Educomunicação: por que precisamos de um novo conceito.



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Transcrição:

Educomunicação: por que precisamos de um novo conceito. LOURENÇO, S. 1

Educomunicação: por que precisamos de um novo conceito LOURENÇO, Silene de A. G. silene.lourenco@gmail.com Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (NCE-ECA-USP); Bolsista FAPESP Estudos sobre a interface Comunicação/Educação ganham cada vez mais espaço em eventos de caráter científico seminários, simpósios, congressos promovidos por instituições de ambas as áreas. O interesse cresce na medida em que as tecnologias da informação e da comunicação ocupam um papel cada vez mais relevante na sociedade, transformando a maneira como nos relacionamos uns com os outros e com o mundo à nossa volta; transformando também a forma como nos relacionamos com o conhecimento e produzimos nossas representações simbólicas na contemporaneidade. O Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações Artes da Universidade de São Paulo (NCE-ECA-USP), desde 1986, quando foi criado, participa dessa reflexão. E a partir da divulgação dos resultados da sua mais importante pesquisa, realizada entre os anos de 1997 e 1999, sob a coordenação do Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares, adota o conceito de Educomunicação para designar um novo campo de intervenções sociais e de produção de conhecimento que se constitui no espaço de confluência entre as áreas da Comunicação, da Educação e da Cultura. Em 2013, no entanto, durante o V Encontro Brasileiro de Educomunicação: Educação midiática e políticas públicas, fomos surpreendidos pela variedade de experiências realizadas em diferentes contextos que estavam sendo identificadas com o campo da Educomunicação. 1 Convergências e divergências entre essas experiências e contextos foram explicitadas não apenas nos textos enviados para publicação, mas também nos debates, marcados pelo confronto de ideias e percepções que eventos dessa natureza devem promover. O painel sob a nossa coordenação, intitulado de Práticas educomunicativas e Pedagogia de projetos, acolheu três trabalhos diferenciados: 1) Formação Midiática por meio da Pedagogia de Projetos em escolas públicas do Estado de São Paulo, de Vagner Manaf; 2) Estudo comparado de práticas educomunicativas: Viração e Idade Mídia, de Bruno de Oliveira Ferreira; 3) Educação Inovadora, de Beatriz Ferraz. A primeira apresentação teve por objetivo compartilhar o resultado de um trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Mídias na Educação (MEC/NCE/UFPE). Nesse trabalho, o autor, que é Supervisor da Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo, escolhe dois objetos de estudo para análise: o II Festival de Cinema da Diretoria de Ensino da Região Leste 5 (São Paulo - Capital) e o projeto Gibizando na escola, da EE Professora Maria da Glória Costa e Silva. Com o propósito de analisar em que medida essas experiências correspondem aos pressupostos teóricos da Pedagogia de Projetos e como as ferramentas da informação e da comunicação são incorporadas pelos professores no espaço escolar para garantir 1 Conferir os Anais do V Encontro Brasileiro de Educomunicação: educação midiática e políticas públicas/ Ismar de Oliveira Soares, Claudemir Edson Viana, Jurema Brasil Xavier (Orgs); São Paulo: ABPEducom, 2014. Particularmente as páginas 256 a 267. Disponível em: http://www.abpeducom.org.br/2014/08/anais-do-vencontro-brasileiro-de.html. Acesso: 13.09.2014. 2

