PALAVRAS-CHAVE: Formação de Professores. Currículo. Pedagogia históricocrítica.

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Transcrição:

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA EDUCAÇÃO BÁSICA A PARTIR UMA CONCEPÇÃO DE CURRÍCULO HISTÓRICO-CRÍTICA Vera Lúcia Fernandes de Brito 1 Daniela Oliveira Vidal da Silva UESB/ PPGED 2 Claudio Pinto Nunes UESB/PPGED 3 RESUMO O trabalho apresenta algumas considerações relativas à formação de professores a partir de uma perspectiva de currículo histórico-crítica, alicerçada nos fundamentos teóricometodológicos do materialismo histórico. Trata-se de estudo exploratório e descritivo, com uso de pesquisa bibliográfica e análise documental, a partir da leitura e análise de livros, artigos científicos, dissertações e teses que retratam a formação de professores a partir de uma proposta de currículo alicerçada nos pressupostos da pedagogia históricocrítica. Após este estudo, conclui-se a necessidade de que as instituições formadoras de professores no país adotem como princípios norteadores para organização e composição da matriz curricular de seus cursos, uma prática pautada nos pressupostos teóricos da pedagogia histórico-crítica e do materialismo histórico dialético. PALAVRAS-CHAVE: Formação de Professores. Currículo. Pedagogia históricocrítica. INTRODUÇÃO 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação- PPGED UESB. Pedagoga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano Campus Itapetinga. Membro do Grupo de Pesquisa Didática, Formação e Trabalho Docente (Difort/CNPq), vlfbrito@gmail.com 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação PPGED UESB. Membro do Grupo de Pesquisa Didática, Formação e Trabalho Docente (Difort/UESB/CNPq) e do Grupo de Pesquisa em Administração Política do Desenvolvimento (GPAP/UESB/CNPq) danielaovdasilva@gmail.com 3 Professor do curso de Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campus de Vitória da Conquista-BA. Líder do Grupo de Pesquisa Didática, Formação e Trabalho Docente (Difort/CNPq), claudionunesba@hotmail.com

Apesar da discussão sobre formação de professores ter assumido um papel mais central no cenário nacional nos últimos anos, essa é uma discussão antiga na educação brasileira. Ainda no século XIX, mais precisamente no ano de 1835, foram criadas as escolas denominadas Escolas Normais, com a função de preparar os professores para o ensino primário, as chamadas escolas de primeiras letras com o objetivo de atender a demanda proveniente da imigração europeia. Embora presente na história da educação brasileira desde muito tempo, ainda existem muitas discussões e questionamentos sobre qual o melhor modelo e proposta de currículo a serem adotados nos cursos de formação dos professores no país, principalmente, para atuar na Educação Básica Nacional. Deste modo, pretendemos apresentar, neste texto, algumas considerações sobre a formação de professores a partir de uma perspectiva de currículo histórico-crítica, alicerçada nos fundamentos teórico-metodológicos do materialismo histórico que contribui para a formação do professor enquanto sujeito responsável pela construção do processo educativo de crianças, jovens e adultos em todo o país. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, com uso de pesquisa bibliográfica e análise documental, valendo-se do suporte de documentais oficiais e dados secundários, assim como leitura de livros, artigos científicos, dissertações e teses, em torno das teorizações e postulados, que contemplam a formação docente da Educação Básica, a partir da perspectiva de currículo no contexto da pedagogia histórico-crítica e alicerçada nos fundamentos teórico-metodológicos do materialismo histórico dialético. DESENVOLVIMENTO Correntes Pedagógicas na História da Educação Brasileira

As escolas têm um papel estratégico e fundamental no sistema capitalista, seja para permitir a mobilidade social ou para impedi-la. Na perspectiva ideológica capitalista as escolas são vistas como instituições meritocráticas, isto é, cada uma ocupa na sociedade o lugar que merece e recebe a sua parcela de recompensa social, de acordo com aquilo que lhe cabe. Além disso, quando o fracasso ocorre, a responsabilidade é transferida para o indivíduo ou grupo, criando assim a cultura da desresponsabilização do Estado frente às políticas de bem-estar social. Valendo dos pressupostos teóricos de Marx e Engles (1981) para referendar a concepção exposta anteriormente e a discussão de Estado capitalista, destaca que este é decorrente da necessidade de mediação entre o conflito oriundo das classes e a manutenção da ordem reprodutora burguesa. Portanto, o Estado tinha como finalidade assegurar os interesses das classes dominantes, garantindo com isso, a ordem social, bem como as relações de produção e a acumulação do capital. O discurso ideológico adotado pela classe detentora do poder na sociedade reforça que se o indivíduo é desajustado, inferior, diferente, a culpa é dele, e por isso receberá o que merece. Nesse sentido, Apple (2001) destaca que: O desajustamento é merecido pelo próprio desajustado, dado que os currículos explícitos e oculto, as relações sociais ao nível da sala de aulas e ainda as categorias através das quais os educadores organizam, avaliam e conferem significado às atividades encontradas na escola são interpretadas como sendo basicamente neutras. (APPLE, 2001, p. 88). Ainda de acordo Apple (2001), o papel da escola na sociedade capitalista é aumentar o desajuste na sociedade, sendo também agente de criação e recriação da cultura social, ensinando normas e valores que fazem parte da hegemonia ideológica da classe dominante. Portanto, para o autor, as escolas são instrumentos que perpetuam os desajustamentos sociais. Partindo deste pressuposto, as escolas não são instituições neutras que educam por meio de hipóteses pedagógicas científicas e racionais, não aplicam currículos que são necessários ao desenvolvimento dos indivíduos na sociedade.

