jan/14 fev/14 mar/14 abr/14 mai/14 jun/14 jul/14 ago/14 set/14 out/14 nov/14 dez/14 jan/15 fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 jul/15 ago/15 Esforço Fiscal do Setor Público e Comportamento das Finanças Públicas Regionais em 215 Pedro Jucá Maciel 1 Esta nota tem o objetivo de avaliar como está o processo de ajuste fiscal dos governos regionais em 215, analisar as perspectivas de cumprimento da meta estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e verificar quais estados estão mais contribuindo favoravelmente e negativamente para o desempenho fiscal até o momento. Utilizouse os dados da última Nota de Política Fiscal do Banco Central divulgada em 3/9, que traz informações até o mês de agosto de 215. Observamos, neste ano, que o baixo dinamismo da atividade econômica, provocando redução das receitas (queda de 3,7% real para o governo federal no acumulado até agosto) e a incapacidade de redução das despesas devida à rigidez orçamentária e administrativa do setor público brasileiro, tem levado a um cenário bastante desafiador para as autoridades fiscais tanto no nível federal, quanto no nível regional. Gráfico 1: Superávit Primário, acumulado em 12 meses, em R$ milhões 1. 25. 8. Gov. Federal Gov. Regionais 2. 6. 15. 4. 1. 2. 5. 2. 5. 4. 1. 6. 15. No entanto, podemos observar, pelo Gráfico 1, que os governos regionais iniciaram processo de recuperação do resultado primário, enquanto o governo federal ainda está com tendência de deterioração. Apesar da crise afetar todos os níveis de governo, os governos regionais sofrem de uma restrição maior: sua capacidade limitada de se 1 www.pedrojucamaciel.com
endividar com o mercado. Essa restrição é originada dos acordos estabelecidos durante a renegociação das dívidas na década de 9, assim como pela exigência dos agentes financeiros de garantias da União, que, a partir deste ano, praticamente interrompeu a concessão. Assim, os governos regionais sofrem restrições de caráter financeiro para execução dos seus orçamentos, o que tem gerado essa melhora forçada no seu resultado primário. Porém, é importante mencionar que essa evolução do primário esconde uma triste realidade: muitos estados apenas a conseguiram por meio do atraso do pagamento das despesas. Atualmente pelo menos 1 estados estão com problemas de pagar em dia até a folha de pessoal, a categoria de gasto que qualquer governante evita atrasar por provocar graves problemas políticos. Atrasar pagamentos não é fazer ajuste fiscal. A obrigação ainda existe e implicará em menor resultado primário futuro. O Gráfico 2 apresenta o resultado primário dos governos regionais acumulado no ano até o mês de referência. Observase que resultado do primário iniciou 215 muito superior aos anos anteriores, inclusive em relação a 211 (ano que encerrou com maior resultado primário da série histórica). Porém, é provável que esse início surpreendentemente positivo tenha relação com o péssimo resultado de dezembro de 214 (Gráfico 3). Em fevereiro, o resultado seguiu o comportamento histórico, elevandose em R$ 5 bilhões ante janeiro. No mês de março, houve uma reversão da tendência e foi registrado o primeiro déficit para o mês desde 1998, em R$ 1,1 bilhão. De abril a junho, o resultado voltou ao padrão positivo médio dos anos de 212 e 213 e, nos meses de julho e agosto, o resultado perdeu certo dinamismo, porém ainda permanece melhor que 214. Gráfico 2: Superávit Primário dos Governos Regionais, acumulado no ano, em R$ milhões de agosto de 215 4. 35. 34.461 3. 28.987 31.63 25. 24.977 2. 15. 1. 5. 11.15 8.24 6.74 21.438 16.449 18.118 17.68 19.456 14.31 14.78 15.6 14.951 15.16 12.325 16.161 15.952 12.58 9.989 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto 211 212 213 214 215
A meta de resultado primário estabelecida no LDO dos Governos Regionais para 215 é R$ 11 bilhões. O que podemos observar, pelo Gráfico 3, é que o mês de dezembro, principalmente pelo pagamento do 13º salário, se mostra um mês com impulso fiscal negativo da ordem de R$ 5 a R$ 6 bilhões, em relação ao mês de novembro. Dessa forma, para elevarmos as chances de alcançar a meta, seria necessário o acúmulo do primário para um valor superior a R$ 17 bilhões até novembro, o que implica em acumular um primário de R$ 1 bilhão nos próximos 3 meses. Tratase de algo possível se olharmos para o padrão histórico de anos sem eleições estaduais. Gráfico 3: Superávit Primário dos Governos Regionais, mensal, em R$ milhões de agosto de 215 14. 12. 1. 8. 6. 4. 2. 2. 4. 6. 8. 1. 12. 