PARECER N.º 11667. Processo nº. 001558-30.00/95.7



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Transcrição:

PARECER N.º 11667 PROCESSO ADMINISTRATIVO- DISCIPLINAR. DEFENSOR PÚ- BLICO. DESVIO DE ASSISTIDOS PARA ESCRITÓRIO DE ADVOGADO PARTICULAR. ATO DE IMPROBIDADE SUS- CETÍVEL DE ACARRETAR DEMISSÃO. ART. 5.º DA LEI (ESTADUAL) N.º 10.194/94; ART. 7.º DA LEI (ESTADUAL) N.º 10.236/94; ART. 191, VI, DA LEI COMPLEMENTAR (ESTADUAL) N.º 10.098/94. ART. 11 DA LEI (FEDERAL) N.º 8.429/92. Vem a exame e parecer, na conformidade do art. 115, IV, da Constituição Estadual, o expediente n.º 001558-30.00/95.7, que consolida processo administrativo-disciplinar realizado pela Corregedoria-Geral da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul e que tem por indiciada a Defensora Pública ODILA MARIA PANNO, matrícula n.º 1.123153.0, lotada na Comarca de Bagé/RS. O processo foi inaugurado pelo Of. n.º 654/95 encaminhado, em 31 de agosto de 1995, a Exma. Sra. Defensora Pública-Geral do Estado, pela Exma. Sra. Juíza de Direito da 3.ª Vara Cível da Comarca de Bagé, dando conta de que a Defensora Público em apreço recusava-se a atender os feitos daquela serventia e não comparecia para receber intimações. Processo nº. 001558-30.00/95.7

Junto ao dito ofício foram remetidas cópias de diversas petições, despachos e de termo de audiência. As petições enviadas estão firmadas pela indiciada ou pelo advogado Sérgio Oliveira, apresentando estas grande semelhança. Do termo de audiência, referente à Ação de Alimentos promovida por Lucas Garcia Madruga, representado pela sua mãe, SANTA TERESINHA DE OLIVEIRA GARCIA, através do advogado SÉRGIO OLIVEIRA, (processo n.º 20600) merece destaque a decisão lançada em sua parte final (fl. 16):...Deixo de fixar honorários, porque a representante do autor informou a este juízo que compareceu na AJ do Foro para ingressar com essa ação. O fato de ter sido a representante do autor encaminhada a advogado particular deverá ser explicitado pela defensora pública, bel. Odila Panno, até porque a petição inicial que fora apresentada é igual a tantas outras por ela oferecida, o que causa surpresa a este juízo, tendo em vista que a defensora pública não pode manter escritório de advocacia, muito menos encaminhar clientes a advogado particular, especialmente em se tratando de pessoa extremamente carente... Na petição inicial da respectiva Ação de Alimentos, firmada pelo advogado Sérgio Oliveira, é requerida a fixação dos alimentos provisionais em 2 (dois) salários mínimos e a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em 20% do valor de uma anuidade (fl. 18). Os despachos anexados ao referido ofício aparecem como: Não é o caso de emenda à inicial, mas de ser refeita, a fim de que os fatos sejam narrados com coerência e a ação movida contra o pai da menor (fl. 07); a inicial não segue a melhor técnica, mas vou recebê-la, porque se trata de alimentos (fl.13); etc. O Sr. Corregedor-Geral da Defensoria Pública entrevendo haver indícios veementes de que as petições remetidas tivessem a mesma origem,

