Sertãozinho - Dezembro de 2009 ISSN: 1984-8625. Revista Iluminart do IFSP Volume 1 número 3



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Transcrição:

POLÍTICAS ORGANIZACIONAIS PRIVADAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE Josefa Delma da Trindade 1 Juan Carlos Rossi Alva 2 RESUMO Este artigo apresenta algumas políticas organizacionais privadas de responsabilidade socioambiental, através de práticas das organizações com ações de preservação a e conservação b ambiental, indicando os benefícios em termos ambientais, sociais e mercadológicos delas decorrentes. Os objetos de estudo apresentados neste documento são projetos ecológicos, trabalhos de conservação e gestão ambiental, desenvolvidos por empresas de grande e médio porte. Tem como objeto empírico a Morais de Castro Comércio e Importação de Produtos Químicos Ltda., empresa comercial de médio porte que tem desenvolvido em sua gestão ações sistemáticas e planejadas de conservação ambiental na região metropolitana de Salvador/BA. E, como objeto comparativo é apresentado trabalhos ecológicos, desenvolvidos pelo Instituto Corredor Ecológico Costa dos Coqueiros INCECC, composto por um Conselho de Administração com cinco membros associados (COFIC- Comitê de Fomento Industrial de Camaçari, CETREL, Bahia Pulp, Fazenda Praia do Forte e Sauípe S.A.), unidades situadas no Pólo Petroquímico de Camaçari/BA. Aqui, são demonstrados aspectos importantes de como o meio ambiente tem figurado nos 1 Mestranda em Planejamento Ambiental pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), conclusão dez/2009. E-mail: delmatrindade@hotmail.com - Atualmente é Gerente dos Sistemas de Gestão da empresa Morais de Castro. 2 Doutor em Ciências -IQ/UFRJ, Prof. Mestrado em Planejamento Ambiental e Pesquisador do LEMA - SPPG/UCSAL discursos e práticas organizacionais das empresas brasileiras. Palavras-chave: políticas privadas, meio ambiente, gestão ambiental, responsabilidade social, sustentabilidade, ecologia. ABSTRACT This article presents some private organizational policies of socioenvironmental responsibility, through practices of the organizations with preservation and conservation actions, pointing out the environmental, social and mercadological benefits that come from them. The subjects of this work, showed in this document, are ecological projects, conservation works and environmental management. All of them have been developed by companies of big and medium sizes, having as an empirical goal the Morais de Castro Comercio e Importação de Produtos Químicos (a company which imports and sells chemical products). Morais de Castro is a medium size commercial company which has developed, in its way of working, systematic and planned actions of environmental conservation in the metropolitan area of Salvador City, State of Bahia. And as a comparative matter, this paper presents ecological works that have bein developed by the Instituto Corridor Ecological dos Coqueiros INCECC that is formed by an Administrative Council of five affiliated members (COFIC Comite de Fomento Industrial de Camaçari, CETREL, Bahia Pulp, Fazenda Praia do Forte e Sauípe S.A.), all of them are situated in the Petrochemical Complex of Camaçari, State of Bahia. This article demonstrates important aspects of how the environment has appeared in the speeches and organizational practices of the brazilian companies. Key words: private Policies, environment, environmental management, social responsibility, sustentability, ecology. INTRODUÇÃO 233

