Fevereiro - 2014 1
Os Efeitos Econômicos da Seca A ausência de chuvas tem afetado negativamente a produção agrícola, notadamente no caso dos grãos, como milho e soja. Esse choque climático, por sua vez, provoca efeitos econômicos indesejáveis. Em primeiro lugar, os maiores preços desses produtos elevam o custo da produção de alimentos industrializados e de produtos agropecuários, que os utilizam como insumos básicos. De fato, esse efeito já pode ser percebido no expressivo aumento dos preços agropecuários no atacado, de acordo com o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas. Essa maior inflação no atacado, além de ser, pelo menos em parte, repassada para os preços finais dos alimentos, elevando o custo de vida do consumidor final, termina contaminando outros setores, devido ao uso disseminado da correção monetária, que tem os Índices Gerais de Preços como importante base de reajuste. Outro efeito da seca é arrefecer a expansão da produção agropecuária, que no ano passado cresceu de forma muito vigorosa, contribuindo para atenuar o impacto do fraco desempenho da indústria e dos serviços na atividade econômica. Em síntese, o choque de oferta adverso, representado pela seca, implicará em maior inflação e menor crescimento econômico, colocando a política monetária em situação desafiante, ao não descartar-se a necessidade de novas elevações da taxa básica de juros. Síntese Econômica Crédito à pessoa física apresentou estabilidade em janeiro. Inflação anualizada mostrou elevação em fevereiro. Produção industrial aumentou em fevereiro. Varejo restrito exibiu leve melhora, enquanto o ampliado mostrou forte desaceleração. Inadimplência bancária e do varejo apresentaram estabilidade em fevereiro. Despesas públicas cresceram acima da arrecadação em janeiro. Contas externas continuaram apresentando deterioração em fevereiro. Taxa de câmbio mostrou ligeira queda durante fevereiro. 2
Análise da Conjuntura 1. Moeda, Crédito e Inflação Dados do Banco Central de janeiro de 2014 mostram estabilidade no ritmo de expansão do crédito à pessoa física, com alta em 12 meses de 8,2%, contra 8,3% no final de 2013, mas apresentando forte desaceleração em relação aos resultados anuais de 2012 e 2011 (10,4% e 15,2%, respectivamente). A inflação (IPCA 12 meses) observada em fevereiro de 2014 alcançou a 5,7%, contra alta de 5,9% no final de 2013, não captando ainda os efeitos da seca, que podem pressionar o custo de vida do consumidor final em março ou abril. Em 26 de fevereiro o Banco Central desacelerou o ritmo de aumento da taxa de juros básica (SELIC) para 0,25%, elevando-a para uma taxa anual equivalente a 10,75%, porém, evitando comprometer-se com o fim do ciclo de alta. 2. Produção, Vendas e Inadimplência De acordo com o IBGE, a produção industrial no início de 2014 apresentou alta de 2,9%, livre de influências sazonais, enquanto na comparação com janeiro do ano passado mostrou queda de 2,4%, com todas as categorias exibindo queda, exceto no caso dos bens de capital, com alta de 2,5%, com destaque para a área de construção. No caso do varejo, o resultado do primeiro mês do ano foi levemente melhor que o observado no mesmo período de 2013, ao verificar-se avanço de 6,2%, contra alta de 5,9%, respectivamente. Contudo, no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, houve forte desaceleração na mesma base de comparação, com aumentos de 3,5% e 7,1%, respectivamente, o que parece estar associado à maior sensibilidade desses segmentos frente à desaceleração do crédito e à queda da confiança do consumidor. Dados da ACSP/BVS, com base nas consultas de fevereiro de 2014, apresentaram alta de 8,9% no crediário e 8,3% nas vendas à vista com cheques, favorecidas pela fraca base de comparação de 2013, que inclui o Carnaval. A confiança do consumidor, medida pelo Índice Nacional de Confiança (INC), calculado pelo IPSOS para a ACSP, apresentou leve melhora no segundo mês do ano, mostrando que o consumidor continua cauteloso, principalmente no tocante à sua situação financeira. A taxa de inadimplência, tanto medida pelo Banco Central, que sinaliza o nível de atraso no crédito bancário (incluindo o crédito consignado), quanto no varejo, manteve-se estável em fevereiro, alcançando a 4,4% e 4,7%, respectivamente, o que continua parecendo sugerir que a maior cautela do consumidor também contribui para reduzir os atrasos nos pagamentos. Por sua vez, a massa salarial apresentou elevação de 3,2% durante janeiro de 2014 (queda de 0,1% no emprego e alta de 3,6% no salário), continuando a sinalizar esgotamento na criação de empregos, apesar da taxa de desocupação continuar em patamar bastante reduzido (4,8%). Finalmente, a prévia do PIB do Banco Central, divulgada em janeiro, surpreendeu positivamente, com alta de 1,3%, e com o acumulado de 12 meses apontando para 2,3%. 3
