CIDE Combustíveis e a Federação
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- Daniel Arruda Lombardi
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1 CIDE Combustíveis e a Federação O objetivo desta análise é investigar as possíveis causas da queda de arrecadação da CIDE no primeiro trimestre de 2009, na comparação com o primeiro trimestre de Essa queda de arrecadação já afetou o repasse para os estados, em abril de 2009, ficando abaixo do projetado no orçamento. O valor esperado pelos Estados e Municípios para a parcela referente ao primeiro trimestre de 2009, paga em abril, era de R$ 268,0 milhões e o valor efetivamente recebido foi de R$ 27,0 milhões, representando uma perda de 90%. Essa receita é dividida entre Estados e municípios, que ficam respectivamente com 75% e 25% do repasse. Legislação Segundo a Constituição Federal, Art. 177, 4º, constitui monopólio da União a instituição da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) relativa às atividades de importação e comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível. Nesse mesmo artigo está previsto que a alíquota pode ser diferenciada e alterada, reduzida ou restabelecida, por ato do Poder Executivo. A Constituição também prevê quais são as possíveis destinações da arrecadação dessa contribuição. Os recursos podem ser destinados ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados e derivados de petróleo, financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e gás, e financiamento de programas de infra estrutura de transportes. Além da Constituição, há uma lei específica a Lei nº , de 19 de dezembro de 2001 que instituiu a CIDE sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível. Essa lei regulamenta o critério de distribuição entre os Estados, os repasses, os contribuintes, os fatos geradores, a base de cálculo, as alíquotas (mudadas posteriormente por Decreto), entre outros assuntos relacionados. Importante ressaltar que há um dispositivo na lei, que permite ao contribuinte deduzir o valor de CIDE dos valores da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, devidos na comercialização no mercado interno dos produtos em que incide a CIDE, sendo contabilizadas a crédito para o PIS/PASEP e COFINS e a débito para a CIDE (Art. 8º, 2º). Como a contribuição é paga na comercialização e na importação de petróleo e seus derivados e álcool combustível, calculada como um valor fixo por volume 1, haveria dois motivos para a queda na arrecadação desse tributo. O primeiro seria uma queda no volume importado dos derivados do petróleo e o segundo seria uma queda no volume comercializado. 1 Alíquotas da CIDE: Até maio/2008: 1. R$ 280,00 por metro cúbico de gasolina e suas correntes. 2. R$ 70,00 por metro cúbico de diesel e suas correntes Após maio/2008 (alterada pelo Decreto nº 6.446, de 2 de maio de 2008): 1. R$ 180,00 por metro cúbico de gasolina e suas correntes; 2. R$ 30,00 por metro cúbico de diesel e suas correntes.
2 Como podemos ver nas figuras abaixo, não houve uma queda no volume de petróleo importado e também não houve uma queda acentuada no volume comercializado dos combustíveis em território nacional. Tabela 1 Variação da Venda de Combustíveis e da Importação de Petróleo Em M 3 Jan-Fev/2008 Jan-Fev/2009 Var % Venda de Combustíveis ,85% Importação de Petróleo ,47% Gráfico 1 Importação de Petróleo (M 3 ) jan/07 fev/07 mar/07 abr/07 mai/07 jun/07 jul/07 ago/07 set/07 out/07 nov/07 dez/07 jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 Fonte: ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis)
3 Gráfico 2 Venda de Combustíveis Total (M 3 ) jan/07 fev/07 mar/07 abr/07 mai/07 jun/07 jul/07 ago/07 set/07 out/07 nov/07 dez/07 jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 Fonte: ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) Apesar de não ter havido uma queda significativa nos volumes comercializados e aumento da importação, o valor arrecadado da CIDE no primeiro trimestre de 2009, com relação ao primeiro trimestre de 2008, caiu expressivamente. Tabela 2 Arrecadação das Receitas Administradas pela SRF Valores Nominais em R$ mil Var % Receita Administrada pela SRF CIDE - Combustíveis COFINS PIS/PASEP Fonte: Receita Federal do Brasil Janeiro , ,52-3,82% Fevereiro , ,37-11,93% Março , ,70 0,51% Acumulado , ,60-4,82% Janeiro 663,00 27,95-95,78% Fevereiro 679,20 35,09-94,83% Março 641,65 53,31-91,69% Acumulado 1.983,85 116,35-94,13% Janeiro , ,75-10,11% Fevereiro 9.133, ,57-17,46% Março 8.909, ,16-6,82% Acumulado , ,47-11,45% Janeiro 2.639, ,12-4,06% Fevereiro 2.444, ,14-12,61% Março 2.414, ,11-4,60% Acumulado 7.497, ,37-7,02%
