Aplicação do design em casos de Inovação social do Estado de Santa Catarina, Brasil



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Transcrição:

Aplicação do design em casos de Inovação social do Estado de Santa Catarina, Brasil Marco Ogê Muniz (Famesul/Uniasselvi) marcooge@gmail.com Luiz Fernando Gonçalves de Figueiredo (UFSC) lff@cce.ufsc.br Eugenio Andrés Díaz Merino (UFSC) merino@cce.ufsc.br Giselle Schmidt Alves Diaz Merino (UFSC) gisellemerino@gmail.com Resumo: O presente artigo tem o objetivo geral de apresentar os casos de Inovação Social do Estado de Santa Catarina, identificados pelo Núcleo de Gestão de Design (NGD) 2 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a comunidade acadêmica, as empresas e aos órgãos governamentais e a sociedade como um todo. Essa iniciativa tem o intuito de ampliar a rede de relacionamentos e a demanda de projetos do laboratório no quesito sustentabilidade. Para tanto, os objetivos específicos deste relato de pesquisa são os de: a) Mostrar os modelos de gestão do núcleo para a demanda da sustentabilidade; b) Apresentar as ações de design do NGD na agricultura familiar; c) Apresentar as ações de design do NGD na aqüicultura familiar; d) Mostrar as demais ações de design e inovação social do laboratório. Há um enfoque nas questões da prática do design e nas suas relações com a Inovação Social e o Desenvolvimento Sustentável. Palavras-chave: Inovação Social; Sustentabilidade; Design Sustentável. 1 INTRODUÇÃO Partindo da concepção de que vivemos numa sociedade em que todos são convocados a serem designers, ou seja, de que as pessoas têm que projetar suas próprias vidas, interferindo num sistema maior que envolve a coletividade (CAPRA, 2008), os designers podem exercer a tarefa de procurar nas pessoas idéias, iniciativas, soluções, assim por diante, que se configurem como inovações sociais (MANZINI, 2008, p.62). A relação entre o design e a inovação social pode ser estabelecida a partir do momento em que se percebe o surgimento de um novo tipo de inovação. Nela, apesar do envolvimento com a tecnologia, o processo não se caracteriza como de inovação tecnológica. Ele pode ser considerado como um agrupamento de invenções sociais, cuja função de descoberta é atribuída ao design (MANZINI, 2008a). Além disso, a evolução da visão de competitividade organizacional (centrada nos recursos e nos resultados) para a visão da competitividade sistêmica (cadeia de valor, rede e nação); vem reforçando o potencial do design como elemento estratégico para a inovação centrada nos recursos e nas competências de um território (KRUCKEN, 2008, p.26), porque ele pode ser considerado o agente integrador entre as inovações e o território. Seguindo esse pensamento, o design pode ser utilizado como forma de promoção de casos de inovação social. A partir de um posicionamento estratégico, podem ser realizadas ações que poderão impulsionar o desenvolvimento local. Essas iniciativas são contextualizadas, ou seja, há um cuidado especial para que as características e tradições locais sejam mantidas. Nesse tipo de estratégia, além haver a relação entre os fatores sociais, econômicos e ambientais, tripé da sustentabilidade (SACHS, 2002), existe a integração entre as partes interessadas (stakeholders) no processo. 2 NÚCLEO DE GESTÃO DE DESIGN E SUAS AÇÕES DE INOVAÇÃO SOCIAL O design vem participando de forma ativa no desenvolvimento social e econômico através das suas diversas manifestações. No caso especifico desta sessão serão apresentadas as ações realizadas pelo NGD, que tem como princípios a aproximação do design à sociedade 20

nos diversos setores, utilizando como referência a Sustentabilidade, a Diferenciação e a Competitividade. Figura 1 Modelo de gestão do NGD. No caso da sustentabilidade, focada nas suas três dimensões tradicionais sejam elas ambiental, econômica e social, este projeto aponta de maneira especial aos aspectos de sustentabilidade social, sem por isto deixar de lado as outras duas. Considerando o impacto que uma ação desta natureza poderá trazer na valorização e conseqüente proteção dos produtos, infere-se que poderão acontecer mudanças positivas em prol da sustentabilidade social e com reflexos significativos nos aspectos ambientais e econômicos. Para que o processo de gestão seja corretamente implementado, propõe-se a utilização do modelo dos 7i s (integração, inovação, interação, intervenção, integridade, inteligência, informação), que agindo de forma articulada, flexível, adaptativa e colaborativa, configura um cenário propicio à incorporação e utilização das competências e habilidades de todos os envolvidos, em constante mudança, se ajustando a realidade em processos de autogestão: Figura 2 Modelo dos 7i s do NGD. Fonte: Arquivo NGD (2008) Tendo como base estes modelos serão apresentadas de forma resumida algumas ações do núcleo que se caracterizam como casos de inovação social no contexto catarinense. 21