Neste contexto, uma análise a respeito das concepções pedagógicas nos diversos momentos históricos, constitui uma possibilidade de compreender a formação do professor no país e os impactos que esta formação pode causar na qualidade da educação brasileira e na formação do cidadão. Para a Pedagogia Tradicional somente o professor possui conhecimento para ensinar e o papel do aluno é o de receber o conhecimento transmitido e tem foco na memorização de fórmulas e conceitos e resolução de exercícios. Conforme pode ser observado, para a corrente tradicional da educação O papel do professor está intimamente ligado à transmissão de certo conteúdo que é predefinido e que constitui o próprio fim da existência escolar (MIZUKAMI, 2007, p. 15). Já para os defensores da Escola Nova o professor é capaz de organizar as situações de sala de aula, exercendo a função de estimulador e orientador da aprendizagem, sendo o aluno o centro do processo ensino-aprendizagem. O professor se torna facilitador da aprendizagem e a característica principal desta perspectiva teórica é o aprender a aprender, conforme Lourenço Filho (1978) apresenta: [...] os alunos são levados a aprender observando, pesquisando, perguntando, trabalhando, construindo, pensando e resolvendo situações problemáticas apresentadas, quer em relação a um ambiente de coisas, de objetos e ações práticas, quer em situações de sentido social e moral, reais ou simbólicos. (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 151). Em se tratando da Pedagogia Tecnicista, destacam-se as habilidades em elaborar planos de ensino, de aplicar técnicas, de utilizar a instrução programada, os recursos audiovisuais e técnicas de avaliação, conforme pode destaca Luckesi (2003): A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos "competentes" para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas. (LUCKESI 2003, p. 61)

A escola nesta vertente tem a função de preparar o aluno para exercer papeis sociais, capazes de atuar de forma responsável na sociedade, tomando por base para este fim, suas aptidões e habilidades, sendo neste contexto o aluno é que deve ser o núcleo do aprendizado, ao invés dos professores e da estrutura curricular preponderaram. Fazse necessário um currículo que prepare futuros professores para atuar de modo que o processo de ensino e aprendizagem caminhe juntos, que numa um prevaleça sobre o outro. Princípios Curriculares para Formação de Professores na Perspectiva Histórico- Crítica Na história da educação do Brasil surgiram algumas propostas pedagógicas contra-hegemônicas ao modelo educacional instituído, representado pelas correntes pedagógicas supracitadas, e que objetivavam orientar a prática educativa numa direção transformadora e que se manifestaram através de diferentes tendências, a saber: libertadora, crítico-social dos conteúdos, histórico-crítica, entre outras. Dentre as tendências pedagógicas que tem como pilar central uma proposta de educação enquanto prática pedagógica transformadora destaca-se neste texto, a proposta pedagógica instituída por Saviani a partir da década de 1970, na perspectiva de uma concepção histórica e crítica da educação, denominado, pelo próprio educador, de pedagogia histórico-crítica. Esta surge com o intuito de responder à necessidade de encontrar alternativas à pedagogia dominante: [...] a possibilidade de se articular uma proposta pedagógica, cujo ponto de referência e compromisso, seja a transformação da sociedade e não sua manutenção, a sua perpetuação (SAVIANI, 2003, p, 93). Destacamos aqui a necessidade e a importância de uma proposta curricular para formação de professores da educação básica a partir da perspectiva histórico-crítica, pautada na compreensão materialista histórico dialética do mundo e das coisas. Uma formação docente ancorada na perspectiva crítica do currículo implica instigar e despertar nos professores a consciência para que assumam suas atividades pedagógicas com compromisso com os seus estudantes no processo de humanização e construção do senso crítico.

