REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

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Transcrição:

REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Fernanda Teixeira Frade Almeida Ministério da Educação fernandafrade2@hotmail.com Adriana Andrés Ministério da Educação adriandres2004@yahoo.com.br Resumo Este artigo busca refletir sobre como a Política Nacional de Formação de Profissionais da Educação do Campo vem se construindo no Ministério da Educação, a partir das orientações que compõem os instrumentos dessa política. Em especial, como a Educação de Jovens e Adultos e uma nova proposta de desenvolvimento para o campo têm sido incorporadas nesses instrumentos. Palavras-chave: Formação de profissionais da Educação do Campo, Educação de Jovens e Adultos, Políticas Públicas. Introdução Refletir sobre a Política Nacional de Formação de Profissionais da Educação do Campo implica em reconhecer as tensões estabelecidas pela relação dos Movimentos sociais e sindicais do Campo com o Estado para a construção da Educação do Campo como política pública.

O debate político-pedagógico sobre a Educação do Campo foi impulsionado pelos Movimentos sociais e sindicais do Campo que, a partir de experiências alternativas de educação, inauguraram uma referência para a construção de um novo projeto de desenvolvimento para o campo, em que a educação é um dos protagonistas. Segundo Caldart (2008), a Educação do Campo nasceu lutando por escolas e escolas públicas (através do MST fazendo a luta por escolas nos acampamentos e assentamentos), continua centrada nisso, e ao mesmo tempo nasceu, desde a radicalidade da Pedagogia dos Movimentos Sociais, afirmando que educação é mais do que escola..., vinculando-se a lutas sociais por uma humanização mais plena: luta pela terra, pelo trabalho, pela desalienação do trabalho, a favor da democratização do acesso à cultura e à sua produção, pela participação política, pela defesa do meio ambiente. A autora ainda destaca que a Educação do Campo se constituiu em um envolvimento direto com o Estado na disputa por formação de políticas públicas e que essa relação entre Movimentos sociais e sindicais do Campo e Estados é permeada de tensões. Não se espere que o Estado brasileiro, e nem mesmo os governos de plantão, aceitem (1º) uma política de educação que tome posição (prática) por um projeto popular de agricultura, de desenvolvimento do campo, do país, que ajude a formar os trabalhadores para lutar contra o capital e para construir outro sistema de produção, outra lógica de organização da vida social (que é exatamente o objetivo originário da Educação do Campo). E (2º) que aceitem os Movimentos Sociais como protagonistas da Educação do Campo, que aceitem os trabalhadores pobres do campo como sujeitos da construção (forma e conteúdo) de políticas públicas, ainda que específicas para sua própria educação. Se fosse assim, a hegemonia do Estado já seria outra. Os marcos regulatórios e as políticas públicas de Educação do Campo implementadas pelo Ministério da Educação são resultado dos sucessivos movimentos reivindicatórios protagonizados pelos sujeitos coletivos do campo. A Educação do Campo conta hoje com marcos legais suficientes para exigir um tratamento diferenciado e específico para a formação de profissionais da educação que atuam em escolas do campo. Apesar disso, segundo Reis e Carvalho (2009, p.53) os fundamentos legais que amparam a garantia da formação inicial e continuada dos profissionais da educação. têm sido negados na maioria das vezes, em virtude da constituição de um sistema público que ao mesmo tempo em que exige a garantia, por meio dos seus mais variados programas flexibiliza e precariza a profissionalização desses, quando admite ainda o exercício de profissionais em sala de aula sem o mínimo de formação necessária para a atuação docente, como preconiza a LDB, no seu art. 62.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB e a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica/PARFOR, a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Apesar do que apresentam Reis e Carvalho (2009), dados do Censo da Educação (2009) apontam que 34,1% dos professores que atuam em turmas de EJA do campo presencial, semipresencial e integrada à educação profissional de nível médio, em efetiva regência, apresentam formação superior específica (Ensino Superior em Ciências da Educação, Formação de Professor de Jovens e Adultos ou Licenciatura) e apenas 1,9% apresentam formação superior não específica. Ainda segundo o Censo 2009, a quantidade de docentes que apenas possui ensino fundamental completo e incompleto é praticamente desprezível: 0,3% possuem ensino fundamental incompleto e 1,3% ensino fundamental completo. Os docentes com formação em magistério/normal totalizam 46,3% e os que possuem ensino médio são 16,1%. Formação de Educadores de EJA no Brasil No que se refere à situação em que se encontra a formação de educadores para a EJA no Brasil a realização de três Seminários Nacionais sobre Formação de Educadores de Jovens e Adultos, organizados em parceria entre o Ministério da Educação, a UNESCO, os Fóruns de Educação de Jovens e Adultos e Universidades, contribuiu para o mapeamento dessa situação. Segundo Soares (2008, p.63) É somente nas últimas décadas que o problema da formação de educadores para a EJA ganha uma dimensão mais ampla. Esse novo patamar em que a discussão se coloca, relaciona-se à própria configuração do campo da educação de jovens e adultos. Para o autor, as ações de formação de educadores de EJA, realizadas por universidades, ainda são tímidas frente à relevância da EJA nos debates educacionais e ao potencial dessas instituições como agências formadoras. Acrescentamos, ainda, o apoio e o repasse de recursos realizados pelo Ministério da Educação para entidades formadoras executarem ações de formação. A entrada da EJA nas universidades, segundo Soares (2008), se deu pela porta da extensão, ocasionando com isso uma carência de prestígio e fragilidades nesse campo. Atualmente, a EJA

