AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES NOS PARÂMETROS VENTILATÓRIOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Documentos relacionados
FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NO AVE FT RAFAELA DE ALMEIDA SILVA APAE-BAURU

LETÍCIA SILVA GABRIEL

PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS PELA FISIOTERAPIA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL DA PROVIDÊNCIA DE APUCARANA

RESUMO. Palavras-chave: Oximetria de pulso. Frequência respiratória. Fisioterapia respiratória. Fisioterapia motora. Enfermaria.

RESUMO. Palavras-chave: Oximetria de Pulso. Frequência Respiratória. Fisioterapia Respiratória. Fisioterapia Motora. Enfermaria INTRODUÇÃO

Influência do Aumento do Tempo Inspiratório na Ventilação Pulmonar de Pacientes Submetidos à Ventilação Mecânica na Modalidade Pressão Controlada*

VENTILAÇÃO MECÂNICA. Profª Enfª Luzia Bonfim

INCIDÊNCIA DE SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NO PERÍODO DE TRÊS MESES: UM ESTUDO RETROSPECTIVO

Prova de Título de Especialista em Fisioterapia Respiratória

Jose Roberto Fioretto

Ventilação de Alta Frequência Oscilatória (VAFO)

DESMAME DIFÍCIL. Versão eletrônica atualizada em Março 2009

4 o Simpósio de asma, DPOC e tabagismo

VMNI na Insuficiência Respiratória Hipercápnica

MÉTODOS DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA UTILIZADOS NA UTI DO HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE TUBARÃO

DESCRITOR: Síndrome do desconforto respiratório aguda, SDRA, SARA Página: 1/11 Revisão: agosto Emissão: setembro Indexação:

26/04/2014. Sobre O Surgimento. O que é: Aprendizado baseado em Casos:

Palavras Chave: Ventilação Mecânica. Complacência Pulmonar. Sistema Respiratório. Volume Corrente.

PROGRAMAÇÃO CIENTÍFICA PRELIMINAR

Prof. Dr. José Roberto Fioretto UTI - Pediátrica - Botucatu - UNESP

QUANDO? COMO? PORQUÊ?

EVOLUÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FISIOTERAPIA INSTITUIÇÃO: FACULDADE ANHANGÜERA DE CAMPINAS

DRIVING PRESSURE: ALTERNATIVA DE VENTILAÇÃO PROTETORA NA SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Fisioterapia em Terapia Intensiva EFEITOS FISIOLÓGICOS DA POSIÇÃO PRONA

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DAS QUEDAS EM CRIANÇAS INTERNADAS EM HOSPITAL PEDIÁTRICO

Uso da VNI no desmame

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Fisioterapia em Terapia Intensiva Trabalho de Conclusão de Curso

ANÁLISE DO TRATAMENTO VENTILATÓRIO EM PACIENTES COM SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Comparação do Modo VAPS com os Modos Volume Controlado e Pressão Controlada em Pacientes com Insuficiência Respiratória Aguda*

COMPLICAÇÕES PULMONARES EM NEONATOS SUBMETIDOS À VENTILAÇÃO MECÂNICA

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

Medidas precoces para prevenção de lesões pulmonares nas primeiras 24 horas

20/08 PRÉ CONGRESSO - MANHÃ

Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto SP Hospital da Criança e Maternidade CAPNOGRAFIA

Ventilação Mecânica Não-Invasiva Aplicada em Pacientes com Insuficiência Respiratória Aguda após Extubação Traqueal*

Introdução à Ventilação Mecânica Neonatal

Parâmetros gasométricos após aspiração traqueal em portadores de choque séptico: ensaio clínico

RELAÇÃO DO PERÍODO DE PERMANÊNCIA EM VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA COM O GÊNERO E A IDADE DOS PACIENTES DA UTI DO HOSPITAL MUNICIPAL DE RIO VERDE

VENTILAÇÃO NÃO-INVASIVA COMO TÉCNICA DE DESMAME EM INDIVÍDUOS COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

ANÁLISE DO PROCESSO DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE ADULTO

Posição Prona 1. INDICAÇÕES 2. CONTRA-INDICAÇÕES 3. PROCEDIMENTOS 4. CUIDADOS 5. FLUXOGRAMA. CTIP - Ft. Luciana B. Haddad, Dra.

