CONTEÚDO, FORMA E DESTINATÁRIO: A AÇÃO DOCENTE E A LITERATURA

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Transcrição:

ISBN 978-85-7846-516-2 CONTEÚDO, FORMA E DESTINATÁRIO: A AÇÃO DOCENTE E A LITERATURA Adrielly Rocateli - UEL Email: adrielly@uel.br Fernanda Couto Guimarães Casagrande - UNIFIL/INESUL Email: fernandaort@hotmail.com Katia Silva Bufalo - SEED/PR Email: ksbufalo@uel.br Rosangela Miola Galvão - UEL Email: rmgalvao2012letras@gmail.com Sandra Aparecida Pires Franco - UEL Email: sandrafranco26@hotmail.com Eixo 1: Didática e Práticas de Ensino na Educação Básica Resumo Esta pesquisa investiga a ação docente em relação à leitura literária, de modo a compreender a realidade escolar e os desafios do trabalho com a Literatura em sala de aula. Defende-se a tese de que ações para a melhoria do ato de ler contribuem com o desenvolvimento das funções psicológicas superiores dos estudantes, por isso a importância desse trabalho para a área da Educação. Trata-se de uma pesquisa, em andamento, fundamentada no Materialismo Histórico Dialético com ênfase nas categorias dialéticas conteúdo e forma. A metodologia consiste na aplicação do instrumento questionário aos docentes de Língua Portuguesa de uma instituição pública de ensino do Norte do Paraná. Percebe-se nos dizeres dos docentes uma valorização da leitura, que, para a maioria dos pesquisados é uma atividade que deve ser trabalhada desde a tenra idade no intuito de criar uma necessidade pela leitura. Palavras-chave: Materialismo Histórico Dialético. Conteúdo e forma. Leitura Literária. Introdução 109

O desenvolvimento humano, na perspectiva do Materialismo Histórico Dialético, ocorre conforme o homem supera suas necessidades diante da natureza, como também, é responsável por criar outras necessidades. Dessa forma, o trabalho pode ser considerado fator de permanência do homem no mundo, pois essa dinâmica se perfaz entre gerações, visto que transfere para os descendentes o conhecimento apropriado ao longo da história. É pelo trabalho, atividade vital humana, que o homem garante a existência não só da vida individual mas de toda a sociedade que a sustenta. (MARTINS, 2004, p. 57). O trabalho docente no contexto escolar possui a função de ampliar os conhecimentos, para tanto necessita ser transformador da sociedade, já que contribui para o entendimento da realidade vivenciada, sendo a escola um local importante para a formação e desenvolvimento dos sujeitos. (SAVIANI, 2009). Nesse mesmo viés, há a linguagem como elo propulsor do desenvolvimento do psiquismo e a Literatura, que além de contribuir como herança cultural, pode tornar o homem mais humano. (OLIVEIRA e FRANCO, 2016). Todavia, para que esse desenvolvimento ocorra, cada vez melhor, faz-se necessário conhecer a realidade escolar no que concerne aos conceitos de conteúdo e forma do processo educativo disseminados entre os docentes, assim como a concepção e a metodologia dos professores acerca do ato de ler. Para tanto, foi aplicado um questionário com 12 perguntas a 4 docentes de Língua Portuguesa de uma instituição pública de ensino do Norte do Paraná. As questões propõem um delineamento acerca da formação e atuação, conceito de leitura, literatura, conteúdo, forma e destinatário, qual a importância do trabalho com a leitura nas aulas e como executam as práticas pedagógicas envolvendo o ato de ler em sala de aula. A partir dos discursos acerca da leitura, literatura, conteúdo, forma e destinatário, organizamos uma análise. Desse modo, apresentamos aqui autores que embasam a nossa pesquisa de leitura e a sua relação conteúdo, forma e destinatário na Educação Básica. Conteúdo, forma e destinatário: a relação com a leitura literária A categoria dialética conteúdo e forma são dinâmicas, assim como o conhecimento, dependem das transformações históricas e sociais. Subentende-se 110

que elas se inter-relacionam na constituição do objeto, fato, fenômeno. Considera-se que o conteúdo é dinâmico, mutável, formado pelo principal e por uma estrutura, em constante interação, que faz o elo entre uma parte interior e uma exterior. A forma compõe a estrutura, a ponte que estabelece o entendimento do conteúdo. Dessa maneira, o conteúdo seria o conhecimento em si e a forma a maneira como transformá-lo em conhecimento para si. (CHEPTULIN, 2004, p. 254). Percebe-se que para a compreensão do objeto, fato e ou fenômeno o sujeito busca na contradição dialética o entendimento do novo. Para tanto, o trabalho docente com o conteúdo e a forma possibilita ao pensamento o desvelar dessa dicotomia. De acordo com Saviani (2011, p. 65), a questão central da pedagogia é o problema das formas, dos processos, dos métodos; certamente não considerados em si mesmos, pois as formas só fazem sentido quando viabilizam o domínio de determinados conteúdos. O trabalho docente com os conteúdos necessita amparar-se na sistematização coletiva do conhecimento e no trabalho com a forma, de modo a proporcionar a compreensão do objeto, fato ou fenômeno em sua totalidade, visto que a educação é um processo histórico, global e dialético de compreensão da realidade tendo em vista a sua transformação (MARTINS, ROMANOWSKI, 2008, p. 11), sendo o fazer docente caracterizado como a práxis social, a ação transformadora obtida pela dialética no processo de ação-reflexão-ação.tentem fazer uma ligação com essa citação. O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. (VIGOTSKI, 2002, p. 118). A perspectiva materialista pressupõe que o aprendizado necessita ser consciente para que seja transformador, atuando ativamente no aumento do conhecimento e na memorização. O ato de memorização consciente desponta apenas quando o indivíduo compreende que a retenção de determinado conteúdo é necessária à sua atividade prática ou teórica. (MARTINS, 2004, p. 126). 111

