O PROCESSO DA LAVAGEM DE DINHEIRO EM ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS



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Transcrição:

O PROCESSO DA LAVAGEM DE DINHEIRO EM ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Renan Rodrigues da Silva 2 Orientador Metodológico: Luiz Carlos Moreira Este artigo analisa como ocorre o processo da lavagem de dinheiro. Iniciando com uma abordagem da evolução tecnológica dos meios de comunicação e com a globalização do mercado financeiro. Entretanto, existe uma relação direta entre a organização criminosa e o branqueamento de capital. Sendo assim, não é possível examinar com profundidade um sem a análise do outro. É através do crime organizado que se estruturam diversas atividades ilícitas. Atividades que dão origem aos bens que conseqüentemente necessitam de aspectos legais e, deste modo, os recursos retornam ao sistema econômico, para serem usufruídos pelos criminosos. Assim, antes da lavagem de dinheiro, existem os crimes antecedentes, esses taxativamente citados pela lei brasileira 9.613/98. O termo lavagem de dinheiro não tem elevada exatidão científica, portanto, cada autor que analisou o fenômeno da lavagem de dinheiro, definiu o seu conceito. Após, temos as fases da lavagem de dinheiro: a colocação, ocultação e integração. Por fim, apresentamos os efeitos que o branqueamento de capital gera, isto é, os danos provocados à sociedade através de alguns pontos ponderados. Palavras-chave: Lavagem de Dinheiro. Crimes Antecedentes. Crime Organizado. Lei 9.613/98. 1 Introdução Por meio de uma abordagem exploratória descritiva, o presente estudo tem por objetivo obter informações necessárias para análise e compreensão do processo de lavagem de dinheiro dentro de estruturas organizacionais. A coleta de dados foi elaborada com base no documento disponibilizado no site do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que contém casos simplificados de lavagem de dinheiro, decorrência do apoio das Unidades de Inteligência Financeira (FIU), membros do grupo de Egmont. Conforme indicado no site do COAF (2001), este grupo internacional informal foi agregado para originar a troca de informações entre as FIUs. Nos dias atuais, podemos afirmar que estamos em constante avanço tecnológico. Este avanço proporciona facilidade e velocidade nas transações financeiras, em qualquer parte do mundo, graças à globalização. Assim sendo, as organizações financeiras e não-financeiras se tornam alvos fáceis para os criminosos que procuram omitir a origem ilegal do dinheiro, ou seja, tentar justificar legalmente os numerários surgidos de outros crimes, como: tráfico de drogas, tráfico de armas, tráfico de animais, corrupção e etc. Também há outras formas mais freqüentes de lavagem de dinheiro, como: ONGs; bingos; transações imobiliárias; igrejas de fachada; etc. Conforme Lilley (2001 apud RONCATO, 2006, p. 8), a expressão lavagem de dinheiro surgiu na década de 20, nos Estados Unidos. Naquela época, as quadrilhas que visavam converter o dinheiro adquirido de maneira ilícita em dinheiro legal, de modo que transpusesse a integrar a economia formal, o faziam através de corporações de fachada, com giro rápido de dinheiro. A maior parte destes criminosos se aproveitava de lavanderias e lava rápidos, o que permitia a inserção do dinheiro sujo juntamente com o dinheiro obtido legitimamente. Portanto, torna-se necessário um melhor entendimento de como a lavagem de dinheiro é realizada. 2 Referencial Teórico 2.1. Globalização A globalização e o incremento da economia mundial criaram novos desafios para a sociedade, rompendo fronteiras entre os países, ou seja, independentemente do local onde estejamos, é possível acessar qualquer outro ponto do planeta. Com o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação e com a globalização do mercado financeiro internacional, os criminosos movimentam amplas quantias de forma veloz e de distintos modos, podendo afetar o equilíbrio financeiro dos países e consentir ¹ Artigo apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Administração de Empresas no Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios - IBGEN, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Carlos Moreira. ² Graduando em Administração de Empresas pelo Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios-IBGEN. renan_roots@hotmail.com.