Jose Roberto Fioretto

QUESTÃO 32. A) movimentação ativa de extremidades. COMENTÁRO: LETRA A

Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Saúde e Medicina Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia

PROTOCOLO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA (VMNI) UNIDADE DE CUIDADOS ESPECIAIS - UCE

Camila Ap. Marques Faria de Melo Kíssila Brito Fiszer

RESPOSTA À ASPIRAÇÃO TRAQUEAL E INFLUÊNCIA NOS PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DE RN EM VENTILAÇÃO MECÂNICA

Monitoração da. Ventilação Mecânica. Importância. Monitoração. Oximetria. Oximetria - Limitações. Oximetria - benefícios

Retirada do Suporte Ventilatório DESMAME

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)

PROTOCOLO MÉDICO VENTILAÇÃO MECÂNICA EM PEDIATRIA NO SDRA E LPA

PROTOCOLO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA FISIOTERAPIA - CTI

VMNI no pós operatório e em procedimentos

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA. (Baseado nos consensos e diretrizes brasileiras de VM)

CTIP HIAE Manual de Condutas (versão 2011)

CURSO DE FISIOTERAPIA Autorizado pela Portaria nº 377 de 19/03/09 DOU de 20/03/09 Seção 1. Pág. 09 PLANO DE CURSO

O uso da CPAP por meio da máscara nasofacial no tratamento da insuficiência respiratória pulmonar aguda tipo I

Objetivos da Respiração. Prover oxigênio aos tecidos Remover o dióxido de carbono

Ventilação Mecânica. Profa. Ms. Vanessa Dias

CONFLITO DE INTERESSE. Nenhum conflito de interesse relacionado ao tópico dessa palestra. Visão geral

Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente. Enf.º Roberto Mendes

Como estamos ventilando em João Pessoa PB? UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Flávia Targino de Souza Chaves

CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA PEDIÁTRICA E NEONATAL

BENEFÍCIOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

TÍTULO: COMPORTAMENTO DA OXIGENAÇÃO E HEMODINÂMICA EM RECÉM-NASCIDOS DURANTE A FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA

ESTRATÉGIAS PARA CONDUZIR A DESCONTINUAÇÃO E O DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

CURSOS PRÉ CONGRESSO

BÁSICO EM VENTILAÇÃO MECÂNICA ESTÁGIO SUPERVISIONADO PROF. SERGIO CORREA DE GODOI

APLICABILIDADE DO TESTE DE CAMINHADA DE SEIS MINUTOS NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO RESPIRATÓRIO: revisão integrativa

EFICÁCIA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA NO TRATAMENTO DO EDEMA AGUDO DE PULMÃO CARDIOGÊNICO REVISÃO INTEGRATIVA

BENEFÍCIOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO-INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA NA INSUFICIENCIA RESPIRATORIA EM PEDIATRIA

COMO VENTILAR O PACIENTE COM TCE


INCIDÊNCIA DE PNEUMONIA NOSOCOMIAL EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR, DURANTE O PERÍODO DE JULHO DE 2005 A JULHO DE 2006.

Métodos estatísticos em epidemiologia: algumas observações sobre pesquisa cĺınica

SUPORTE VENTILATÓRIO NA ASMA UMA REVISÃO DA LITERATURA

RESOLUÇÃO. Parágrafo único. O novo currículo é o 0003-LS, cujas ementas e objetivos das disciplinas também constam do anexo.

I. RESUMO TROMBOEMBOLISMO VENOSO APÓS O TRANSPLANTE PULMONAR EM ADULTOS: UM EVENTO FREQUENTE E ASSOCIADO A UMA SOBREVIDA REDUZIDA.

