Políticas de recursos humanos no sistema de saúde brasileiro: estudo avaliativo Coordenação Geral Dra. Celia Regina Pierantoni, MD, DSc Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do IMS/UERJ. Coordenadora Geral do ObservaRH. Diretora do Centro Colaborador da OPAS/OMS para Planejamento e Informação da Força de Trabalho em Saúde ObservaRH Estação de Trabalho IMS/UERJ www.obsnetims.org.br Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde Ministério da Saúde
Autores Professores Tania França (Professora adjunta IMS/UERJ) Bolsistas de Pós-graduação Carinne Magnago (Doutorado) Swheelen de Paula Vieira (Mestrado) Bolsistas de Graduação Dayane Nunes Nascimento Rômulo Gonçalves de Miranda Ana Paula Cerca (MS/DEGERTS)
Objetivo geral Avaliar o estágio das políticas de gestão do trabalho e a articulação das políticas de gestão da educação implantadas nas SES e SMS que aderiram ao ProgeSUS à luz das diretrizes e estratégias desenvolvidas pela SGTES.
Objetivos específicos Caracterizar as estruturas de gestão do trabalho e da educação nas secretarias de saúde; Mapear e analisar os PCCS existentes; Levantar os espaços de diálogo e negociação do trabalho em saúde existentes e a capacidade de pactuação dos conflitos oriundos do trabalho; Mapear e analisar as práticas desenvolvidas e os mecanismos utilizados para processos de desprecarização do trabalho; dotação orçamentária e autonomia para execução financeira e tomada de decisão.
Métodos Identificação, qualificação do universo da pesquisa e aplicação de um survey A pesquisa foi dirigida aos gestores das 644 SES e SMS, incluindo as secretarias das capitais (SMS capitais) que aderiram ao ProgeSUS; Survey com 56 questões; Entrevistas efetivadas: 519; Período das entrevistas por telefone: julho a setembro de 2012. Análise estatística descritiva.
Métodos Grupo Focal Foram realizados seis grupos focais: 05 regionais: 49 participantes Mesa Nacional de Negociação Permanente: 11 representantes dos trabalhadores. Período dos grupo focais: junho de 2012 a abril de 2013 Análise temática de conteúdo.
PERFIL DOS RESPONSÁVEIS PELA ÁREA DE GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE Perfil das SMS e Capitais é similar: maior parte dos órgãos de RH estão ligados ao segundo nível hierárquico da estrutura das secretarias de saúde (39% e 67% respectivamente). Na SES e municípios com população acima de 100 mil hab., a maior parte se encontra no terceiro nível de hierarquia. As principais atividades desenvolvidas pelas SES e SMS são: administração de pessoal, avaliação de desempenho e dimensionamento da força de trabalho (exceto as SMS com porte acima de 500 mil hab. onde destacam-se a integração entre os setores da educação e saúde e formação profissional). Nas SMS Capitais destacam-se: formação e desenvolvimento profissional e regulação e negociação do trabalho. Atividades menos citadas: planejamento e orçamento e elaboração de PCCS.
ADESÃO AO PROGESUS As SMS, SES e Capitais (de todos os portes) indicaram a reestruturação da equipe e a criação da área de gestão do trabalho e educação como mudanças mais referidas após a participação no curso de especialização. Participação no curso Capitais SES Até 100.000 habitantes De 100.001 a 500.000 habitantes Acima de 500.000 habitantes N % N % N % N % N % A área gestão do trabalho e educação foi criada Houve a reestruturação do organograma Houve a reestruturação da área física Houve a reestruturação da equipe 6 26,09 3 12,50 53 21,29 29 25,22 2 22,22 6 26,09 6 25,00 53 21,29 24 20,87 1 11,11 3 13,04 6 25,00 56 22,49 17 14,78 1 11,11 8 34,78 8 33,33 68 27,31 28 24,35 2 22,22 Outra 4 17,39 7 29,17 20 8,03 11 9,57 2 22,22 NS/NR 13 56,52 13 54,17 145 58,23 70 60,87 6 66,67 Total 23 100,00 24 100,00 249 100,00 115 100,00 9 100,00 Fonte: ObservaRH/IMS-UERJ. Avaliação de Políticas e Programas Nacionais da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde no SUS. Brasil, 2012.
