O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS PARA UMA PEDAGOGIA CRÍTICA DA SUSTENTABILIDADE

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1 O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS PARA UMA PEDAGOGIA CRÍTICA DA SUSTENTABILIDADE INTRODUÇÃO BATISTA, Erika IFSP_Campinas/Unesp erikkabatista@gmail.com DE BLASI, Jacqueline IFSP_Campinas jacqueline.b@ifsp.edu.br A discussão da crise ecológica tem retomado a perspectiva do desenvolvimento sustentável para o modelo econômico global, ainda que venha aprofundando a degradação ambiental. Novos momentos de reestruturação produtiva e campos de valorização são explorados a partir desta perspectiva, viabilizando a mercantilização da natureza em patamares mais amplos. Este trabalho apresenta um breve recorte do cenário em que figura o movimento da sustentabilidade, na qual a educação ambiental possui a função de reproduzir socialmente o "consenso sustentável" e disciplinar as práticas de ensino e aprendizagem para a consolidação desta orientação, legitimando a ordem social estabelecida pelos princípios da acumulação capitalista. Entretanto, se a crítica a esta forma de educação conveniente a um determinado tipo de desenvolvimento sustentável é importante, por outro lado tem-se a necessidade de fortalecer as práticas de educação ambiental que se apropriem desta crítica e questione os parâmetros desta forma de sociabilidade a partir da concepção de trabalho enquanto princípio educativo. O objetivo geral desta discussão é o de reconduzir o debate sobre educação ambiental aos fundamentos da Economia Política e em termos específicos apresentar os contornos e desafios para uma pedagogia crítica da sustentabilidade. METODOLOGIA A discussão será exposta de forma a apresentar a teoria da sustentabilidade enquanto reestruturação produtiva do capital para a busca de novas fontes de acumulação, conectando as 1

2 relações entre homem, trabalho e meio ambiente com ênfase na formação da ideologia sustentável e seu contraponto, a formação de uma educação ambiental como parte de um projeto político de transformação da sociedade capitalista. O método concentrou-se no materialista histórico, cujo tratamento utiliza a categoria da totalidade para analisar as determinações do trabalho enquanto princípio educativo, bem como sua natureza alienada pela lógica do capitalismo contemporâneo. Também estão relacionadas formulações mais particulares das discussões que envolvem a educação ambiental enquanto instrumento de ideologia. A técnica utilizada para esta abordagem foi o levantamento bibliográfico nas áreas de Economia Política, Sociologia Ambiental e Sociologia da Educação. O delineamento do debate é qualitativo e pretende articular os parâmetros da pedagogia crítica ao fortalecimento de práticas de ensino e aprendizagem que considerem a relação entre homem e meio ambiente pelo prisma de uma educação transformadora. DISCUSSÕES Pensar a educação fundamentada no trabalho como princípio educativo é entender o processo de formação escolar para o mundo do trabalho. Porém, essa compreensão não é tão simples, principalmente para o trabalhador contemporâneo que é obrigado a oferecer sua força de trabalho no mercado capitalista e encontra-se submetido às suas imposições. O desafio para uma prática pedagógica que leve em conta este princípio reside em dar condições para que alunos-trabalhadores entendam que o trabalho que vivem pode ser educativo e capaz de prover as ferramentas para a superação da natureza alienada do trabalho. O trabalho como princípio educativo traz em seu bojo a relação entre homem-meio ambiente a partir da concepção de que o homem no exercício do trabalho interage e modifica a natureza e a si mesmo, como indivíduo e espécie, construindo as formas de sociabilidade ao longo do tempo. Por outro lado, nesta interação o homem intervém no fluxo das leis naturais ao imprimir à natureza o ritmo do processo de socialização, e que, no caso da forma capitalista, traduz-se pela racionalidade industrial. As consequências refletem-se num progresso social acelerado e paradoxal que, para manter a lógica da acumulação desta forma de sociabilidade destrói recursos naturais vitais para a própria continuidade da espécie humana. É por esta razão que faz-se necessário deixar claro que não é qualquer trabalho que pode ser considerado como princípio educativo, da mesma 2