Esta formação deve ultrapassar os limites do senso comum e contribuir para a transformação da sociedade e segundo Macedo (2000), assumindo o papel na: formação de um intelectual de novo tipo, adequado ao desenvolvimento das formas reais da vida contemporânea, capacitado técnica e politicamente para decodificar os avanços verificados no mundo do trabalho e na sociabilidade no atual patamar de desenvolvimento do capital (MACEDO, 2000, p. 13). Partindo do pressuposto de que os cursos de formação de professores para a educação básica devem ser conduzidos a partir uma concepção de currículo históricocrítica, observa-se a coerência na utilização de uma concepção embasada no materialismo histórico-dialético, por entender que esta contribui significativamente para explicar o mecanismo contraditório de funcionamento da sociedade capitalista e seu reflexo nas práticas pedagógicas cotidianas. De acordo Kosik (2002, p. 20) a dialética é o pensamento crítico que se propõe a compreender a coisa em si e sistematicamente se pergunta como é possível chegar à compreensão da realidade. Deste modo, considera-se importante que a formação do professor adote como referência a temporalidade e a historicidade, assim como o contexto social em que o mesmo está envolvido para que, desta maneira, sejam construídas as conexões necessárias entre a teoria e a prática. Pensando na formação de educadores mediada por uma concepção dialógica de educação, cita-se a caracterização de dialética definida por Frigotto (2001): [...] quero demarcar primeiramente a dialética materialista histórica enquanto uma postura, ou concepção de mundo; enquanto um método que permite a apreensão do radical (que vai a raiz) da realidade e, enquanto práxis, isto é, unidade de teoria e prática na busca da transformação e de novas sínteses no plano do conhecimento e no plano da realidade histórica. (FRIGOTTO, 2001, p. 73).

Na sociedade capitalista onde prevalecem as contradições e os conflitos de classes, torna-se necessária a formulação de propostas pedagógicas e curriculares voltadas para a formação de professores, que abordem as necessidades dos sujeitos dominados, possibilitando uma reflexão crítica do papel da escola, bem como a preparação para um desenvolvimento humano que contemple as exigências da sociedade atual. Neste contexto, é imprescindível que esta formação profissional capacite o docente a ser agente de transformação pedagógica e, por conseguinte, social. As instituições responsáveis pela formação de docentes, especialmente para atuar na educação básica, necessitam repensar o papel da educação no processo de transformação social, proporcionando aos alunos uma formação que possibilite a emancipação dos sujeitos. Segundo, Apple (2001) uma análise de reprodução e contradição, se faz necessária com o intuito de estudar como a lógica e os modos de controle do capital se inserem na escola através da forma e do conteúdo do currículo trabalhado. Considerações Finais Destarte, podemos considerar que uma formação docente subsidiada a partir dos pressupostos teóricos da pedagogia histórico-crítica deve tomar como pilar central uma nova proposta, adequada ao desenvolvimento e necessidades da vida contemporânea, preparando os professores técnica e politicamente para o exercício da docência, mas, sobretudo, capazes de atuarem no mundo do trabalho, com desafios cada vez evidentes diante da perspectiva de um Estado em que prevalece uma agenda neoliberal, privatista e excludente para os trabalhadores, em especial para os Profissionais da Educação. A formação docente deve seguir no sentido de preparar tais profissionais com conhecimento e condições didáticas de realizar as intervenções necessárias no seu espaço de atuação, proporcionando uma prática pedagógica fundamentada no princípio da dialogicidade. Neste sentido, defende-se como princípios norteadores na organização e composição dos currículos dos cursos de formação de docentes para trabalharem na educação básica brasileira, uma prática a partir dos pressupostos teóricos da pedagogia histórico-crítica e do materialismo histórico dialético.

REFERÊNCIAS APPLE, Michael W. Educação e poder. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001 FRIGOTTO, Gaudêncio. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional. In: FAZENDA, Ivani. Metodologia da pesquisa educacional. Ed. Cortez. São Paulo 2001. KOSIK, K. Dialética do concreto. 7.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 2002. LOURENÇO FILHO, M. B.. Introdução ao estudo da Escola Nova. 13. ed. São Paulo: 15 Edições Melhoramentos, 1978. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 2003. MACEDO, E. Formação de Professores e Diretrizes Curriculares Nacionais: para onde caminha a educação? In: Reunião Anual da ANPEd, XXIII, Caxambu(MG), Set./2000. Anais. Caxambu(MG): Microservice, 2000. CD-Rom. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. 16º reimpressão. São Paulo: EPU, 2007 SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 8ª ed. revista e ampliada. Campinas, SP: Autores Associados, 2003