Em síntese, aumentaram os fatores de risco para o controle da Inflação. Para o nível de atividade em 2014, a perspectiva de crescimento gira em torno de 2%, mas com muita volatilidade e disparidade entre os diversos setores. 3. Finanças Públicas O ano começou mal para as contas públicas brasileiras. De fato, o excedente positivo de receitas sobre as despesas públicas do Governo consolidado (União, Estados, Municípios e Estatais), sem incluir os juros da dívida (superávit primário) alcançou, durante janeiro de 2014, a R$ 19,9 bilhões, valor menor que a média dos últimos dez anos para esse mês, representando queda de 50,7% em relação ao mesmo período de 2013, enquanto no acumulado de 12 meses, o resultado foi de cerca de R$ 81 bilhões, equivalente a 1,7% do PIB, abaixo da meta anual de 1,9%. O principal culpado por esse resultado foi o Governo Federal, com despesas que cresceram 19,5%, com grande importância de restos a pagar, herdados de dezembro de 2013, frente à expansão das receitas, que alcançou a 6,6%, em relação a igual período do ano passado. Tudo isso contrasta fortemente com o discurso oficial, que promete maior austeridade para a política fiscal, incluindo a promessa de corte de R$ 44 bilhões nas despesas discricionárias, já abalada pelo anúncio de socorro ao setor elétrico, que significará aumento de R$ 4 bilhões nos gastos do Tesouro. De qualquer maneira, vale a pena destacar que, mesmo que essa redução seja levada a cabo, trata-se de rubrica que inclui, entre outros itens, o investimento público, o que não contribui para a melhora da qualidade do gasto governamental. As perspectivas para 2014 continuam sendo desalentadoras, pois, em ano eleitoral, o padrão de crescimento excessivo das despesas públicas deverá manter-se, sem que a expansão das receitas seja capaz de mostrar desempenho equivalente, devido ao baixo crescimento esperado para a atividade econômica e à ausência da arrecadação extraordinária observada durante 2013. Nesse sentido, provavelmente o superávit primário do Governo Consolidado deverá ficar abaixo da meta de 1,9% do PIB. 4. Setor Externo A balança comercial voltou a apresentar um déficit recorde em fevereiro, no valor de US$ 2,1 bilhões (exportações de US$ 15,9 bilhões menos importações de US$ 18,0 bilhões). No acumulado do bimestre, o saldo negativo comercial atingiu US$ 6,1 bilhões, o pior resultado, desde que essa série estatística é apurada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), em 1993. Medindo-se pela média diária, as exportações reduziram-se 3,4% e as importações 1,4%, em relação ao primeiro bimestre de 2013. Na mesma base de comparação, houve uma retração de 1,5% nas vendas externas de produtos primários, e de 6,1% nas exportações de produtos industrializados. Em fevereiro, o resultado negativo é atribuído à conta petróleo, que apresentou um déficit de US$ 2,5 bilhões, provavelmente pela necessidade de maior 4
aquisição do produto no mercado externo para suprir as usinas termoelétricas, intensamente utilizadas, devido à estiagem que assola algumas regiões do país. O desempenho da balança comercial vem sendo o ponto mais frágil das contas externas, e nem a forte depreciação do real, até agora, tem evitado a queda do valor das exportações, que diminuíram 3,4% nos últimos doze meses. Esses resultados irão agravar o déficit em transações correntes do balanço de pagamentos (exportação menos importação de bens e serviços), que considerando os últimos doze meses até janeiro, já acumula um saldo negativo de US$ 81,6 bilhões, equivalentes a 3,7% do PIB. Em janeiro, esse déficit foi de US$ 11,6 bilhões, cobertos apenas parcialmente por investimento estrangeiro direto (IED), no valor de US$ 7,8 bilhões. Também é importante mencionar que nesse mês houve uma redução de 7,8% nos gastos de turistas brasileiros em viagens ao exterior, possivelmente devido ao aumento do IOF nas compras efetuadas com cartões de crédito, e à valorização do dólar nos últimos meses do ano passado. Em fevereiro, graças à atuação diária do Banco Central, vendendo dólares no mercado futuro, a taxa cambial, com pequenas variações, manteve uma tendência de baixa, fechando o mês com o dólar valendo R$ 2,33, praticamente a mesma cotação registrada no final do ano passado. Resumindo, a balança comercial é a principal responsável pela deterioração das contas externas. Espera-se, no entanto, que os embarques de soja e outros produtos primários e o aumento da produção de petróleo, esperado por parte da Petrobrás, possam, ao longo do ano, contribuir para que a conta comercial venha a apresentar um saldo positivo até o final do ano. Jogam contra essas perspectivas otimistas o comportamento das cotações internacionais das commodities agrícolas e o encolhimento dos mercados consumidores de produtos manufaturados brasileiros na América Latina, especialmente o da Argentina. 5
Indicadores de Conjuntura Selecionados: Variação Acumulada 2014/2013(%) Crédito à Pessoa Física 8,2% (1) Inflação IPCA 5,7% (1) Produção Industrial 2,9% (2) Vendas do Varejo 6,2% (3) Receitas Governo Federal 6,6% (3) Despesas Governo Federal 19,5% (3) Exportações 1,1% (1) Importações 6,5% (1) Taxa de Câmbio 18,1% (1) Fonte: IBGE, Banco Central, STN, MDIC/SECEX, IEGV/ACSP. (1) Variação acumulada em 12 meses. (2) Variação janeiro-fevereiro. (3) Variação janeiro 2014 janeiro 2013 6