que os traficantes, contrabandistas de armas, terroristas ou funcionários corruptos continuem suas atividades ilegais. (SILVA, 2001 apud SANTOS, 2004). Conforme Elias (2005), no final do século XX inicia-se o fenômeno da globalização, o qual foi provocado pela revolução tecnológica das três últimas décadas do século, criando condições para a comunicação imediata com todo o planeta. Estreitando a interligação de todas as sociedades não-primitivas e permitindo assim, que os valores financeiros sejam transferidos instantaneamente de um mercado para outro. Nos tempos atuais, podemos dizer que a globalização permitiu uma enorme facilidade para a movimentação de capital no sistema financeiro. A grande rede mundial de computadores, internet, contribui para esta alta volatilidade do dinheiro, além do anonimato. Assim, é possível afirmar que o panorama hoje existente, facilita a prática da lavagem ou branqueamento de dinheiro. (LILLEY, 2001, apud ELIAS, 2005). O fato é que nos últimos tempos a prática da lavagem de dinheiro começou a alcançar volumes extraordinários, o que também gerou uma preocupação tanto dos governos quanto dos organismos internacionais. Esse crescimento representa a conseqüência lógica da evolução dos delitos que geram os fundos de origem ilícita que serão lavados. (ALVAREZ PASTOR; EGUIDAZU PALACIOS, 1998 apud CALLEGARI, 2008). 2.2. Crime Organizado De acordo com Braga (2006), existe uma relação direta entre o crime organizado e a lavagem de dinheiro, ou seja, têm sentidos complementares. Sendo assim, não é possível examinar com profundidade um sem a análise do outro. Portanto, torna-se necessário estabelecer conceitos em relação ao crime organizado, motivo maior da existência do fenômeno da lavagem de capital. Questão que espanta devido ao seu aumento e sua sofisticação tanto tecnológica quanto em termos de organização. Por sua vez, Barros (2004, apud ELIAS, 2005) manifesta-se sobre a criminalidade organizada assegurando-se que ela atingiu tal grau de complexidade estrutural, material e de penetração político-social que as antigas ações tomadas no passado, tidas como eficientes, já não surtiam mais efeito, pois estavam definitivamente superadas. Houve um crescimento vertiginoso na qualidade e quantidade dos delitos e, por conseqüência, espantoso aumento dos ganhos ilegais pelas organizações criminosas. Segundo Barros (2004, apud ELIAS, 2005), o Ministério Público e as investigações da polícia, é possível notar que o crime organizado possui uma composição constante e sistêmica capaz de obter vantagens econômicas e políticas, a partir da divisão de tarefas e mediante a combinação de atos lícitos e ilícitos. Normalmente, esses artifícios são apoiados em um suporte tecnológico avançadíssimo e com gestão semelhante às grandes empresas. Assim sendo, essas grandes empresas, ou melhor, organizações criminosas, apresentam as seguintes características: estrutura hierárquico-piramidal, estabelecida no mínimo em três níveis; divisão de tarefas entre os membros da organização; restrição dos componentes, apenas as pessoas de absoluta confiança; envolvimento de agentes públicos; busca constante de lucro e poder; lavagem do capital obtido ilicitamente. De todas as formas, Castaldo (1999, apud CALLEGARI, 2008) ao avaliar o problema na Itália, define-o como crime associativo, normalmente manifestando condutas ilícitas, procedente de uma organização ramificada. Castaldo (1998, apud CALLEGARI, 2008), ponderando o problema na Itália, país do continente europeu distante da América do Sul, traz no seu conceito uma afirmação relevante e que vem ao encontro de idéias já expostas acima pelo autor Barros (2004, apud ELIAS (2005)). O crime organizado esta presente no território graças à conivência com poderes institucionais. Apesar de o autor analisar um problema em um país desenvolvido e de outro continente, é possível notar que há problemas em comum, tratando-se do crime organizado. No Brasil, Silva Franco (1994, apud CALLEGARI, 2008) adota uma opinião similar e acrescenta que a criminalidade organizada apresenta uma estrutura fundada e aprimorada numa estratégia global bem definida e com isso detém um grande poder que lhe permite aproveitar as fragilidades estruturais do sistema penal. 