RACISMO AMBIENTAL E DIREITOS HUMANOS: COMUNIDADE MATA CAVALO RESUMO



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Transcrição:

RACISMO AMBIENTAL E DIREITOS HUMANOS: COMUNIDADE MATA CAVALO Thays Machado 1 - Mestranda IE/UFMT- (m_tai2003@yahoo.com.br) RESUMO O presente trabalho tem como cenário de pesquisa a Comunidade de Mata Cavalo, que está localizada no Município de Nossa Senhora do Livramento, situada a 50 quilômetros de Cuiabá, Estado de Mato Grosso. Mata Cavalo ocupa um espaço geográfico de 11.722 hectares, residindo aproximadamente 500 famílias, as quais lutam para o reconhecimento de seu território. Em razão dos conflitos existentes entre quilombolas e fazendeiros pela posse de terra na sesmaria Boa Vida Quilombo Mata Cavalo envolvendo vários fatores, dentre eles questão social, racial, etnia, temos por objeto de pesquisa a percepção dos quilombolas da Comunidade de Mata Cavalo entre racismo ambiental e direitos humanos. Através da observação participante e entrevistas semi-estruturadas que estão sendo aplicadas em diferentes autores da comunidade, buscamos as percepções, e a interpretação através da hermenêutica, visto que iremos trabalhar com dados em que procurará tecer teias de compreensão que possibilitem uma nova visão acerca do meio ambiente, no qual o ser humano perceba a importância de conhecer os aparatos legais que podem auxiliá-lo na luta contra o racismo ambiental e na busca pelos direitos humanos. Seguiremos como linha metodológica o princípio da pesquisa-ação em que se procurará chegar à compreensão do fenômeno através do saber coletivo advindo da mútua troca de experiência entre pesquisados e pesquisador. Assim através de intervenções metodológicas buscará compreender e constituir ações que minimizam o racismo ambiental e, que além disto venha tornar compreensivo e efetivo os enunciados que compõem os direitos humanos. Palavras-chave: Educação e Racismo Ambiental, direitos humanos, Mata Cavalo. 1. INTRODUÇÃO Os descendentes dos escravos que habitavam os quilombos vêm gradativamente despertando para a sua importância dentro da cultura e busca espaço na sociedade que os manteve isolados e discriminados. Daí um fator de suma importância para propor um novo entendimento sobre a constituição do sujeito; pois se percebe que mesmo com as pressões sofridas através de frentes de ocupação, este procura resgatar e resguardar antigas tradições. Em muitas comunidades, através de festas e danças este descendente procura manter viva na memória os ritmos de vida e a tradição de seus antepassados. 1 Trabalho apresentado sob orientação da Prof.ª Dr.ª Michèle Sato-michelesato@ufmt.br

2 As comunidades de quilombos são detentoras de Direitos culturais históricos, assegurados pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal que tratam das questões relativas à preservação dos valores culturais da população negra, e eleva as terras dos remanescentes de quilombos à condição de território cultural nacional (CF/88, p.65/66) 2. Ademais, essas comunidades são grandes preservadoras do meio ambiente, respeitam o local onde vivem e reivindicam condições que permitam a sua continuidade e permanência em terras, que são suas por direito. Em razão dos conflitos existentes entre remanescentes quilombolas e fazendeiros pela posse de terra na sesmaria Boa Vida Quilombo Mata Cavalo envolvendo vários fatores, dentre eles questão social, racial, etnia, temos por objeto de pesquisa a percepção dos quilombolas da comunidade de Mata Cavalo entre o Racismo Ambiental e os direitos humanos. A comunidade negra rural Mata-Cavalo, que é o objeto de estudo do presente trabalho, encontra-se localizada no município de Nossa Senhora do Livramento, situada a 50 quilômetros de Cuiabá. Estado de Mato Grosso. Mata-cavalo ocupa um espaço geográfico de 11.722 hectares, residindo aproximadamente 500 famílias, as quais lutam para o reconhecimento de seu território 3. 2. DESENVOLVIMENTO A pesquisa será de caráter hermenêutico, pois irá trabalhar com dados em que procurará tecer teias de compreensão que possibilitem uma nova visão acerca do meio ambiente, no qual o ser humano perceba a importância de conhecer os aparatos legais que podem auxiliá-lo na luta contra o racismo ambiental e na busca pelos direitos humanos. Já que para Gadamer, a hermenêutica é uma pesquisa teórica e reflexiva que diz respeito a nossa compreensão do mundo e a todas as várias formas pelas quais essa compreensão se manifesta (Madison, 1997: 349). 2 Ministério das Relações Exteriores (www.mre.gov.br) e Fundação Cultural Palmares (www.palmares.gov.br). 3 Cf. a Procuradora do INCRA lotada em Cuiabá, Dra. Janice Muniz de Melo.