3 forma que não é qualquer prática pedagógica que pode ser considerada criativa e emancipadora, mesmo que seu objetivo seja proteger o meio ambiente. A natureza do trabalho alienado reflete-se em uma educação também estranhada ao homem e que funciona como mais um dos aparelhos de reprodução ideológica dos paradigmas hegemônicos estabelecidos. Entender o trabalho como princípio educativo significa entendê-lo em seu sentido ontológico, conforme desenvolvem Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) e também Saviani (1986). Isso significa que o trabalho está intrinsecamente vinculado à própria forma de ser dos seres humanos, como parte da natureza para a reprodução da existência. Tomando-se o movimento pela sustentabilidade nesta ótica, assiste-se a mais um modelo de desenvolvimento que tenta promover uma reestruturação produtiva do capital na direção de novas formas de exploração e apropriação privada da natureza para sua própria manutenção, pois não altera os fundamentos de uma ordem produtiva que é essencialmente destruidora do meio ambiente e da condição humana. É neste sentido que a educação ambiental que não parte do trabalho como princípio educativo caracteriza-se como mais uma das formas de ideologia capitalista, no sentido ontológico atribuído por Lukács (1981). Na medida em que os conteúdos da relação entre homem e meio ambiente são descolados dos fundamentos da Economia Política e do trabalho alienado, penetram nas práticas cotidianas de trabalho e reverberam nos demais espaços de socialização produzindo e reproduzindo a base material que a sustenta. A formação do "consenso sustentável" tem relação direta com a esfera material de reprodução das condições de dominação impostas pela lógica da sociabilidade capitalista, revelando-se uma importante ferramenta de manipulação destas condições. Desta forma, se os pressupostos deste modelo de desenvolvimento não são questionados pelas práticas pedagógicas que trabalham com educação ambiental o processo de ensino e aprendizagem termina por reafirmar uma forma de sociabilidade que agride a própria razão de ser destas práticas. Mesmo quando as abordagens de educação ambiental apontam problemas da degradação ambiental - como poluição da água e do ar, insuficiência de recursos hídricos, esterilidade de solos, extinção de espécies, aquecimento global, tratamento inadequado de resíduos tóxicos, dentre outros - os debates sobre a crise ecológica não convergem para a arena da crise econômica gerada pelos princípios do modo de produção capitalista. E uma vez que a reprodução desta ideologia da sustentabilidade se fortalece, aprofundamse também os processos de alienação entre as classes, compreendidos nas formas particulares de objetivação e subjetivação do ser social. Daí a importância de uma pedagogia crítica para o 3

4 fortalecimento de uma educação ambiental que demonstre os fundamentos da crise ecológica atrelada aos fundamentos da crise econômica intrínseca ao metabolismo do capital, segundo Meszáros (2011) - o que só é possível por meio da adoção do trabalho enquanto princípio educativo. CONSIDERAÇÕES FINAIS É importante salientar que, se por um lado vivemos uma sociedade de natureza capitalista, que subordina as práticas pedagógicas às exigências hegemônicas do capital, por outro é preciso reconhecer que, junto aos espaços de dominação e reprodução da ideologia capitalista coexistem as contradições inerentes ao seu funcionamento, possibilitando o exercício da crítica e da resistência. A compreensão dos processos de alienação que sustentam a ideologia da sustentabilidade como um das formas de ideologia capitalista pode contribuir para a tomada de consciência acerca do movimento de reconfiguração do capital, permitindo novas formas de articulação das classes populares na reconstrução e fortalecimento de uma ideologia que seja capaz de fazer frente à ofensiva capitalista no exercício da luta entre as classes. O capitalismo é uma das formas de sociabilidade possível, de modo que não é um sistema fixo e imutável, e tampouco o modelo educacional delineado por ele. Ambos são passíveis de transformações, pois são também determinados pelas condições históricas construídas pelos sujeitos em interação nas relações sociais de produção. As práticas pedagógicas, mesmo sob as imposições da lógica capitalista, constituem-se também em potencialidades de crítica. O fortalecimento de práticas de ensino e aprendizagem pautadas na relação entre homem e meio ambiente pelo prisma de uma educação centrada no trabalho como princípio educativo, vislumbra a formação integral para a construção de uma forma de sociabilidade igualitária e democrática. É nesse sentido que a educação ambiental se propõe a ser um espaço de crítica na construção de um projeto educacional para além do capital. PALAVRAS-CHAVE: educação ambiental; trabalho; sustentabilidade; ideologia. REFERÊNCIAS 4

5 BATISTA, E. A insustentável teoria da sustentabilidade. Ideologia e reificação no discurso empresarial da responsabilidade social. Tese. (Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais). Universidade Estadual Paulista, Marília: FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M.; RAMOS, M. (Orgs.) Ensino médio integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, LÖWY, M. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchhausen. Marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez, LUKÁCS, G. Il problema dell ideologia. In: Per l ontologia dell essere sociale. Roma: Editori Riuniti, MÉSZÁROS, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boitempo, SAVIANI, D. O nó do ensino de 2º grau. Bimestre, São Paulo: MEC/INEP CENAFOR, n. 1, out