Centro de Comunicação e Letras Universidade Presbiteriana Mackenzie PSICOLOGIA I A história da Cirurgia Plástica Psicologia, auto-estima e estética Conheça as fases de uma cirurgia plástica: da decisão à identificação Saiba mais sobre a importância de consultar um psicólogo antes de fazer uma cirurgia plástica Conversando com: André Mulaski (Psicólogo)
Ela tem um corpo maravilhoso! Ela tem pernas maravilhosas! Mas para ela, isso não é verdade! Ela não se aceita como é. Ela não se sente feliz. EXPEDIENTE Realização: Instituto Presbiteriano Mackenzie Produção: Alan Lima Alline Liber Caio Matta Carlos Xavier Christine Liber Fernando Celescuekci Orientação: Nora Rosa Rabinovich Formas Fabricadas é uma revista laboratório feita para a disciplina de Psicologia I, do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Psicologia, auto-estima e estética Maio / 2009 Em nossa contemporaneidade, deparamo-nos com um mundo que cultiva a aparência física como um atributo desejável por todas as pessoas que tem ou almejam ter sucesso, seja este dentro de um grande público ou em um ciclo social. Nesse cenário em que as pessoas buscam incessantemente a perfeição física, há uma enorme procura por técnicas que ajudam a melhorar a aparência, como por exemplo, academias de ginástica, salões de beleza, cabeleireiros, cirurgiões plásticos etc. 08 Dentre essas, a cirurgia plástica pode ser considerada a mais complexa e que envolve maiores riscos e, por isso, deve ser bem pensada. É evidente que a cirurgia plástica se torne uma grande aliada das pessoas nessa busca pela perfeição. Seus métodos sofreram avanços consideráveis nas últimas décadas, de tal maneira que hoje, deixam o mínimo de cicatrizes. Recorrer às técnicas de cirurgia plástica para se sentir mais bonito, se sentir melhor consigo mesmo, não é um problema. Muitas pessoas recorrem a essas técnicas por não se acharem bonitas, atraentes, por não conseguirem chamar a atenção desejada num meio social. Estas pessoas estão com a auto-estima baixa. Como as cirurgias envolvem um risco, o paciente precisa estar muito convencido e seguro do que está fazendo. O psicólogo, ao entrar nesse processo, verifica o real motivo da cirurgia. Se constatado que o motivo é auto-estima baixa, o paciente pode não ter uma satisfação completa. Então, o psicólogo vai auxiliar o indivíduo a elevar sua auto-estima e a se conhecer melhor, se aceitar, se sentir bem como ser humano acima de tudo. Nessa análise do paciente, o psicólogo pode contra-indicar a intervenção cirúrgica para a resolução do problema, uma vez que este pode ser resolvido numa terapia. O papel do cirurgião, ou de outros profissionais como o cabeleireiro, é apenas cuidar da forma e da estética que a pessoa deseja. A plástica passou de necessidade para desejo Página 02 André Mulaski (Psicólogo) Vamos percorrer a história da Cirurgia Plástica para entender porque hoje ela é tão comum. Com base nas respostas de algumas jovens que fizeram cirurgia plástica Cirurgia plástica: vamos acompanhar todo processo e da decisão enxergar o seu efeito na auto-estima. E também, analisar o Antes, o Durante e à identificação o Depois, traçando um caminho desde a decisão até a identificação. Página 03 Psicologia, auto-estima e estética Página 08 A mídia cultiva corpos perfeitos e gera, assim, uma busca pela perfeição. A plástica é um caminho, mas a autoestima acaba sendo afetada e é aqui que o psicólogo entra para verificar a validade dessa técnica. Então, se interiormente ela está resolvida, consequentemente, essa adequação vai se dar de uma forma mais fácil; se ela não é uma pessoa resolvida, ela pode até gerar distúrbios ou transtornos psicológicos e assim comprometer todo o sucesso de todo o investimento que fez Página 06
