Nº 245339/2015 ASJCIV/SAJ/PGR

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Nº 245339/2015 ASJCIV/SAJ/PGR Proponente: Associação Nacional de Defensores Públicos Anadep PROPOSTA DE SÚMULA VINCULANTE. ART. 134, 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DEFENSORIA PÚBLICA. AUTONOMIA FUNCIONAL E ADMINISTRATIVA. INICIATIVA. PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA. 1 É reiterado o entendimento do Supremo Tribunal Federal pela inconstitucionalidade da sujeição administrativa da Defensoria Pública a outro órgão da administração central e da interferência do Poder Executivo em sua iniciativa à proposta orçamentária. 2 Texto da proposta: O art. 134, 2º, da Constituição da República, é norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata, sendo inconstitucionais quaisquer medidas do Poder Executivo, ou demais Poderes, que violem a autonomia funcional, administrativa e financeira da instituição. 3 Parecer pela procedência da proposta de súmula vinculante. Trata-se de proposta de formalização de súmula vinculante apresentada pela Associação Nacional de Defensores Públicos em razão dos pronunciamentos do Supremo Tribunal Federal acerca da interpretação e aplicação do art. 134, 2º, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional 45/2004, e das prerrogativas institucionais da Defensoria Pública.

A petição inicial busca evidenciar, sintetizando a orientação do Supremo Tribunal Federal, os contornos interpretativos da norma citada e afastar qualquer submissão da Defensoria Pública ao Poder Executivo. Aponta, para tanto, as Ações Diretas de Inconstitucionalidade 3569, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 3965, Rel. Min. Cármen Lúcia, 4056, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4163, Rel. Min. Cezar Peluso, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 307-Referendo da medida cautelar, Rel. Min. Dias Toffoli e Recurso Extraordinário 599620-Agravo Regimental, Rel. Min. Eros Grau. Nesses julgamentos, a Suprema Corte, em função da autonomia administrativa e financeira e da iniciativa de proposta orçamentária, reconheceu a inconstitucionalidade da subordinação hierárquico-administrativa a outros órgãos do Poder Executivo. Coincidente com a linha adotada pelo STF, com base no Parecer 838-PGR-AF, da lavra do então Procurador-Geral da República, Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, a Procuradoria- Geral da República assim se manifestou: 12. De fato, o papel da Defensoria Pública como instrumento de afirmação da dignidade humana, através da garantia do acesso ao Poder Judiciário, é relevante e fundamental à construção de um verdadeiro Estado Democrático de Direito, daí porque possui eficácia imediata a norma que assegura a autonomia da Instituição. 2

13. Isso significa que a vinculação da Defensoria Pública a qualquer outra estrutura do Estado se revela inconstitucional, na medida em que impede o pleno exercício de suas funções institucionais, dentre as quais se inclui a possibilidade de, com vistas a garantir os direitos dos cidadãos, agir com liberdade contra o próprio Poder Público. A doutrina, também sensível às prerrogativas reconhecidas pelo novel texto constitucional, reconheceu: A EC n. 45/2004, de forma pontual, acrescentou ao art. 134 o 2º. Neste prevê-se autonomia funcional e administrativa às Defensorias Públicas Estaduais, bem como a iniciativa de sua proposta orçamentária. Trata-se, enfim, de medida assaz pertinente, com vistas a inculcar, finalmente, nas Defensorias Públicas, a capacidade de estruturar e desenvolver sua atividade-fim sem qualquer interferência estranha (externa). Em outras palavras, sob um prisma pragmático, a outrora irrelevante e inexistente Defensoria Pública (cuja condição negativa decorria de seus parcos recursos), com a aplicação dessas medidas carreadas pela EC n. 45/2004, passará, doravante, a apresentar uma pontual atuação social. Afinal, não se pode falar em autonomia e efetiva participação na vida da população carente se não forem investidos recursos suficientes para a ampla atuação da Defensoria Pública. 1 Desse modo, em razão da jurisprudência harmônica, satisfeito está o requisito legal concernente às reiteradas decisões sobre matéria constitucional, na linha do art. 2º da Lei 11.417/2006. Ultrapassadas as questões pertinentes à viabilidade e à conveniência na formulação da súmula vinculante no presente caso, urge 1 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 1.097-1.098. 3

