Investimentos Os ventos da internacionalização da economia e a necessidade de modernizar estruturas e reduzir custos levaram à reordenação da indústria. 30 indústria automobilística no Brasil elegeu o ABC paulista para fixar suas raízes e crescer. Foi uma época em que a população daquela região assistiu a uma transformação sem precedentes na sua paisagem e modo de vida. O espaço onde as famílias de São Bernardo do Campo - que já foi chamado "berço da indústria automobilística" - faziam seu piquenique dominical foi ocupado pelas instalações da alemã Mercedes- Benz, que em 1953 fincou sua planta no bairro conhecido hoje por Vila Paulicéia, à beira da via Anchieta. Antes disso, em 1930, a General Motors inaugurava sua primeira fábrica, em São Caetano do Sul, na mesma região do ABC, tendo iniciado sua história no Brasil em 1925, em galpões alugados no bairro do Ipiranga, São Paulo, onde montava veículos importados dos Estados Unidos. Pouco mais tarde esse rastilho desenvolvimentista correu na direção do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, impulsionando vigorosamente as economias locais. Para poder abrigar as pessoas envolvidas na construção do que viria ser seu Complexo Industrial Automotivo em São José dos Campos, a General Motors ergueu um hotel dentro da área da fábrica, inaugurada em 1959. Era destinado unicamente a seus executivos em trânsito e aos residentes pioneiros, até que encontrassem moradia na cidade. Posteriormente foi a vez da Ford plantar suas raízes no Vale do Paraíba e montar fábrica em Taubaté em 1975. Quatro anos depois era a Volkswagen quem instalava fábrica em Taubaté. Os que chegaram depois ao Brasil escolheram outros Esta-
dos. Betim, em Minas Gerais, sedia desde 1976 a maior fábrica de automóveis do Grupo Fiat fora de seu país natal, a Itália. Três anos depois a Volvo lançava o primeiro chassi de ônibus com motor entre-eixos, um marco na história do transporte brasileiro fabricado na planta construída em Curitiba, Estado do Paraná. Passado o período de expansão da segunda metade da década de 90, a indústria automobilística deu início a outro momento importante em sua história. Impelida pelos ventos da internacionalização da economia, pela necessidade de modernizar sua estrutura e de reduzir custos partiu para a prospecção de mercados emergentes, fez aquisições, fusões, costurou novos acordos com fornecedores e saiu em busca de vantagens territoriais que modificaram a geografia do setor. Cidades como Gravataí, RS, Camaçari, BA, São José dos Pinhais, PR, Resende, RJ, e Catalão, GO, entraram para o mapa dos pólos automobilísticos brasileiros numa disputa nunca vista antes por parte dos governos, interessados no desenvolvimento que as novas fábricas e seus investimentos pudessem trazer. De fato, além de veículos, as automobilísticas produziram efeitos que ultrapassaram a ocupação da mão-de-obra dessas cidades, dando a elas lugar de destaque no panorama da economia brasileira e tornando-as atrativas a novos empreendedores de grande, médio e pequeno porte. Outras fábricas do segmento de autopeças vieram em seu rastro em busca de oportunidades e, reunidas em torno de projetos comuns e da necessidade de desenvolver competências locais para si próprias, deram início a importantes parcerias Fábrica da General Motors em Gravataí, RS. 31
Investimentos Ns relações de trabalho as montadoras trouxeram novas práticas que resultaram na modernização das relações sindicais. Fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais, PR com o objetivo de qualificação profissional. No aspecto das relações de trabalho as montadoras trouxeram novas práticas que resultaram em movimentos mais organizados por parte dos sindicatos. Em Camaçari, cidade-sede do maior pólo petroquímico do País, a 50 quilômetros da Capital, Salvador, onde a Ford chegou há pouco mais de quatro anos com investimentos de US$1,2 bilhão e 8,5 mil empregos - 90% preenchidos por mãode-obra do próprio município - os salários, que naquela época correspondiam a um terço com relação aos do ABC paulista, cresceram substancialmente, segundo a Confederação Nacional dos Metalúrgicos. É do complexo Industrial Ford Nordeste que saem 60% das vendas da montadora para o mercado doméstico à velocidade de um veículo a cada 80 segundos. Com a Ford vieram seus sistemistas, que investiram outros US$ 700 milhões na instalação de suas fábricas para o fornecimento de peças e componentes. Não demorou muito e começaram a chegar novos empreendedores em busca das oportunidades geradas pela movimentação de pessoas que vinham a negócios. Até novos cursos foram inaugurados nas faculdades e universidades locais. A chegada da Ford em Camaçari foi a resposta que a cidade buscava. Apesar da pujança de seu parque industrial - seu PIB é o terceiro do Nordeste - o desemprego ainda atingia boa parte dos habitantes que, vindos para trabalhar na construção civil, acabaram ficando sem emprego por falta de qualificação. Com o desafio de formar mão-de-obra qualificada a curtíssimo prazo a Ford fez alianças com instituições como o Senai. Lançou em seu complexo industrial programa cuja missão é atribuir a fornecedores locais a maior parte do suprimento de produtos e serviços, preparando-os por meio de cursos nas áreas de mecânica, funilaria, pintura automática e manutenção industrial. 32
