRIO DE GERIATRIA

CONCEITOS BÁSICOS EM EPIDEMIOLOGIA

O dispositivo psicanalítico ampliado e sua aplicação na clínica institucional pública de saúde mental infantojuvenil

PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA NOS ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL ADELMO SIMAS GENRO, SANTA MARIA, RS: UMA ANÁLISE DESCRITIVA PARCIAL 1

TENDÊNCIA TEMPORAL DA MORTALIDADE POR CÂNCER DE MAMA FEMININO NAS REGIÕES BRASILEIRAS

VACINAÇÃO PRÉ E PÓS-TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS ADULTO

Informe Epidemiológico EBOLA N O 14 Atualizado em , às 14h

Comentários sobre os Indicadores de Morbidade e Fatores de Risco até 2006

Vaginites na Infância: Valor do Estudo do Esfregaço Vaginal por Papanicolaou e por Gram Usando Escore de Nugent

DOR TORÁCICA: ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO Marques, C.P.¹, Rubio, L.F.², Oliveira, M.S.³, Leit e, F.M.N. 4, Machado, R.C.

Transcrição:

ARTIGO ORIGINAL Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo 2014;59(1):1-6. Estudo epidemiológico e clínico sobre meningite em adultos no setor de emergência em São Paulo Epidemiological study and clinic report of meningitis in adults in the sector of emergency in São Paulo Priscila Iamusa Siqueira Crepaldi 1, Carla Andressa Rodrigues Dias 1, Renner Lariucci 1, Rose Mary Vidal Silva 2, Jose Carlos Bruno Gianella 3, Wilson Luis Sanvito 4, Andrea Temponi Lebre 5 Resumo Objetivo: Restrita é a literatura sobre epidemiologia das meningites em adulto, por isso, o trabalho tem como objetivo analisar e comparar os dados epidemiológicos, clínicos e terapêuticos dos casos de meningite aguda atendidos no setor de emergência, com dados descritos na literatura. Visando melhores metas de tratamento e desfeche favorável para os pacientes. Método: Estudo estatístico, analítico e retrospectivo, em pacientes adultos com notificação compulsória de meningite, no período de janeiro de 1998 a julho de 2010. Resultados: Dos 161 casos, a média de idade foi de 32,7 anos, 51,6% dos casos de 10 a 29 anos; 30 a 49 anos 31,1%; entre 50 e 69 anos 13% e 70 a 89 anos 4,3%,com maior prevalência no sexo masculino com 54%. Os sintomas da admissão consistem em 80% cefaleia, 80% febre, 70% rigidez de nuca, 20% petéquias, 20% confusão mental, 10% coma e convulsão 10%. A correlação dos sintomas com a evolução: óbito ou cura/alta hospitalar constatou que a presença de cefaleia, febre e rigidez de nuca tem evolução favorável para cura/alta. Conclusão: Com base nos dados obtidos, destaca-se a importância em conhecer características epidemiológicas da meningite em um serviço de saúde com intuito de propiciar diagnóstico precoce e melhores formas de tratamento. Os dados mostram que a mortalidade da 1. Especializandos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo -Departamento de Clinica Médica 2. Enfermeira da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) 3. Chefe da Clínica Médica da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - Hospital Municipal São Luiz Gonzaga 4. Professor Titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Departamento de Clínica Médica 5. Professora Instrutora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Departamento de Clínica Médica Trabalho realizado: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Hospital São Luiz Gonzaga. Pronto Socorro Adulto Endereço para correspondência: Andrea Temponi Lebre. Alameda dos Pardais, 54, Mariporã, 07600-000 São Paulo SP - Brasil. E-mail: atlebre@ig.com.br meningite do meningococo é semelhante à descrição de literatura. Em relação ao pneumococo os dados mostram maior mortalidade, indicando a nós, necessidade de melhoria na abordagem terapêutica de meningite pneumococcica. Descritores: Meningite, Epidemiologia, Mortalidade, Diagnóstico clínico, Adulto Abstract Objective:Is limited literature on the epidemiology of meningitis in adults, so the importance of analyzing epidemiological data and clinical cases of acute meningitis treated at the emergency room, seeking the best treatment and prevention. Method: statistical, analytical and retrospective in adult patients with mandatory reporting of meningitis, from January 1998 to July 2010. Results: Of the 161 cases, the mean age was 32.7 years, 51.6% of the cases of 10 to 29 years, 30 to 49 years 31.1%; between 50 and 69 years 13% and 70 to 89 years 4.3%, with higher prevalence in males with 54%. Symptoms of admission consists of 80% headache, 80% fever, neck stiffness 70%, 20% petechial, 20% mental confusion, coma and convulsion 10% 10%. The correlation of symptoms with evolution: death or cure/hospital found that the presence of headache, fever and neck stiffness is favorable for healing/ high. Conclusion: Based on the data obtained, we highlight the importance of knowing the epidemiological characteristics of meningitis in a health service aiming to provide early diagnosis and better treatment. The data show that the mortality of meningococcal meningitis is similar to the description in the literature. In relation to pneumococcus data show higher mortality, indicating the need for improvement in the therapeutic approach of pneumococcal meningitis. Keywords: Meningitis, Epidemiology, Mortality, Clinical diagnosis, Adult Introdução Doenças infecciosas causam grande número de morte em todo o mundo. As infecções do sistema 1