a aprendizagem dos alunos, o autor chega à conclusão de que falta ao professor conhecimento teórico sobre a Pedagogia de Projetos e sobre o papel da mídia e de suas linguagens na Educação, levando-o a agir de forma intuitiva, pouco planejada e sem refletir sobre os objetivos a serem atingidos. Além disso, o autor aponta que há, por parte do professor, uma preocupação maior em evidenciar aquilo que os alunos já sabem do que promover novas aprendizagens. Por outro lado, o trabalho contribui para desmistificar a ideia de que os professores, em sua grande maioria, resistem ao uso das tecnologias na escola. Segundo o autor, a maior parte dos professores reconhecem a importância dessas ferramentas e de novas estratégias de ensino-aprendizagem para a melhoria da Educação. A segunda apresentação, de autoria de um aluno do Curso de Especialização em Educomunicação: Comunicação, Mídias e Educação (ECA/USP), trouxe uma análise comparativa de dois projetos: Revista Viração e Idade Mídia. A Revista Viração é uma publicação com periodicidade mensal que conta com a participação voluntária de jovens e adolescentes provenientes de setores sociais menos favorecidos, geralmente engajados em movimentos de mobilização social e política. Existem, atualmente, conselhos editoriais espalhados por vários Estados do Brasil. Nesse sentido, a Revista Viração é um movimento de organização da sociedade civil. Idade Mídia, por sua vez, é um projeto do tradicional Colégio Bandeirantes, escola da rede particular de ensino, localizada em bairro nobre da cidade de São Paulo. Os alunos são, em sua grande maioria, provenientes de famílias da elite paulistana. O projeto, coordenado pelo jornalista Alexandre Sayad, consiste em reunir, semanalmente, durante o ano letivo, alunos do 2º ano do Ensino Médio para discutir assuntos da atualidade a partir daquilo que é publicado na mídia e, também, para discutir o processo de produção de notícias em si. Além disso, os alunos realizam visitas às redações de jornais e assumem o papel autoral na produção de uma revista. Segundo o autor da pesquisa, os dois projetos podem ser considerados educomunicativos, pois ambos reconhecem o direito à informação e à liberdade de expressão de crianças e jovens, ambos contribuem para a promoção da autonomia dos envolvidos, e ambos exercitam o trabalho colaborativo, tendo em vista a transformação social. A terceira apresentação foi feita pela Gerente de Projetos Educacionais do Instituto Natura. A autora partiu da análise das transformações sociais provocadas pelo rápido avanço tecnológico, e de seus impactos sobre a Educação, para concluir que o modelo tradicional de ensino está totalmente condenado ao fracasso. Nesse contexto, foi mostrado o trabalho de prospecção que é realizado em todo o Brasil pelo Instituto Natura para identificar experiências inovadoras e promissoras com relação à aprendizagem. Segundo a Gerente de Projetos Educacionais, o trabalho de prospecção do Instituto Natura tem revelado que inovar é possível, tanto no âmbito das escolas quanto no âmbito das organizações empresariais. É importante destacar que uma iniciativa é considerada inovadora e recebe apoio do Instituto Natura se ela apresenta as seguintes características: o aluno no centro do processo de aprendizagem, com autonomia para decidir o que e como aprender; atendimento personalizado, baseado no uso de novas tecnologias e estratégias também inovadoras; reinvenção do papel do professor, da direção e da própria escola, que deve estar aberta à comunidade. Como se pode ver, os autores falam a partir de lugares distintos para descrever e analisar contextos também bastante diferenciados: uma Diretoria de Ensino; uma escola da rede pública estadual; um movimento de organização da sociedade civil; uma escola tradicional da rede particular de ensino, frequentada pela elite paulistana; um instituto social criado por uma grande empresa. 3