configurando desvio de clientes da Defensoria para o advogado Sérgio Oliveira, pediu a remessa das peça originais, a fim de submetê-las à perícia grafodocumentoscópia no Instituto de Criminalística, de onde vem o laudo de fls. 32-41, que conclui: Entendem os Peritos que, face a numerosa quantidade de elementos convergentes, notadamente de estilo e procedimentos datilográficos, no cotejo da petição de fls. 25 e 26, ambos os documentos resultem da intervenção do mesmo operador datilográfico. Escorado neste indício, o Senhor Corregedor-Geral recomendou a abertura de Processo Administrativo-Disciplinar, por vislumbrar ato de improbidade suscetível de acarretar demissão ao Defensor, nos termos do art. 5.º da Lei Complementar n.º 10.189, de 27 de maio de 1994. Acolhida a recomendação da Corregedoria-Geral, foi designada Comissão Processante, através da Portaria de fl. 50. diz: Com referência a estes fatos, a indiciada, em seu interrogatório,...que nada tem a ver com as petições que não trazem a assinatura dela...conhece o advogado Sérgio Oliveira, porém nunca compartilhou escritório de advocacia com o mesmo e não se recorda de ter atuado alguma vez com o referido bacharel em causa comum, atendendo ao mesmo cliente...que Santa Teresinha Oliveira Garcia esteve no Foro para promover uma ação de investigação de paternidade, sendo que a indiciada pediu-lhe documentos. Santa respondeu que tais documentos estavam em poder de advogado particular... O escritório de advocacia que tinha antes de assumir o cargo da Defensora Pública foi fechado quando tomou posse. Esclarece que nunca forneceu petições suas para outros advogados tomarem como modelo, se isto existiu não foi através dela. Esclarece que existe problema de relacionamento com os serventuários da 3.ª Vara Cível da Comarca de Bagé, não com todos... Com relação ao Dr. Sérgio Oliveira diz que o mesmo não foi colega de

turma, ele formou-se posteriormente, inclusive trabalhou no Foro como funcionário anos atrás... (fls. 65-6). A indiciada produziu defesa prévia por Defensor constituído, que ofereceu longo e minudente arrazoado, afirmando, dentre outras considerações que, apesar da peça vestibular restringir-se à solicitação de providências da Defensoria Pública do Estado quanto ao atendimento dos processos ajuizados, que tramitam pela 3.ª Vara Cível, conclui-se que, na realidade pretendeu a denúncia trazer a lume a acusação de que a Defensora teria encaminhado Santa Teresinha de Oliveira Garcia para advogado particular.... Com referência à similitude das petições aduz que cópias dos trabalhos produzidos pela indiciada poderiam ter sido tiradas quando esta atuou junto à Assistência Judiciária da Faculdade de Direito de Bagé. Informa, de outra parte, que a Sra. Santa Teresinha já foi cliente do advogado João Oliveira Saliba, que a representou em ação possessória. Refere-se, ainda, aos problemas de relacionamento da indiciada com serventuários da 3.ª Vara Cível da Comarca de Bagé, que se iniciaram em adulteração de data de intimação em processo da Defensoria, cuja autoria foi pela serventia judicial atribuída à Defensora Odila Maria Panno.... Por fim, quanto à perícia, assevera que esta não foi conclusiva. Juntou documentos, inclusive declarações abonatórias em favor da indiciada. A Juíza de Direito denunciante, ora em exercício na Comarca de Porto Alegre, à fls. 121-3, asseverou que teve sua atenção despertada, quando Juíza na Comarca de Bagé, por petições ajuizadas pelo advogado Dr. Sérgio Oliveira e que mostravam-se idênticas as petições que partiam da Defensoria Pública, com relação a pessoa da indiciada... somente nestes casos do Dr. Sérgio Oliveira é que a depoente notou semelhança com petições da Dra. Odila Panno.... O Dr. Roberto Bayard Fernandes Figueiró, Promotor de Justiça junto à 2.ª Curadoria Cível da Comarca de Bagé, informou, à fl. 139, que em meados do ano passado, em ação de investigação de paternidade, antes de iniciar a audiência de instrução, recorda que a Dra. Odila Panno compareceu ao local, sendo então feita a colocação pelo depoente de que a indiciada não poderia fazer a audiência pois era causa particular e ela já estava impedida de fazê-la. A referida ação teria iniciado pela Dra. Odila Panno ainda à época em que podia advogar. A indiciada respondeu que somente iria assistir a audiência e posteriormente retirouse.