3 AÇÃO DESIGN NA AGRICULTURA FAMILIAR No ano 2002 fez-se um convenio de parceria entre o governo do estado de Santa Catarina (Brasil), através do Centro de Estudos de Safras e Mercados (EPAGRI) vinculado a Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural do Estado de Santa Catarina no desenvolvimento de projetos na área de Valorização de Produtos da Agricultura Familiar. Ao longo destes anos foram realizadas inúmeras ações em diversos municípios do estado de Santa Catarina, incorporando o design no processo de valorização dos produtos inicialmente no que se referem a embalagens, rótulos, informações nutricionais, dentre outras, juntamente com ações no processo de gestão dos produtores (no aprimoramento, bem como nos aspectos legais e normativos). Dentre os produtos pode-se destacar o mel, as bolachas caseiras, as conservas, o frango colonial, os sucos, as geléias, o molho de tomate, a cachaça, os vinhos em um número importante de famílias. Isto tem gerado alguns impactos considerados positivos, a modo de exemplo pode se citar o reconhecimento por parte dos produtores rurais da importância do design, a geração e melhoria da renda (verificado a traves de pesquisa de mercado após a incorporação do design), novas oportunidade de desenvolvimento e crescimento no local de origem, auxiliando na diminuição do êxodo, melhora na auto-estima, reconhecimento de órgãos de fomento e apoio (criação de planos governamentais na valorização de produtos deste setor) e principalmente a ativa participação das comunidades, aportando idéias, discutindo as propostas, com uma postura considerada proativa e altamente positiva. Figura 3 Ações em campo junto a agricultores familiares. Fonte: Arquivo NGD (2002). No ano de 2003, através de convênio firmado entre o Instituto CEPA e o Núcleo de Gestão de Design da Universidade Federal de Santa Catarina, foi acordado desenvolver projetos com três grupos de produtores da agricultura familiar do estado de SC, como forma de dar continuidade ao projeto realizado na região de Mafra nos anos de 2002 e 2003, o que resultou na primeira publicação do projeto ³. Assim, no decorrer do processo a equipe do NGD percorreu o Estado de Santa Catarina, do litoral ao extremo oeste, realizando ações de design como forma de contribuição para o desenvolvimento da agricultura familiar: 22

Figura 4 Ações de design na agricultura familiar de SC. 4. Ação design na aqüicultura familiar Como continuidade as ações na agricultura familiar, foi iniciado no ano de 2007 um projeto junto ao setor da aqüicultura familiar. Neste sentido as ações estão em andamento e se relacionam com uma associação de maricultores, localizados no Ribeirão da Ilha de Santa Catarina que apresentavam uma serie de fragilidades, principalmente no que diz respeito produção, produtos, aspectos legais, de saúde física, de expectativas, dentre outras. Se apoiando nos modelos desenvolvidos pelo NGD e com o apoio do CNPq, SEAP, EPAGRI e UFSC esta se realizando um trabalho que já começa a render resultados, podendo se citar a regularização da associação em termos legais, a criação de uma identidade visual, um website, um vídeo institucional, dentre outros, que vem sendo referencia na região. Todas estas ações têm contado com ativa participação da comunidade, e uma aproximação significativa com a universidade (os produtores transitam de forma freqüente pelo NGD, na forma de visitas, discussões, etc). 23