nervoso central (SNC) são responsáveis por grande mortalidade e morbidade. As meningites bacterianas e virais são as mais importantes do ponto de vista da saúde pública, pela sua magnitude e capacidade de ocasionar surtosepidêmicos (1). A incidência de meningite bacteriana em adultos é de 4 a 6 casos por 100.000 habitantes. Os agentes etiológicos mais comuns na população adulta imumocompetente são: Streptococcuspneumoniae e Neisseriameningitidis, ocorrendo em 80% dos casos. O S. pneumoniae causa maior índice de mortalidade: 19% a 37% dos casos. Em aproximadamente 30% dos sobreviventes há sequelas neurológicas, como perda da audição e outros déficits focais. A mortalidade decorrente das meningites causadas pela N. meningitidis é menor em comparação com S. pneumoniae, 3% a 13% e a morbidade 3% a 7% (2). As meningites linfomonocitárias, previamente denominadas, assépticas, são causadas por vírus ou fungos. As infecções virais são mais frequentes com incidência anual de 11 a 27 de casos por 100.000 habitantes sendo os enterovírusos principais patógenos (3,4). Em imunocompetenteseles causam meningite com evolução favorável (3,4). As infecções fúngicas do SNC estão comumente associadas aos indivíduos imunossuprimidosinfectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), câncer, em uso de quimioterápicos ou imunossupressores (5-9). Grande parte dos estudos epidemiológicos publicados na literatura brasileira sobre as infecções das meningites do SNC diz respeito à população pediátrica. Há um número menor de estudos direcionados aos adultos. Os estudos brasileiros publicados sobre a epidemiologia das meningites são fragmentados, abrangendo as regiões onde foram realizados. Os dados disponíveis nos Centros de Vigilância Epidemiológica dos Estados nos orientam, mas não compõem análises com rigor de publicações cientificas. Considerando que em adultos as meningites também representam um grave problema de saúde pública, os dados epidemiológicos e clínicos são importantes para o conhecimento destas doenças em determinadas populações e consequente, criação de metas para o melhor tratamento e prevenção. Assim objetiva-se ampliar conhecimentos epidemiológicos, característicasclínicas (sexo, idade, mês do ano de ocorrência); sinais e sintomas ocorridos; etiologia, métodos de diagnósticos mais utilizados e mortalidade dos casos de meningite aguda atendidos no setor de emergência de um hospital-escola, referência em atendimento de urgência na zona Norte de São Paulo. Método Realizou-se um estudo estatístico, analítico e retrospectivo, no qual foram incluídos pacientes adultos com notificação compulsória de meningite, no período de janeiro de 1998 a julho de 2010, no Hospital São Luiz Gonzaga, no setor de Clínica Médica, Pronto Socorro Adulto, pertencente à Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo, localizado no extremo norte do município de São Paulo. A equipe de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, rotineiramente, preenche a ficha de investigação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação-Meningite (SINAN) do Estado de São Paulo, para todos os casos de meningite, prontamente na admissão, e outros agravos de notificação compulsória. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo projeto n 403/2008. Os critérios de inclusão constituíram pacientes com faixa etária a partir de 13 anos completos e pacientes sem imunodeficiência de qualquer etiologia. Foram coletados dados de 163 fichas de notificação compulsória de suspeita de meningite. As variáveis estudadas foram sexo, idade, mês do ano de ocorrência, principais sintomas e sinais pertencentes ao quadro clínico: febre, cefaleia, rigidez de nuca, convulsão, confusão mental e coma, características do líquido cefalorraquidiano: celularidade, bioquímica, método diagnóstico: coloração pelo Gram, cultura, látex, contraimunoeletroforese (CIE), polymerase chain reaction (PCR), agente etiológico e evolução: cura ou óbito. Resultados Os resultados obtidos foram extraídos de 163 fichas de notificação compulsória Centro de Vigilância Epidemiológica, porém dois foram excluídos do número total de fichas, pois morreram por outras causas não relacionadas à meningite. Dos, 161 casos analisados, a média de idade foi de 32,7 anos e de acordo com a faixa etária entre 10 a 29 anos 51,6% dos casos; 30 a 49 anos 31,1%; entre 50 e 69 anos, 13% e 70 a 89 anos 4,3%. No teste de Goodnessof Fit aplicado à idade e relacionado à mortalidade, os dados apontaram que não houve significância estatística. Quanto ao gênero, observou-se que tinham como característica 54% pacientes do sexo masculino e 46% feminino. Também neste caso relacionamos com a mortalidade cada gênero, através do teste de Goodnessof Fit não foi encontrada diferença estatística entre os dois grupos. No que diz respeito à variável mês do ano, não demonstrou diferença na incidência da meningite, verificados pelo teste de Goodness Fit e Qui-quadrado. 2

