INFORME-GEO: INTERPRETAÇÃO TEXTUAL E CONTEXTUALIZAÇÃO GEOGRÁFICA Josiano Wlysses Batista Licenciado em Geografia pela UEPB jwlysses@hotmail.com Rosimere Andrade da Silva Licenciada em Letras pela UEPB rosimereandrade65@gmail.com 1 INTRODUÇÃO O mundo contemporâneo tem se tornando cada vez mais dinâmico e interligado por múltiplas relações de interdependências, a globalização deste processo afeta todas as estruturas do sistema, exigindo da sociedade adaptação e interação. Desse modo, a escola ganha novos papéis e necessita romper as amarras do atual anacronismo que têm feito à educação brasileira caminhar na contramão do progresso e da inclusão social. De acordo com o Censo Escolar de 2013, 65% das unidades de ensino, públicas e privadas, não possuem bibliotecas (INEP, 2014). Comprovando que a maioria das escolas brasileiras não possuem os equipamentos básicos do ambiente escolar, comprometendo o hábito de leitura e o desempenho dos discentes. Neste trabalho daremos ênfase ao produto desse descaso educacional, a dificuldade de leitura e interpretação de textos, característica denominada pela UNESCO de analfabetismo funcional, estagio de aprendizado em que o individuo aprende a ler, mas não consegue por se só decodificar, interpretar ou contextualizar a mensagem escrita. Refletindo negativamente em todas as áreas do conhecimento: língua portuguesa, história, geografia, ciências, matemática, e etc. Suas consequências podem ser percebidos nitidamente na sociedade e são representados nas estatísticas sociais. De acordo com a UNESCO, se todas as crianças saíssem da escola com habilidades básicas de leitura, 171 milhões de pessoas poderiam sair da pobreza. (UNESCO, 2014, p.22). Neste aspecto se faz necessário compreender o problema em âmbito nacional, regional e local. Avaliações como a do PISA, desenvolvida pela OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, tem apontado um grande déficit no desempenho do alunado brasileiro, vale salientar que em domínio de leitura o Brasil
se encontra na 55ª posição de um total de 65 países participantes da avaliação em 2012, ficando abaixo de países como Chile, Uruguai, Romênia e Tailândia. Observando a realidade local também é possível constatar as origens e os reflexos desse déficit, em Sapé, cidade brasileira localizada na Mesorregião da Mata Paraibana e na Microrregião homônima de Sapé, segundo dados do censo demográfico do IBGE (2010) mais de 30% de sua população com mais de 15 anos de idade, são analfabetos. Fato que dentre outras coisas, compromete o desenvolvimento local. Que referência os jovens podem encontrar na família, para continuar os estudos em nível básico, técnico e superior? Acerca disto o IDEME - Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba (2012) divulgou que na referida cidade 44,56% dos alunos matriculados no ensino fundamental estão com até dois anos de atraso, em relação à idade-série. Comprovando a dificuldade enfrentada por essas crianças, na construção de sua identidade cognitiva. Com base nesses resultados, entrevistas e na aplicação de questionários com estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental Stella da Cunha Santos, localizada no centro da cidade, pode-se compreender que a dificuldade encontrada por eles em todas as disciplinas é reflexo da falta de hábito e domínio de leitura, o que compromete seu desempenho escolar. Com o problema caracterizado, surge como mecanismos de reversão o Projeto de Aprendizagem Informe-Geo desenvolvido incialmente na disciplina de Geografia, como instrumento inovador e complementar das aulas, ganha aceitação entre os alunos, e professores de outras disciplinas, adquirindo caráter interdisciplinar. Seu objetivo é incentivar o cotidiano da leitura e interpretação textual nos discentes do ensino fundamental II, através de textos, recortes de jornais, revistas, e outros impressos presentes no dia-a-dia do cidadão moderno. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA Tendo em vista a rápida evolução tecnológica contemporânea as escolas ganham novos papéis, além de capacitar os jovens para o mercado de trabalho, precisa capacita-los para a convivência com as mais diversas informações. O grande problema se torna superar as dificuldades na interpretação textual, e na assimilação
do conteúdo cartográfico. O professor como mediador do conhecimento deve recorrer a novas técnicas didático-educacional na formação do discente. Correr (2003, p. 18) destaca que...na sociedade em que vivemos; os valores mais cultuados são as capacidades de se ajustar a um mundo competitivo e individualizado. Neste sentido a LDB (art. 32, inciso I) afirma que é objetivo do ensino fundamental: o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; Dessa forma é de fundamental importância compreender que a escrita é o principalmente veículo do conhecimento humano, e a pouca intimidade com esse meio de comunicação favorece a segregação social vivenciada pelos diferentes estratos da nossa sociedade. Só o aperfeiçoamento da leitura quebrará os grilhões da incapacidade, e abrirá as portas de um belo horizonte. São essas observações da realidade e o baixo desempenho do alunado em avaliações nacionais, que tornam inadiáveis o desenvolvimento deste projeto, assim como muitos outros que tenham por objetivo o aprimoramento da leitura e interpretação. Pois como afirma Junqueira Filho (2011) alunos e professores devem ser sujeitos-leitores e objetos de conhecimento-linguagem, construindo a si mesmo. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO A disciplina de Geografia no ensino fundamental II possui por missão aperfeiçoar o conhecimento das principais categorias geográficas: lugar, território, paisagem, região, espaço natural e espaço geográfico. Desta forma, Callai (2011) afirma que para ir além de um simples ensinar é importante que o discente conheça o mundo, obtenha e organize os conhecimentos para entender a lógica do que acontece em nosso cotidiano. Nesta perspectiva torna-se impossível desenvolver um bom trabalho contextual, com alunos que apresentam elevado grau de dificuldade interpretativa: literária e geográfica (imagens, mapas, tabelas, gráficos, etc.). O projeto beneficiou diretamente 100 (cem) alunos distribuídos em cinco turmas de sétimo e nono ano, os quais foram incentivados a desenvolver o habito de leitura, através da interpretação e contextualização de textos e noticias. Possibilitando o aprendizado continuo, que para Nóvoa (2002, p. 23) concentra-se em dois pilares: a própria
pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente. A escolha dos textos é feita de acordo com a faixa etária do alunado e a matriz curricular de cada serie, respeitando as normas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os textos são encaminhados individualmente para cada aluno ou grupo para leitura e apresentação de seu entendimento para todos na sala de aula, ao final da apresentação o professor mediador de todo processo faz suas colocações sobre o assunto tratado e atribui ao bom desempenho individual ou do grupo uma pontuação avaliativa. Os resultados deste trabalho podem ser verificados através da analise das notas, tomando por referência os alunos do quadro abaixo: Quadro 1 - Rendimento dos alunos durante a execução do projeto 7º ANO TURMA: E TURNO: TARDE FREQUÊNCIA EM 2013 NOME 1º 2 3 Média Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. 1. F. M.S. 7,0 8,7 9,0 8,2 N DE 4 1 1 1 1 1 2. G.I.B. 7,6 8,3 8,7 8,2 FALTAS 2 4 2 1 3. J.C.B. 7,3 8,7 9,0 8,3 2 1 3 2 2 2 1 4. M.L.S. 7,3 9,0 9,3 8,5 3 2 3 4 2 5 5. R.S.S. 7,5 8,7 9,3 8,5 1 1 MÉDIA MÉDIA DA 7,3 8,7 9,1 DE TURMA FALTAS Adolescente, Fonte: Elaborado pelos autores. 2 3 2,0 1,8 2,0 1,7 2,7 1,0 Os nomes foram suprimidos em respeito ao Estatuto da Criança e do o quadro acima representa apenas 5% dos alunos envolvidos diretamente no projeto, essa amostragem foi definida para representar o melhoramento do desempenho desses alunos. Esse acompanhamento do desempenho foi realizado também através de outras disciplinas demonstrando resultados bem parecidos e bastante satisfatórios. Com relação ao corpo docente para constar o grau de interação com o projeto foi realizado um questionário de satisfação, representado pela média 8,0 para o conjunto das perguntas propostas pelos autores. De forma geral o sucesso do projeto, culminou na contemplação no Prêmio Mestres da Educação da Secretária de Educação do Estado da Paraíba em 2013. 4 CONCLUSÃO
Através da pesquisa bibliográfica e de campo foi possível identificar as consequências da falta de domínio de leitura nos anos finais do ensino fundamental e sua influência negativa na evolução escolar dos discentes. Foi a partir de seus resultados que surge a necessidade de um plano de reversão, que deu origem ao Projeto de Aprendizagem Informe-Geo. Para o bom desempenho deste projeto foi crucial à participação de áreas correlatas em especial de português, bem como de todos os alunos envolvidos, tendo em vista que trata-se de uma oportunidade singular para melhoria da interpretação textual e da compreensão geográfica. Com a execução deste projeto percebeu-se as vantagens e a necessidade de outras iniciativas com a mesma finalidade, ou seja, superar barreiras ideológicas, vivenciadas principalmente na rede publica de ensino. 5 REFERÊNCIAS BRASIL. LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Senado Federal, 1996. 30 p. CALLAI, H.C. A Geografia escolar e os conteúdos da Geografia. In: Anekumene. Revista virtual Geografia, cultura y educación, n.1, 2011, p. 131. Disponível: http://www.anekumene.com/index.php/revista. Acesso em: 16 fev. 2012. CORRER, R. Deficiência e inclusão social: construindo uma nova comunidade. Bauru-SP: EDUSC, 2003. 124 p. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censos Demográficos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ > Acesso em 02 de set. de 2011. Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual (IDEME). Anuário Estatístico do Estado da Paraíba - 2011. João Pessoa-PB: IDEME, 2012. Disponível em: http://www.ideme.pb.gov.br/ > Acesso em 21 de jun. de 2014. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Censo Escolar 2013. Brasília-DF: INEP, 2014. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/basica-censo> Acesso em 11 de jun. de 2014. JUNQUEIRA FILHO, G.A. Linguagens geradoras: seleção e articulação de conteúdos em educação infantil. Porto Alegre-RS: Mediação, 2011. 112 p. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). 11º Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos. Paris - França: Unesco, 2014. 57p.