2.3. LEI 9.613/98 e os Crimes Antecedentes É através do crime organizado que se estruturam diversas atividades ilícitas. Atividades que dão origem aos bens que conseqüentemente necessitam de aspectos legais. Assim sendo, antes da lavagem de dinheiro, existem os crimes antecedentes, esses taxativamente citados pela lei brasileira. A Lei nº 9.613 foi editada no Brasil em de 03 de março de 1998. Após, a Lei nº 10.467 de 11 de junho de 2002 (BRASIL, 2002) e a Lei nº 10.701 de 9 de julho de 2003 (BRASIL, 2003), alteram e acrescentam dispositivos na Lei 9.613/98. A fim de tipificar o crime de lavagem de dinheiro, dispor sobre a prevenção da utilização do sistema financeiro e criar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). (BRAGA, 2006) Conforme Parada (1999), o COAF foi criado no âmbito do Ministério da Fazenda, com a finalidade de coordenar e propor mecanismos de cooperação e troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à lavagem de dinheiro; receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades; disciplinar e aplicar penas administrativas; comunicar às autoridades competentes a existência de crimes previstos na Lei, para a instauração dos procedimentos cabíveis.

Segundo o artigo 1º da lei nº 9.613/98 (BRASIL, 1998), ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, constitui lavagem de dinheiro. Constituem-se em crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores quando provenientes dos seguintes crimes: tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins, de terrorismo e seu financiamento, de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção, de extorsão mediante seqüestro, contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos, contra o sistema financeiro nacional, praticado por organização criminosa, cometido por particular contra a administração pública estrangeira. Pena: reclusão de três a dez anos e multa. A tipificação em crime de lavagem de dinheiro precisa da existência de outros delitos anteriores à própria lavagem, os chamados crimes antecedentes ou crimes primários, referidos acima pela lei brasileira. Conforme Junqueira (2011), a presidente Dilma Rousseff decidiu acelerar a tramitação da nova lei de lavagem de dinheiro com o objetivo de dar uma resposta legislativa à onda de denúncias de corrupção. A Câmara dos Deputados aprovou recentemente o projeto de Lei 3.443/08, que amplia o rol de operações fiscalizadas pelo Conselho de Controle de Atividade Financeira (COAF) e traz sanções mais rígidas à lavagem de dinheiro. De acordo com Junqueira (2011), em resumo, o documento amplia o rol de empresas que deverão comunicar aos órgãos de fiscalização e reguladores um cadastro e informações periódicas sobre seus clientes, bem como qualquer movimentação financeira suspeita ou superior a R$ 100 mil em espécie. Atualmente, aqueles que não repassarem as informações requeridas aos órgãos de fiscalização ou ao COAF, estão sujeitos à multa máxima de R$ 200 mil. Em conformidade com o novo projeto de lei, quem não cumprir tal obrigação, estará sujeito à multa de até R$ 20 milhões e poderão ter suas atividades suspensas. Outra grande notícia, é que o delito de branqueamento de capital não necessitará mais de um crime antecedente para que a pessoa seja acionada, como estabelece a legislação penal em vigor. Os principais alvos do projeto são as consultorias prestadas por pessoas físicas e jurídicas em quase todas as áreas: Compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais ou de participações societárias de qualquer natureza; gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos. Também estão em foco a abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou de valores mobiliários; criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários ou estruturas análogas; financeiras, societárias ou imobiliárias. Mas o que mais chama a atenção na lista são as empresas que atuam com a alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades desportivas ou artísticas profissionais, o que envolve diretamente os principais eventos que estão por vir no país: a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 (JUNQUEIRA, 2011). O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-CE) foi o autor do texto, distinto do atual, que tramita no Congresso desde 2003. Porém, o contorno final, foi produzido a partir do envolvimento nas negociações da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (Enccla). Desde 2003, o órgão reúne-se para debater e decidir as medidas a serem tomadas para o combate à lavagem de dinheiro. Como o projeto de lei é do Senado e os deputados aprovaram uma emenda ao documento, será necessário agora o Senado analisar as mudanças feitas na Câmara. 