Investimentos Segundo pesquisa divulgada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul o número de empresas ligadas ao Complexo Industrial Automotivo de Gravataí passou de 69, em 2000, para 462 em 2003. Fábrica de motores da Volvo em Curitiba, PR 34 Por essas e outras razões é que nos últimos anos vários estados disputaram investimentos da indústria automobilística. Gravataí, a 22 quilômetros de Porto Alegre, foi a escolhida pela General Motors para o estabelecimento de seu condomínio industrial, há seis anos. Lá também estão seus dezessete fornecedores. O investimento inicial conjunto de US$ 600 milhões gerou mais do que os 3,5 mil empregos diretos e indiretos prometidos no início da operação. Antes ainda de a fábrica ficar pronta a cidade fervilhava em novos empreendimentos, com a construção e reforma de hotéis, moradias, locadoras de veículos, restaurantes. O jornal local que era semanal passou a ser diário. A chegada da GM em Gravataí gerou até teses de doutorado. Segundo pesquisa divulgada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul o número de empresas ligadas ao Complexo Industrial Automotivo de Gravataí passou de 69, em 2000, para 462 em 2003, "apresentando tendência de substituição de fornecedores de outros estados por locais". O mesmo estudo apontou mudanças significativas nos sindicatos de trabalhadores, atribuídas à operação do Complexo Industrial da GM: a base de 8 mil trabalhadores expandiu para cerca de 13 mil em 2003. Em São José dos Pinhais, 15 quilômetros do Centro de Curitiba, a Volkswagen Audi instalou uma das mais modernas fábricas do grupo. Com investimentos de US$ 800 milhões e 2,6 mil empregados a fábrica gerou mais de 10 mil postos de trabalho indiretos desde a inauguração, em 1999, todos ligados ao que se chamou mais tarde Parque Industrial Curitiba, onde também se fixaram catorze fornecedores. Um fôlego a mais para uma comunidade de 200 mil habitantes que cresce à taxa anual de 5% e vive índice de desemprego de 7,5%, segundo o Dieese, a Prefeitura e o Sindicato dos Metalúrgicos da Região Metropolitana de Curitiba. Um dos investimentos sociais da fábrica do Paraná são convênios estabelecidos com doze universidades e faculdades para cooperação técnica, científica e educacional, e o desenvolvimento de projetos sociais que beneficiam 2,7 mil crianças e adolescentes carentes. Pouco antes disso, em 1998, a cidade recebeu também a primeira unidade da Renault, construída no Complexo Ayrton Senna. A empresa trouxe investimentos iniciais que chegaram a US$ 1 bilhão 350 milhões, aplicados na construção de três fábricas, organização de rede de concessionários e no estabelecimento do parque de fornecedores. Construído em área de 2,5 milhões de m2 o Complexo Ayrton Senna conta hoje com as fábricas em funcionamento. Uma de veículos de passeio, a segunda de utilitários - que produz os veículos da Nissan no Brasil, graças à aliança internacional estabelecida pelas empresas - e a de motores.
Considerado referência em termos de qualidade dentro do Grupo Renault o complexo industrial de Pinhais dá emprego direto a perto de 2,9 mil trabalhadores, gerando ainda em torno de 15 mil postos de trabalho indiretos. Concluída a sua primeira etapa a Renault anunciou planos de produzir cinco novos veículos até 2009. Outra japonesa, a Mitsubishi, plantou em 1998 sua fábrica brasileira investindo US$ 35 milhões em Catalão, no Sudeste goiano. A PSA Peugeot Citroën montou há pouco mais de cinco anos sua estrutura industrial no Brasil, em Porto Real, RJ, onde 1,6 mil operários trabalharam ao ritmo de produção 92 mil veículos Peugeot e Citroën em 2005. Outras cidades brasileiras assistem, entusiasmadas, à chegada das novas automobilísticas. É o caso de Anápolis, GO, que está recebendo inúmeros empreendedores e negociando a instalação de terminal aeroportuário de carga para a demanda esperada com a fábrica da Hyundai, cujo funcionamento está previsto para o fim deste ano. Quem não quer? Fábricas de autoveículos e máquinas agrícolas automotrizes Fábricas de autoveículos Fábricas de máquinas agrícolas automotrizes Total Fábrica em construção - John Deere máquinas agrícolas automotrizes 25 11 36 1 35