UM OLHAR SOBRE AUTOESTIMA DE MULHERES COM SINTOMAS DEPRESSIVOS NA VIVÊNCIA DE CONFLITOS NA RELAÇÃO CONJUGAL



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Transcrição:

UM OLHAR SOBRE AUTOESTIMA DE MULHERES COM SINTOMAS DEPRESSIVOS NA VIVÊNCIA DE CONFLITOS NA RELAÇÃO CONJUGAL Danila Rafaela do Nascimento Jeane Aparecida de Oliveira Silva Maria Betânia Soares da Rocha Rinaldi Micheliny de Freitas Santos Veronica Cristiane Oliveira Lima 1 Josefa Valéria Tavares Cardoso 2 Juliana Barbosa Lins de Almeida 3 A experiência descrita é resultado do estágio básico supervisionado, vivenciado por alunas do curso de Psicologia da Faculdade do Vale do Ipojuca FAVIP, em Caruaru PE. A área de atuação é a da Psicologia Social Comunitária, associada a uma parceria firmada com a Unidade de Saúde Mental, órgão ligado à Secretaria de Saúde do município. Esta Unidade realiza atendimento ambulatorial gratuito aos pacientes com transtornos mentais. Eles são encaminhados ao psiquiatra, sendo cinco destes profissionais que se revezam no atendimento e, dependendo da necessidade, estes profissionais selecionam os pacientes que necessitarão do atendimento psicoterápico, sendo dois Psicólogos (as) nesse atendimento. A clientela usuária corresponde à cidade de Caruaru e de mais oito municípios circunvizinhos. Através de uma seleção realizada pela psicóloga da Unidade, foi formado um grupo com dez mulheres, com idade entre 23 e 45 anos. Diante deste contexto, desenvolvemos um trabalho embasado na Terapia Tematizada Grupal por Tempo Limitado. Utilizamos as técnicas do Sociodrama, na distribuição de funções dentro do grupo, onde cada uma das alunas pôde ocupar, alternadamente, o papel de diretora, ego-auxiliar e observadora. O tema para discussão foi a autoestima e foram realizados seis encontros semanais de apoio psicológico, com duração média de duas horas cada. Todas as participantes encontravam-se em processo psicoterapêutico individual e apresentavam similaridades em suas histórias de vida, devido incidência da depressão ou de alguns dos sintomas depressivos associados, como também em relação à experiência de crise na relação conjugal. Através do trabalho em grupo desenvolvido, pudemos observar os relatos individuais das histórias de vida, confiança grupal, a partir da identificação ocasionada pelo continente grupal, possibilitando apoio recíproco. Percebemos a necessidade de esvaziamento da sobrecarga emocional através da fala. Ficounos bastante evidente, nestes casos, uma possível relação entre conflitos individuais e conflitos familiares. Desta forma, pôde-se perceber a importância do trabalho em grupo como facilitador no processo de promoção de saúde em mulheres com depressão, despertando assim, o interesse em intervenções futuras. E-mails: danila_raf@hotmail.com ; djeaneaparecida@yahoo.com.br ; valeriatcardoso@hotmail.com ; juliana.psocial@gmail.com ; betaniarinaldi@gmail.com ; michelinyfs@hotmail.com ; veronica.cristiane@hotmail.com. 1 Graduandas do 8º período do curso de Psicologia da Faculdade do Vale do Ipojuca FAVIP 2 Psicóloga da Unidade de Saúde Mental; 3 Psicóloga e Supervisora do Estágio;

1. INTRODUÇÃO A proposta deste artigo é apresentar e discutir as contribuições da Psicologia Social ao estudo da autoestima em um grupo de mulheres, com sintomas depressivos e, em sua grande maioria, vivenciando crises no relacionamento conjugal. É relevante que entendamos a Psicologia Social Comunitária como área da Psicologia que busca infiltrar-se na comunidade para um levantamento de suas necessidades e carências. O objetivo é o de tentar possibilitar o seu bem-estar, a valorização e melhoria de suas condições de vida, enfocando sempre as questões sistêmicas do contexto onde essas pessoas estão inseridas, ligando-as, constantemente, à compreensão do sofrimento vivenciado. Privilegiou-se aqui o desenvolvimento de