Destaca-se de acordo com as análises realizadas que os sintomas da admissão incluíam: cefaleia 80%, febre 80%, rigidez de nuca 70%, petéquias 20%, confusão mental 20%, coma 10%, convulsão 10% (Gráfico 2). A correlação dos sintomas com a evolução: óbito ou cura/alta hospitalar evidenciou com significância estatística que a presença de cefaleia, febre e rigidez de nuca tem evolução favorável para cura/alta. Dos 51 casos estudados de meningite linfomonocitária(31% do total de meningites) apresentaram evolução para alta em todos os casos (100%).As meningites causadas por Streptococcuspneumoniae foram 23 casos (14%); com 15 casos de altas (65,22%) e sete óbitos (30,43%), registrando que neste grupo houve um paciente que faleceu por outra causa que não a meningite. Meningites meningocócicas foram 36 casos (22%); 18 com meningococcemia associada, sendo 15 com evolução para alta (83,33%) e 3 (16,67%) de óbitos; 18 casos sem meningococcemia 17 (94,44%) casos receberam alta e 1 (5,56%) óbito. Meningite Gráfico 1 Distribuição por faixa etária dos pacientes com diagnóstico de meningite Gráfico 2 - Frequência dos sintomas e sinais presentes no pacientes com diagnóstico de meningite. Gráfico 3 - Sinais e sintomas na admissão correlacionados com a probabilidade de óbito. x = óbito - sim ou não, y = frequência em % dos sinais e sintomas 3

