DIREITO AGRÁRIO 1. CLASSIFICAÇÃO DOS IMÓVEIS RURAIS A PARTIR DA CF/88 E LEI AGRÁRIA

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Transcrição:

Classificação dos Imóveis Rurais A partir da CF/88 e Lei Agrária: Pequena, Média e Grande Propriedade. Propriedade Produtiva e Propriedade Improdutiva. 1. CLASSIFICAÇÃO DOS IMÓVEIS RURAIS A PARTIR DA CF/88 E LEI AGRÁRIA A partir da Constituição Federal de 1988 a referida classificação passou a utilizar novas terminologias: pequena propriedade, média propriedade, grande propriedade (Arts. 5º, XXVI; 185, I), propriedade produtiva (Art. 85, II) e, por consequência, propriedade improdutiva. O texto constitucional não lhes definiu conceito, tarefa que coube ao legislador infraconstitucional: Lei n. 8.629/93). Desta forma, para parte da doutrina não se deve mais utilizar as expressões latifúndio e minifúndio. Contudo, os contornos dos novos institutos ainda não estão bem definidos doutrinariamente. a) Pequena propriedade rural: LEI Nº 8.629, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1993. I - Pequena Propriedade - o imóvel rural: a) de área até quatro módulos fiscais, respeitada a fração mínima de parcelamento; (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017) 1º São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra propriedade rural. (Redação dada pela nº Lei nº 13.465, de 2017) 2 o É obrigatória a manutenção no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) de informações específicas sobre imóveis rurais com área de até um módulo fiscal. (Incluído pela pela Lei nº 13.465, de 2017) Para a classificação da propriedade em pequena, media ou grande propriedade rural, obtém-se o número de módulos fiscais dividindo-se a área aproveitável do imóvel pelo módulo fiscal do Município. Importante observar que se levará em conta unicamente a área aproveitável, e não a área total do imóvel, de conformidade com Art. 50. Para cálculo do imposto, aplicar-se-á sobre o valor da terra nua, constante da declaração para cadastro, e não impugnado pelo órgão competente, ou resultante de avaliação, a alíquota correspondente ao número de módulos fiscais do imóvel, de acordo com a tabela adiante: (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979) 3º O número de módulos fiscais de um imóvel rural será obtido dividindo-se sua área aproveitável total pelo modulo fiscal do Município. (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979) Em pelo menos dois dispositivos constitucionais há expressa referencia à pequena ou à pequena e média propriedade rural, ambos remetendo à lei ordinária a tarefa de explicitar o que se entender como tal. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;

em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; Cumpre distinguir a pequena propriedade do minifúndio, que é, na definição de Benedito Ferreira Marques, uma pequena gleba que, não obstante trabalhada por uma família, mesmo absorvendo-lhe toda a força de trabalho, mostra-se insuficiente a substanciar o progresso econômico e social do grupo familiar. (2015, p. 67-68). b) Média propriedade: Conforme a Lei n. 8.629/93 III - Média Propriedade - o imóvel rural: a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais; Parágrafo único. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra propriedade rural. 1º São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra propriedade rural. (Redação dada pela nº Lei nº 13.465, de 2017) 2 o É obrigatória a manutenção no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) de informações específicas sobre imóveis rurais com área de até um módulo fiscal. (Incluído pela pela Lei nº 13.465, de 2017) A classificação é definida pela Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 e leva em conta o módulo fiscal (e não apenas a metragem), que varia de acordo com cada município. A média propriedade, pelas dimensões que lhe foram conferidas, caso não cumpra os requisitos da função social, deveria ser denominada de latifúndio, nos termos do disposto no Estatuto da Terra e seus regulamentos. Imóvel rural pequeno ou médio não pode ser desapropriada se for o único do dono 7 de janeiro de 2017, 8h27 Propriedades rurais pequenas e médias não podem ser desapropriadas para fins de reforma agrária se seus proprietários não tiverem outro imóvel. Com esse entendimento, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes anulou o decreto presidencial que, em 2010, declarou de interesse social, para fins de reforma agrária, uma média propriedade rural no município de Itaporanga D Ajuda (SE). Para Gilmar Mendes, desapropriação feita pelo então presidente Lula foi ilegal. A decisão foi tomada no Mandado de Segurança 29.005, em que o proprietário da Fazenda São Judas Tadeu argumentou que o decreto de desapropriação ignorou o fato de que o imóvel rural original Fazenda São Judas Tadeu e Jerusalém foi desmembrado em 2005, tendo sido gerados dois novos imóveis, com matrículas distintas. O autor do pedido também informou que este é seu único imóvel rural. Em sua decisão, o ministro Gilmar Mendes afirma que o artigo 185 da Constituição Federal estabelece como insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e a média