A plástica passou de necessidade para desejo Desde a antiguidade já existiam os cirurgiões plásticos, ou cirurgiões que utilizavam transplantes de pele na reconstrução de narizes, por exemplo. A cirurgia plástica como especialidade médica nasceu dos horrores da Primeira Guerra Mundial e da tremenda quantidade de vítimas. Além dos milhares de soldados que morreram, milhões foram mutilados ou deformados, requerendo um tratamento cirúrgico-estético que fosse especializado. Num único hospital na Inglaterra, realizou-se 11.572 operações, principalmente no rosto. Após a guerra se questionava se os soldados, cujos rostos tinham sido despedaçados por um bombardeio no campo de batalha poderiam voltar a ter uma vida normal, com novos rostos criados pelo engenho da nova ciência da cirurgia plástica. Por que as mulheres, cujos rostos tinham sido devastados por nada mais explosivo que o passar dos anos, não tinham o direito de encontrar novamente o formoso contorno da juventude?. Alguns médicos alegavam se um novo nariz ajudou um veterano de guerra a arrumar trabalho, por que não se poderia melhorar as oportunidades trabalhistas de um civil ou melhorar as perspectivas matrimoniais e financeiras de uma mulher? Não é antidemocrático negar a uma pessoa o direito a melhorar-se? 02 No Brasil, num levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) em 2004, registrou-se 616,2 mil operações estéticas feitas em um ano. De acordo com uma estimativa da supra-citada organização, o Brasil é o segundo país no ranking dos que mais realizam plásticas no mundo, só perdendo para os Estados Unidos. O cirurgião plástico Douglas Jorge, da diretoria da SBCP, diz que dentro da medicina, a vaidade humana é algo que dá muito dinheiro, por isso, há muito cirurgião no mercado que não é especialista no assunto e age como se fosse. Em uma época de supervalorização do corpo perfeito, somada ao fato de que as operações estéticas ficaram mais acessíveis, a cirurgia plástica acabou, em muitos casos, banalizada. O excesso, aliado à falta de critério na escolha do profissional, pode ter como resultado o efeito contrário ao desejado, ou seja, mutilações, deformações e até a morte. Uma plástica pode ajudar muito na auto-estima quando o problema é nítido. Mas uma operação dificilmente vai ajudar no emocional de alguém que imagina que uma prótese de seios pode, por exemplo, salvar um casamento, diz Mara Pusch, psicóloga e sexóloga da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para Leonard Bannet, cirurgião plástico de Débora Secco, Xuxa e Zezé Di Camargo, há casos em que a paciente vicia em plásticas e, quando o procedimento cirúrgico não é indicado, deve-se recusar a operar. Já recusei fazer cirurgias que não eram necessárias. O médico tem que explicar também sobre a cicatriz que o paciente vai ganhar que, muitas vezes, não compensa diante do resultado. Destacase, portanto, a importância dos fatores psicológicos relacionados a esses procedimentos cirúrgicos. A importância do psicólogo na cirurgia plástica... A importância desse trabalho psicológico se dá porque nós, como seres humanos, estamos sujeitos a variáveis comportamentais e reacionais, visto que, por exemplo, há 500 anos a.c., Hipócrates, que nós conhecemos como patrono da medicina (os profissionais da área de saúde fazem o juramento hipocrático), ele já tinha levantado alguns perfis, por exemplo, dos melancólicos, dos fleumáticos, dos coléricos, dos sanguíneos, isso há 500 anos. Ora, são variáveis comportamentais de reações que nós estamos sujeitos. A coisa foi pra frente. Nós acreditamos nisso como personalidades diversificadas, por exemplo, nós sabemos que na psicologia há tendências para o perfeccionismo, para ações artísticas, observador... são perfis. Tem o perfil otimista, o do chefe, do mediador, do artista. Então, psicologicamente, era fundamental que a pessoa que tivesse que se submeter a uma intervenção, que ela pelo menos se identificasse nesse padrão, porque conforme o padrão, o comportamento é caracterizado por ações muito acentuadas, muito incisivas. ciáveis e de repente somos tomados por uma corrente de mau humor. Buscamos uma vontade de revolucionar o mundo e repentinamente estamos numa posição de obtusidade, de fechamento que agente não entende como é que se sucedeu. Agora imagine que essas instabilidades, emotividades e variáveis, podem nos tomar. A pessoa precisa tomar consciência de que existe este procedimento no ser humano antes de fazer a cirurgia, porque, caso contrário, ela vai entrar neste processo de opostos, às vezes até de certa polaridade. Isso justifica a importância da intervenção psicoterapêutica no processo antes e no pós-cirúrgico, justamente pra dar esse