14. 211 212 213 214 215 174 3.367 2.45 1.92 649 3.722 4.364 12.115 Como anda o resultado fiscal de cada unidade da federação? Foram utilizados dados individualizados dos estados apurados pelo critério abaixo da linha, como fonte o Banco Central (metodologia oficial para fins de cumprimento das metas do setor público). É importante destacar que as informações apresentadas nesta seção se referem à Unidade da Federação, incluindo o governo estadual e as administrações municipais. Infelizmente, os dados disponíveis estão apenas na base acumulada em 12 meses, o que não permite uma análise desagregada do período recente. O Gráfico 4 apresenta os estados que estão com posição fiscal superavitária no acumulado de 12 meses até agosto de 215. Observase que Minas Gerais (governo
estadual e municípios) dispõe de maior superávit, no total de R$ 2, bilhões. Em seguida temos o Rio Grande do Sul e Goiás com, respectivamente, R$ 1,6 bilhão e 1,1 bilhão. Gráfico 4: Estados com Superávit Primário, acum. 12 meses em agosto, R$ milhões 2 5 2 1 976 1 632 1 5 1 115 1 57 784 1 5 583 37 364 352 335 233 137 132 66 O Gráfico 5 apresenta os estados que apresentam posição deficitária no acumulado de 12 meses até agosto de 215. O Rio de Janeiro se encontra, destacadamente, na pior posição dos governos regionais em 215. Repercutem sobre as finanças do RJ (estado e municípios) a forte queda na arrecadação dos royalties, das receitas tributárias próprias com menor dinamismo econômico e paralizações de algumas operações e investimentos da Petrobrás, além do elevado comprometimento de despesas inadiáveis com as olimpíadas que são financiadas, em boa parte, por operações de crédito. Gráfico 5: Estados com Déficit Primário, acumulado 12 meses em agosto, R$ milhões 72 1 196 199 465 512 515 541 566 673 689 822 896 2 3 4 5 6 7 8 7 274
Definese impulso fiscal de 215 como a diferença do resultado fiscal acumulado em 12 meses em agosto de 215 com dezembro de 214. Ou seja, o quanto as contas públicas dos estados melhoraram ou pioraram neste ano, no acumulado de 12 meses. No Gráfico 6, podemos verificar que o destaque positivo de 215 tem sido o estado da de São Paulo, que saiu de um déficit de R$ 3,4 bilhões em dezembro de 214 para um superávit de 137 milhões em agosto, gerando um impulso positivo de R$ 3,5 bilhões. Em seguida temos Pernambuco, Ceará, Alagoas e Mato Grosso. Ressaltase, novamente, que essa variável é mensurada no acumulado de 12 meses, pois é a única informação disponível que temos. Gráfico 6: Impulso Fiscal Superavitário em 215, em R$ milhões 4 3 5 3 2 5 2 1 5 1 5 3 584 1 764 872 757 687 657 642 432 425 413 344 267 86 83 23 Do lado negativo (Gráfico 7), o destaque é Minas Gerais que reduziu seu primário de R$ 3,1 bilhões em 214 para R$ 2, bilhões em agosto. Com isso, o estado contribuiu para com um impulso negativo de R$ 1,1 bilhão no acumulado de 12 meses neste ano. Gráfico 7: Impulso Fiscal Deficitário em 215, em R$ milhões 2 4 6 8 33 37 72 86 91 185 343 464 54 6 1 1 2 1 4 994 1 164
O Gráfico 8 apresenta o comportamento do resultado primário no final de 214, no primeiro e segundo quadrimestre de algumas UFs. Observase que Minas Gerais e Goiás chegaram a melhorar seu primário (acumulado em 12 meses) em abril, mas reduziram o nível no segundo quadrimestre. Os estados do Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco e São Paulo, melhoraram sua posição fiscal de forma contínua ao longo do ano. Já o Distrito Federal apresenta processo continuo de deterioração. Gráfico 8: Destaques de Variação no Resultado Fiscal, acum. 12 meses, em R$ milhões 5 3 1 3 14 4 24 1 976 1 632 1 51 1 354 975 849 1 115 1 57 3476 Dezembro Abril Agosto 335 137 1 3 5 479 43 397 822 1 428 2 912 3 447 7 9 7 182 7 274 8 698 Resumidamente, o que podemos observar até o segundo quadrimestre deste ano é que o resultado dos governos regionais tem sido superior ao do ano de 214, devido à restrição financeira que afetou a grande maioria dos entes federados. Essa restrição financeira foi originária da redução das receitas tributárias e de transferência, além da maior limitação dos entes se endividarem, com o maior rigor de autorização de garantias pelo Ministério da Fazenda. Revelase que o esforço de recuperação do resultado primário dos governos regionais tem sido superior ao do governo federal. Ademais, se a tendência observada até o segundo quadrimestre continuar, com base na média histórica dos últimos 4 anos, é possível que os entes federados, como um todo, cumpram sua meta de primário do ano.