analisar o conteúdo do preceito, de modo a mantê-lo parelho ao posicionamento do Supremo Tribunal Federal. A Associação Nacional dos Defensores Públicos propôs o seguinte texto: O art. 134, 2º, da Constituição da República, é norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata, sendo inconstitucionais quaisquer medidas do Poder Executivo, ou demais Poderes, que violem a autonomia funcional, administrativa e financeira da instituição. A essência do texto encontra-se consignada na já aludida jurisprudência dominante do STF, razão pela qual a redação não merece reparos. Primeiramente, saliente-se que a formulação de medida restritiva aos demais Poderes da República toca em algumas limitações do sistema jurídico. A primeira delas é o cerceamento a medidas do Poder Legislativo, que possui por atribuição exatamente a faculdade de alteração da ordem jurídica de modo a adaptá-la às novas exigências da contemporaneidade, sequer contrastáveis à irradiação dos efeitos emanados das decisões típicas do controle abstrato. Nesse particular, pela completude da manifestação ofertada no Informativo 701/STF, de autoria do Ministro Celso de Mello, bem se observa o entendimento da Corte a esse respeito: 4

RECLAMAÇÃO. PRETENDIDA SUBMISSÃO DO PROCESSO LEGISLATIVO AO EFEITO VINCULANTE QUE RESULTA DO JULGAMENTO, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DAS CAUSAS DE FISCALIZAÇÃO ABSTRATA DE CONSTITUCIONALIDADE. INADMISSIBILIDADE. CONSEQUENTE POSSIBILIDADE DE O CHEFE DO PODER EXECUTIVO, POR MEIO DE SANÇÃO (ATO IMPREGNADO DE QUALIFICAÇÃO CONSTITUCIONAL E INTEGRANTE DO PRÓPRIO PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS LEIS), CONVERTER, EM LEI, PROJETO CUJO CONTEÚDO ESTARIA EM CONFLITO COM DECISÃO CONFIRMATÓRIA DA CONSTITUCIONALIDADE DE CERTO DIPLOMA LEGISLATIVO, PROFERIDA, EM SEDE DE CONTROLE ABSTRATO, PELA SUPREMA CORTE. DOUTRINA. PRECEDENTES. INVIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO, NESSE CONTEXTO, DO INSTRUMENTO PROCESSUAL DA RECLAMAÇÃO COMO SUCEDÂNEO DE RECURSOS E DE AÇÕES JUDICIAIS EM GERAL. RECLAMAÇÃO NÃO CONHECIDA. Decisão: Sustenta-se, nesta sede processual presentes os motivos determinantes que substanciaram a decisão que esta Corte proferiu na ADI 4.167/DF, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, que o ato de que ora se reclama (sanção do projeto que se converteu na Lei estadual nº 1.666/2012) teria desrespeitado a autoridade desse julgamento plenário, notadamente da eficácia vinculante que lhe é inerente. Passo a apreciar, preliminarmente, a admissibilidade, ou não, no caso ora em exame, da utilização do instrumento reclamatório. A reclamação, qualquer que seja a natureza que se lhe atribua ação (PONTES DE MIRANDA, Comentários ao Código de Processo Civil, tomo V/384, Forense), recurso ou sucedâneo recursal (MOACYR AMARAL SANTOS, RTJ 56/546-548; ALCIDES DE MENDONÇA LIMA, O Poder Judiciário e a Nova Constituição, p. 80, l989, Aide), remédio incomum (OROSIMBO NONATO, apud Cordeiro de Mello, O Processo no Supremo Tribunal Federal, vol. 1/280), incidente processual (MONIZ DE ARAGÃO, A Correição Parcial, p. 110, 1969), medida de direito processual constitucional (JOSÉ FREDERICO MARQUES, Manual de Direito Processual Civil, vol. 3º, 2ª parte, p. 199, item n. 653, 9ª ed., l987, Saraiva) ou medida processual de caráter excepcional (RTJ 112/518-5