Nas últimas décadas, as questões ambientais, atreladas às políticas ambientais, vêm se tornando do interesse das pessoas, dos governos, das organizações e das comunidades. Os acidentes ambientais e a escassez dos recursos naturais têm sido de grande relevância no processo de desenvolvimento e no uso sustentável dos recursos naturais. Para demonstrar a política ambiental em organizações de médio porte, será objeto de estudo o trabalho de conservação e gestão ambiental, desenvolvido pela empresa Morais de Castro Comércio e Importação de Produtos Químicos Ltda., atuante no mercado de distribuição de produtos químicos e petroquímicos, que já tem implementado Sistemas de Gestão SGI - com cinco normas de gestão. Processo de Distribuição Responsável - PRODIR, Sistema gerenciado pela Associação dos Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos ASSOCIQUIM; Sistema de Gestão da Qualidade - ISO9001; Sistema de Gestão Saúde e Segurança Ocupacional - ISO18001; Sistema de Gestão Ambiental - ISO14001; Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança e Meio Ambiente - SASSMAQ. O SASSMAQ possibilita uma avaliação do desempenho nas áreas de segurança, saude, meio ambiente e qualidade das empresas que prestam serviços de transporte à indústria química. É apresentado estudo comparativo das políticas ambientais em organizações de grande porte, tendo como objeto de análise o Instituto Corredor Ecológico Costa dos Coqueiros INCECC, composto por um Conselho de Administração com cinco membros associados (COFIC-Comitê de Fomento Industrial de Camaçari, CETREL, Bahia Pulp, Fazenda Paria do Forte e Sauípe S.A). JUSTIFICATIVA Este artigo justifica-se pela importância de se discutir e divulgar as práticas ambientais que vêm sendo adotadas com sucesso por determinadas empresas, para que a cultura de preservação ambiental se torne uma realidade nas organizações. METODOLOGIA O estudo em questão foi desenvolvido com base em pesquisa exploratória, realizada para proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito pelo levantamento e consulta bibliográfica além de estudos de casos (GIL, 2002, p.41 apud, SELLTRIZ et al., 1967, p.63). A pesquisa exploratória, do tipo estudo de casos, foi realizada analisando-se o trabalho de conservação e gestão ambiental desenvolvido em empresa de médio porte a Morais de Castro Comércio e Importação de Produtos Químicos Ltda., como também, estudo comparativo de Reserva Ecológica, 234

trabalho desenvolvido pelo Instituto Corredor Ecológico Costa dos Coqueiros INCECC, composto por um Conselho de Administração com cinco membros associados (COFIC- Comitê de Fomento Industrial de Camaçari, CETREL, Bahia Pulp, Fazenda Praia do Forte e Sauípe S.A.). 1. CASO COMPARATIVO: Instituto Corredor Ecológico Costa dos Coqueiros INCECC O Instituto Corredor Ecológico Costa dos Coqueiros INCECC - surgiu em 2005, a partir da iniciativa de empresas do Pólo Industrial de Camaçari com o setor turístico da região para pensar de forma integrada e sustentável as questões ambientais regionais. Nasceu, assim, a ideia de conceber um programa territorial e sistêmico de conservação e conexão ambiental (Corredores Ecológicos), com iniciativas voltadas para o desenvolvimento de projetos inclusivos e geradores de trabalho e renda para as comunidades da região da Costa dos Coqueiros, no Litoral Norte da Bahia (PLANEJAMENTO Estratégico da INCECC: Salvador dez/2008). Em 2008, com a integração do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari - COFIC ao INCECC, iniciou-se o levantamento das áreas do Anel Florestal do Pólo Industrial de Camaçari, sob ameaça de ocupação desordenada, para que passassem a protagonizar ações como agentes de conservação dos remanescentes florestais. Do levantamento e estudo do caso surgiu uma aliança com a Prefeitura de Camaçari e com as comunidades locais para o desenvolvimento de projeto piloto de plantio comunitário e, em consequência, nasceu o projeto Fábrica de Florestas para fornecer mudas e tecnologia de forma a assegurar a continuidade das ações, assim como o desenvolvimento de programa de recuperação florestal comunitário no Anel, que se constitui no ponto de origem da Etapa I do Corredor Ecológico. Assim, nasce o Projeto Fábrica de Florestas, uma iniciativa para a produção em larga escala de espécies vegetais da Mata Atlântica e de sua área de restinga, além de espécies da caatinga e do cerrado, com o objetivo de atender a demanda crescente por mudas para plantio, como também a recuperação ambiental, interligando áreas de proteção ambiental na região do litoral norte da Bahia, com especial ênfase para os remanescentes de mata atlântica. Esse é o propósito do programa Corredor Ecológico Costa dos Coqueiros, parceria estratégica do INCECC com o Governo do Estado, prefeituras da região, setor privado e organizações do terceiro setor. 235