Gráfico 4 - Sinais clínicos que aumentam o risco de morte e relacionados à idade dos pacientes com diagnósticos de meningite. X = faixa etária dos pacientes; Y = porcentagem óbito Tabela 1 Distribuição por etiologia dos casos de meningite. Etiologia Total Meningite asséptica 51 Meningite por outras bactérias 29 Meningite por pneumococos 23 Meningite meningocócica 18 Meningite meningocócica com 18 meningococcemia Meningite de outra etiologia 13 Meningite não especificada 06 Meningite tuberculosa e hemófilo 03 Morte não relacionada à meningite 02 Total 163 por Haemofilus foram 2 casos e ambos obtiveram alta. Meningotuberculose em paciente com sorologia negativa para HIV foram 3 (2%) com 1 (33,33%) alta e 2 (66,67%) óbito. As meningites classificadas na ficha de notificação como por outras bactérias: 29 casos (18%); com 22 altas (75,86%) e 7 (24,14%) de óbitos e o grupo de outra etiologia 13 casos (8%); 8 casos ( 61,54%) com alta hospitalar e 5 (38,46%) óbitos. A meningite não especificada de 6 casos, 3 (50%) com altas, 3 (50%) de óbitos, não se definiu entre bacteriana e viral devido à análise do líquido cefalorraquidiano não conclusiva e não definição pelos métodos laboratoriais. Os dados apontaram a relação à meningite bacteriana quando a glicorraquia (menor ou maior que 10 mgdl) foi relacionada com a evolução: alta ou óbito, Gráfico 5 - Distribuição da evolução do paciente: alta ou óbito e etiologia dos casos de meningite. 4

Gráfico 6 - Distribuição por etiologia dos casos de meningite. entretanto, não se observou diferenças estatísticas significantes. Em relação às meningites linfomonocitárias quando a glicorraquia encontrada foi menor que 10 mg/dl o óbito ocorreu em 80% casos. Dentre os testes diagnósticos utilizados, a bacterioscopia foi positiva em 36% dos casos da amostra total e dentre todos os exames realizados ela foi responsável por 80% dos diagnósticos. Seguido da cultura positiva em 34% do total e dentre os exames ela foi responsável por 76% dos diagnósticos. O látex com positividade de 25%, dentre os exames foi responsável por 54% dos diagnósticos. Discussão Ressalta-se que o diagnóstico clínico da meningite ou meningoencefalite dos pacientes admitidos na sala de emergência deve ser priorizado, pois essa conduta está diretamente relacionada com a evolução favorável do caso. Conhecer a epidemiologia, principais sintomas, sinais, métodos diagnósticos, agentes etiológicos mais frequentes representa melhor atendimento ao paciente. Neste considerando, destaca-se a importância deste estudo com dados da população nesta região, podendo contribuir significativamente na saúde dessas pessoas. Na análise dos dados observa-se que os pacientes adultos jovens foram os mais acometidos comparados com os idosos. Verificou-se que não houve diferença estatística quanto à mortalidade, provavelmente pelo número reduzido de idosos. Ambos os sexos se comportaram de maneira semelhante em relação à mortalidade, embora os resultados tenham um discreto predomínio masculino. Não foi verificado nenhum mês do ano, com significância estatística, no que se refere ao maior número de casos novos de meningite, portanto descaracterizando a ideia de sazonalidade. Descrevem-se e comparam-se dois grandes grupos: com meningite bacteriana, definidos a partir da celularidade do líquido cefalorraquidiano, ou seja, neutrófilos igual ou superior a 50% na contagem global das células e os com meningites linfomonocitárias para aquelas com contagem de neutrófilos menor que 50% (10). Os sintomas mais encontrados foram cefaleia, febre e rigidez de nuca, indo ao encontro dos dados da literatura( 11-13). Relacionados os sintomas apresentados na admissão e a mortalidade,verificou-se, com significância estatística, que os pacientes admitidos com petéquias, confusão mental, convulsão e coma têm maior mortalidade. A alta mortalidade observada nos casos de meningite linfomonocitária com glicorraquia baixa nos indica pior prognóstico. Observa-se que os casos de meningite asséptica, assim como descrito na literatura, todos tiveram evolução para cura, destacando dois fatores presentes nesta pesquisa, o predomínio de adulto jovem e o caráter benigno das meningites virais. O pneumococo foi o agente bacteriano mais encontrado, seguido de meningococo e um caso de Haemofilus. Com relação à mortalidade por pneumococo mostrou-se maior que a literatura, pois com frequência esses pacientes desenvolvem complicações, como hidrocefalia, tromboflebite, abscesso( 14,15). Como segundo agente bacteriano mais encontrado, meningococo, verifica-se mortalidade semelhante à da literatura e interpreta-se o fato ao caráter mais agudo de suas manifestações clínicas e eficácia nos cuidados intensivos nas primeiras horas de admissão hospitalar (16-18). A bacterioscopia do líquor, seguido de cultura e látex foram os métodos diagnósticos que proporcionaram maior número de resultados positivos, como previsto na literatura, no entanto, grande parte dos pacientes com líquor com padrão polimorfonuclear são tratados com antibioticoterapia empírica sem a detecção do agente etiológico. Além disso, métodos mais modernos - como o PCR - não são realizados. Este estudo demonstra a importância de conhecer características epidemiológicas da meningite em um serviço de saúde com intuito de propiciar diagnóstico precoce e melhores formas de tratamento. ReferênciasBibliográficas 1. Török M. Neurological infections: clinical advances and emerging threats. Lancet Neurol. 2007; 6:16-8. 2. van de Beek D, de Gans J, Tunkel AR, Wijdicks EF. Community- -acquired bacterial meningitis in adults. N Engl J Med. 2006; 354:44-53. 3. Morales-Bedoya A, Alonso-Palacio LME. Epidemiología de la meningitis: una visión socio-epidemiológica. Salud Uninorte. 2006; 22:105-20. 5