Figura 5 Ações em campo junto a agricultores familiares. Essas ações têm trazido resultados bastante importantes, principalmente para os agricultores e para as aqüiculturas. Com a incorporação do design e de forma mais consistente a Gestão de Design, tem sido possível auxiliar na transformação de situações de forma positiva. Como continuidade no momento se desenvolve atividades junto ao Arranjo Produtivo Local da Malacocultura, que vem conduzindo e definindo suas ações através do NGD, e com uma postura de inclusão dos pequenos produtores começa-se a buscar um equilibro entre a produção industrializada em grande escala e a pequena produção, dentre as ações que começam a se concretizar esta uma viagem ao Chile de 15 maricultores familiares, para conhecer a realidade dos seus pares neste país, bem como capacitação, orientação tanto nos aspectos de produção, quanto de organização, todo apoiado no modelo proposto acima. Uma ação que pode servir de exemplo é construção de uma maquina para limpeza e classificação de mexilhões, desenvolvida em parceria entre os maricultores e a UFSC. Vale destacar também que de fato a criação do maquinário nasceu de uma compilação de idéias e soluções advindas de ambas as partes (o conhecimento vindo da vivencia e do dia a dia, somado a teoria da academia). 5 DEMAIS AÇÕES O Núcleo também esta desenvolvendo ações em projetos sociais, como por exemplo, a Casa dos Girassóis (grupo de voluntários numa comunidade carente da cidade de Florianópolis, que atende crianças e mães), onde design foi incorporado gradativamente, primeiramente na criação de uma identidade visual e paulatinamente em ações de divulgação e comunicação que auxiliaram de forma importante na materialização do projeto que hoje conta com uma sede própria. Somado a este se pode mencionar uma ação recente e muito importante numa comunidade localizada na Guarda do Embaú (litoral catarinense), com um grupo de mulheres que se utiliza das fibras da Taboa para a elaboração de diversos produtos. O projeto Trilhas do Ribeirão que trata de um resgate histórico-cultural de uma localidade no interior da ilha, que conta com a participação da comunidade. O projeto Óleo vegetal, de iniciativa de um maricultor, no qual o design, por solicitação do próprio, esta auxiliando tanto na melhoria do processo, quanto na divulgação do mesmo, inclusive com a participação de turmas do curso de design da UFSC no projeto valorização do óleo vegetal, convertido em sabão, a qual esta sendo levada a comunidade da casa dos girassóis como uma possibilidade de melhoria na renda familiar. O projeto de sinalização do Hospital Universitário é outro exemplo de inovação social. A interferência do design na COOALHIMAR (Cooperativa de produtores de alimentos de Governador Celso Ramos) para a reinserção no mercado através da valoração do produto através de uma nova identidade visual. 24

Figura 6 Projeto Taboa. Assim como aconteceu no projeto da agricultura familiar, no qual a equipe do NGD percorreu o Estado de Santa Catarina para realizar ações de design, o grupo de pesquisadores continua praticando ações práticas. A partir de então, porém, essas ações se concentram, em sua maioria, na região da grande Florianópolis e passaram a enfocar a relação entre o design, a inovação social e o desenvolvimento sustentável: Figura 7 Integração entre as ações de design do NGD. 25