FIGURA 1 - Ação do INCECC, COFIC, Prefeitura municipal de Camaçari e a Comunidade circunvizinha FONTE: Parque Ecológico Costa dos Coqueiros em jun/2009 2. POLÍTICA AMBIENTAL EM EMPRESA DE MÉDIO PORTE: O CASO MORAIS DE CASTRO 2.1 HISTÓRICO DA EMPRESA E ATUAÇÃO NO MERCADO A Morais de Castro foi fundada em 1960, em Salvador. Com o crescimento do negócio, foram abertas duas filiais, uma em Jaboatão dos Guararapes/PE e outra no RJ. A Morais de Castro Comércio e Importação de Produtos Químicos Ltda. iniciou suas atividades como empresa importadora, posteriormente, agregou aos negócios as atividades de distribuição autorizada e operação logística e hoje comercializa com um portfólio de produtos extremamente diversificado, atendendo a quase todos os segmentos industriais, como o de Adesivos, Água e Saneamento, Alimentos, Automotivo, Bebidas, Calçados, Carcinicultura, Celulose, Cosméticos, Curtumes, Embalagens, Espumas e Colchões, Fármacos, Gás e Petróleo, Químico e Petroquímico, Metalurgia e Mineração, Sabões e Detergentes, Tintas e Solventes, Tratamento de Efluentes, dentre outros. As atividades de logística e distribuição de produtos químicos industriais significam para o negócio a organização de uma grande expressão econômica, onde se destacam as seguintes empresas distribuídas: Brunner Mond, Caraiba Metais, Corn Products Brasil, Dow Coating Materials, Hexion Química, Lyondell, Metanor, Oxiteno, Peróxidos do Brasil, Rhodia Poliamidas, Tate & Lyle. A Morais de Castro dispõe de frota própria de caminhões, para atender a sua demanda de transporte de carga seca ou granel. Destacam-se caminhões-tanques em aço inox compartimentados, carros trucks e carretas para cargas secas embaladas e graneis líquidos. A matriz em Salvador está instalada em área de 12.500 m², dispondo de 4.500 m² de armazenamento de carga seca e de 600 m³ de tancagem, distribuídos em 24 tanques, utilizados para armazenar diferentes produtos químicos e carregar e descarregar caminhões tanques. Possui, ainda, oito estações de entamboramento para envase de material dos tanques ou dos caminhões tanques, em 236

bombonas, tambores e containeres. Atualmente, a sua maior expressão econômica resulta das atividades de logística e distribuição de produtos químicos industriais, mantendo parceria com grandes produtores nacionais e internacionais. Informação GTI Gestão Tecnologia da GCE Gerência Comércio Exterior GC Gestão Controladoria GUN Gerência de Unidade GO Gestão Operacional 2.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E GESTÃO AMBIENTAL A estrutura organizacional é constituída de quatro níveis gerenciais, composta pela diretoria, superintendência, gerentes e chefes de departamentos. A empresa adota um sistema de gestão de processo decisório baseado em uma estrutura fundamentada em um Comitê de Sistemas de Gestão, que atua em reuniões trimestrais para analisar o desempenho, estabelecer estratégias, discutir práticas de gestão e delimitar projetos e melhorias. O objetivo dessa estrutura é o de estimular a gestão participativa e o compartilhamento dos conhecimentos e habilidades. A estrutura do Comitê Sistemas de Gestão é a seguinte: DA Diretoria Administrativa GF Gestão Financeira SA Superintendência Administrativa GC Gerência de Compras SGI Sistema de Gestão Integrada GRH Gerência de Recursos Humanos GC Gerência Comercial A gestão ambiental da Morais de Castro iniciou-se em 1996, com a criação da Comissão Técnica da Garantia Ambiental - CTGA. A partir de então, a empresa passou a lidar com as questões ambientais de outra forma, moderna, consequente e responsável. Em abril de 2002, foi dado início à sistematização da gestão ambiental na empresa com a implementação do Processo de Distribuição Responsável PRODIR - e de outras normas de gestão ISO9001 (sistema de gestão da qualidade), ISO14001 (sistema de gestão ambiental), OHSAS18001 (sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional) e SASSMAQ (sistema de avaliação de saúde, segurança, meio ambiente e qualidade). 2.3 TRABALHO DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL Em 1992, a Morais de Castro estabeleceu como prioridade a proteção ambiental em área de servidão pública, contígua a sua matriz. A idéia inicial era vitalizar a área que estava degradada. Com a ajuda de uma pessoa da comunidade, iniciouse a recuperação da área, plantando espécies 237