4. Machado BC, Ferreira RS, Carmona RCC, Timenetsky MCST. Asepticmeningitisbyechovirus 30 in São Paulo state, Brazil. Braz J Microbiol. 2007; 38: 97-103. 5. Franco-Paredes C, Jacob JT, Hidron A, Rodriguez-Morales AJ, Kuhar D, CaliendoAM. Transplantation and tropical infectious diseases.int J Infect Dis. 2010; 14:e189-96. 6. Sakhuja V, Sud K, Kalra OP, D Cruz S, Kohli HS, Jha V, et al. Central nervous system complications in renal transplant recipients in a tropical environment. J Neurol Sci. 2001;183:89-93. 7. Davis LE. Fungal infections of the central nervous system. NeurolClin. 1999; 17:761-81. 8. Walsh TJ, Groll AH. Emerging fungal pathogens: evolving challenges to immunocompromised patients for the twenty-first century. Transpl Infect Dis. 1999; 1:247-61. 9. Safdiech JE, Mead PA, Sepkowtiz RA, Kiehn TE, Abrey LE. Bacterial and fungal meningitides in patient with cancer. Neurology. 2008; 70: 943-7. 10. Levi GC. Meningites purulentas em doenças transmissíveis. In:Amato Neto V, Baldy JLS. 3 a. ed. São Paulo: Sarvier; 1989.p. 605-15. 11. Santos ML, Ruffino-Netto A. Doença meningocócica: situação epidemiológica no Município de Manaus, Amazonas, Brasil, 1998/2002. Cad Saúde Pública. 2005; 21: 823-9. 12. Milonovich LM. Meningococcemia: epidemiology, pathophysiology, and management.j Pediatr Health Care. 2007;21:75-80. 13. Gomes I, Melo A, Lucena R, Cunha-Nascimento MH, Ferreira A, Góes J, et al. Prognosis of bacterial meningitis in children. Arq Neuro-Psiquiatr. 1996; 54: 407-11. 14. Silva WA, Pinheiro AM, Coutinho LG, Marinho LA, Lima LF. Epidemiological profile of acute bacterial meningitis in the state of Rio Grande do Norte, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop. 2010; 43:455-7. 15. Bingen E, Levy C, Varon E, de La Rocque F, Boucherat M, d Athis P, et al. Pneumococcal meningitis in the era of pneumococcal conjugate vaccine implementation. Eur J Clin Microbiol Infect Dis. 2008;27:191-9. 16. Pérez AE, Dickinson FO, Rodriguez M. Community acquired bacterial meningitis in Cuba: a follow up of a decade. BMC Infect Dis. 2010; 10:130. 17. Dickinson FO, Pérez AE. Bacterial meningitis in children and adolescents: an observational study based on the national surveillance system. BMC Infect Dis. 2005; 5:103. 18. Bricks LF. Doenças meningocócicas-morbidade e epidemiologia nos últimos 20 anos: revisão. Pediatria (São Paulo). 2002; 24:122-31. Trabalho recebido: 09/11/2013 Trabalho aprovado: 17/12/2013 6