522, Rel. Min. DJACI FALCÃO), configura instrumento de extração constitucional, não obstante a origem pretoriana de sua criação (RTJ 112/504), destinado a viabilizar, na concretização de sua dupla função de ordem político-jurídica, a preservação da competência do Supremo Tribunal Federal, de um lado, e a garantia da autoridade de suas decisões, de outro (CF, art. 102, I, l ), consoante tem enfatizado a jurisprudência desta Corte Suprema (RTJ 134/1033, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). Presente essa dupla vocação constitucional do instituto da reclamação, verifico que a parte ora reclamante, a pretexto de se insurgir contra o Projeto de Lei nº 003/2012, de autoria do Senhor Governador do Estado do Amapá, cujo conteúdo material teria desrespeitado decisão desta Suprema Corte que declarou a constitucionalidade de preceitos normativos de diploma legislativo editado pela União (ADI 4.167/DF), estaria, na realidade, questionando, em última análise, a própria edição da Lei Estadual nº 1.666, de 09 de maio de 2012, do Estado do Amapá. Sob tal perspectiva, cabe assinalar que o efeito vinculante resultante do julgamento, por esta Suprema Corte, dos processos de fiscalização abstrata não se aplica nem se estende à atividade legislativa, consoante já advertiu o Supremo Tribunal Federal: RECLAMAÇÃO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE GARANTIA DA AUTORIDADE DE DECISÃO DO STF CABIMENTO INOCORRÊNCIA DO DESCUMPRIMENTO ALEGADO PEDIDO INDEFERIDO. [ ] A instauração do controle normativo abstrato perante o Supremo Tribunal Federal não impede que o Estado venha a dispor, em novo ato legislativo, sobre a mesma matéria versada nos atos estatais impugnados, especialmente quando o conteúdo material da nova lei implicar tratamento jurídico diverso daquele resultante das normas questionadas na ação direta de inconstitucionalidade. (RTJ 157/773, Rel. Min. CELSO DE MELLO) Reclamação: cabimento para garantir a autoridade das decisões do STF no controle direto de constitucionali- 6

dade de normas: hipóteses de cabimento hoje admitidas pela jurisprudência (precedentes), que, entretanto, não abrangem o caso da edição de lei de conteúdo idêntico ou similar ao da anteriormente declarada inconstitucional, à falta de vinculação do legislador à motivação do julgamento sobre a validez do diploma legal precedente, que há de ser objeto de nova ação direta. (RTJ 177/160, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE) INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Lei estadual. (...). Edição de lei posterior, de outro Estado, com idêntico conteúdo normativo. Ofensa à autoridade da decisão do STF. Não-caracterização. Função legislativa que não é alcançada pela eficácia erga omnes, nem pelo efeito vinculante da decisão cautelar na ação direta. Reclamação indeferida liminarmente. Agravo regimental improvido. (...). A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal Federal, em ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal, só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder Executivo, não alcançando o legislador, que pode editar nova lei com idêntico conteúdo normativo, sem ofender a autoridade daquela decisão. (RTJ 193/858, Rel. Min. CEZAR PELUSO) Essa asserção que põe em evidência a inaplicabilidade da eficácia vinculante à atividade normativa do Poder Legislativo encontra fundamento em autorizado magistério doutrinário (OSWALDO LUIZ PALU, Controle de Constitucionalidade, p. 183, item n. 9.5, 2ª ed., RT), cabendo referir, a tal propósito, a precisa observação de GILMAR FERREIRA MENDES ( Controle Concentrado de Constitucionalidade, obra escrita em conjunto com Ives Gandra da Silva Martins, p. 335, item n. 7.3.5, 2001, Saraiva): Poder-se-ia indagar se a eficácia erga omnes teria o condão de vincular o legislador, de modo a impedi-lo de editar norma de teor idêntico àquela que foi objeto de declaração de inconstitucionalidade. 7

A doutrina tedesca, firme na orientação segundo a qual a eficácia erga omnes tal como a coisa julgada abrange exclusivamente a parte dispositiva da decisão, responde negativamente à indagação. Uma nova lei, ainda que de teor idêntico ao do texto normativo declarado inconstitucional, não estaria abrangida pela força de lei. Também o Supremo Tribunal Federal tem entendido que a declaração de inconstitucionalidade não impede o legislador de promulgar lei de conteúdo idêntico ao do texto anteriormente censurado. Tanto é assim, que, nessas hipóteses, tem o Tribunal processado e julgado nova ação direta, entendendo legítima a propositura de uma nova ação direta de inconstitucionalidade. (grifei) Como já enfatizado, esse entendimento reflete-se na própria jurisprudência constitucional que o Supremo Tribunal Federal firmou no exame da matéria, valendo mencionar, a esse respeito, decisões plenárias desta Corte, consubstanciadas em acórdãos assim ementados: Lei nº 2.130, de 16 de junho de 1993, do Estado do Rio de Janeiro. Pedido de suspensão de sua eficácia manifestado por meio de reclamação, sob alegação de tratar-se de reprodução de lei anterior (nº 1.914, de 1991), da mesma unidade federada, cujos efeitos foram suspensos pelo Supremo Tribunal Federal, na ADIn nº 669. Reclamação convertida em ação direta de inconstitucionalidade, na forma de precedentes do STF (ADIn nº 864, Relator Ministro Moreira Alves), com deferimento de nova cautelar, face à subsistência das razões determinantes da provisória privação dos efeitos da lei reproduzida. Medida liminar deferida. (RTJ 150/726-727, Rel. Min. ILMAR GALVÃO grifei) Ação direta de inconstitucionalidade. Medida liminar. A presente ação direta diz respeito a lei do Estado do Rio Grande do Sul a de nº 9.844, de 24 de março de 1993 cujo conteúdo abrange parcialmente o do artigo 5º da Lei 9.265, de 13.06.91, do mesmo Estado, 8