VENTILAÇÃO MECÂNICA (RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL) Enfº Esp. Diógenes Trevizan

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FISIOTERAPIA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO ANHANGUERA DE SÃO PAULO

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO PARECER COREN-SP CAT Nº002 / 2009

Síndrome Overlap: diagnóstico e tratamento. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)

ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN

ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA E PRINCIPAIS TÉCNICAS UTILIZADAS EM RECÉM- NASCIDOS COM SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO (SDRA)

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

Diretrizes Assistenciais

Desmame difícil. Definições. Como estão sendo desmamados os pacientes Coorte mundial Desmame simples. Desmame difícil. Desmame prolongado

Técnica de fisioterapia pulmonar é eficaz em UTIs

Lígia Maria Coscrato Junqueira Silva Fisioterapeuta HBP/SP

30/04/2014. Monitorização do Suporte Ventilatório. Incluindo Métodos de Imagem

Prof. Antonio Henrique Semençato Júnior, UNISALESIANO - Lins/SP,

PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA CÓDIGO AZUL

Relação das Principais Formula e Tabelas para Avaliação do Paciente Internado em UTI

CARACTERIZAÇÃO DE LESÕES DE PELE EM UM CENTRO DE TRATAMENTO INTENSIVO ADULTO DE UM HOSPITAL PRIVADO

Palavras-chave: Lesão pulmonar aguda. Ventilação mecânica. Unidade de Terapia Intensiva.

Efeito do Treino de Endurance Intervalado na tolerância ao esforço medido pela Prova de Marcha de 6 minutos

ARTIGO ORIGINAL RESUMO

A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DOS PROTOCOLOS DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

Transcrição:

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Fisioterapia em Terapia Intensiva AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES NOS PARÂMETROS VENTILATÓRIOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Autor: GISELE SOARES MENDES Orientador: ESP. PEDRO RODRIGO M. N. DE ALMEIDA Brasília - DF 2011

2 Resumo Introdução: A ventilação mecânica (VM) com pressão positiva induz mudanças na fisiologia e mecânica do sistema respiratório. Sua indicação, manutenção e aplicação adequadas, são fundamentais para a evolução favorável do paciente. As modificações e/ou ajustes de parâmetros devem ser feitos com base em exames clínicos e gasométricos. Objetivo: Avaliar a manutenção e as possíveis alterações ocorridas, durante 24 horas, nos parâmetros ventilatórios. Materiais e métodos: Estudo descritivo com pacientes adultos em VM na UTI de um hospital privado em Brasília. Foram avaliados os diários da enfermagem e da fisioterapia que anotam os parâmetros da VM (modo ventilatório, FiO 2, PEEP, frequência respiratória - FR) e suas modificações a cada 2 horas. Anotadas as alterações durante os 4 primeiros dias consecutivos, após a admissão do paciente na VM em uma ficha elaborada pelos pesquisadores. Realizada a análise estatística descritiva dos dados com média, desviopadrão e o coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: Foram avaliados prontuários de 16 pacientes, dos quais 12 eram homens. A média de idade foi de 56,63±9,31 anos. Quando os três períodos foram avaliados conjuntamente, o modo ventilatório foi o que menos evidenciou alterações, com média 1,02±0,51 e a mais alterada foi a FR, com média 1,66± 0,55. Quando se comparou os períodos individualmente, evidenciou-se que a FR foi o parâmetro mais modificado, com média de 2,88±0,21, no período vespertino. Na análise dos quatro dias, observou-se que os parâmetros foram mais alterados durante os dois primeiros dias de internação, sendo que a FR foi a mais alterada durante os quatro dias de observação. Conclusão: Concluímos que as alterações nos parâmetros da VM ocorrem devido às necessidades do paciente. Deve-se detalhar mais e por um período maior, para saber se essas alterações ocorrem devido aos parâmetros gasométricos e análise clínica ou por qualquer outro motivo. Palavras-chave: parâmetros ventilatórios, ventilação mecânica, monitorização.

3 Abstract Introduction: Mechanical ventilation (MV) with positive pressure induces changes in physiology and mechanics of the respiratory system. Its statement, maintenance and proper application are key to the favorable evolution of the patient. The modifications and / or parameter settings must be made based on clinical and blood gas. Objective: To evaluate the maintenance and possible changes during 24 hours in ventilatory parameters. Methods: A descriptive study of adult patients with MV in the ICU of a private hospital of Brasília. Were evaluated daily nursing and physiotherapy notes that the parameters of the VM (ventilation mode, FiO2, PEEP, respiratory rate - RR) and changes every 2 hours. Changes noted during the first 4 consecutive days after admission to the VM on a schedule established by the researchers. Performed descriptive statistical analysis of data mean, standard deviation and correlation coefficient of Spearman. Results: We analyzed the records of 16 patients, of whom 12 were men. The average age was 56.63 ± 9.31 years. When the three periods were considered together, the ventilatory mode was less evident changes, averaging 1.02 ± 0.51 and was further amended to RR, averaging 1.66 ± 0.55. When comparing the periods individually, it was found that RR was the parameter changed, with a mean of 2.88 ± 0.21 in the afternoon. In the analysis of four days, it was observed that the parameters were changed more during the first two days of hospitalization, and the RR was the most altered during the four days of observation. Conclusion: We conclude that changes in the VM parameters occur due to patient needs. It should be more detail and for a longer period to see if these changes are due to blood gas parameters and clinical analysis or for any other reason. Keywords: ventilator settings, mechanical ventilation, monitoring.