respaldo e reforço para que a pessoa não se desintegre, digamos assim psicologicamente, e comprometendo até o pós-cirúrgico que é muito delicado e clama cuidados para que o processo se dê. Consequentemente, isso também ajudaria a pessoa a entrar nesta nova fase, porque os aspectos estéticos e externos se modificaram e ela vai precisar, antes de qualquer coisa, fazer um movimento de auto-aceitação. Então, se interiormente ela está resolvida, consequentemente, essa adequação vai se dar de uma forma mais fácil; se ela não é uma pessoa resolvida, visto as variáveis que eu me referia e essas tendências que podem até gerar distúrbios ou transtornos psicológicos, ela pode até comprometer todo o sucesso de todo o investimento que fez. Por outro lado também tem outro pesquisador, um estudioso que fez um levantamento de traços primários de comportamento que uma pessoa normal estaria sujeita num período de 24 horas, quando se referia justamente à essas variáveis, ou seja, nós podemos de manhã estar de bom humor, extremamente so- 07
Conversando com: André Mulaski A importância da psicologia... Como todas as profissões, o importante é que a pessoa faça aquilo que gosta, aquilo que realce atração, interesse e paixão. Quanto à psicologia, nós temos que ter essa sensibilidade para perceber qual é o bem que interessa para o profissional; no meu caso, por exemplo, o que me interessa é a minha realização como pessoa, a minha realização como profissional e que essa atividade me permita alcançar e realizar os meus projetos, os meus sonhos. Porém, antes disso, eu tenho que considerar qual é o bem que interessa à pessoa que me procura: o paciente. O que me interessa é que ele se resolva nos seus conflitos, sejam eles pessoais, ou relacionais. Pensar o bem do paciente é a razão fundamental da psicologia como ciência. Foto: Carlos Xavier André Mulaski Junior, 60 anos, natural de Ponta Grossa, é Farmacêutico Bioquímico e Psicólogo. A cirurgia plástica e psíquica... A cirurgia plástica, com a evolução da tecnológica nesses últimos 50 anos, aparece como uma alternativa terapêutica e como uma alternativa de busca de um bem estar consigo mesmo, como pensar uma relação integrada dos seus aspectos externos, com suas características interiores. A pessoa para buscar este recurso, ela precisa ter um bom acompanhamento psicológico. Dentro do processo psicológico, você entende que a razão, digamos assim, que se sugere um acompanhamento psicológico, é avaliar em que grau, em que nível ou estágio do desenvolvimento da maturidade se encontra o paciente em questão, uma vez que a maturidade não é algo que se atinge com a idade. Nós encontramos pessoas, às vezes de 50 anos, que ainda não atingiram a sua maturidade, porque a maturidade, no meu ponto de vista existencialista e humanista, seria encontrar-se com sua plena realização em todos os aspectos, tanto no aspecto psicológico, quanto orgânico, quanto relacional, quanto espiritual. Uma vez que uma pessoa quer se reconstituir de uma forma compulsiva, talvez até fóbica, porque ela não está se encontrando consigo mesma, poderá, sem orientação psicológica, consentir num processo crônico que pode levá-la, até insistentemente, a buscar novas cirurgias. Cirurgia plástica: da decisão à identificação Realizar uma cirurgia plástica envolve um ANTES (decisão), um DURANTE (preparação e apoio) e um DEPOIS (recuperação e identificação). Com base nas respostas de algumas mulheres que fizeram cirurgias estéticas, vamos acompanhar esse processo e enxergar o seu efeito na auto-estima. De modo geral, as respostas indicam que a cirurgia plástica aumentou a auto-estima e a harmonia interna delas, sanou a sua deformidade física (real ou imaginária) e alterou positivamente suas relações interpessoais e sexuais. FATORES INTERNOS que levaram elas a tomarem essa decisão: sentimentos de inferioridade, de não aceitação, de sofrimento pela parte física que era considerada defeituosa e problemas orgânicos. ANTES... Eu me olhava no espelho e não gostava do que via, eu não gostava de olhar para o meu nariz, achava que era desproporcional com o meu rosto, achava muito grande e toda vez que eu ficava de perfil pra alguém eu me sentia incomodada, eu achava que a pessoa ia olhar diretamente aquele defeito que eu via em mim, a pessoa poderia nem se importar, mas eu me importava muito com FATORES EXTERNOS que levaram elas a tomarem essa decisão: a família e o médico são fatores de influência. Desde os 16 anos eu queria fazer, minha mãe e meu pai olhavam para o meu nariz e não achavam muito legal. (24 anos) Sempre tive vontade, desde os meus 14 anos. Tive puberdade precoce, tomei remédio. O médico viu que eu não iria mais desenvolver, que meus peitos não iriam crescer mais e me propôs fazer a cirurgia plástica, disse que se eu quisesse fazer, eu poderia. (24 anos) 06 isso. (23 anos) 03