encontra-se presente, também, na habilitação do curso de Pedagogia, na iniciação científica, nos grupos de estudo, nos núcleos de EJA, nas disciplinas optativas ou obrigatórias, na prestação de serviços, na especialização e na formação inicial em Pedagogia Indígena e Pedagogia da Terra. Segundo ele, a habilitação em EJA é realizada, em média, por um período de formação de dois anos, desenvolvida geralmente nos períodos finais da graduação de pedagogia. Ao considerar que não apenas a pedagogia trabalha com a EJA, torna-se uma questão importante e desafiadora, colocada para as universidades brasileiras, inserir a EJA na formação inicial dos estudantes de licenciaturas. A presença da EJA como um processo formativo dos estudantes de outros cursos acontece, principalmente, quando os alunos fazem a sua opção pelo Estágio Curricular na EJA, restringindo seu processo formativo à prática em sala de aula. A extensão Universitária também abre portas para a trajetória de formação dos licenciados ao possibilitar o contato com os sujeitos jovens e adultos através de monitorias nos projetos de EJA, no interior ou fora das instituições. Além disso, Chaves (2008, p. 76) destaca que em levantamento realizado sobre a produção acerca da EJA no âmbito do Fórum de Pró-Reitoria de Graduação, que reúne pró-reitores de todas as instituições de ensino superior do Brasil, não foram encontrados registros que contemplassem a EJA. Política Nacional de Formação de Profissionais da Educação do Campo e da Educação de Jovens e Adultos Em 1998, foi criada a Articulação Nacional por uma Educação do Campo, entidade supra organizacional que passou a promover e gerir as ações conjuntas pela educação dos povos do campo em nível nacional. Esse movimento de renovação pedagógica confluiu para a realização de duas Conferências Nacionais Por uma Educação Básica do Campo, a primeira em 1998 e a segunda em 2004. Esse movimento busca refletir e apontar para duas ações complementares: identificar as dimensões fundamentais da luta política a ser feita no momento atual e seguir na construção do projeto político-pedagógico da Educação do Campo. Segundo Molina (2010) Desde a realização da I Conferência Nacional Por uma Educação Básica do Campo, realizada em 1998, os movimentos sociais, nos encontros locais, regionais e nacionais de Educação do Campo, sempre exigiram a elaboração de uma política pública de apoio à formação de educadores do campo. Após um grande período de lutas, os Movimentos sociais e sindicais do campo conquistaram cursos de formação inicial para os profissionais da Educação do Campo no âmbito do Programa de

