Ciências da Vida - Odontologia AVALIAÇÃO ATRAVÉS DA ESPECTROFOTOMETRIA DAS ALTERAÇÕES DE COR EM DUAS RESINAS COMPOSTAS COM O USO DE SOLUÇÃO A BASE DE PRÓPOLIS TIPIFICADA ASSOCIADA OU NÃO À INGESTÃO DE CAFÉ Maria de Lourdes Silva 1 Hugo Roberto Lewgoy 2 Palavras-Chave Cor, Espectrofotometria, Própolis, Resina composta, Café INTRODUÇÃO A desorganização mecânica do biofilme oral através da escovação convencional, utilização do fio dental e das escovas interdentais é o principal aliado na prevenção das cáries e das doenças periodontais. Porém, muitas vezes a utilização de agentes químicos antisépticos, conhecidos como enxaguatórios orais, é necessária como complementação à utilização dos agentes mecânicos. Atualmente com a crescente utilização dos enxaguatórios, novos produtos estão sendo lançados no mercado sendo importante avaliar o efeito destes produtos sobre a coloração das resinas compostas para determinar possíveis alterações cromatogênicas que possam ocorrer com a sua utilização. Um produto promissor que vem sendo muito pesquisado para ser utilizado como enxaguatório oral é a própolis tipificada, um produto natural com grande poder antiséptico. A ação anticariogênica da própolis foi comprovada em 1991 por Ikeno e Miyazawa. Estes pesquisadores demonstraram a eficácia da própolis na inibição do crescimento da microbiota cariogênica em ratos, especificamente os estreptococos do grupo mutans. Segundo Manara et al., 1999, esta ação anticariogênica deve-se à presença de flavonoides, ácidos aromáticos e ésteres em sua composição. Para Marcucci, 2000 novos caminhos estão se abrindo para a elaboração de medicamentos de origem natural contendo a própolis tipificada. Entre as vantagens da própolis merece destaque justamente o fato de ser um produto natural e que pode ser produzido com know-how genuinamente nacional. Além disso, este produto tem se mostrado efetivo e com baixa possibilidade de efeitos colaterais. Segundo Murray et al., 1997, a própolis não possui contraindicações importantes. Em seus estudos com indivíduos submetidos à administração de própolis como enxaguatório oral, nenhuma reação adversa foi relatada ou observada. O tipo da própolis utilizada nesta pesquisa foi à solução de própolis tipificada a 2%, um produto desenvolvido e patenteado pelo Estudante do Curso de Odontologia; e-mail: mls-lurdes@hotmail.com 1 Professor da Universidade Bandeirante de São Paulo; e-mail: hugorl@usp.br 2
Laboratório de Farmácia da UNIBAN Brasil (Marcucci, 2000). Está solução vêm sendo submetida a diversos trabalhos de pesquisa dentro da instituição sendo importante verificar o efeito sobre a coloração das restaurações estéticas de resina composta. Esta análise de cor é fundamental para prever a real alteração cromatogênica que este produto é capaz de causar neste material restaurador que é o mais utilizado na atualidade para realizar restaurações diretas estéticas tanto em dentes anteriores como posteriores. OBJETIVOS Verificar a ocorrência de alterações cromatogênicas em duas diferentes resinas compostas utilizadas para a confecção de restaurações estéticas diretas quando submetidas à utilização de um enxaguatório a base de própolis tipificada a 2% por um período de trinta dias em relação ao grupo controle com água destilada; Verificar se o hábito de ingestão de café associado ao enxaguatório à base de própolis tipificada a 2% ocasiona uma maior incidência de alteração de cor após um período de trinta dias em relação ao grupo própolis sem café e em relação ao grupo controle com água destilada. METODOLOGIA Para obtenção dos corpos-de-prova com as resinas compostas selecionadas foi confeccionada uma matriz metálica cilíndrica bipartida na forma de dois discos rosqueáveis sobrepostos, um fechado e um com uma cavidade central com dez milímetros de diâmetro e dois milímetros de profundidade. As resinas utilizadas foram Fill Magic do tipo microhíbrida (Vigodent, Brasil) e Filtek Z-350 do tipo nanoparticulada (3M, Estados Unidos). As mesmas foram inseridas na cavidade central da matriz; cobertas por uma tira de poliéster; comprimidas por lamínula de vidro; e fotopolimerizadas com a ponta do aparelho de luz halógena Gnatus (Gnatus, Brasil) encostada na lamínula de vidro. A potência de energia utilizada foi aferida e calibrada em 460 mw/cm2 por um tempo de quarenta segundos, conforme a recomendação dos fabricantes das resinas