um estágio básico supervisionado, desenvolvido por acadêmicas do Curso de Psicologia da Faculdade do Vale do Ipojuca FAVIP, em parceria com a Unidade de Saúde Mental, órgão ligado à Secretaria de Saúde do município de Caruaru PE. Foram realizados seis encontros grupais semanais, com a finalidade de apoio psicológico, tendo duração média de duas horas cada. Estiveram presentes, ao todo, dez mulheres, com idade variando entre 23 e 45 anos. As referidas mulheres encontravam-se em processo psicoterapêutico individual e apresentavam alguma semelhança em suas histórias de vida, visto que tinha depressão ou apresentaram alguns sintomas depressivos, ao mesmo tempo em que vivenciavam algum tipo de crise na relação conjugal. Diante da realidade exposta, optamos por desenvolver um trabalho embasado na Terapia Tematizada Grupal por Tempo Limitado (ALMEIDA, 1999). Esta terapia possibilita aos participantes o compartilhar de sua problemática, de suas dificuldades e também a maneira através da qual conseguiram o alívio dos sintomas. Utilizamos também as técnicas do Sociodrama, de Jacob Levi Moreno (1993), no que diz respeito à distribuição de funções dentro do grupo, onde cada uma das acadêmicas pode ocupar, alternadamente a cada encontro, o papel de: 1. Diretor, como aquele que produz o evento; 2. Ego-auxiliar, como aquele que participa das técnicas solicitadas pelo diretor; e 3. Observador, como aquele que acompanha o movimento grupal, em silêncio, registrando todos os detalhes do evento. Estas técnicas serviram como instrumentos de apoio para nos auxiliar na compreensão do desenvolvimento das relações interpessoais no grupo, bem como na tentativa de possibilitar a essas mulheres um momento para reflexão sobre autoestima. 2. DESENVOLVIMENTO O tema apresentado para discussão ao longo dos encontros de apoio psicológico contemplou a autoestima. Para melhor compreensão do mesmo, o apresentamos como a opinião e o sentimento que cada pessoa tem por si mesma, a consciência do seu valor pessoal, numa perspectiva que contempla o respeito, o amor e a crença em si mesmo. O amor próprio é assim compreendido como a valorização dos próprios sentimentos e vontades, não de uma forma egoísta, mas, baseada no autoconhecimento e no reconhecimento dos próprios limites. A autoconfiança é assim compreendida como a confiança que é depositada nos próprios atos. Na medida em que, quanto mais a pessoa se conhece é que é possível aceitar-se e, consequentemente, amar-se e confiar em si mesma. A partir disso, percebemos o quanto esses sentimentos influenciam uns aos outros, permitindo o estabelecimento saudável de uma boa autoestima. Na verdade, a autoestima não depende apenas da forma como a pessoa se percebe no mundo, ela também é influenciada pela forma como fomos percebidos, antes mesmo de tomarmos consciência de nossa existência. Isto significa que os nossos pais, ou 2

cuidadores, pela forma como nos trataram, ajudaram a construir o conceito que temos de nós mesmos. Segundo FREIRE-MAIA (2007), ninguém duvida que o amor, o afeto, é um fator fundamental para que a criança cresça emocionalmente saudável. Este amor inclui confiança, apoio e respeito, para que a criança se sinta segura. Conseguimos perceber, ao longo dos encontros, que o conceito pessoal apresentado pelas mulheres participantes era composto tanto por sua própria opinião, quanto pela opinião expressa do parceiro, a partir de suas críticas, e ainda se misturava aos sintomas próprios da depressão. Em virtude disto, buscamos entender um pouco melhor o que é a depressão. Ela é o principal sintoma do que é chamado transtorno depressivo maior, segundo classificação do sistema americano de classificação das doenças mentais, o DSM-IV, e do Código Internacional das Doenças da Organização Mundial de Saúde, o CID-10. De acordo com o ponto de vista médico, a depressão é uma doença