4 Assim, qual o motivo dessa queda tão forte na arrecadação da CIDE? Existem pelo menos duas justificativas para essa queda de arrecadação. A primeira explicação é a queda da alíquota da CIDE, a partir do mês de junho de No caso da gasolina, a alíquota passou de R$ 280,00 para R$ 180,00 por metro cúbico e para o diesel, a alíquota passou de R$ 70,00 para R$ 30,00 por metro cúbico. Porém essa queda das alíquotas de 64,2% e 42,9%, respectivamente, dificilmente explicaria uma queda de 94,1% no total arrecadado. A segunda é uma compensação de tributos feita pela Petrobrás. De acordo com a Análise Mensal da Arrecadação das Receitas Federais de março de 2009, foi apurada no primeiro trimestre de 2009 uma compensação de créditos de IRPJ/CSLL 2 de R$ 3,7 bilhões com débitos do PIS/COFINS e da CIDE. Uma das empresas que recorreu a esse expediente foi a Petrobrás, como levantado pelo Senador Tasso Jereissati em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Observações Finais As informações divulgadas oficialmente pela Secretaria do Tesouro Nacional não deixam a menor dúvida de que a brutal queda da arrecadação da CIDE foi convertida, como era de se esperar, em igual redução das suas transferências para Estados e Municípios no início de Não procede, portanto, a tese de que quando uma empresa realiza a compensação contra um tributo isso não afeta a partilha de sua arrecadação a menos que o Tesouro Nacional esteja alguma determinação nesse sentido. Tomando os repasses da CIDE para o estado do Ceará, como exemplo (alertamos desde já que a mesma variação se aplica a todos outros Estados, pois o critério de rateio da CIDE não mudou de 2008 para 2009), podemos verificar que, em abril de 2000, o governo estadual cearense recebeu R$ ,83 a título de quota da CIDE, contra R$ ,75 pagos em abril de 2008, ou seja, uma redução nominal de 94%. Portanto, os Estados e os municípios, que já sofreram uma perda nos repasses da CIDE por conta da redução da alíquota sofrem agora uma nova perda substancial, por conta de compensação de crédito de IRPJ/CSLL com débitos da CIDE. Ao permitir isto, o governo federal reduz os repasses aos estados uma vez que a CSLL não é partilhada e redistribui receitas entre os Estados e finalidades de aplicação, tendo em vista que as regras de partilha da CIDE são distintas do IRPJ, e seus recursos são vinculados a investimentos em transporte. O Anexo traz discrimina os valores da CIDE recebidos por cada unidade federada no primeiro trimestre de 2009, totalizando R$ mil, em contraste com a receita prevista para o mesmo período (R$ 268 milhões) com base no orçamento 2 A lei da CIDE permite explicitamente somente a compensação da CIDE pelo PIS/COFINS. Porém, a lei /2002 permite a compensação de qualquer de créditos de qualquer tributo, desde que os tributos compensados sejam administrados pelo mesmo órgão. Essa compensação, feita pela Petrobrás, está sendo alvo de investigação pela Receita Federal do Brasil.
5 federal do ano o que já leva em conta os efeitos da redução da alíquota. A frustração de receita da ordem de R$ 241 milhões ou de 90% revela basicamente o efeito das compensações tributárias. ANEXO I Perda de arrecadação dos Estados e municípios em relação a previsão orçamentária Repasse da CIDE no 1º Trimestre de 2009 Em R$ milhões UF % Participação CIDE 2009 Previsão CIDE - LOA 2009 (A) Arrecadação CIDE 2009 (B) Diferença (A - B) AC 0,76% 2,025 0,204 1,821 AL 1,42% 3,816 0,384 3,432 AM 1,66% 4,437 0,447 3,990 AP 0,61% 1,627 0,164 1,463 BA 6,49% 17,379 1,751 15,628 CE 3,51% 9,405 0,947 8,457 DF 1,43% 3,820 0,385 3,436 ES 2,14% 5,737 0,578 5,159 GO 4,83% 12,947 1,304 11,643 MA 3,05% 8,179 0,824 7,355 MG 11,17% 29,936 3,016 26,920 MS 2,55% 6,839 0,689 6,150 MT 2,74% 7,336 0,739 6,597 PA 3,02% 8,088 0,815 7,274 PB 1,83% 4,913 0,495 4,418 PE 3,42% 9,166 0,923 8,243 PI 2,03% 5,452 0,549 4,903 PR 6,77% 18,148 1,828 16,320 RJ 5,16% 13,819 1,392 12,427 RN 1,96% 5,247 0,529 4,719 RO 1,28% 3,437 0,346 3,090 RR 0,68% 1,823 0,184 1,640 RS 5,81% 15,571 1,569 14,002 SC 3,71% 9,942 1,001 8,940 SE 1,19% 3,191 0,321 2,870 SP 18,83% 50,467 5,084 45,383 TO 1,95% 5,218 0,526 4,693 Total 100,00% 267,968 26, ,974 Arrecadação CIDE / Previsão CIDE - LOA ,93% Fonte: Secretaria da Receita Federal e Ministério do Planejamento
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