propriedades rurais, assim definidas em lei, desde que seu proprietário não possua outra. Por sua vez, a Lei 8.629/1993, ao regulamentar os dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, definiu: é considerada pequena propriedade o imóvel rural com área compreendida entre um e quatro módulos fiscais. A média é aquela com área superior a quatro e até 15 módulos fiscais. A classificação definida pela Lei 8.629/1993 leva em conta o módulo fiscal (e não apenas a metragem), que varia de acordo com cada município. E, de acordo com tabela do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o módulo fiscal no Município de Itaporanga D Ajuda equivale a 10 hectares. Conforme observou o ministro Gilmar Mendes, a partir desses parâmetros, conclui-se que a propriedade rural de 105,9 hectares tem 10,5 módulos fiscais. Quanto ao requisito de titularidade de um único imóvel rural, o ministro Gilmar Mendes destacou que a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que o ônus dessa prova é da entidade expropriante. Segundo o relator, não há, nas informações prestadas pela Presidência da República, a demonstração de que o impetrante tenha outra propriedade rural. O MS foi concedido pelo ministro-relator para anular o decreto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no que diz respeito exclusivamente ao imóvel rural denominado Fazenda São Judas Tadeu. Critérios para medição A atual presidente do STF, Cármen Lúcia, já decidiu que, para que o imóvel rural seja classificado como pequeno, médio ou grande, deve ser considerada a área total do imóvel, e não apenas a área aproveitável. A decisão da ministra é referente ao processo de desapropriação da Fazenda das Pedras, no município de Anápolis (GO), a 55 quilômetros de Goiânia. Com informações da Assessoria de Imprensa do STF. MS 29.005 c) Grande Propriedade: O instituto da Grande Propriedade não encontra, definição legal expressa. Sua conceituação é extraída da Lei por dedução: trata-se do imóvel com área acima de quinze módulos fiscais. d) Propriedade produtiva: Propriedade produtiva é aquela que, independente de seu tamanho, atinge os níveis de produção e produtividade exigidos por lei. O art. 185 da CF/88 prevê que são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. O parágrafo único deste dispositivo constitucional determina que a lei infraconstitucional garanta tratamento especial à propriedade produtiva e fixe normas para o cumprimento dos requisitos relativos à sua função social. Nos termos do disposto no art. 6º da Lei nº 8.629/93, é considerada propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente. O grau de utilização da terra (GUT) deverá ser de, no mínimo, 80%. E o grau de eficiência na exploração (GEE), no mínimo de 100%. Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo

órgão federal competente. 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel. 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática: I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração. 3º Considera-se efetivamente utilizadas: I - as áreas plantadas com produtos vegetais; II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado pelo Poder Executivo; III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental; IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições estabelecidas pelo órgão federal competente; V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas permanentes V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas permanentes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediante documentação e Anotação de Responsabilidade Técnica. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) 4º No caso de consórcio ou intercalação de culturas, considera-se efetivamente utilizada a área total do consórcio ou intercalação. 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-se efetivamente utilizada a maior área usada no ano considerado. 6º Para os produtos que não tenham índices de rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso I do 2º deste artigo. 7º Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão competente, deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração, exigidos para a espécie. 8º São garantidos os incentivos fiscais referentes ao Imposto Territorial Rural relacionados com os graus de utilização e de eficiência na exploração, conforme o disposto no art. 49 da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Notem que os elementos que compõem o conceito de propriedade produtiva se restringem aos aspectos econômicos, de forma que dá a impressão de estar dispensada do cumprimento dos demais elementos da função social. Embora não haja lei estabelecendo a fixação de normas para o cumprimento dos requisitos relativos à função social para a propriedade produtiva, isso não significa que a terra está isenta de cumprir sua função social, pois este é o princípio fundamental que inspira todo o Direito Agrário, embora siga majoritária a jurisprudência que impede a desapropriação da terra