2.4. Conceitos de Lavagem de Dinheiro O termo lavagem de dinheiro não tem elevada exatidão científica, sendo assim, cada autor que analisou o fenômeno da lavagem de dinheiro, definiu o seu conceito. Segundo Gomez Iniesta (1996, apud CALLEGARI, 2008), entende-se por lavagem de dinheiro a operação por meio da qual o dinheiro de origem sempre desonesta é investido, ocultado, substituído e devolvido aos circuitos econômico-financeiro legais, incorporando-se a qualquer tipo de negócio como se fosse obtido de forma legal. Ruiz Vadillo (1996, apud CALLEGARI, 2008) reforça a idéia de Iniesta, visto que assinala o fenômeno da lavagem de capital, como adquirido da decorrência de crimes ao sistema econômico-financeiro oficial e incorporados a qualquer negócio legal e tributariamente correto. No Brasil, Barros (2004, apud CALLEGARI, 2008), entende que não há um significado doutrinário específico sobre o tema, pois normalmente segue uma opinião baseada na tipicidade penal, ou seja, que a lavagem é a ocultação de bens, direitos ou valores que sejam oriundos de determinados crimes de especial gravidade. 2.5. Fases da Lavagem de Dinheiro Segundo o site do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (2011) - COAF, a lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores, para dissimular os ganhos ilegais sem envolver os indivíduos relacionados ao delito, ocorre por meio de um método dinâmico que é caracterizado por três etapas: primeiro, o distanciamento dos fundos de sua procedência, impedindo uma associação direta deles com o crime; segundo, a camuflagem de suas várias circulações para atrapalhar o rastreamento desses recursos; e terceiro, a disponibilização do dinheiro outra vez para os criminosos após ter sido suficientemente movimentado no ciclo de lavagem e poder ser avaliado como limpo. Os mecanismos mais utilizados na metodologia de lavagem de dinheiro envolvem de acordo com a teoria, essas três etapas independentes, que com freqüência, acontecem simultaneamente.

2.5.1. Colocação Conforme o site do COAF (2011), o primeiro passo do procedimento é a colocação do dinheiro no sistema econômico. O delinqüente, procurando ocultar sua origem, busca movimentar o dinheiro em países que oferecem regras mais permissivas e naqueles que possuem um sistema financeiro liberal. A colocação se realiza por meio de depósitos, compra de instrumentos negociáveis ou compra de bens. Os criminosos empregam técnicas sofisticadas e cada vez mais dinâmicas, para evitar a assimilação da origem do dinheiro, tais como o fracionamento das importâncias que circulam pelo sistema financeiro e o uso de estabelecimentos comerciais que rotineiramente trabalham com dinheiro em espécie. 2.5.2. Ocultação Quadro - A execução das etapas básicas Etapa da Colocação Dinheiro depositado em banco (ás vezes com a cumplicidade de funcionários ou misturado a dinheiro lícito). Dinheiro exportado. Dinheiro usado para comprar bens de alto valor, propriedades ou participações em negócios. Etapa da Camuflagem Transferência Eletrônica no exterior (freqüentemente usando companhias escudo ou fundos mascarados como se fossem de origem lícita). Dinheiro depositado no sistema bancário no exterior. Revenda dos bens/ patrimônios. Etapa da Integração Devolução de um falso empréstimo ou notas forjadas usadas para encobrir dinheiro lavado. Teia complexa de transferências (nacionais e internacionais) faz com que rastrear a origem dos fundos seja virtualmente impossível. Entrada pela venda de imóveis, propriedades ou negócios legítimos aparece "limpa". Segundo Parodi (2002), esta fase também é chamada de estratificação, difusão ou camuflagem. O site do COAF (2011) define que o segundo passo do procedimento incide em dificultar o rastreamento contábil dos recursos ilegais. Assim, objetivando dissolver a cadeia de evidências perante a probabilidade do cumprimento de investigações sobre a procedência do dinheiro. Deste modo, os delituosos procuram movimentá-lo de forma eletrônica, transferindo os ativos para contas anônimas, preferencialmente em países amparados por lei de sigilo bancário, ou realizando depósitos em contas fantasmas. 