Se, por um lado, as convergências entre essas experiências permitem aproximações, encontros e diálogos, a heterogeneidade não pode deixar de ser problematizada, pois é na explicitação das contradições que criamos a possibilidade de novos avanços. Nesse sentido, os trabalhos apresentados durante o V Encontro Brasileiro de Educomunicação suscitam, mais uma vez, antigas questões: como a memória da Educomunicação está sendo construída a partir das transformações do século XXI? As contradições inerentes aos processos educomunicativos são objetos de reflexão e debate entre os sujeitos envolvidos ou são por eles negadas? Com que significado alguns conceitos como liberdade de expressão, gestão participativa e protagonismo juvenil, tão caros à Educomunicação, estão sendo incorporados nesses diversos contextos? Compartilhamos o mesmo desejo e a mesma visão de futuro ao falarmos em transformação social? Não temos a pretensão de responder questões tão profundas e complexas no curto espaço deste artigo. Até, porque, estamos vivendo momentos de incertezas, muito mais propícios às perguntas. O que pretendemos, por ora, na condição de pesquisadores, é reavivar o nosso compromisso com o debate e a reflexão epistemológica para refrescar a nossa memória e despertar a nossa consciência que por vezes parece adormecida. Hoje podemos afirmar que o conceito de Educomunicação foi inspirado pelo comunicador educador argentino Mario Kaplún, ao usar o termo educomunicador em sua obra para identificar o perfil de um sujeito social que o define a si mesmo: atuante da interface Comunicação/Educação, promove na prática de radialista, uma comunicação educativa e transformadora. (...) Mario Kaplún empregava o termo educomunicador, nas décadas de1980 e inícios de 1990, para identificar quem promovia a educação para a comunicação nas comunidades populares da América Latina. (MESSIAS, p.155) Em seu livro Una Pedagogia de la Comunicación (1998), encontramos quatro ocorrências do termo em recortes que nos ajudam a compreender os fundamentos da Educomunicação preconizada por Ismar de Oliveira Soares, a partir da pesquisa realizada pelo NCE. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que o conceito provém, antes, da prática de comunicadores comprometidos com a educação, e não o contrário. Aunque los comunicadores ya no aparezcamos aquí asumiendo el privilegiado papel de emisores exclusivos, a nosotros nos toca en definitiva la importante misión de elaborar y dar forma a los mensajes: redactar el material impreso, producir los vídeos, crear las obras de teatro o de títeres, realizar el programa de radio, las casetes o la historieta, diseñar el cartel o el periódico mural... Y, aún más, se nos pide que tratemos de formular esos mensajes pedagógicamente. De ahí, la importancia y la necesidad de que los educomunicadores dominemos los principios básicos de la pedagogía de la comunicación. (p. 81) Em segundo lugar, a opção desses sujeitos sociais por uma Comunicação Educativa expressão também usada por Mario Kaplún, praticada em espaços alternativos de comunidades periféricas, é uma opção política. Un periodista sindical con larga experiencia solía decir: «Miren, compañeros: podemos sacar un periódico. Más aún: podemos imponer su compra, presionar a los trabajadores para que lo compren. O hasta regalarlo. Pero a lo que no podemos "obligarlos" es a que lo lean sino les 4

interesa.» Experiencias como éstas deberían llevarnos a una seria reflexión. Los educomunicadores tenemos que ser eficaces. Preocuparnos de que nuestros mensajes lleguen. (p. 88) Essa opção política é uma opção de resistência e de luta pela transformação social através da formação da consciência crítica que transforma o indivíduo em sujeito capaz de transformar a realidade. A los educomunicadores se nos impone, pues, la exigencia de ser muy críticos con nosotros mismos y de nuestros propios mensajes; de revisar la escala de valores que implícitamente transmitimos con ellos y buscar coherencia entre nuestro pensamiento y los signos que seleccionamos para codificarlo. Si pretendemos formar conciencia crítica en nuestros destinatarios, lo primero es tenerla nosotros. Si aspiramos a problematizarlos, debemos empezar por problematizarnos y cuestionarnos a nosotros mismos. (p.158/159) A formação da consciência crítica, por sua vez, passa necessariamente pela apropriação dos meios de comunicação e de suas linguagens. Em outras palavras, por uma educação para e pela comunicação. Pues bien, un óptimo recurso para generar esa actitud crítica respecto de los medios de comunicación consiste en hacer que los propios educandos los practiquen y descubran así por ellos mismos las operaciones manipulatorias habilitadas por las mediaciones comunicacionales. Para dar un ejemplo elemental que seguramente muchos educomunicadores han experimentado es manejando el lente de una cámara de vídeo como los alumnos llegan a percibir que una imagen no es la representación fehaciente y supuestamente objetiva de la realidad sino una fragmentación selectiva de la misma; o descubren cómo la elección de los planos y los ángulos de encuadre puede determinar lecturas muy diversas de un mismo signo y suscitar en el espectador reacciones emocionales y juicios muy diferentes respecto del hecho o del personaje presentado. Ponerse tras la cámara, encuadrar, grabar, editar, enseña cómo a través de un primer plano aparentemente natural y casual o de la toma realizada desde un cierto ángulo o una certa altura se puede inducir determinados efectos en el público, conferir fuerza de convicción a un personaje y opacar e incluso desacreditar a otro, etc. (p. 221) Um conceito cientificamente constituído mas que, ao ser reproduzido, escapa de sua proposta inicial justamente pelo fato de seus interlocutores incorporarem a dramaturgia social em torno do tema. (MESSIAS. p. 25) 5