e exige condutas terapêuticas específicas. Segundo HOLMES (1997), a depressão é caracterizada por um conjunto de sintomas, que envolvem os sintomas de: humor, cognitivos, motores e somáticos. Os problemas de humor, vivenciados na depressão, fazem o indivíduo sentir-se deprimido, melancólico, triste, sem esperanças, desencorajado. Comumente a pessoa sente-se isolada, rejeitada e não amada. A depressão pode ser acompanhada de ansiedade, especialmente numa fase inicial. Podem ser descritos pelo menos seis sintomas cognitivos apresentados na depressão: autoestima muito baixa, pessimismo, redução de motivação, generalização de atitudes negativas, exagero da seriedade dos problemas e processos de pensamento mais lentos. O sintoma motor mais importante na depressão é o retardo psicomotor, caracterizado como uma redução ou lentificação do comportamento motor. Além deste, outro sintoma motor que pode ocorrer na depressão é a agitação psicomotora, caracterizada pela impossibilidade da pessoa de ficar parada. A agitação psicomotora é muito menos prevalente do que o retardo psicomotor. Os sintomas somáticos podem apresentar-se através de: padrão de sono perturbado (com dificuldades para conciliar o sono ou excesso de sono), padrões alimentares perturbados (com perda de apetite ou ingestão compulsiva de alimentos), e interesse ou impulso sexual reduzido (com perda da libido). Além de todos os sintomas já citados anteriormente, os pacientes deprimidos sofrem também por serem acometidos por outras doenças, em virtude do prejuízo do funcionamento do sistema imunológico. Ainda segundo HOLMES (1997), as mulheres são duas vezes mais propensas a serem acometidas pela depressão do que os homens. Essa vulnerabilidade feminina se deve a fatores biopsicossociais, tais como: as alterações provocadas pelos hormônios no organismo; tendência de, nos conflitos, assumir a culpa e introjetar as críticas que recebe; a depreciação no tratamento à mulher (questão histórica); a educação repressora; a múltipla jornada de trabalho; a pressão no cumprimento aos papéis sociais de mulher, mãe, esposa e profissional; a forma de enfrentamento das perdas significativas. Nos estudos e práticas sobre as questões relacionadas à depressão e relação conjugal, os aspectos psicossociais vêm gradualmente, ocupando um espaço cada vez maior. A presença da patologia e/ou a vivência de uma crise conjugal repercutem na vida familiar, social e no psiquismo do sujeito. Em geral, acompanhando essas ocorrências e dependendo da gravidade das mesmas, os indivíduos expressam sentimentos de desvalia, insegurança, incertezas, medos e fantasias inconscientes. Segundo SIQUEIRA NETO (2003), vários são os fatores que podem contribuir para as dificuldades na relação conjugal: 3

Dificuldades financeiras; diferenças de educação, formação profissional, estilo de vida e objetivos (ambição, posição social, etc.); problemas sexuais, da ordem orgânica e/ou psíquica; infidelidade; itens pertinentes à estética: beleza física, idade, etc.; nascimento de filhos ou a sua saída de casa com a maioridade; questões relacionadas à personalidade, tais como a introversão (presente em pessoas mais reservadas) e extroversão (presente em pessoas que se expõem mais socialmente) e problemas psicológicos; diferenças de credo e fé. Diante das crises, dificuldades e/ou situações conflituosas em que a relação conjugal possa estar envolvida, ousamos supor que os sintomas depressivos podem surgir como uma resposta a tais vivências. No momento em que um dos cônjuges não suporta vivenciar tal situação, que acaba por lhe trazer perdas, frustração e luto, o mesmo pode responder à tamanha dor por meio da depressão (RICOTTA, 2002). No caso do grupo de mulheres com o qual trabalhamos, sentimos a necessidade premente de escuta desde o primeiro encontro. Cada uma contou a história de sua vida e o