2.5.3. Integração Neste último passo, de acordo com o site do COAF (2011), os ativos são incorporados formalmente ao sistema econômico. Por meio de investimentos, as organizações criminosas buscam empreendimentos que promovam suas atividades, podendo tais sociedades se relacionar através de serviços entre si. Torna-se cada vez mais fácil legitimar o dinheiro ilegal, uma vez formada a cadeia, dificulta o rastreamento da origem do bem. Constantemente, essas três etapas incidem ao mesmo tempo. A fase da colocação ainda tem uma grande ligação com seus antecedentes criminais, pois é o primeiro passo para se colocar o dinheiro sujo no sistema econômico, com objetivo de ocultar a origem ilegal do dinheiro. Na etapa da ocultação, os criminosos gerenciam os recursos de tal forma, que são divididos e movimentados no sistema econômico financeiro, com a finalidade de dificultar a identificação de sua procedência. A etapa da integração consiste na volta dos recursos ao sistema econômico, para ser usufruído pelos criminosos. Assim, o ciclo se completa. Esta tabela fornece alguns exemplos típicos. Fonte: Monitor de Fraudes, 2011. De acordo com Parodi (2002), está é uma pequena amostra de sistemas utilizados para limpar o dinheiro sujo. Certamente, muitos novos métodos estão sendo empregados agora sem ainda terem sidos desmascarados. Entretanto, devemos saber que quando estas técnicas são descobertas, logo estarão em baixa com a criminalidade. Contudo, estes métodos antigos ainda estão sendo aplicados em negócios do qual ninguém desconfia, ainda que as autoridades conheçam estes processos, poucas pessoas comuns os conhecem ou até mesmo tem acesso a este tipo de informação. 2.6. Meios de Lavagem de Dinheiro Clássicos Conforme Parodi (2002), os meios de lavagem podem ser divididos em três grandes grupos de aplicação prática: bancos, instituições financeiras não bancárias e empresas não financeiras. A partir do documento do COAF, foram escolhidos três casos que foram selecionados considerando os três grandes grupos de aplicação prática, definidos por Parodi (2002). Assim sendo, relataremos os casos: Caso 1: os integrantes da família Smith, cidadãos de um país da Europa oriental, já eram proprietários do banco local há vários anos. Desde o início das atividades do banco, Jessica e Kirk Smith eram os maiores acionistas. O filho Stan era o presidente e a filha Lisa era diretora. Embora o banco fosse relativamente pequeno e não dispusesse de muito capital, os negócios iam bem. Funcionários da Unidade de Inteligência Financeira (FIU) nacional leram nos jornais histórias de que alguns dos clientes do banco eram ligados ao tráfico de drogas. Isso foi razão suficiente para a FIU iniciar uma investigação dos acionistas e dos diretores do banco. No decorrer da investigação, ficou claro que a família Smith estava lavando os recursos clandestinos de diversas operações criminosas. Ao prepararem documentos falsos, criavam para seus cli-

entes meios de ocultar as receitas oriundas do tráfico de drogas e de outros crimes. Em troca, seus serviços eram remunerados com uma alta comissão. Caso 2: Alan, um residente europeu, ajudou seu irmão a trocar divisas numa determinada instituição financeira. Seu irmão gerenciava uma empresa num país vizinho, no ramo de fotocópias e câmbio. Alan confirmou a legitimidade da empresa, apresentando documentos da junta comercial do país europeu, onde a empresa estava registrada. Entretanto, o grande valor das transações em moeda e o fato de que os recursos estavam cruzando a fronteira desnecessariamente, despertou a desconfiança do funcionário do banco. Após a FIU ter recebido essa denúncia da instituição financeira, investigações no banco de dados