Desse modo, as ações realizadas pelo NDG procuram estabelecer o equilíbrio entre local e o global. Todas elas estão integradas de maneira que as soluções de sucesso de um caso possam ser replicadas em mais casos. Isso faz com que, por mais que uma intervenção seja pontual e contextualizada, as práticas específicas interfiram em todo o sistema. Assim, utilizam-se ferramentas de gestão de design para garantir a sustentabilidade dessa rede distributiva 4. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nesse relato das pesquisas e práticas de projeto do Núcleo de Gestão de Design, pode-se inferir que o design pode ser utilizado como elemento-chave para o desenvolvimento de casos de inovação social. Os exemplos das iniciativas desenvolvidas pelo NGD nos mostram algumas conseqüências positivas, dentre elas a constatação de que as ações de design: contribuem para ampliar a visibilidade dos implicados com as soluções, oferecem uma imagem de credibilidade aos negócios em que intervêm, auxiliam numa melhor organização interna entre os integrantes das comunidades favorecidas, provoca uma maior integração entre os agentes externos às instituições nas quais os projetos são aplicados, assim por diante. A contribuição da gestão estratégica de design também se mostra relevante, já que proporciona ao laboratório um alto nível de flexibilidade de abordagem de projeto. Isso faz com que o dinamismo das pequenas ações auxilie na sustentabilidade de todo o processo. Assim, essa estrutura cambiável (um guarda-chuva de projetos de design para a inovação social, nas palavras do professor Manzini) caracteriza a integração das ações de design do NGD como uma rede distributiva que se adapta as necessidades do contexto ao qual se insere. O enfoque na nos fatores sociais, aplicados nos projetos, fazem com que os fatores econômicos e ambientais, por conseqüência, se equilibrem. Da mesma forma, o paralelo entre as pesquisas teóricas e as ações práticas, com ênfase na prática, proporciona uma validação de campo dos conceitos estudados na teoria. Por fim, com a proposta de abordagem do design para as questões da inovação social e do desenvolvimento sustentável, o NGD se insere na corrente busca por uma redefinição do design em seus aspectos práticos e teóricos. Notas 1. Este artigo é resultado da palestra Inovação Social no Contexto Brasileiro: casos em Santa Catarina apresentada no seminário DESIGN ISDS 2 (Design, Inovação Social e Desenvolvimento Sustentável), pelo professor Dr. Luiz Fernando Gonçalves de Figueiredo, no Rio de Janeiro, dia 24 de setembro de 2008. O evento contou com a participação do professor Dr. Ezio Manzini, da Politécnico de Milão. 2. O Núcleo de Gestão de Design (NGD) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é um laboratório de pesquisa e desenvolvimento de projetos da universidade, coordenado pelo professor Dr. Eugênio Merino. O núcleo vem desenvolvendo ações voltadas à sustentabilidade desde o ano 2000. Mais informações em: www.ngd.ufsc.br. 3. A parceria gerou a seguinte publicação: PEREIRA, Danilo; MERINO, Eugênio; PEREIRA, Lia Krucken; ALTMANN, Rubens. Valorizando Produtos da Agricultura Familiar através do Design. Florianópolis: SAR / Instituto Cepa/SC / Funcitec, 2004. 4. Durante o DESIGN ISDS 2, o professor Ezio Manzini definiu toda essa integração como A design projects umbrella for Social Innovation (um guarda-chuva de projetos de design para a Inovação Social), já que a flexibilidade do NGD se assemelha a um guarda chuva que pode se abrir ou se fechar dependendo das necessidades do contexto no qual se insere. 26

Referências INGEPRO Inovação, Gestão e Produção DESIGN ISDS 2, Design, Inovação Social e Desenvolvimento Sustentável. MANZINI, Ezio. Design para a Inovação Social. Seminário. Rio de Janeiro, 2008.. Plataforma habilitante para a Inovação Social. Workshop. Rio de Janeiro, 2008. MANZINI, Ezio. A design projects umbrella for Social Innovation. In: DESIGN ISDS 2, Design, Inovação Social e Desenvolvimento Sustentável. MANZINI, Ezio. Design para a Inovação Social. Seminário. Rio de Janeiro, 2008.. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais / Ezio Manzini; [coordenação de tradução Carla Cipolla; equipe Elisa Spampinato, Aline Lys Silva]. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. (Cadernos do Grupo Altos Estudos; v.1).. PEP; COPE UFRJ. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais / Ezio Manzini; [coordenação de tradução Carla Cipolla; equipe Elisa Spampinato, Aline Lys Silva]. Rio de Janeiro: E-papers, 2008a. (Gravação de DVD; v.1).. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis / Ezio Manzini, Carlos Vezzoli; tradução de Astrid de Carvalho. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. MERINO, E.; MERINO, G.; FIGUEIREDO, L.F.G. Design 3: valorizando produtos da agricultura familiar. Florianópolis: EPAGRI, 2007. MERINO, E.; PEREIRA, D. Design: Valorizando Produtos da Agricultura Familiar. Florianópolis: SAR Instituto Cepa/SC, 2005. NGD, Núcleo de Gestão de Design. NGD. Disponível em: www.ngd.ufsc.br [Acesso em: 29/01/2009]. PEREIRA, D.; MERINO, E.; PEREIRA, L.K.; ALTMANN, R. Valorizando Produtos da Agricultura Familiar através do Design. Florianópolis: SAR / Instituto Cepa/SC / Funcitec, 2004. SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável / organização: Paula Yone Stroh. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.. Critérios de Sustentabilidade. In: Caminhos para o desenvolvimento sustentável / organização: Paula Yone Stroh. Rio de Janeiro: Garamond, 2002, p.85-88. 27