compostas. Após a polimerização dos materiais a matriz metálica foi aberta e os corpos-de-prova de resina composta foram removidos e armazenados na estufa bacteriológica a + 37 C dentro de recipientes escuros com tampa e, identificados de acordo com cada grupo estudado. Após 24 horas os corpos-de-prova tiveram a sua superfície de leitura de cor padronizadas pelo acabamento e polimento com lixas d água de granulometria 600, 1200 e 2000. As tomadas de cor iniciais foram realizadas com o espectrofotômetro SpectroShade Micro (MHT, Itália) que permite a transferência e formatação das imagens para análise no software do aparelho, proporcionando a obtenção do Delta E, valor (L*), croma (C*) e matiz (h*) dos diferentes grupos estudados. Após as tomadas de cor inicial todos os corpos-de-prova foram submersos nas soluções estudadas (própolis e controle) pelo tempo de um minuto, duas vezes ao dia e sequencialmente submersos na bebida cromógena (café e controle) pelo mesmo tempo de um minuto, três vezes ao dia. O prazo total de utilização das soluções foi de trinta dias. Após a imersão nas soluções (própolis, café e controle) todos os corpos-de-prova foram armazenados dentro dos seus respectivos recipientes plásticos escuros pré-selecionados, identificados e colocados em estufa bacteriológica a uma temperatura constante de + 37 C por todo o período do estudo. Ao término dos trinta dias foram efetuadas novas tomadas de cor finais com o espectrofotômetro, transferência e formatação das análises para comparação entre o Delta E inicial e final dos diferentes grupos
estudados. Na figura 1, pode-se observar um esquema com a metodologia empregada nas diferentes etapas da pesquisa. Fig. 1 Esquema com resumo da metodologia empregada. Foram formados oito grupos com cinco corpos-de-prova em cada grupo distribuídos da seguinte forma: grupo 1, Fill Magic/própolis/café; grupo 2, Fill Magic/própolis/controle; grupo 3, Fill Magic/controle/café; grupo 4, Fill Magic/controle/controle; grupo 5, Z-350/própolis/café; grupo 6, Z- 350/própolis/controle; grupo 7, Z-350/controle/café; grupo 8, Z- 350/controle/controle. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos grupos avaliados foi realizada através de uma comparação pareada com a constatação de um Delta E superior a 2 para mostrar diferenças visíveis ao olho humano nas condições inicial e final. Foi realizado também o teste de Kruskal Wallis a 5% para verificar as possíveis diferenças significativas entre os grupos (p < 0,05). De forma geral os resultados demonstraram que a própolis tipificada associada ou não ao café causa o manchamento das resinas compostas estudadas. O café utilizado isoladamente também demonstrou que causa o manchamento das resinas avaliadas. A resina Z-350 demonstrou ser mais susceptível ao manchamento em relação à resina Fill Magic tanto com a utilização da Própolis tipificada associada ou não ao café e também com a utilização do café isoladamente, porém, ambas as resinas apresentaram manchamento visível ao olho humano. Recentes pesquisas demonstraram que a própolis é um produto natural de grande interesse para a área odontológica podendo ser utilizada, entre outras possibilidades, na forma de bochechos para a prevenção das doenças orais. Murray et al., 1997 concluíram que a própolis é um medicamento sem maiores contra-indicações. Em seus estudos in vivo com indivíduos submetidos à administração de própolis como enxaguatório oral, nenhuma reação adversa foi relatada ou observada. Segundo Manara et al., 1999 a composição química da própolis é bastante complexa, porém muito efetiva, observando-se atividade antibacteriana conferida pela presença de flavonóides, ácidos aromáticos e ésteres em sua composição. De acordo com os autores a sua ação bactericida decorre da presença dos ácidos ferúlico e cafeico. O efeito da própolis sobre a cárie dental foi observado pioneiramente por Ikeno e Miyazawa, 1991, em estudos realizados em ratos. Estes pesquisadores demonstraram a eficácia da