da unidade nacional não produziram evidências contra Alan e seu irmão. No entanto, ao trocar informações com FIUs estrangeiras, a FIU nacional verificou que os dois irmãos eram alvo de investigações por tráfico de drogas em outros países europeus. A loja de fotocópias e câmbio servia apenas como fachada para operações de lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Caso 3: um empresário tinha duas clínicas de massagem e o faturamento de ambas era depositado numa conta conjunta, num banco local. O gerente do banco percebeu que as clínicas pareciam estar recebendo muito dinheiro. A maioria dos pagamentos era de cerca de US$ 100 e, em menos de doze meses, as duas clínicas tinham recebido perto de US$ 300.000. Tendo em vista o alto volume de negócios, o gerente do banco resolveu rever o histórico e descobriu duas transferências distintas de US$ 16.000 da conta das empresas para uma conta num banco da Europa oriental. Pareceu-lhe improvável que clínicas de massagem precisassem pagar por serviços num país estrangeiro. Ele informou suas suspeitas aos seus superiores que, por sua vez, resolveram fazer uma comunicação à FIU nacional. Descobriu-se que os dois locais serviam como bordéis. 2.7. Danos Provocados pela Lavagem de Dinheiro Segundo Schott, no site do Grupo de Trabalho em Lavagem de Dinheiro (GRUPO DE TRABALHO..., 2011) da 2º Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (2011), inicialmente, é necessário reconhecer, que os danos provocados pela lavagem de dinheiro são difíceis de mensurar. A lavagem de dinheiro está orientada para o sigilo, isto é, em nível global se torna difícil chegar a um numero preciso ou uma estimativa confiável para quantificarmos a imensidade do problema. Fato que não retira a sua importância e gravidade, por isso, este é um assunto que merece a total atenção de todos os países. Deste modo, através de um estudo realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (2005) é possível identificar alguns efeitos da lavagem de dinheiro. (GRUPO DE TRABALHO..., 2011) 2.7.1. Distorções econômicas De maneira geral, conforme o site do GTLD (2011), quem lava dinheiro, não tem como objetivo principal o lucro, ou seja, seu maior interesse é o de tornar lícita a origem do dinheiro que surgiu de uma atividade criminosa. Por isso, este motivo gera a colocação de investimentos em atividades que não são eficientes, ocasionando uma distorção na economia, ou melhor, prejudicando o crescimento da economia. Entretanto, dentre os negócios dos lavadores de dinheiro, existem atividades legais que se sustentam. Portanto, como as decisões de investimento não decorrem de uma motivação econômica normal, acabam comprometendo o desenvolvimento do setor privado, pois visam apenas emaranhar o rendimento da atividade ilegal com o dinheiro autêntico. Por esta razão, as organizações ineficientes conseguem ofertar produtos e serviços a preços inferiores aos de mercado. O crescimento de atividades criminalmente organizadas no setor privado proporciona implicações macroeconômicas negativas em longo prazo. Essa instabilidade monetária pode determinar um deslocamento irremediável de recursos pela distorção dos preços dos ativos e das mercadorias. Além disso, a lavagem de dinheiro pode trazer mutações sem explicação na demanda de dinheiro e uma maior volatilidade dos fluxos de capital internacional. Igualmente, das taxas de juros e de câmbio, devido às movimentações transfronteiriças inesperadas de moeda. 2.7.2. Risco à integridade e à reputação do sistema financeiro De acordo com o site do GTLD (2011), devido à lavagem de dinheiro, ocorre à invasão e o desaparecimento de amplas somas de dinheiro nas instituições financeiras, ocasionando problemas de liquidez, movimento este não determinado por fatores de mercado, de tal forma que podem provocar crises financeiras ou até mesmo a quebra das organizações. Além disso, a imagem das instituições perante o mercado fica abalada, a reputação e a confiabilidade da organização financeira são colocadas a prova. Os danos causados em conseqüência do envolvimento da instituição com a lavagem de dinheiro são absolutamente mensuráveis. Tais como: imposição de pesadas multas, a inabilitação temporária ou a cassação de autorização para operação ou funcionamento. O problema da lavagem de dinheiro é de âmbito internacional, pois resulta em efeitos negativos para o desenvolvimento econômico de qualquer país na economia global. Portanto, a respeito deste assunto, há algumas considerações de entidades internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. As Direções Executivas dessas instituições reconheceram, em abril de 2001, que a lavagem de dinheiro é um problema que preocupa o mundo inteiro. Em meio aos objetivos de seus esforços, está à proteção da integridade do sistema financeiro internacional, o corte