ADESÃO AO PROGESUS Principais contribuições dos profissionais após participação no curso de especialização foram: planejar, coordenar e apoiar as atividades relacionadas ao trabalho e à educação na área da saúde (não havendo grande diferença entre os conjuntos).
PLANO DE CARGOS CARREIRAS E SALÁRIOS (PCCS) 37% das Secretarias pesquisadas possuem PCCS geral e 26% PCCS específico para a saúde. As Secretarias que não possuem nenhum tipo de PCCS somam 28%. Existência de PCCS N % Sim, geral para todos os trabalhadores 190 36,60 Sim, específico da SMS/SES 137 26,39 Não possui PCCS 146 28,13 Não resposta 46 8,86 Total 519 100,00 Fonte: ObservaRH/IMS-UERJ. Avaliação de Políticas e Programas Nacionais da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde no SUS. Brasil, 2012.
PLANO DE CARGOS CARREIRAS E SALÁRIOS (PCCS) As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram em maior parte a existência de PCCS específicos para saúde. O oposto ocorre nas regiões Sul e Sudeste. Situação PCCS específico para a saúde Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste N % N % N % N % N % Sim 24 82,76 45 48,39 37 30,08 12 20,69 19 73,08 Não 5 17,24 40 43,01 63 51,22 36 62,07 7 26,92 Não sei informar 0 0,00 8 8,60 23 18,70 9 15,52 0 0,00 NR 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 1,72 0 0,00 Total 29 100,00 93 100,00 123 100,00 58 100,00 26 100,00 Fonte: ObservaRH/IMS-UERJ. Avaliação de Políticas e Programas Nacionais da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde no SUS. Brasil, 2012.
PLANO DE CARGOS CARREIRAS E SALÁRIOS (PCCS) Do total de 137 PCCS específicos da saúde, a maior parte, foi implantada a partir de 2011. No período anterior ao ano de 2002 apenas 9% dos PCCS específicos foram implantados. 43% das Secretarias afirmaram incorporar as Diretrizes da Mesa Nacional de Negociação Permanente no PCCS. Como principais motivos para a não existência de PCCS específico, as Secretarias citaram: inexistência de uma política de gestão que contemple a implantação do PCCS, falta de autonomia da SES e SMS para elaborar o Plano.
PLANO DE CARGOS CARREIRAS E SALÁRIOS (PCCS) Aspectos contemplados no PCCS Os resultados da avaliação de desempenho profissional As oportunidades de desenvolvimento associadas à educação permanente em relação a especialização, residência, mestrado, doutorado SES SMS SMS capital N % N % N % 14 73,68 98 71,53 13 76,47 14 73,68 111 81,02 15 88,24 Tempo de serviço 14 73,68 101 73,72 13 76,47 Não tem conhecimento 2 10,53 15 10,95 0 0,00 O PCCS não contempla progressão na carreira 7 36,84 27 19,71 4 23,53 Total 19 100,00 137 100,00 17 100,00 Fonte: ObservaRH/IMS-UERJ. Avaliação de Políticas e Programas Nacionais da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde no SUS. Brasil, 2012.