do qual a eficácia ficou suspensa em virtude do deferimento do pedido de liminar na ADIn nº 546. Em casos como este, cabível é outra ação direta de inconstitucionalidade, e não reclamação. Diferença entre eficácia erga omnes e efeito vinculante. Ocorrência, no caso, de relevância jurídica e de periculum in mora, bem como de conveniência da suspensão cautelar requerida. Ação conhecida como direta de inconstitucionalidade, deferindo-se o pedido de liminar, para suspender, até decisão final, os efeitos da Lei nº 9.844, de 24.03.93, do Estado do Rio Grande do Sul. (RTJ 151/416-417, Rel. Min. MOREIRA ALVES grifei) Observe-se, ainda, se se analisar a questão sob a égide do efeito vinculante, que essa especial qualidade dos efeitos que resultam das decisões do Supremo Tribunal Federal proferidas em sede de controle normativo abstrato (RTJ 187/150-152, Rel. Min. CELSO DE MELLO RTJ 190/221, Rel. Min. GILMAR MENDES Rcl 1.880-AgR/SP, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA) tem por únicos destinatários os demais órgãos do Poder Judiciário e todos aqueles estruturados no âmbito da Administração Pública, não se estendendo, em tema de produção normativa, ao Poder Legislativo. Não foi por outra razão que o art. 28, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99, ao referir-se ao efeito vinculante, claramente restringiu-o, no plano subjetivo, aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal, tal como bem o proclamou, a propósito desse tema, o E. Plenário do Supremo Tribunal Federal: EFICÁCIA VINCULANTE E FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA DE CONSTITUCIONALIDADE LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO ART. 28 DA LEI Nº 9.868/99. As decisões consubstanciadoras de declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive aquelas que importem em interpretação conforme à Constituição e em declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, quando proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de fiscalização normativa abstrata, revestem-se de eficácia contra todos ( erga omnes ) e 9

possuem efeito vinculante em relação a todos os magistrados e Tribunais, bem assim em face da Administração Pública federal, estadual, distrital e municipal, impondo-se, em consequência, a necessária observância por tais órgãos estatais, que deverão adequar-se, por isso mesmo, em seus pronunciamentos, ao que a Suprema Corte, em manifestação subordinante, houver decidido, seja no âmbito da ação direta de inconstitucionalidade, seja no da ação declaratória de constitucionalidade, a propósito da validade ou da invalidade jurídico-constitucional de determinada lei ou ato normativo. Precedente. (RTJ 187/150-151, Rel. Min. CELSO DE MELLO) [...] Tendo em conta ser a abstrativização dos pronunciamentos dos Supremo Tribunal Federal a técnica comum aplicada tanto ao controle concentrado quanto à aplicação da súmula vinculante, não é possível, em face da semelhança de propósitos entre ambos, adotar entendimentos diversos quanto à submissão ou não do Poder Legislativo e da Suprema Corte às suas consequências. A confirmar a intangibilidade da função legislativa e da função judicante do próprio STF, a Constituição Federal, em seu art. 103-A, caput 2, e a Lei 11.417/2006, em seu art. 2º 3, dá cogência ao 2 Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 3 Art. 2º O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, editar enunciado de súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administra- 10

denominado efeito vinculante somente aos demais órgãos do Poder Judiciário, excetuado o STF, e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Não há qualquer menção, restrição ou vinculação ao Supremo Tribunal Federal ou ao Poder Legislativo no exercício de suas funções típicas. Ante o exposto, opina a Procuradoria-Geral da República pela procedência da proposta, nos termos em que foi apresentada. JCCR/UASJ Brasília (DF), 18 de novembro de 2015. Rodrigo Janot Monteiro de Barros Procurador-Geral da República ção pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma prevista nesta Lei. 11