dos recursos disponíveis para os terroristas e a ampliação da dificuldade para os criminosos lucrarem com seus delitos. (GRUPO DE TRABALHO..., 2011) 2.7.3. Diminuição dos recursos governamentais Segundo o site do GTLD (2011), a habitual fonte de recursos governamentais é a arrecadação de impostos. A sonegação fiscal e a lavagem de dinheiro estão profundamente relacionadas, contudo seus procedimentos diferem. A sonegação fiscal, normalmente, significa a ocultação de receita legal. Já a lavagem de dinheiro, faz justamente o oposto: oculta a receita ilegal. Na verdade, quem lava dinheiro não tem nenhum problema em pagar imposto, pois a idéia é exatamente adicionar os rendimentos de uma atividade ilícita a um negócio legítimo. Entretanto, a lavagem de dinheiro dificulta a arrecadação de impostos e diminui a receita tributária porque as transações a ela relacionadas incidem na economia informal ou ilegal. O que prejudica a quem paga corretamente seus tributos. 2.7.4. Repercussões socioeconômicas Conforme o site do GTLD (2011), a lavagem de dinheiro precisa ser efetivamente enfrentada, pois permite o crescimento do crime em geral e, conseqüentemente, acarreta maiores problemas sociais e amplia os custos do sistema penal. A impunidade é reforçada, visto que o individuo tem a possibilidade de desfrutar do proveito ilegalmente obtido. Igualmente, é possível capitalizar-se para refinanciar novas atividades criminosas. Seguramente, conter a lavagem de dinheiro significa atacar as conseqüências do crime que geram lucros. Há um evidente elo entre a lavagem de dinheiro e a corrupção. Repetidas vezes, funcionários de bancos, de seguradoras e de outras instituições financeiras são agregados para permitirem a prática das operações que instrumentalizam o crime. Essa corrupção compromete a confiança do mercado financeiro e se estende a outras formas de criminalidade, como a fraude e a extorsão. No entanto, a corrupção não se limita à esfera privada, grande parte do dinheiro público, necessário para a economia de países em desenvolvimento, acaba parando em contas bancárias, localizadas em importantes centros financeiros do mundo. Deste modo, a lavagem de dinheiro pode ser responsável pelo acréscimo dos níveis de pobreza da população de um país. Analisando, os países mais pobres são mais vulneráveis ao delito organizado, pode-se garantir que as implicações socioeconômicas da lavagem de dinheiro são potencializadas nos mercados emergentes. (GRUPO DE TRABALHO..., 2011). 3 Metodologia Empregada na Investigação O trabalho científico é determinado pelo problema de pesquisa. Deve-se, necessariamente, explicar a metodologia adotada, ou melhor, os procedimentos metodológicos que serão empregados. Deste modo, a comunidade científica poderá considerar e avaliar os resultados obtidos através do trabalho científico elaborado. Assim sendo, segundo GIL, pode-se definir pesquisa como o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. (GIL, 1989, p. 43) Uma vez delimitado o tema central da investigação, define-se o problema: Como é realizada a lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores em estruturas organizacionais? Criada à problemática, a pesquisa traz a preocupação fundamental de identificar os fatores que originam ou que contribuem para a ocorrência do fenômeno da lavagem de dinheiro. Por meio de diversos exemplos, constatados de acordo com a realidade existente, porém, apresentando os envolvidos com nomes fictícios. Portanto, trata-se de um trabalho explicativo. O componente mais importante para a identificação de um delineamento