A Sra. Santa Teresinha de Oliveira Garcia, representante legal do autor da Ação de Alimentos antes referida, à fl. 142 afirma: Para a ação de alimentos para o seu filho Lucas a depoente procurou a Assistência Judiciária Gratuita, aqui no Foro, sendo atendida pela Dra. Odila Maria Panno, que depois encaminhou-a ao Dr. Sérgio Oliveira.... A advogada Carina Ferroni Gomes, ex-estagiária da Defensoria Pública em Bagé, asseverou, em seu depoimento às fls. 143-4, que a indiciada datilografava as petições referentes aos processos em que atuava. Nada sabe do encaminhamento de pessoas para o Dr. Sérgio Oliveira. Até três salários mínimos a pessoa era atendida, senão era orientada a procurar advogado particular, sem indicação de ninguém... sabe até porque foi a indicação que recebeu da Dra. Odila que nunca houve encaminhamento para outro ou outros advogados especificamente. À fl. 155 foi juntada cópia de substabelecimento, datado em 30 de maio de 1955, firmado pela indiciada em favor do Dr. Sérgio Oliveira, relativo aos poderes outorgados por Sinara Rodrigues Dias em representação de sua filha Simone Rodrigues Dias, nos autos da ação de investigação de paternidade cumulada com pedido de herança. (Consta à fl. 221 declaração em que a parte afirma ter indicado o nome do Dr. Sérgio Oliveira à indiciada, para representá-la no referido processo, quando a Dra. Odila Maria Panno assumiu o cargo de Defensora Pública) O Dr. SÉRGIO OLIVEIRA, em seu depoimento à fl. 214, consigna: Trabalhou no Foro e coletou modelos de petições. Sua principal atividade é a pecuária, exercendo pouco a advocacia e, em tais casos serve-se de tais modelos para peticionar. Também recorre a outros colegas para dar uma mão. Não tem escritório e nem máquina de datilografar, quem bate suas petições são sua irmã e outros colegas... Em um processo em que a Dra. Odila ficou impedida por ter tomado posse, a parte lhe procurou e o depoente assumiu a causa... (o destaque é nosso).

Por sua vez, o Estudo Social de fl. 306, firmado pela Assistente Social Mônica Miranda Vieira, conclui: SANTA TERESINHA DE OLIVEIRA GARCIA não tem condições de assumir seus 2 filhos pelos relatos acima, pois não tem equilíbrio emocional, nem responsabilidade, visto que, pelo modo de agir, pensar e ser, demonstra fartos indícios de distúrbios e prováveis desequilíbrios, pois não age como pessoa normal. O Presidente da Subseção de Bagé, da Ordem dos Advogados do Brasil, Dr. Carlos Antônio Limberger, ora licenciado, declara às fls. 427-8: Que quando ficou sabendo que o advogado Sérgio precisava de um apoio referente a ação que iria ajuizar em favor de Santa Teresinha, aconselhou-o a procurar a Dra. Odila, haja vista de que a mesma havia desativado seu escritório de advocacia, possuía máquinas de escrever e vários processos que poderiam servir como modelo para ele, advogado Sérgio, fazer sua petição acerca do referido assunto, pois o referido advogado tinha como norma basear-se em processos de outros que utilizava como modelo; que tem conhecimento que a Dra. Odila Panno emprestou máquina de escrever ao advogado Sérgio Oliveira... (o destaque é nosso). Encerrada a instrução, a defesa, em bem articulada peça, alegou cerceamento de defesa, porque não foi permitida a realização de nova perícia. Aduziu, ainda, a inexistência de prova de que a processada tivesse desviado cliente para o advogado Sérgio Oliveira, pois a única pessoa, Sra. Santa Teresinha de Oliveira Garcia, que procurou a Defensora, ora indiciada, e o advogado em comento, trata-se de uma pessoa desequilibrada. Além do mais, a Ação de Alimentos foi proposta sob o pálio da Assistência Judiciária Gratuita, dizendo que nada lhe cobrou o Dr. Sérgio. Alegou, por igual, que a prova carreada aos autos era nula, porque ilegal, já que a Juíza não poderia autorizá-la, uma vez que os feitos juntados ao PAD deveriam correr em segredo de justiça, o que tornava imprestável a prova. Por fim, sustentou a defesa de que tudo se reduzia a uma armação, pois o Corregedor-Geral e a cúpula da Defensoria Pública teria interesse em alijar os Defensores investidos pela mercê constitucional, sem concurso, como é o caso dos autos. Ponderou que o trabalho da Defensora é recomendado na Comarca pela maioria dos juízes e advogados militantes, com exceção da Juíza do 3º. Cartório Cível, posto que influenciada pelo Escrivão dessa serventia, que era desafeto da processada.