APOIO: de que maneira os membros da família reagiram diante da vontade de realizar a cirurgia plástica estética. Vemos que a família não necessariamente concordou, mas simplesmente aceitou após ver o sofrimento. Meu pai no início ficou furioso, mas minha mãe me apoiou, foi junto comigo. Meu pai não, no início não. Só que daí no verão ele me viu de saia e disse: nossa, eu nunca tinha te visto de saia. E eu lhe disse: é pai, eu não usava porque tinha trauma do meu joelho. Ele me olhou e disse: se eu soubesse teria te dado essa lipo antes. (24 anos) Eu acho que eles sentiam o meu sofrimento em relação ao meu nariz. Algumas pessoas, tipo o meu irmão, o meu pai, achavam que era bobagem, que não era uma coisa importante, mas depois de tanto eu insistir, eles viram que aquilo já me consumia, que eu já estava sofrendo com aquilo e achavam que era melhor eu fazer a cirurgia pra melhorar a minha auto-estima que estava muito baixa. (23 anos)... DURANTE... PREPARAÇÃO: quais métodos e recursos (físicos e emocionais) utilizaram para enfrentar a cirurgia plástica estética. Aqui alertamos para o fato de que a cirurgia plástica virou um processo independente, ou seja, não precisaram fazer avaliações psicológicas para se submeterem a cirurgia. A mulher do meu pai já fez lipoaspiração, então fui até o médico dela, até por ser mais prático, até porque eu já conhecia. Ele foi o primeiro que procurei, nem conversei com outras pessoas sobre isso, porque eu confiava nele pra fazer a minha lipoaspiração, a minha cirurgia plástica. (24 anos)... DEPOIS RECUPERAÇÃO: o pós-cirúrgico, isto é, como reagiram física e emocionalmente ao se enxergarem após a realização da cirurgia plástica estética. Apesar de algum desconforto nos momentos iniciais, no geral, elas se aceitam. Minha recuperação foi boa, fiquei toda roxa, mas em uma semana melhorou tudo. Nos primeiros dias foi horrível porque eu não conseguia respirar, respirava pela boca, fora isso, tudo tranqüilo. (24 anos) SOU EU? O primeiro contato com a nova forma física e a repercussão da mesma. Diante dos dados obtidos, a maior parte das entrevistadas estranhou a nova forma, mas com o passar do tempo foi internalizando seu novo físico e apropriando-se de sua nova aparência: A primeira reação foi arrependimento, um pouco de culpa: o que foi que eu fiz? Devia ter pensado melhor. Eu me senti sem graça, sem personalidade, falsa, parecia que eu tinha perdido toda a minha atitude. Que vergonha! (24 anos) EU INDEPENDENTE: como avaliaram e perceberam o efeito final da intervenção cirúrgica. A maior parte dessas jovens apreciou o resultado, ou seja, sentiram-se melhor, mais bonitas, com um aumento na auto-estima e na feminilidade. Eu me senti outra mulher, eu era acanhada com tudo e com todos e agora não, eu adoro mostrar o peito, uso decote bem apertado, digo que tenho silicone numa boa. (24 anos) Parei de me preocupar em disfarçar meus defeitos; hoje me sinto melhor com menos maquiagem, menos adereços, menos glamour. Aprendi a valorizar a aparência natural e até mesmo as pequenas falhas. (24 anos) EU INTERDEPENDENTE: como elas percebem a percepção do outro após a realização da cirurgia. Elas sentiram uma maior segurança frente à avaliação de outrem. As minhas relações melhoraram porque agora eu não fico pensando que eles estão vendo um defeito que não gostava. Então eu já parto do princípio que eu não tenho problema, logo eles podem me olhar sem ver uma coisa estranha. (23 anos) Trechos retirados e adaptados da tese O impacto da cirurgia plástica na auto-estima de Sabrina Borges Ferraz 04 e Fernanda Barcellos Serralta. 05