é o método adotado para a coleta de dados. O diagnóstico será desenvolvido pela técnica de pesquisa bibliográfica e documental. Este grupo de delineamento se vale das chamadas fontes de papel. (GIL, 1989) Conforme o autor, a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído, sobretudo de livros e artigos científicos. O principal proveito reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que poderia pesquisar diretamente. Desta forma, de acordo com GIL (1989), a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. Assim sendo, estabelece: A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (GIL, 1989, p. 73). Para a coleta de dados, foi realizada uma busca de informações com base no documento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) disponibilizado no site do próprio COAF (2011), que contém relatos de casos simplificados, resultado da contribuição das Unidades de Inteligência Financeira, membros do Grupo de Egmont, descrevendo os sucessos e momentos de aprendizagem na luta contra a lavagem de dinheiro e entendendo como este delito acontece. Conforme indicado no site do COAF (2011), o Grupo de Egmont é um grupo internacional informal, criado para gerar, em âmbito mundial, entre as Unidades de Inteligência Financeira (FIUs), a troca de informações, o recebimento e o tratamento de comuni-

cações suspeitas relacionadas à lavagem de dinheiro. Segundo definição do Grupo de Egmont, Unidade de Inteligência Financeira (FIU Financial Intelligence Unit) é: A agência nacional, central, responsável por receber, analisar e distribuir às autoridades competentes as denúncias sobre as informações financeiras com respeito a procedimentos presumidamente criminosos conforme legislação ou normas nacionais para impedir a lavagem de dinheiro. (CONSELHO..., 2011) Atualmente o Grupo de Egmont congrega 58 FIUs. O COAF passou a integrar esse Grupo na VII Reunião Plenária, ocorrida em Bratislava, República da Eslováquia, em maio de 1999. O tratamento dos dados coletados será concretizado de forma que efetive toda a metodologia de pesquisa e que permita uma real conclusão das análises realizadas sobre a lavagem de dinheiro em estruturas organizacionais. 4 Conclusão Nos dias contemporâneos, este tema está cada vez mais presente na sociedade. Com o advento da globalização e a evolução tecnológica estrondosa, as transações financeiras percorrem por todas as partes do mundo em frações de segundos e sem precisar de identificação, designando a necessidade de novas formas para combater os métodos referentes à lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores. Assim, torna-se necessário um melhor entendimento de como a lavagem de dinheiro é realizada. Deste, ou desse ou daquele modo, é necessário entender quais são as práticas mais comuns que as organizações criminosas utilizam para a colocação do dinheiro sujo no sistema financeiro nacional. Assim sendo, através da definição de Parodi (2002), foi possível identificar os três grandes grupos de aplicação prática que nortearam a pesquisa de exemplos ocorridos de lavagem de dinheiro em estruturas organizacionais. Constantemente, também foi possível verificar as três fases conceituais da lavagem de dinheiro, que por muitas vezes, ocorrem simultaneamente. Entretanto, o ponto comum que chamou a atenção a partir dos exemplos selecionados, foi à participação dos bancos, coniventes com a circunstância ou não, como meios para a lavagem de dinheiro ou branqueamento de capital. Portanto, a relevância do entendimento do processo de lavagem de dinheiro, tanto conceitualmente quanto na prática, se faz necessário a qualquer gestor da área financeira em uma estrutura organizacional, a fim de identificar qualquer operação suspeita que coloque a empresa em risco, além de trazer danos a sociedade. Referências ALVAREZ PASTOR, Daniel; EGUIDAZU PALACIOS, Fernando. La prevencion del blanqueo de capitales. Madrid: Aranzandi editorial, 1998. BARROS, MARCO ANTÔNIO DE. Lavagem de capitais e obrigações civis correlatas. com comentário, artigo por artigo, à Lei 9613/98. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, 382 p. BRAGA, Hugo Wolovikis. 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