Introdução A ventilação mecânica (VM) é uma das principais causas de internação de pacientes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) 1. Ela se tornou uma terapêutica indispensável para pacientes com incapacidade de desempenhar suas funções respiratórias 2,3, oferecendo uma assistência com o objetivo de manter estável ou mais próxima do ideal, a função pulmonar de pacientes acometidos por graus variados de insuficiência respiratória (IRpA) 4. Quando a VM é instituída, diversas variáveis podem ser alteradas de acordo com a análise contínua do paciente, exigindo do intensivista o conhecimento da fisiologia e mecânica pulmonar 5. COX et. al (2003) demonstrou que cerca de 35% dos residentes não foram capazes de titular adequadamente um modo ventilatório que reduzisse a PEEP intrínseca em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) 6. Desta forma, é de extrema importância a escolha de parâmetros que permitam a potencialização das trocas gasosas, prevenção de lesão pulmonar e manutenção da sincronia entre o paciente e o ventilador 4. Em 1999, RANIERI e SLUTSKY notaram uma relação entre a mecânica pulmonar e a morbimortalidade dos pacientes em ventilação mecânica, relatando que a produção de indicadores inflamatórios e o risco de desenvolver falência múltipla de órgãos era menor com uma estratégia protetora de ventilação 7. Nos últimos anos, tornou-se evidente que a VM pode exacerbar ou iniciar uma lesão pulmonar, visto que a utilização de parâmetros inadequados pode levar a lesões na interface alvéolo-capilar, alterações na permeabilidade e edema, que ocorrem repetidamente 2,8. OGATA et. al (1976) relataram uma incidência de pneumotórax em 11% a 33% de pacientes em VM, apresentando uma queda para 6% a 9% com a utilização de parâmetros ventilatórios mais conservadores 9. Estas alterações patológicas podem agravar a doença do paciente, prolongar o tempo de permanência no respirador ou causar seqüelas permanentes 10. Em um estudo comparando uma estratégia de ventilação protetora com a utilização de parâmetros ventilatórios elevados, foi demonstrado que a diferença nas taxas de desmame espelharam os resultados de sobrevida, com 66% dos pacientes do primeiro grupo tendo desmamado com sucesso do ventilador, comparado com 29% do segundo grupo 8. Visto isso, os ajustes de parâmetros ventilatórios devem ser feitos com base em exames clínicos e gasométricos. Para acompanhar estas modificações, a monitorização 4

respiratória de pacientes graves é de fundamental importância, pois auxiliará na aplicação de proposta terapêutica adequada para sua boa evolução 11. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a manutenção e as possíveis alterações ocorridas durante 24 horas nos parâmetros ventilatórios de pacientes em VM em uma UTI. 5 Metodologia Foi realizado um estudo descritivo com 16 pacientes adultos em VM na UTI de um hospital particular do Distrito Federal. Foram avaliados os diários da enfermagem e da fisioterapia onde são anotados os parâmetros da VM (modo ventilatório, FiO 2, PEEP e freqüência respiratória - FR) e suas modificações a cada duas horas. Os dados foram anotados nos quatro dias consecutivos à admissão do paciente em VM, em uma ficha elaborada pelos pesquisadores. Foram coletados exames gasométricos imediatamente após a admissão do paciente e diariamente pela manhã, de acordo com a rotina do hospital. Foram incluídos no estudo pacientes adultos que estivessem em VM, internados na UTI geral do hospital. Foram excluídos da pesquisa pacientes sem necessidade de suporte da VM e pacientes que não tinham os dados anotados ou que os mesmos estivessem incompletos. Foi realizada uma análise estatística descritiva dos dados com média, desvio-padrão e o coeficiente de correlação de Spearman. Resultados A caracterização da amostra está demonstrada na Tabela 1. Tabela 1 Caracterização da amostra n 16 Sexo Masculino (%) 12 (75) Feminino (%) 4 (25) Idade (anos) 56,63±9,31 Via aérea artificial Tubo orotraqueal (%) 15 (93,75) Traqueostomia (%) 1 (6,25)