própolis na inibição do crescimento da microbiota cariogênica, especificamente dos estreptococos do grupo mutans, os quais estão fortemente associados com o início do processo da cárie dental. Para Galvão et al., 2007, é difícil estabelecer uma metodologia e uma posologia única para a terapia com própolis devido à falta de padronização desse medicamento, que difere muito de região para região. Segundo Marcucci, 2000 isto aumenta a importância da utilização da própolis tipificada, um produto padronizado que pode ser utilizado para a prevenção da cárie dental na forma de bochechos. Um ponto que merece destaque é o fato da maior parte dos enxaguatórios orais presentes no mercado ser produzida a base de álcool ou apresentar como princípio ativo um produto sintético. A vantagem principal do enxaguatório de própolis esta no fato de ser um produto natural efetivo, não alcoólico e que não apresenta contraindicações. A ação terapêutica positiva da própolis é praticamente inquestionável. Vários estudos comprovam sua ação benéfica quando utilizada sob a forma de bochechos na formulação de enxaguatório oral. Porém, é fundamental a verificação da ocorrência de possíveis manchamentos com a utilização desta substância. São poucos os trabalhos que se preocuparam em estudar o efeito da própolis sobre a estética dos materiais resinosos e dos dentes. Os resultados comprovam ser necessária uma melhoria na formulação do produto com finalidade de prevenir esta ocorrência. Obviamente este manchamento pode ser de natureza extrínseca e ser facilmente removido através de um repolimento das restaurações, porém, é importante que os profissionais e os pacientes que utilizarem o enxaguatório de própolis tipificada a 2% sejam alertados sobre este possível potencial pigmentante. Uma possibilidade seria a utilização de diferentes concentrações da própolis tipificada, como por exemplo, 0,2%, 0,5% ou 1% o que poderia alterar completamente o resultado diminuindo a possibilidade de manchamento. Além disso, a metodologia utilizada no presente estudo, não reproduziu completamente as condições orais, pois, as restaurações na boca sofrem a ação da saliva, são diariamente recobertas pelo biofilme oral e são escovadas várias vezes ao dia, normalmente com a utilização de cremes dentais abrasivos. Isto também poderia ter auxiliado a prevenção dos manchamentos e ter modificados os resultados da pesquisa. Algo que chamou a atenção foi o fato da resina Z350 ter apresentado maior grau de manchamento em relação à resina Fill Magic em todos os grupos testados onde ocorreram alterações cromatogênicas visíveis. A diferença na composição dos materiais, como por exemplo, diferenças na matriz orgânica, composição e quantidade de carga e lisura superficial poderia modificar a energia de superfície dos materiais promovendo o manchamento e, esta diferença interferir no grau de pigmentação extrínseca ocorrida entre os materiais. De toda forma novos estudos devem ser realizados para ratificar os achados desta pesquisa, preferencialmente em uma condição in vivo, assim, os grandes benefícios clínicos já comprovados da própolis tipificada em sua formulação para bochechos poderão ser utilizados com maior segurança, sem promover efeitos estéticos indesejáveis. CONCLUSÕES A própolis tipificada a 2% foi potencialmente capaz de promover a pigmentação das resinas compostas utilizadas neste estudo tanto quando utilizada de forma isolada quanto quando utilizada em conjunto com o café; O café utilizado de forma isolada também foi potencialmente capaz de promover a pigmentação das resinas compostas utilizadas neste estudo;
A água destilada não promoveu alteração da cor das resinas compostas utilizadas neste estudo; A resina Z350 apresentou maior potencial de pigmentação com a utilização da própolis tipificada e café, de forma conjunta ou isolada, comparativamente à resina Fill Magic. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. GALVÃO J, ABREU JA, CRUZ T, MACHADO GAS, NIRALDO P, DAUGSCH A, MORAES CS, FORT P, PARK YK. (2007). BIOLOGICAL THERAPY USING PROPOLIS AS NUTRITIONAL SUPPLEMENT IN CANCER TREATMENT. INTERNATIONAL J CANC RES, V.3, P.43-53. 2. IKENO K, IKENO T, MIYAZAWA C. (1991). EFFECTS OF PROPOLIS ON DENTAL CARIES IN RATS. CARIES RES, V.25, P.347. 3. MANARA LR, ANCONI SI, GROMATZKY A, CONDE MC, BRETZ WA. (1999). UTILIZAÇÃO DA PRÓPOLIS EM ODONTOLOGIA. REV. FOB, V.7, P.15-20. 4. MARCUCCI MC. (2000). PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DE TIPAGENS DA PRÓPOLIS BRASILEIRA, PEDIDO DE PATENTE, INPI (BRASIL). 5. MURRAY MC, WORTHINGTON HV, BLINKHORN AS. (1997). A STUDY TO INVESTIGATE THE EFFECT OF A PROPOLIS-CONTAINING MOUTHRINSE ON THE INHIBITION OF DE NOVO PLAQUE FORMATION. JOURNAL OF CLINICAL PERIODONTOLOGY, V.24, N.11, P.796 798.