considerada produtiva por seu aspecto econômico, mas que não cumpre todos os requisitos da função social. Movimentos sociais em prol da reforma agrária há muito se mobilizaram para promover atualização dos índices de produtividade de terra. Alegam que este é um dos principais entraves para o avanço da reforma agrária e esperam, para o governo Dilma Rousseff, um grande entrave na aprovação de um projeto de lei específico, já em tramitação, que visa alterar a Lei nº 8.629/93, com vistas a substituir o critério de avaliação dos graus de utilização da terra e de eficiência na exploração pelo de aproveitamento agropecuário compatível com a produtividade do solo e sua respectiva classe de capacidade de uso. Referido Projeto de Lei ainda prevê que a caracterização da propriedade como produtiva, quando questionada administrativamente, exigirá do proprietário laudo técnico, elaborado por profissional habilitado em ciências agrárias, capaz de analisar o potencial produtivo da propriedade e sua produtividade total. e) Propriedade improdutiva: Por exclusão, a propriedade que não alcança os índices de produção e produtividade estabelecidos em lei, independente do tamanho (pequena, média ou grande propriedade) é classificada como improdutiva. Súmula 354 do STJ protege propriedade improdutiva 21 de outubro de 2009, 16h43 A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária. (Referências: RESP 819.426/GO, RESP 893.871/MG, RESP 938.895/PA, RESP 590.297/MT e RESP 964.120/DF) O Superior Tribunal de Justiça editou no ano passado a Súmula 354 que trata das invasões a imóveis rurais. Entende que, ainda que a invasão seja posterior a avaliação e vistoria de classificação de produtividade, tal fato ensejaria na suspensão do processo expropriatório. A alegação da respeitável corte é de que a comprovação da produtividade do imóvel expropriado, conquanto não se possa efetivar dentro do feito expropriatório, pode ser buscada pelas vias ordinárias. Conclui-se, daí, que eventuais invasões motivadas por conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo podem, sim, alterar o resultado das demandas dessa natureza (...) (REsp 1057870/MA, Rel. Ministra Denise Arruma, Primeira Turma, julgado em 21/08/2008, DJe 10/09/2008). Neste sentido, já se pode notar a aplicação da referida Súmula no âmbito do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que em decisão proferida pelo desembargador Baptista Pereira, em sede de Agravo de Instrumento (autos nº 2008.03.00.030437-0), suspendeu liminarmente a ação de desapropriação para fins de reforma agrária, adotando o citado entendimento jurisprudencial. Em uma análise marginal da matéria, o posicionamento do STJ poderia parecer o mais acertado. Contudo, a Súmula revela, na verdade, o ideal conservador da corte, priorizando a proteção da propriedade improdutiva do particular, em detrimento do interesse público e da justa distribuição de terras no país. Desta feita, outra coisa não se conclui senão que a Súmula 354 é um retrocesso jurídico, visto que

a invasão do imóvel não pode funcionar como uma proteção para aquele cuja propriedade não cumpre sua função social. Criou-se, assim, um mecanismo para barrar todos os procedimentos administrativos e judiciais que visam desapropriar os imóveis rurais improdutivos, sob a escusa da proteção ao direito de propriedade. O que de fato se incentiva, aqui, é a criação de um novo artifício para os grandes proprietários de imóveis rurais: o das invasões por encomenda. Basta contratar um sem número de cidadãos para invadir o imóvel, que ele estará imune de qualquer imposição legal. É de se espantar o posicionamento adotado pelo STJ, vez que não coaduna com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, conforme sê depreende do próprio conteúdo do REsp 1.057.870/MA, que ensejou a edição do Enunciado 354 da Súmula do STJ. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal considera que: (...) as invasões hábeis a ensejar a aplicação do 6º do art. 2º da Lei nº 8.629/93 são aquelas ocorridas durante a vistoria, ou antes dela (MS 26.136/ MS 25.186/ 25.022/ 25360). (g.n.) Ora, evidente que se ficar constatada a improdutividade do imóvel, o fato da invasão ou esbulho possessório ocorrer posterior à vistoria, embora condenável, não poderá ter o condão de assegurar ao proprietário a manutenção da terra que não cumpre sua função social. Ademais, a aludida norma legal ( 6º do art. 2º da Lei nº. 8.629/93) visa a proteção da propriedade privada, nos exatos termos da Constituição, no sentido de preservar a possibilidade de ser avaliada corretamente a produtividade e o cumprimento da função social da terra. Este é, pois, o sentido da MP 2.183/2001: garantir a inviolabilidade da produtividade e do cumprimento da função social. O entendimento do Supremo Tribunal Federal, portanto, parece ser o mais coerente. Assim, nos casos em que já ocorreu a vistoria e a apuração do descumprimento dos critérios legais de produtividade e função social, deverá se considerar inócuo o esbulho coletivo, pois, admitir que este fator (posterior à produção dos laudos) influencie no andamento dos processos judiciais e procedimentos da administração pública, criaria uma alternativa para o proprietário imunizar a sua terra contra qualquer possibilidade de desapropriação para fins de reforma agrária, ferindo aquilo que a Constituição Federal pretendeu defender em seus artigos 5º, XXIII; 170, III e 184, caput.