PARECER Nº 14.480 IGP. REINTEGRAÇÃO. POSSIBILIDADE SE CONFIRMADA PELO DMEST/SARH A INCAPACIDADE À ÉPOCA DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO. Trata-se de pedido de reintegração ao serviço público estadual firmado por progenitor de Auxiliar de Perícias Grau A lotada no Instituto Geral de Perícias (IGP) da Secretaria da Justiça e da Segurança (SJS) exonerada, a pedido, por ato publicado no DOE de 12-nov-2001 (fl. 15). Narra o requerente que sua filha começou a apresentar problemas de saúde no ano de 1998, quando passa a apresentar alguns sintomas estranhos, pesadelos constantes, falta de apetite, pois comentava em casa que diariamente tinha que liquefazer cérebros, fígados, vísceras em geral. Algumas dezenas de noites a avó precisava dormir no mesmo quarto, senão o tormento não passava, o que se agravou até o início de 2000, quando a família indicou que procurasse auxílio médico, que resultou em encaminhamento ao psiquiatra e licença-saúde. Mesmo assim retornou ao trabalho e deixou de tomar os medicamentos, até que em julho de 2001... não é possível deixar de perceber o comportamento dela, fala em perseguições, vê cadáveres, afirma ter encontrado pessoas na rua, pressionada, procura ajuda médica, a receita foi o uso de Lítio, pois
... vem solicitar exoneração, mesmo dentro de um período de assistência médica! Por fim, o estado de saúde teria se agravado até a tentativa de suicídio e internação psiquiátrica. À fl. 7 verifica-se que restou prejudicada a apreciação do pedido em razão da manifesta ilegitimidade ativa da parte requerente e à fl. 10 vem recurso firmado pela ex-servidora no qual limita-se a juntar documentos que informam internação hospitalar de 27-jan-03 a 25-fev-03, CID 10 F 60.3, tendo como motivo da internação: tentativa de suicídio, condutas impulsivas, vendas inadequadas de bens e, alta com melhora dos sintomas agudos (fls. 11 e 13), bem como tratamento psiquiátrico com uso de sertralina e carbamazepina (fl. 12). À fl. 14 encontra-se laudo de licença-saúde pelo período de 40 dias 18-ago-2001 a 26-set-2001 expedido pelo Departamento de Perícia Médica do Estado e, em fl. 15, cópia do ato de exoneração a pedido a contar de 1º-out-2001. Encaminhado o expediente a esta Consultoria, baixei em diligência à SARH para que (a) fosse providenciada a abertura de procedimento para aferição da saúde mental da ex-servidora, convocando-a para que juntasse os documentos que detivesse (inclusive sentença de interdição, se houver) e para submeter-se a inspeção de saúde; (b) fossem anexados os laudos médicos de ingresso no serviço público estadual; (c) junto ao DMEST fossem providenciados todos os exames necessários à expedição de laudo concludente sobre a capacidade da servidora quando do pedido de exoneração (5-out-01), inclusive quanto à possibilidade de doença preexistente à admissão no serviço público; (d) fosse providenciada a juntada de todas as informações que se reputassem úteis nos locais onde a requerente esteve lotada; e (e) após, fosse possibilitada manifestação da Assessoria Jurídica da Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos. Retornou o expediente com informação de que o afastamento em 2
2001 foi por 40 dias, com diagnóstico CID 10 F43.2, não havendo registro de patologias anteriores ao ingresso no serviço público. Considerando não terem sido atendidas todas as solicitações, restituí o expediente à SARH. À fl. 48 do processo encontra-se informação prestada por psiquiatra e psicóloga, com o seguinte teor: Em resposta ao expediente nº 000627-1205/03-1, informamos que a servidora ingressou no serviço público em 29-10-1997 e por ocasião não foram encontrados registros de patologia que a incapacitassem para o exercício de sua função, sendo a mesma considerada apta. O DMEST avaliou novamente a servidora em janeiro/2000. Foi concedido 14 (quatorze) dias de Licença Saúde, a contar de 04-01- 2000. No momento, sem conclusão sobre a patologia apresentada, sendo indicado observação e avaliação médica. A referida servidora comparece neste Departamento para nova avaliação em 10-09-2001. Por ocasião foi concedida Licença Saúde de 40 (quarenta) dias, a contar de 18-08-2001, no momento, foi concluído que a servidora não apresentava condições laborativas e sugeria um transtorno de adaptação com reação mista, depressiva e ansiosa. Devido ao presente processo de reintegração, a servidora foi convidada para submeter-se a novas avaliações neste DMEST. Realizou avaliações psicológica, psiquiátrica e clínica no dia 11-06-2004. No dia 15-06-2004 submeteu-se a testagem Rorschach. E no dia 16-03-2005 foi feita visita domiciliar pela assistente social do departamento. Após avaliações periciais, testagem psicológica e visita domiciliar foi constatado que a servidora apresenta indícios de transtorno de personalidade e de transtorno psíquico com sintomas psicóticos. No momento, a servidora apresenta-se estável e em tratamento (sic). Manifestou-se a Assessoria Jurídica da SARH e retornou o expediente a esta Consultoria para atendimento da consulta. No mês de janeiro próximo passado, a interessada compareceu a esta Procuradoria-Geral do Estado e apresentou cópias de receituários e atestados médicos, cuja juntada deferi. 3
Relatei. Refoge às atribuições desta Consultoria a análise de atestados médicos, no entanto o expediente está instruído com inúmeras manifestações e laudos referentes à saúde da interessada, até porque o embasamento para a reintegração é justamente a incapacidade para os atos da vida civil quando da apresentação do pedido de exoneração. Nesse passo, embora não ingressando na área restrita à competência dos profissionais da saúde, não há como ignorar as informações acostadas ao processo. De fato, o quanto se vê nos autos informa que a interessada teve diagnosticados os seguintes transtornos, conforme Códigos da CID (Classificação Internacional de Doenças) indicados nos atestados médicos: F60.3 Transtorno de personalidade com instabilidade emocional F43.2 Transtornos de adaptação F33.2 Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos F31.4 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave sem sintomas psicóticos F32.2 Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos ou moderado F31.3 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo leve 4
Tais informações médicas não permitem, a olhos leigos, concluir pela efetiva incapacidade para a prática dos atos da vida civil à época do pedido de exoneração, o que depende de laudo médico conclusivo produzido por junta médica do DMEST. Em conclusão, só deverá ter trânsito o pedido de reintegração formulado no presente expediente, determinando-se o retorno da interessada ao serviço público estadual, se verificado em laudo médico conclusivo que esta não detinha condições de autodeterminação quando do pedido de exoneração. É o parecer. Porto Alegre, 27 de janeiro de 2006. KARLA LUIZ SCHIRMER, PROCURADORA DO ESTADO. Processo nº 627-12.05/03-1 5
Processo nº 000627-12.05/03-1 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.480, da Procuradoria de Pessoal, de autoria da Procuradora do Estado Doutora KARLA LUIZ SCHIRMER. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos. Em 25 de abril de 2006. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.