Nota-se que para a memorização, a ação docente precisa atuar com a criação da necessidade do conhecimento para que o estudante possa entender o objeto, fato ou fenômeno, ou seja, a realidade da qual vivencia. Para Vigotski (2002), o sujeito se interessa pela leitura e a promove a partir do momento que sente necessidade dela. Portanto, trabalhar obras literárias descontextualizadas promovem o distanciamento do estudante do ato de ler. A Literatura no materialismo atua como instrumento vital de humanização do homem, pois quando o autor compartilha seus discursos mediante o texto, está partilhando não só conhecimento, visão de mundo, mas também diferentes maneiras de atuar perante as adversidades da vida. Ao mesmo tempo, completa sentidos de compreensão do sujeito e, ainda, unifica o homem fragmentado pela alienação. (FISCHER, 1983). Por isso, a necessidade de entender a literatura como arte, com um olhar mais sociológico para as contribuições da Literatura para a formação do homem, observando a partir de duas tendências: como a obra de arte influencia o meio, e como o meio influencia a obra. Por esse viés, Candido (2006) compreende a Literatura a partir da constituição tríade da obra, na qual autor obra leitor, atuam de forma recíproca dando vida e significado à escrita. Trabalhos como os de Franco e Girotto (2017) de análise da obra literária Noite na Taverna alertam para o fato do conteúdo ser dinâmico, alterar-se rapidamente, enquanto a forma modifica mais lentamente, assim como o conhecimento, que é dinâmico, o conteúdo se altera e precisa de novas formas para ser exposto. Nessa perspectiva, concomitantemente, as características da atividade educativa, isto é, a dialética entre forma e conteúdo, que em nada se assemelha a um tipo de ensino verbalista e abstrato (MARTINS, 2016, p.19). A indivisibilidade da obra está na necessidade de ambos para a unidade do todo, o conteúdo no processo de abstração precisa se concretizar, a materialidade se faz presente pela forma, no entanto, não é qualquer forma, mas aquela na qual o autor necessita para expressar o conteúdo. Para tanto, entendemos a mediação da leitura literária como possibilidade de realização da função social da escola, uma vez que, a principal função que a literatura cumpre junto ao seu leitor é a apresentação de novas possibilidades existenciais, sociais, políticas e educacionais. É nessa dimensão que ela se constitui em meio emancipatório. (CADEMARTORI, 2006, p.19-20). 112

Isto porque, O conteúdo de uma obra literária é um conjunto de ideias e imagens da realidade [...] entre o conteúdo de uma obra literária e a realidade não há relação de igualdade mas indiscutivelmente de equivalência. (AMORA, 1992, p.84-85). Fundamentadas na perspectiva teórica do Materialismo Histórico Dialético e a partir dos estudos realizados e autores apresentados, consideramos que é necessário dar continuidade à pesquisa sobre a relação conteúdo e forma da ação docente no trabalho com a leitura literária, haja vista que, embora a maioria dos docentes pesquisados destaque a importância da leitura e reconheça a literatura como arte, contraditoriamente, concebem o trabalho com a leitura enquanto hábito e não como ato de ler. Destacam a forma do texto em fragmentos e não as obras em sua totalidade e relacionam a atividade da leitura tendencialmente associada à escolarização e não à compreensão da realidade e emancipação humana. Considerações parciais Essa análise permitirá compreender como ocorre a leitura em sala de aula, bem como quais as concepções de leitura e literatura dos professores, possibilitando novas ações em torno do assunto. Pretende-se ao final desse trabalho contribuir com apresentação das análises, dialogadas com os autores estudados, apontar novas possibilidades de encaminhamentos da ação docente no sentido de desenvolver a leitura literária na escola. Referências AMORA, A. S. Introdução à teoria da literatura. SP: Ed. Cultrix, 1992. CADEMARTORI, L. O que é literatura infantil. 7ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. CANDIDO, A. Literatura e Sociedade. 9ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. CHEPTULIN, A. A dialética materialista: categorias e leis da dialética. 2 ed. Tradução Leda Rita Cintra Ferraz. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 2004. FISHER, Ernst. A necessidade da arte. 9ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1983. 113

FRANCO, S. A. P. OLIVEIRA, R.M.G. A Literatura como atividade investigativa para a superação do cotidiano. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente Prudente- SP, v. 27, n. 2, p. 97-115, mai./ago. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v27i2.3647. Acesso em: 31 jul. 2018. FRANCO, Sandra Aparecida Pires.; GIROTTO, Cyntia Graziella Guizelim Simões. A categoria marxista conteúdo e forma na leitura literária. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 12, n. 4, p. 1972-1983, out./dez. 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.21723/riaee.v12.n4.out./dez.2017.8776>. E- ISSN: 1982-5587. MARTINS, L. M. Da formação humana em Marx à crítica da pedagogia das competências. In: DUARTE, Newton (org). Crítica ao fetichismo da individualidade. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. MARTINS, P. L. O. ROMANOWSKI, J. P. A aula: distribuição ou sistematização coletiva do conhecimento? In: Anais do XIV ENDIPE. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. MARTINS, L.M.; ABRANTES, A. A.; FACCI, M. G., Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice. Campinas, SP: Autores Associados, 2016. SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 11 ed. ver. Campinas, SP: Autores Associados, 2011.. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 41ª ed. Revista. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. VIGOTSKI, Lev Semenovitch. Pensamento e Linguagem. ebooksbrasil, 2002. Edição eletrônica: Ed Ridendo Castigat Mores. Disponível em: http: <www.jahr.org>. Acesso em: 10 mar. 2015. 114