Foram avaliados prontuários de 16 pacientes, dos quais 12 eram homens. A média de idade foi de 56,63±9,31 anos. Somente um paciente estava traqueostomizado, os demais estavam intubados. Todos os pacientes estavam sedados e sendo ventilados no modo pressão controlada (PCV) inicialmente e se mantiveram em modo assistido-controlado durante todos os dias observados. Quando os três períodos foram avaliados conjuntamente (Gráfico 1), o modo ventilatório foi o que menos evidenciou alterações, com média 1,02±0,51 e a mais alterada foi a FR, com média 1,66± 0,55. 6 Gráfico 1 Análise geral das alterações nos parâmetros ventilatórios Quando se comparou os períodos individualmente (Gráfico 2), evidenciou-se que a FR foi o parâmetro mais modificado, com média de 2,88±0,21, juntamente com a Peep, com média de 2,75±0,52, no período vespertino. Durante a manhã, a FR e a FiO 2 foram os parâmetros alterados com maior frequência, com média de 2,63±0,13 e 2,31±0,33, respectivamente. Já no período noturno, houve uma queda nas alterações paramétricas, sendo a FiO 2, com média de 1,88±0,37 e a Peep, 1,63±0,08 os parâmetros mais modificados neste período.

Gráfico 2 Análise das alterações nos parâmetros ventilatórios nos períodos matutino, vespertino e noturno 7 Na análise dos quatro dias (Gráfico 3), observou-se que os parâmetros foram mais alterados durante os dois primeiros dias de internação, sendo que a FR foi a mais alterada durante os quatro dias de observação, juntamente com a FiO 2 no primeiro dia, com média de 2,31±0,18 e a Peep no segundo dia, com média de 1,94±1,50. Já o modo ventilatório é o que menos se altera durante o mesmo período, sendo modificado com maior freqüência durante a manhã. Gráfico 3 Análise das alterações nos parâmetros ventilatórios durantes quatro dias

8 Discussão A monitorização de pacientes sob suporte ventilatório é de suma importância, pois assim, pode-se prevenir complicações letais e aumentar as probabilidades de sucesso no tratamento desses pacientes 12. Neste estudo avaliamos a manutenção e as possíveis alterações ocorridas, durante 24 horas, nos parâmetros ventilatórios. Não foi encontrado estudo semelhante em nossa pesquisa bibliográfica. O presente estudo verificou que a FR foi o parâmetro que mais apresentou alterações em todas as análises realizadas. Isso provavelmente se deve ao fato de que os pacientes estavam sendo ventilados em modo assistido-controlado, permitindo respirações espontâneas. A FR deve ser ajustada de modo que permita que o paciente inicie o ciclo ventilatório, de acordo com sua demanda e estímulo neuromuscular respiratório 13,14. Sendo assim, não se tem controle completo sobre a FR, sendo necessário atenção à freqüência total e não somente à ajustada 14. Já o modo ventilatório foi o parâmetro menos alterado durante os dias analisados. Segundo KLEMM et. al. (1998), os modos ventilatórios controlados promovem grandes alterações no sistema cardiovascular, provocadas, principalmente, pelo aumento da pressão das vias aéreas, que é transmitida ao espaço interpleural, com consequente aumento da pressão intratorácica 15. Neste estudo, os pacientes foram admitidos em modo PCV e se mantiveram em modo assistido-controlado durante todo o estudo, já que permaneceram sedados neste período. Estudos comparativos entre os modos controlados a volume e a pressão em lesão pulmonar 16,17, não apresentaram diferença estatística entre os modos, quando avaliadas as trocas gasosas e a mecânica pulmonar. Outros estudos afirmam que o modo PCV melhora as trocas gasosas e reduz a pressão de pico, devido ao aumento da pressão média das vias aéreas ou ao perfil de fluxo desacelerado observado neste modo 14,18,19. Sendo assim, a escolha do modo ventilatório pode ser baseado de acordo com a experiência da equipe multidisciplinar e rotina de cada hospital, sempre levando em consideração as necessidades e o quadro do paciente, de modo a aliviar seu trabalho respiratório e permitir a otimização dos resultados em sua intervenção 4,13,14. Imediatamente após instituída a VM, o paciente geralmente se encontra instável do ponto de vista respiratório, total ou parcialmente dependente do ventilador, sendo necessário a potencialização das trocas gasosas, a prevenção de lesão pulmonar e a manutenção da