Apoio as Licenciaturas em Educação do Campo PROCAMPO e cursos de formação continuada pela Rede de Educação para a Diversidade e pelo ProJovem Campo Saberes da Terra. A Diretoria de Educação para a Diversidade DEDI/CGEC/SECAD tem construído a Política de Formação de Profissionais da Educação do Campo a partir do estimulo à constituição, nos estados e municípios, de Pólos de Pesquisa e de Desenvolvimento de Educação do Campo, com o objetivo de desenvolver programas e ações de ensino, pesquisa, extensão e de gestão de processos educativos e formativos nas temáticas e práticas pedagógicas do campo. Esses Pólos Estaduais/Municipais, formados por instituições públicas de ensino superior/ipes, compõem a Rede de Formação do Campo da SECAD. A formação em Educação do Campo no âmbito da Rede de Educação para a Diversidade é composta por dois cursos de formação continuada (Práticas Pedagógicas na Educação do Campo e/ou Gestão Democrática da Educação do Campo) para educadores, gestores, técnicos e demais atores sociais envolvidos em Educação do Campo que atuam nos sistemas e nas escolas públicas do campo e para educadores dos Movimentos Sociais que têm experiência e/ou atuam em processos educacionais alternativos, podendo ser oferecida nas modalidades de extensão, aperfeiçoamento e especialização. A metodologia é desenvolvida de forma semipresencial com encontros presenciais e a distância a partir da interatividade do tutor com os cursistas, via internet. Embora o Manual da Rede de Educação para a Diversidade explicite que os cursos de Educação do Campo devem contribuir para a oferta de uma Educação do Campo contextualizada às realidades das suas populações, de qualidade e em conformidade com as Diretrizes Básicas para as Escolas do Campo e articular e consolidar parcerias entre os sistemas Federal, Estadual, Municipal e os Movimentos Sociais para o fortalecimento da Educação do Campo, suas orientações não apresentam conteúdo específico que contemplem a Educação de Jovens e Adultos do campo. A experiência do PROCAMPO, também, tem exposto contradições a serem enfrentadas na institucionalização das políticas públicas de Educação do Campo. Como relata Molina (2010) A exigência por parte das IES de fazer com que o acesso à Educação Superior para os sujeitos do campo, para o ingresso aos cursos do PROCAMPO se dêem por vestibular universal, excluindo-se a possibilidade do ingresso por turmas com critérios específicos, como a vinculação com o próprio campo; a atuação em escolas do campo descaracteriza o propósito inicialmente idealizado para esta política de formação, no sentido de vir a suprir enorme lacuna nos patamares de formação dos educadores do campo e de contribuir para elevar o nível de escolaridade dos jovens do campo, ainda que não sejam educadores. Embora o Edital do PROCAMPO 2009 apresente como condições de participação que os projetos considerem a realidade social e cultural específica das populações a serem beneficiadas e indiquem a participação dos Comitês/Fóruns Estaduais de Educação do Campo, onde houver, e dos