conteúdo foi exposto de uma forma muito verdadeira, muito transparente e muito profunda. Emergiu a confiança entre as participantes e elas passaram a se apoiar, a partir do momento em que iam se identificando umas com as outras através do relato de suas histórias. Um dos principais pontos de ligação entre a maioria delas era o conflito vivenciado no relacionamento conjugal. Este é um fator que pode gerar inúmeros sentimentos e comportamentos, tais como: medo; tristeza; indecisão; insegurança; distanciamento; isolamento; solidão; frieza; baixa autoestima e culpa. Percebemos uma necessidade de esvaziamento dessa sobrecarga emocional através da fala. Esses sentimentos causam uma oscilação de humor e uma sensação de desequilíbrio. Talvez esta válvula de escape tenha ocorrido na busca por uma maior leveza para poder seguir em frente com um sentimento de alívio. Ficou-nos muita clara a estreita relação entre as crises individuais e as crises familiares. Desta forma, a crise individual acaba por repercutir no grupo familiar, daí a necessidade de uma atitude de cuidar-se que é preciso ser mantida por ambos os parceiros na relação conjugal. No sentido deste cuidar-se, essas mulheres deram um grande passo ao buscar o apoio psicoterapêutico individual. Desta forma, elas estavam adentrando numa grande viagem em busca de si mesmas, em busca do autoconhecimento e esse é um longo caminho a percorrer. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho realizado na Unidade de Saúde Mental aconteceu em um curto espaço de tempo, porém, deixou - nos com a sensação de missão cumprida. Isto se deveu ao fato de que conseguirmos perceber uma evolução no comportamento das participantes do grupo. Não houve resistência à proposta do trabalho, o diálogo fluiu facilmente desde o primeiro encontro. Tentamos facilitar a integração entre todas e percebemos que as relações foram utilizadas como fonte de apoio e de força, de aprendizado, de valorização, de amadurecimento e de superação. Percebemos a necessidade de impor limites ao grupo com relação ao tempo; de nos limitarmos nos nossos comentários para não perdermos a capacidade da escuta; de nos trabalharmos nas nossas questões pessoais mal resolvidas; de nos prepararmos mais, teoricamente, e nos nossos planejamentos, para que possamos entender melhor o movimento grupal, que é dinâmico e muitas vezes exigiu de nós o exercício da flexibilização. 4

Conseguimos perceber, somente na experienciação, alguns dos nossos erros e acertos, com a finalidade de melhoria. A possibilidade de contato com a realidade vivenciada por essas mulheres, a necessidade da pesquisa para entendermos a extensão de sua patologia e o sofrimento que ela pode causar, juntamente com a partilha que vivenciamos no grupo, fez desta uma experiência fantástica e que nos motivou a desejar uma continuidade. 4. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Wilson C. de (org.). Grupos: a proposta do psicodrama. São Paulo: Ágora, 1999. HOLMES, David S. Psicologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 1997. CAMOM, Valdemar Augusto Angerami (et al). Depressão e psicossomática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. RICOTTA, Luiza. O vínculo amoroso: a trajetória da vida afetiva. São Paulo: Ágora, 2002. MORENO, J. L. Psicoterapia de grupo e psicodrama. São Paulo: Mestre Jou, 1993. FREIRE-MAIA, Thalita. Auto-estima na infância. [artigo científico] Disponível em [http://www.profissionaldasaude.com/20070820251/psicologia/artigos-sobre-psicologia/autoestima-na-infancia.html]. Acessado em:23mar.2009. SIQUEIRA NETO, Armando Correa de. Dificuldades no relacionamento conjugal ocasionadas pela síndrome do comportamento de hospedagem. [artigo científico]. Disponível em http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_opiniao.php?codigo=aop0005&area=d11&subarea=]. Acessado em:22abr.2009. 5