sincronia entre paciente e ventilador 4. De acordo com nossos resultados, os parâmetros ventilatórios foram alterados principalmente nos dois primeiros dias de internação, o que significa uma tentativa de melhor ajuste ventilatório para o paciente recém-admitido na VM. De acordo com JUBRAN (1999), diversos pacientes admitidos em um serviço médico apresentam hipoxemia durante as primeiras 24 horas de internação 20. Inicialmente, a administração de O 2 com concentração de 100% deve ser ofertada ao paciente para evitar hipóxia tecidual, devendo ser posteriormente ajustada pela gasometria ou oximetria de pulso 14. A análise dos gases arteriais e o índice de oxigenação são utilizados tanto para verificar se a oxigenação encontra-se em níveis adequados, quanto como indicador de desmame da ventilação mecânica 21. De acordo com a esta análise, a FiO 2 foi mais alterada nos dois primeiros dias de internação e principalmente pela manhã, horário em que chegavam os resultados das gasometrias dos pacientes internados no hospital. Nota-se que esse parâmetro foi mais alterado de acordo com exames laboratoriais do que pela oximetria de pulso. Porém, este recurso foi utilizado para ajustar a concentração de O 2 principalmente à noite, período em que a FiO 2 foi o parâmetro mais modificado e em que houve menos alterações no geral. Com relação à Peep, esta não foi alterada com tanta freqüência. Ela age não somente como suporte, mas também como medida terapêutica, especialmente quando utilizada precocemente 14,22. Seu emprego visa reverter situações clínicas que cursam com redução da capacidade residual funcional (CRF), elevação da diferença alvéolo-arterial de O 2, desigualdade na distribuição da ventilação e queda na complacência 4,14,22, 23. Observa-se, no presente estudo, que a Peep foi modificada levando em consideração, sobretudo, o quadro clínico do paciente, visto que ela foi mais frequentemente alterada no durante a tarde, período em que não há rotina de exames na UTI avaliada. Apesar das evidências dos benefícios da VM, deve-se lembrar das alterações fisiopatológicas que ela pode causar 4, 23, estando associada a um aumento considerável da mortalidade, morbidade e dos custos dentro da UTI 24. Sendo assim, a monitorização respiratória de pacientes graves é de fundamental importância em vários estágios da evolução do paciente 10,11,12. 9

Conclusão Ao final deste estudo, concluímos que as alterações nos parâmetros da VM ocorrem principalmente devido às necessidades do paciente. Deve-se detalhar mais e por um período maior, para averiguar se essas alterações ocorrem devido aos parâmetros gasométricos e análise clínica ou por qualquer outro motivo. 10 Referências Bibliográficas 1. TOBBIN M. J., JUBRAN A., LAUGH F. Patient-ventilator interaction. Am J Respir Crit Care Med, 2001; 163: 1059-1063. 2. NARDELLI L. M. et. al. Entendendo os mecaismos determinantes da lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica. RBTI, 2007; 19 (4): 469-474. 3. SANTOS F. R. A. et. al. Efeitos da compressão torácica manual versus a manobra de Peep-Zeep na complacência do sistema respiratório e na oxigenação de pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva. Ver Bra Ter Intensiva, 2009; 21 (2): 155-161. 4. SANTOS F. V. Ventilação mecânica invasiva. Disponível em http://portal.samaritano.com.br/pt/interna.asp?page=1&idpagina=273. Acessado em 25 de novembro de 2010. 5. FAUSTINO E. A. Mecânica pulmonar de pacientes em suporte ventilatório na unidade de terapia intensiva. Conceitos e monitorização. RBTI, 2007; 19 (2): 162-169. 6. COX C. E., CARSON S. S., ELY E. W. et. al. Effectiveness of medical resident education in mechanical ventilation. Am J Respir Crit Care Med, 2003;167:32-38. 7. RANIERI V. M., SUTER P. M., TORTORELLA C. et. al. Effect of mechanical ventilation on inflammatory mediators in patients with acute respiratory distress syndrome: a randomized controlled trial. JAMA, 1999;282:54-61.