Vem, por fim, o relatório da Comissão Processante, que, após rejeitar as prefaciais levantadas pela defesa, tais como: citação irregular, cerceamento de defesa, a não realização de perícia, oitiva de uma das testemunhas na polícia, provas obtidas por meio aparentemente ilícito (fornecimento pela Juíza de peças processuais que tramitam em segredo de justiça), bem como negar a inimizade pessoal do Corregedor-Geral da Defensoria Pública com a indiciada, ou qualquer preconceito derivado do fato de a processada não ser Defensora concursada, propõe a punição da mesma com o apenamento expulsivo por ficar provado nos autos o desvio de assistidos da Defensoria Pública para escritório particular e que, pelo menos, duas petições foram redigidas pela indiciada e assinada pelo advogado Sérgio Oliveira, com o plus de que a própria Sra. Santa Teresinha de Oliveira Garcia admite que foi encaminhada pela indiciada ao advogado em comento (fl.142). Tal conduta seria ato de improbidade, conforme definição dos dispositivos da Lei n.º 8.429, de 02 de junho de 1992, pois o art. 11 da citada lei define como ato de improbidade administrativa o que atenta contra os princípios da administração pública; qualquer ação ou omissão, que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições. Sustenta o relatório que o ato da indiciada, de redigir petições para outro advogado, trabalhando em dobro, nada recebendo em troca, não fora tão inocente e altruísta, como sustentou a defesa. O objetivo seriam os honorários de sucumbência, inviabilizando entrada de recursos que poderiam ser canalizados para o Tesouro, através do FADEP (fl. 461). A Defensora Pública-Geral acolheu a conclusão da Comissão Processante em seu despacho de fls. 464-5. Levado o processo para a expedição do ato demissório pelo Exmo. Sr. Governador do Estado, a Subchefia da Casa Civil remete a esta PGE, para o parecer de que trata o art. 115, IV, da Constituição Estadual.

É o relatório. Preliminarmente, é de reconhecer-se a competência desta PGE para emitir parecer em torno da matéria, por inafastável competência constitucional, nos termos do inciso IV do art. 115, já citado, atuando a Procuradoria no feito como órgão de consultoria, sem qualquer interferência, portanto, na autonomia da Defensoria Pública na realização dos processos disciplinares em que figurem como indiciados Defensores Públicos. Improcedem, de outra banda, as preliminares argüidas pela defesa, não havendo nulidade a sanear, vez que obedecidos in totum o devido processo legal e assegurada a ampla defesa. O prazos, ao contrário do pretendido pela defesa, foram observados. A audiência de qualificação e interrogatório ocorreu em data posterior a cinco dias úteis a contar da citação, como exige o art. 228, 1.º, da Lei n.º 10.098/94. Igualmente descabe a alegação de indevido uso de peças de processos que correm sob o manto do segredo de justiça. Aliás, a eventual violação desta garantia não determina que suas cópias tenham sido obtidas por meio ilícito, como quer a defesa, ainda mais que remetidas pela Juíza que presidia os respectivos processos. Com referência ao dito cerceamento de defesa deve-se lembrar que a oitiva de testemunhas pela autoridade policial é prevista no 3.º do art. 238 da Lei antes referida, para a hipótese de recusa, como ocorreu no caso em tela.

Relativamente a ausência de sindicância preliminar é de anotar-se que, como se depreende do disposto no art. 225 do mesmo texto legal, esta é dispensável quando o fato deve ser apurado através de processo administrativodisciplinar, no qual será assegurada a ampla defesa. De qualquer sorte, o art. 221 da Lei n.º 10.098/94 estabelece: as irregularidades processuais que não constituírem vícios substanciais insanáveis, suscetíveis de influírem na apuração da verdade ou decisão do processo, não determinarão a sua nulidade. Assim, desnecessário, inclusive, o exame das demais preliminares de nulidades aventadas pela defesa, ratificando-se, apenas, os fundamentos esboçados no relatório para a rejeição destas prejudiciais. No mérito, é de ser acolhido o bem lançado relatório da Comissão de Inquérito, presidida pelo Senhor Corregedor-Geral da Defensoria Pública, Dr. Luiz Alberto Schütz. Pela prova coligida verifica-se que a indiciada elaborou e datilografou as petições firmadas pelo advogado Sérgio Oliveira. Tal fato é plenamente confirmado pela perícia grafodocumentoscópica. Desta feita, a indiciada não convence quando afirma que nada tem haver com as petições que não trazem a assinatura dela. A perícia, de qualquer forma, deve ser examinada em conjunto com o contido no Termo de Audiência de fls. 14-6 e nos depoimentos do Dr. Sérgio Oliveira ( recorre a outros colegas para dar uma mão. Não tem escritório e nem máquina de datilografar, quem bate suas petições são sua irmã e outros colegas...) e do Dr. Carlos Antônio Limberger ( que tem conhecimento que a Dra. Odila Panno emprestou máquina de escrever ao advogado Sérgio Oliveira... ), além das declarações da Sra. Santa Teresinha de Oliveira Garcia, no sentido de que ao