de pequeno porte. Posteriormente, percebendo a fertilidade do terreno, outras espécies de grande porte foram plantadas, como mangueiras, goiabeiras, jaqueiras e figueiras, recuperando, assim, a consistência dos taludes, evitando a erosão quando em épocas de precipitação pluviométrica abundante. colhido de hortaliças e frutas é utilizado para o sustento da própria pessoa encarregada, como também, para distribuição com outras pessoas da comunidade, feita pela própria pessoa responsável pelo plantio, manutenção e colheita. FIGURA 2 - Foto 1992, antes da recuperação FONTE Morais de Castro, ano de 1992 FIGURA 3 - Foto 2009, área recuperada FONTE Morais de Castro, ano de 2009 Na área de proteção ambiental mantida pela Morais de Castro, foi atribuída a uma pessoa da comunidade circunvizinha de Porto Seco a responsabilidade de recuperar a fertilidade da terra existente. Os recursos necessários para a conservação da área são assegurados pela Morais de Castro e o que é FIGURA 4 - Colheita 2009 FONTE: Morais de Castro Em agosto de 2009, foram catalogadas, na área de conservação e reserva ambiental, 42 espécies frutíferas, além de diversas espécies de plantas ornamentais, raízes e grãos, conforme demonstrativo: FRUTIFERA FRUTIFERA 1. Abacate 2. Abacaxi 3. Abil 4. Açai 5. Acerola 6. Banana D água 7. Banana da Prata 8. Banana Maçã 9. Cacau 10. Cajá 11. Cana 12. Coco 13. Cravo de Bolo 14. Cupuaçu 15. Figo 16. Fruta do Conde 17. Fruta Pão 18. Goiaba 19. Graviola 20. Guaraná 21. Ingá 22. Jabuticaba 23. Jaca Dura 24. Jaca Mole 25. Jambo 26. Jenipapeiro 27. Laranja de umbigo 28. Laranja Lima 29. Limão 30. Laranja Pera 31. Manga 32. Manga Espada 33. Manga Rosa 34. Pêra 35. Pinha 36. Pitanga 37. Sapoti 38. Siriguela 238

39. Tangerina 40. Tangerina Pocan sendo desenvolvido. Repolho Tais iniciativas QUADRO 2 Espécies vegetais presentes na área recuperada da Empresa Morais de Castro FONTE: Morais de Castro, jun/09. Foi destacada a área de conservação ambiental da Morais de Castro através de anúncio publicado na revista da Associação Comercial da Bahia ACB, Figura 5 out/08. sócioambientais repercutem favoravelmente na comunidade do seu entorno. A foto documenta falcões Peregrinos na torre da caixa de água da Morais de Castro, destacado em anúncio publicado na revista da Associação Comercial da Bahia ACB, em abril de 2009. FIGURA 5. Anúncio publicado na revista da Associação Comercial da Bahia ACB FONTE: Revista da ACB em out/08 A fauna local, composta de pequenos roedores e diversas espécies de pássaros, passou a povoar o espaço, inclusive sendo objeto de alimentação de falcões Peregrinos que, no mês de março de cada ano, fazem, na torre da caixa de água da Morais de Castro, sua moradia temporária. A recuperação da área, que antes se encontrava degradada, hoje é sustentável devido ao trabalho que está Texto fiel do anúncio da revista ACB, abr/09: É no verão dos trópicos que os falcões peregrinos buscam abrigo durante os meses congelantes da América do Norte. E, há nove anos, ininterruptamente, a Morais de Castro tem a honra de hospedar em seu castelo d água um exemplar desse espécime solitário e caçador. Com 36 metros de altura, o equipamento torna-se o porto seguro de nosso ilustre visitante, sempre entre os meses de novembro e Marco. Em 2009, de forma surpreendente, a ave veio acompanhada. Agora são dois falcões peregrinos que fazem da nossa área verde o seu endereço tropical. Localizado nos fundos da empresa, desde 1992 o terreno antes estéril foi transformado em terra cultivável, abrigando também aves e roedores de pequeno porte, um verdadeiro banquete para nosso mascote. Mais do que uma simples visita, a presença dos falcões peregrinos atesta que nossa empresa está no caminho certo: comercializando produtos químicos industriais sem jamais abrir mão da responsabilidade ambiental. FIGURA 6. Anúncio publicado na revista da Associação Comercial da Bahia - ACB FONTE: Revista da ACB em abr/09 A direção da Empresa Morais de 239