8. AMATO M. B., BARBAS C. S., MEDEIROS D. M. et al. Effect of a protectiveventilation strategy on mortality in the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 1998;338(6):347-54. 9. OGATA E. S., GREGORY G. A., KITTERMAN J. A. Pneumotorax in the respiratory distress syndrome: incidence and effect on vital signs, blood gases and ph. Pediatrics, 1976; 58: 177-182. 10. KREBS V. L. J., TROSTES E. J. Complicações da ventilação mecânica. Disponível em http://www.cibersaude.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=227. Acessado em 25 de novembro de 2010. 11. JOSÉ A., DIAS E. C., SANTOS V. L. A., CHIAVONE P. A. Valor preditivo dos gases arteriais e índice de oxigenação no desmame da ventilação mecânica. RBTI, 2001; 13 (2): 50-56. 12. EMMERICH J. C. Suporte ventilatório: conceitos atuais. Rio de Janeiro, 2ª Edição. Ed. Revinter, 1998; 17-35. 13. SARMENTO G. J. V., CARR A. M. G., BERALDO M. Princípios e práticas de ventilação mecânica. São Paulo, 1ª Edição. Ed. Manole, 2009; 15-17. 14. SARMENTO G. J. V., RIBEIRO D. C., SHIGUEMOTO T. S. O ABC da fisioterapia respiratória. São Paulo, 1ª Edição. Ed. Manole, 2009; 279-281. 15. KLEMM M., ALVARENGA J., FANTONI D. T. et. al. Estudo comparativo da ventilação mecânica controlada (VMC) com ou sem o emprego da pressão positiva no final da expiração (peep) sobre a variação da pressão interpleural em anestesia equina. Braz J Vet Res Anim Scl, 1998; 35: 260-265. 16. PINHEIRO B. V., HOLANDA M. A., LARGES C. M., BEPPU O. S. Ventilação mecânica volume controlada versus pressão controlada em modelo canino de lesão pulmonar aguda: efeitos cardiorrespiratórios e sobre o custo de oxigênio da respiração. J Pneumol, 2002; 28 (1): 15-22. 11

17. ESTEBAN A., ALIA I., GORDO F. et. al. Prospective randomized Trial comparing pressure-controlled ventilation and volume-controlled ventilation in ARDS. Chest, 2000; 117: 1690-1696. 18. STOCK M., PEREL A. Suporte ventilatório mecânico. São Paulo, 2ª Edição. Ed. Manole, 1999; 92-100. 19. EMMERICH J. C., SIQUEIRA H. R., GOMES A. S. et. al. Estudo comparativo e retrospectivo: ventilação ciclada a volume com fluxo desacelerado, ventilação por controle de pressão e ventilação com pressão de suporte e volume assegurado aplicadas de maneira seqüencial em pacientes com lesão pulmonar aguda de intensidade moderada à grave. RBTI, 1998; 10: 84-89. 20. JUBRAN A. Advances in respiratory monitoring during mechanical ventilation. Chest, 1999; 116: 1416-1425. 21. GOLDWASSER R., MESSEDER O., AMARAL J. L. G. Desmame. J Pneumol (Supl. 2), 2000; 26: S54-S60. 22. MACHADO M. G. R. Bases da fisioterapia respiratória: terapia intensiva e reabilitação. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara Koogan, 2008; 235-236. 23. NETO J. P. A., CRESPO A. S., ARAÚJO M. L. Ventilação mecânica: alterações fisiológicas, indicações e parâmetros de ajuste. Rev Bras Anestesiol, 1996; 46 (3): 187-198. 24. ELY E. W., MEADE M. O., HAPONIK E. F. et. al. Mechanical ventilator weaning protocols driven by nonphisician health-care professionals. Chest 200;120:454S- 463S. 12