PLANO DE CARGOS CARREIRAS E SALÁRIOS (PCCS) Temos que considerar as diferenças de cada profissional. A realidade não é todos ganharem igual. Não dá para ir contra o mercado. Precisamos diferenciar o médico, por exemplo. (Região Sul) A discussão na mesa culminou no [...] Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (instituído por lei). Os médicos não concordaram com a remuneração deles. [...] Era igual pra todos os profissionais. [...] Os médicos fizeram negociação paralela à lei, a assembleia legislativa concordou [...] O salário deles foi para R$ 2.500. O nosso permaneceu em R$ 1.200. (Região Nordeste) Existem dois planos: um especificamente dos médicos e outro para os demais (profissionais de saúde). [...] Eles (os médicos) têm poder de barganha e conseguiram alterar a lei e colocaram mais incentivos no plano deles. O PCCS deles já se dá por titulação e ganharam mais incentivos para qualificação. (Região Norte)
MESA DE NEGOCIAÇÃO DO TRABALHO Implantação e situação da Mesa de Negociação do Trabalho, Brasil - 2012. Não tem conhecimento 14% Não sabe o que é mesa de negociação 6% NS/NR 1% Sim e está em funcionamento 16% Sim, porém não está em funcionamento 10% Não, mas está pensando em instalar 9% Não 44%
MESA DE NEGOCIAÇÃO DO TRABALHO As coisas andam quando tem a mesa. A grande importância do Ministério da Saúde é capacitar negociadores. Há muita gente despreparada à frente das negociações. (Região Nordeste) A mesa de negociação estadual foi muito bem implantada e divulgada de acordo com as diretrizes do ministério, [...]. Durou apenas uma gestão devido à falta de informação dos novos gestores. Hoje não está contribuindo para a gestão, porque não funciona. (Região Norte) Estamos tentando implantar a mesa, mas estamos esbarrando na dificuldade com a Secretaria de Planejamento. (Região Centro-Oeste)
MESA DE NEGOCIAÇÃO DO TRABALHO Participação das instituições na Mesa de Negociação mais referidas: sindicatos, SMS e associação de trabalhadores (85%, 83% e 50%, nesta ordem). Implantação da Mesa: na maior parte das SES e Capitais a implantação se deu entre 2003 e 2008; a partir de 2009 para as SMS. Abrangência da mesa, a maior parte é específica para o setor saúde, tendo SES e SMS Capitais 55% e 77%, respectivamente. SMS apresentam 38% de mesas específicas. Dentre os que referiram mudança nas relações de trabalho, as principais atribuídas a Mesa foram: realização de concursos e processos seletivos públicos, seguido por carreiras/pccs.
ORÇAMENTO/FINANCIAMENTO DA GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO 63% das SES, 62% das SMS e 85% das capitais referiram não haver autonomia financeira e orçamentária por parte dos gestores de RH. Faixa percentual de recursos para a área da saúde é inferior a 5%. Maior parte das secretarias consideram que a composição do financiamento deva ser tripartite.
ORÇAMENTO/FINANCIAMENTO DA GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO O menor grau foi relacionado à contratação de pessoal seguido por planejamento da força de trabalho (47% e 46%, respectivamente). Baixa autonomia relacionada à utilização de recursos financeiros.
Considerações Observou-se que o gestor da área é do sexo feminino com idade entre 40 e 49 anos com formação em enfermagem, administração e direito. O tempo médio de permanência no cargo é de 3 anos. A área é subordinada ao setor saúde localizada no segundo e terceiro nível hierárquico. Após o ProgeSUS, o componente mais importante foi a estruturação da área de gestão do trabalho, o aspecto mais positivo foi o curso de especialização e o mais negativo o número de profissionais capacitados e o financiamento insuficiente. Observou-se um aumento na implementação de PCCS e de processos de avaliação de desempenho. Diminuição de mesas de negociação em funcionamento quando comparada com pesquisa anterior (2008). Existência de financiamento exclusivo para o setor, porém o gestor não possui autonomia financeira.
Perspectivas - ProgeSUS - em 2011, foi ampliado e em sua reestruturação passa a fomentar a negociação coletiva por meio de assessoria técnica e financeira; expande os cursos de qualificação em gestão do trabalho em saúde para os trabalhadores de nível médio e; prioriza a construção de um banco de dados nacional a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). - Prêmio InovaSUS - criado com o objetivo de valorizar as boas e inovadoras práticas visando identificar reconhecer e disseminar soluções. Espera-se que o InovaSUS combinado ao ProgeSUS potencialize o desenvolvimento de ações no campo da gestão do trabalho e coloque esse tema como prioridade na agenda dos gestores.
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