3 A tarefa da hermenêutica é a de vencer a alienação através de uma compreensão histórica de nossas relações com o meio ambiente. O que importa é ter uma compreensão de nós humanos enquanto seres que intervém e que tem uma relação de dependência com o meio ambiente [GRÜN, in: Sauvé et al. 2002, p, 96]. Uma educação ambiental hermenêutica leva a uma reconexão das crises ambientais com o agir que as originou (Flickinger, 1994). Sendo que, para isso, é preciso ter capacidade de reconhecer a historicidade de nossas relações com as biorregiões que habitamos. Assim, a proposição de estudo permitirá pela via da Hermenêutica chegar a essa compreensão a respeito da comunidade de Mata Cavalo; pois segundo Georg Gadamer 4, discípulo ilustre de Heidegger, sustenta que a Hermenêutica tem um escopo universal, uma vez que ela é uma disciplina cuja meta é descobrir aquilo que é comum a todos os modos de compreensão, ela também está preocupada com toda experiência humana no mundo e com o viver humano, isto é, não inclui apenas textos, mas, também, as formas de agência humana, visto que as ações humanas são por definição significativas. Desta forma, procuraremos visualizar, compreender e tornar compreensível o rizoma da educação que terá como sustentáculo as obras de Bullard, Ascerald, Leroy, Pacheco. Além destas, procurará tecer diálogo com as produções de Michèle Sato no que se refere à compreensão da Educação ambiental tendo em vista a transversalidade desta no que diz respeito à completude da pessoa tanto no que se refere ao meio em que vive como enquanto construção do humano, com todos os seus direitos inalienáveis, Antônio Carlos Diegues e Reigota, os quais também contribuirão nas relações ambientalistas e concepções educacionais visto a partir do rizoma que nos apresenta tais relações. Procurará delinear uma trajetória de estudo que torne profícua a discussão sobre o racismo dentro da comunidade Mata Cavalo, baseado na perspectiva crítica da Educação Ambiental, que permite uma visão mais ampla do saber local, permitindo, pois, ao pesquisador/pesquisados uma visão mais detalhada, útil e proveitosa, a fim de edificar novos conhecimentos. Para tanto, serão realizadas entrevistas com moradores da aludida comunidade e outros moradores do Quilombola, região de cima e região de baixo através de uma observação participante do cerne da questão. Portanto, o tema, além de atual, poderá contribuir com o debate sobre o racismo ambiental e acrescentar conhecimentos para que o afro-descendente possa agir não apenas 4 Gadamer, H.-G (1993). Truth and method. Trad. De J. Weinsheimer e D. G. Marshall. London.

4 com o conhecimento informal, mas também com o conhecimento formal que legitima sua luta e argumentos e o torne ativo, participante e efetivo; na luta por uma Educação Ambiental que minimize as diversas injustiças que foram impostas àqueles que ajudaram a construir não apenas a Comunidade de Mata Cavalo, no Estado de Mato Grosso; mas a estruturar o que hoje chamamos de Brasil. A pesquisa terá como metodologia o princípio da pesquisa-ação em que se procurará chegar à compreensão do fenômeno através do saber coletivo advindo da mútua troca de experiência entre pesquisados e pesquisador. Buscando para isto compreender que o racismo ambiental surge a partir da diferenciação da aplicação de políticas ambientais em comunidades expostas a fatores que prejudicam o bem estar da população sejam estes de ordem social, econômica ou racial. A universidade do Estado de Mato Grosso vem trabalhando com a Comunidade de Mata Cavalo a alguns anos, assim através de observações e intervenções metodológicas buscará compreender e construir ações que minimizem o racismo ambiental e, que além disto venha tornar compreensivo e efetivo os enunciados que compõem os direitos humanos, construindo junto com a comunidade os sentidos que se pode inferir destes que segundo a Constituição Brasileira delineia o direito de todos, sem distinção. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Temos como resultados preliminares relatórios de observação realizado a partir de pesquisa empírica na comunidade de mata cavalo, entrevista informal, fotografias, filmagens, registros em caderno de campo e posteriormente busca-se compreender este material considerando os pressupostos teóricos em que a aprendizagem se dá em parceria, para e pela ação em direção ao desenvolvimento das reflexões inferidas a partir das produções de Michèle Sato, Reigota, Merleau-Ponty, entre outros, pois o texto não está fora da história, da cultura, da política, das crenças, mitos e ritos de cada sociedade. Ao contrário, está dentro deles. Faz parte de sua construção, ao mesmo tempo em que é construído por eles ( Barcelos. In: Sato et al, 2005, p.79).

5 Assim, ciente das implicações que uma pesquisa exige e do processo cíclico de aprendizagem que se é possível na pesquisa-ação tentaremos estar aberta a novas inferências no transcorrer das atividades. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1996. ARRUTI, José Maurício P. A. O quilombo conceitual: Para uma sociologia do artigo 68. Texto para discussão do projeto Egbé. Territórios Negros Rio de Janeiro: Koinonia, 2003. BRETON, Binka Le. Vidas roubadas: a escravidão moderna na Amazônia brasileira. São Paulo: Loyola, 2002. 278 p. BRANDÃO, Zaia (org.). A crise dos paradigmas e a educação. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2002. 104 p. FIGUEIRA, Ricardo Rezende. Pisando fora da própria sombra: a escravidão por dívida no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. 450 p. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 16 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 40 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2005. 213 p. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989, 213 p. ISKANDAR, Jamil Ibrahim. Normas da ABNT: comentadas para trabalhos científicos. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2005. 94 p. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 662 p. MOURA, Gloria. A cultura da festa nos quilombos contemporâneos. In: Revista Palmares, n. 01, Brasília: Fundação Cultural Palmares, 1996, p. 47). RUSCHEINSKY, Aloísio. Meio ambiente, representação social e educação ambiental in Revista de Educação Pública. Cuiabá: UFMT, 2002. v. 11, n.20. SATO, Michèle; CARVALHO, Isabel Cristina Moura (orgs.). Educação Ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.

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