procurar a Assistência Judiciária Gratuita foi encaminhada ao Dr. Sérgio Oliveira, pela indiciada. Por outro lado, os depoimentos, especialmente dos advogados Sérgio Oliveira e Carlos Antônio Limberger, somente podem ser considerados nas partes coincidentes com as demais provas produzidas. Portanto, o conjunto probatório é que aponta para a culpa da indiciada pela prática de desvio do atendimento de assistidos pela Defensoria Pública para o advogado Sérgio Oliveira, tendo esta, ainda, elaborado as respectivas petições. Cabe aqui destacar-se a orientação traçada no Parecer n.º 11226, da lavra do Procurador do Estado Igor Koehler Moreira, quanto ao exame da prova:... NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO-DISCIPLINAR A PROVA INDICIÁRIA ROBUSTA É SUFICIENTE PARA ENSEJAR UM JUÍZO DE PUNIBILIDADE DOS INDICIADOS, AOS QUAIS SE IMPUTA A PRÁTICA DE CONCUSSÃO, PORQUANTO O BEM JURÍDICO TUTELADO NÃO É A LIBERDADE DOS INDICIADOS, MAS A HIGIDEZ E A MORALIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO... Em decorrência dos atos praticados, os honorários de sucumbência (sempre requeridos nas respectivas petições iniciais) seriam recebidos pelo patrono da causa em detrimento do Fundo de Aparelhamento da Defensoria Pública, consoante determina a legislação que rege a matéria. O prejuízo do erário fica evidente pela decisão registrada no Termo de fls.14-6, onde se deixou de fixar honorários na Ação de Alimentos proposta pelo Dr. Sérgio Oliveira, porque a representante do autor informou ter sido a este encaminhada pela indiciada, quando procurou a Defensoria Pública. De qualquer forma, para a caracterização da improbidade administrativa, não é exigível a ocorrência de dano ou prejuízo.

Destarte, como aponta o bem fundamentado relatório, a indiciada, ao desviar para advogado particular o atendimento de assistidos pela Defensoria Pública, visando obter os honorários da sucumbência, praticou ato de improbidade administrativa, tipificado no art. 5º. da Lei Complementar nº. 10.194/94, combinado com o art. 7.º da Lei nº. 10.236/94, e com o art. 191, VI, da Lei Complementar nº. 10.098/94, punível com a pena de demissão. DIANTE DO EXPOSTO, opino pelo acolhimento do relatório, aplicando-se a pena de demissão à Defensora Pública ODILA MARIA PANNO. É o parecer. Porto Alegre, 12 de junho de 1997. Gabriel P. Fadel, Procurador do Estado. Processo nº. 001558-30.00/95.7

Processo nº 001558-30.00/95.7 000637-30.00/97.8 Acolho as conclusões do PARECER nº 11667, do Conselho Superior da Procuradoria-Geral do Estado, de autoria do Procurador do Estado Doutor GABRIEL PAULI FADEL, aprovado pelo Colegiado, por maioria de votos, na sessão realizada no dia 11 de junho de 1997. Submeta-se o expediente à decisão do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado. Em 16 de junho de 1997. EUNICE NEQUETE MACHADO, PROCURADORA-GERAL DO ESTADO.

Processo nº 001558-30.00/95.7 000637-30.00/97.8 Aprovo o PARECER nº 11667, da Procuradoria-Geral do Estado, cujos fundamentos adoto para aplicar a pena de demissão à Defensora Pública ODILA MARIA PANNO, matrícula nº 1.123153.0, lotada no núcleo da REGIÃO 6 (Bagé) da Defensoria-Geral do Estado. À Procuradoria-Geral do Estado para as anotações de praxe. Após, à Defensoria-Geral do Estado, para publicação do ato demissório e demais providências pertinentes. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, ANTÔNIO BRITTO, GOVERNADOR DO ESTADO.