Castro acredita que o seu crescimento deve-se ao fato da estratégia de gestão ser focada nas questões ambientais sem jamais perder o respeito ao homem, sempre cuidando da relação com o meio ambiente, terem contribuído positivamente em sua imagem de responsabilidade socioambiental. Focada nesta linha de administração, a empresa pretende assegurar o seu crescimento e futuridade. CONCLUSÃO A literatura tem registrado que a descoberta ambiental iniciou-se na década de 1990, nas empresas de grande porte, com a combinação de três fatores: a abertura das empresas ao diálogo com os ambientalistas e comunidades, a introdução do conhecimento ambiental especializado através de profissionais com formação ou experiência ambiental e a forte influência da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD). Essa conjugação de fatores possibilitou a inserção da compreensão do discurso ambiental nas empresas, sobrepondo-se ao inócuo discurso conservacionista observado até então. (PEDRINI, 2008, p.135). No mundo organizacional, a preocupação com o meio ambiente figura, hoje, sob o nome de sustentabilidade. Existem diversos discursos sobre sustentabilidade, no sentido de sobrevivência da organização e do negócio. Sob pressões sociais, o empresariado tem tentado abarcar o discurso ambientalista, principalmente no que concerne à possibilidade de manter mercados e conquistar vantagens competitivas. Baseado nesse e em outros princípios, este artigo mostra que as organizações, independentemente de seu porte, podem desenvolver trabalhos de preservação e conservação ambiental. Este trabalho objetiva comprovar às empresas que ainda não aderiram a o trabalho de conservação e gestão ambiental, que existe viabilidade para que se sintam motivadas a pratica benefícios ambientais. As empresas, independentemente do tamanho do negócio e do lugar que elas ocupem, perderão grandes oportunidades competitivas se não ficarem comprometidas com as questões ambientais. É sob essa perspectiva que estaria se fortalecendo, cada vez mais, a implementação de políticas de gestão ambiental. A partir daí, as organizações passam a ver seus consumidores, comunidades, governos e funcionários de outra forma e a contribuir para o desenvolvimento sustentável. Conclui-se este artigo deixando a mensagem de que existem possibilidades de se estabelecer novos paradigmas que conciliem a expansão econômica com políticas organizacionais de gestão ambiental pró-ativa, fazendo com que o avanço 240

tecnológico, a preservação, a conservação e a gestão ambiental sejam aliados, permitindo crescimento econômico sem destruição do meio ambiente e assegurando qualidade de vida e biodiversidade ao planeta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Ed. Atlas, 2009. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. PEDRINI, A. G. Educação ambiental empresarial no Brasil. São Carlos: Ed. RiMa, 2008. SAVITZ, EBER, K. A empresa sustentável: o verdadeiro sucesso é lucro com responsabilidade social e ambiental Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. TACHIZAWA, T., ANDRADE, R. O. Gestão socioambiental: estratégias na nova era da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2008. LEGENDA a. Entende-se por Preservação Ambiental pressupõe manter o recurso natural intacto e não utilizá-lo para outro fim que não seja a pesquisa científica. b. Entende-se por Conservação Ambiental a exploração racional dos recursos naturais de modo a garantir sua sustentabilidade. Pressupõe-se, aqui, então um manejo desses recursos, sua utilização econômica. 241