sistemas estaduais e municipais de ensino, define essas condições como critérios de pontuação, mas não como de exclusão. Além disso, não destaca a EJA do campo nos cursos de licenciatura específicos em Educação do Campo. Em relação à Política de Formação de Profissionais da EJA da Diretoria de Políticas de Educação de Jovens e Adultos/DPEJA/SECAD/MEC, esta apresenta o objetivo de melhoria da qualidade da educação ofertada a jovens, adultos e idosos. Para tanto, busca expandir a cobertura da oferta de cursos de formação continuada para profissionais que atuam na EJA, contemplando a diversidade de públicos. Desde 2008, são ofertados pela DPEJA/SECAD cursos presenciais de formação continuada de EJA por meio de Editais e Resoluções específicos e cursos de EJA pela Rede de Educação para Diversidade em parceira com a CAPES. Nesse sentido, a DPEJA tem realizado uma forte mobilização junto às Instituições Públicas de Ensino Superior - IPES para apresentação de projetos de curso e realizado acompanhamento dos mesmos. Com o objetivo de fortalecer a Política de Formação, a SECAD lançou, em 2010, três editais, além de uma Chamada Púbica, em parceria com outras secretarias do MEC. A Diretoria procurou focalizar, nos Editais e Resoluções, a interface da EJA com a Economia Solidária, com a Educação do Campo, com a Educação Prisional, o que possibilitou a seleção de projetos de formação continuada, com foco na alfabetização de jovens e adultos, no âmbito do Programa Brasil Alfabetizado; na mediação de leitura para neoleitores; na produção de materiais pedagógico-formativos e literários e de apoio didático para EJA; na publicação de experiências de EJA, além da elaboração de projetos de pesquisa sobre leitura. Considerações Finais A construção da Política de Formação de Profissionais da Educação do Campo se fundamenta no apoio à realização de cursos de formação inicial e continuada por Instituições Públicas de Ensino Superior, porém percebe-se que os instrumentos orientadores para a elaboração de propostas para a Educação do Campo, não têm contemplado a Educação de Jovens e Adultos e, tampouco, têm exigido uma fundamentação teórica pautada em uma nova proposta de desenvolvimento para o campo, atendendo ao objetivo originário da Educação do Campo. Portanto, é necessário incorporar a EJA na Política de Formação de Profissionais da Educação do Campo e fortalecer a parceria entre os Movimentos sociais e sindicais do campo e as

IPES, já que elas assumiram um papel fundamental na elaboração de projetos de formação para a Educação do Campo. Importante salientar que a SECAD/MEC tem estimulado a articulação dos Movimentos sociais e sindicais do Campo com as instituições formadoras, assim como a criação de Comitês Estaduais de Educação do Campo, É evidente que os Movimentos sociais e sindicais do campo e as Instituições Públicas de Ensino Superior têm se aproximado, nos últimos anos, cada vez mais a fim de manter nas políticas de formação os princípios e desafios da Educação do Campo. Nesse sentido, vale o destaque de Molina (2010) Os processos vivenciados na execução das políticas de formação de educadores do campo mostram que é necessário manter forte e vigilante intencionalidade quanto à participação dos movimentos sociais na concepção e execução das diferentes fases das políticas, para não se deixar engolir pelo ritmo imposto à máquina pública em suas exigências burocrática e legais. Por fim, é essencial promover maior integração entre as ações de formação da Educação do Campo e da Educação de Jovens e Adultos, no âmbito do Ministério da Educação. REFERÊNCIAS CALDART, Roseli. Educação do Campo: notas para uma análise de percurso. II Encontro Nacional de Pesquisa em Educação do Campo. Brasília, agosto 2008. REIS, Edmerson; CARVALHO, Raquel. O papel do Poder Público na construção da Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação do Campo. In: LUNES, Alessandra; ROCHA, Eliene (Orgs.) Práticas Pedagógicas e Formação de Educadore(s) do Campo: Caderno Pedagógico da Educação do Campo. Brasília: Dupligráfica, 2009. SOARES, Leôncio. Avanços e Desafios na Formação do Educador de Jovens e Adultos. In: MACHADO, Margarida (Org.) Formação de Educadores de Jovens e Adultos: II Seminário Nacional. Brasília: SECAD/MEC, UNESCO, 2008. CHAVES, Sandramara. Política da UFG de formação de educadores de jovens e adultos. In: MACHADO, Margarida (Org.) Formação de Educadores de Jovens e Adultos: II Seminário Nacional. Brasília: SECAD/MEC, UNESCO, 2008.

MOLINA, Mônica. Reflexões sobre o significado do protagonismo dos movimentos sociais na construção de políticas públicas de Educação do Campo. In Educação do Campo e Pesquisa II. Brasília: MDA/MEC, 2010 (137-149). BRASIL. Manual Operacional Rede de Educação para a Diversidade. MEC/SECAD. Disponível em: http://www.mec.gov.br > Acessado em 06 de abril de 2011. BRASIL. Edital Nº 06 SECAD/MEC, de 1º de abril de 2009. MEC/SECAD. Disponível em: http://www.mec.gov.br> BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. BRASIL. Decreto Nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. BRASIL. Resolução CNE/CEB 1, de 03 de abril de 2002. MEC/SECAD.