ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE SÍFILIS CONGÊNITA EM PALMAS - TOCANTINS. Jonathas Santos Oliveira¹; Sandra Maria Botelho Mariano² ¹Aluno do Curso de medicina; Campus de Palmas; e-mail: jonathas.oliveira@uft.edu.br PIVIC/UFT ²Orientador(a) do Curso de medicina; Campus de Palmas; e-mail: sandrabotelho@uft.edu.br RESUMO A sífilis congênita (SC) é uma doença infecciosa cujo agente etiológico é o Treponema pallidum, que se transmite ao feto por via hematogênica. A infecção do feto está na dependência do estado da doença na gestante: quanto mais recente a infecção materna, mais treponemas estarão circulantes e, portanto, mais severo será o comprometimento fetal. Este estudo teve como objetivo analisar a situação epidemiológica do município de Palmas em relação a essa patologia, a partir de variáveis como incidência, prevalência, frequência nos gêneros feminino e masculino, entre outros. Os dados foram coletados no Sistema de Informação de Agravo de Notificações (SINAN) em Palmas TO. A coleta de dados aconteceu na Secretaria Municipal de Saúde no período de setembro de 215 a dezembro de 215. No período, foram registrados 176 casos de sífilis congênita. A taxa de incidência saiu de 3,8467 em 211 para 6,9767 em 215. O teste do Qui-quarado para a variável sexo resultou num valor de p>,5 (insignificante) em todos os anos, com exceção de 215. A taxa de mortalidade por Sífilis Congênita, após ter sido nula nos anos de 212 e 213, voltou a crescer nos últimos anos, registrando uma taxa de,1563/1 nascidos vivos em 214 e,31/1 nascidos vivos em 215. A realização de estudos epidemiológicos tem se mostrado uma ferramenta essencial para acompanhar o desenvolvimento e o comportamento dessa doença ao longo dos anos, a fim de oferecer dados concretos que possam desencadear, futuramente, ações de conscientização, promoção da saúde, prevenção e tratamento da sífilis. Palavras chave: Sífilis congênita; Promoção da saúde; Transmissão; Treponema. INTRODUÇÃO A sífilis congênita é resultado da infecção transplacentária produzida pela espiroqueta Treponema pallidum e, raramente, é causada pela contaminação da criança em um momento posterior ao parto (RODRÍGUEZ-CERDEIRA e SILAMI-LOPES, 212). Um terço das gestações em 1
mulheres infectadas pelo Treponema e, não adequadamente tratadas, pode resultar em perda fetal e outro terço em casos de SC (ARAÚJO et al., 212; VALDERRAMA, ZACARIAS E MAZIN, 24; RAMOS JR et al., 24). Além dos seus efeitos em termos de mortalidade, prematuridade, baixo peso ao nascer e complicações agudas, a SC também é responsável por deformidades, lesões neurológicas e outras sequelas (ARAÚJO et al., 212). Apesar de ser considerada uma doença de fácil prevenção, no Brasil, estima-se que cerca de 5 mil brasileiras teriam sífilis gestacional (SG) em 28 e, considerando a elevada taxa de transmissão vertical (3% a 1%) (RAMOS JR et al., 24), mais de 15 mil crianças poderiam ter a forma congênita (ARAÚJO et al., 212; RAMOS JR et al., 24). Apesar das altas taxas de incidência obtidas com base nos dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), estima-se no Brasil um sub-registro em torno de 67% (ARAÚJO et al., 212; KOMKA e LAGO, 27). Dessa forma, este estudo objetivou analisar a situação epidemiológica do município de Palmas em relação a essa patologia, a partir de variáveis como incidência, prevalência, frequência nos gêneros feminino e masculino, entre outros, a fim de oferecer dados concretos que possam desencadear, futuramente, ações de conscientização, prevenção e tratamento da sífilis. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo é do tipo série de casos, onde foram levantados os casos de Sífilis Congênita notificados ao SINAN em Palmas TO. A coleta de dados aconteceu na Secretaria Municipal de Saúde no período de setembro de 215 a dezembro de 215. Foram incluídos todos os casos de sífilis congênita notificados ao SINAN no período de janeiro de 211 a dezembro de 215. Foram excluídas do estudo as fichas de notificação que contiverem duplicidades ou erro de processamento no banco. Os dados coletados foram inicialmente registrados em gráficos e tabelas produzidos no Microsoft Excel 213. Utilizou-se o software S 16. EV para o cálculo do qui-quadrado para a varável sexo. A tabulação e avaliação dos dados foram realizadas com o auxílio do programa Microsoft Excel 213. Foram calculados a incidência, prevalência e mortalidade de casos de sífilis, frequência anual referente a variável sexo. Além disso, calculou-se o número absoluto de gestantes diagnosticadas com sífilis materna, e sua idade média ao diagnóstico, o número de gestantes que realizaram o pré-natal, e o número de gestantes diagnosticadas com sífilis materna que fizeram tratamento medicamentoso durante a gestação. 2
RESULTADOS E DISCUSSÃO No município de Palmas foram registrados 176 casos de Sífilis congênita, entre janeiro de 211 e dezembro de 215. Neste período houve um aumento 95,66% no número de casos de Sífilis Congênita. Em 211 foram 23 casos, e em 215 registrou-se 45 casos (GRÁFICO 1). Gráfico 1 - Frequência Anual de Síflis Congênita 5 43 45 4 32 33 3 23 2 1 211 212 213 214 215 A tabela 1 apresenta a taxa de incidência de sífilis congênita. Destaca-se um elevado aumento dessa taxa entre os anos de 211 e 212, onde o valor passou de 5,1837 casos por 1 nascidos vivos em 213 para 6,725 caos por 1 nascidos vivos em 214. Tabela 1 Taxa De Incidência De Sífilis Congênita Para Cada 1 Nascidos Vivos. Ano 211 212 213 214 215 Taxa de incidência 3,8467 5,346 5,1837 6,725 6,9767 Segundo dados do Ministério da Saúde (215), em 213 a taxa de incidência desse agravo foi de 3,5 na região Norte e 4,7 no Brasil. De acordo com a tabela, a taxa de incidência de sífilis congênita em Palmas vem crescendo desde 211, estando acima das taxas da região Norte e do Brasil no ano de 213. A frequência de sífilis congênita foi maior no sexo feminino em todo período analisado. Ressalta-se o crescimento no número de casos no sexo feminino em 214, enquanto o número de casos no sexo masculino se manteve estável. Foram 23 casos de sífilis congênita no sexo feminino, e 16 no masculino. Em 215 o número de casos no sexo feminino continuou alto e crescente, enquanto no sexo masculino registrou-se queda para 15 casos (GRÁFICO 2). Outros tiveram o sexo ignorado na ficha de notificação, um total de 16 casos, ou seja 9% de todos os casos no período analisado. 3
O resultado da aplicação do teste qui-quadrado para a variável sexo durante o período analisado está expresso na Tabela 2. Tabela 2 Teste Qui quadrado para a variável sexo entre 211 e 215. Qui - quadrado 211 212 213 214 215 Valor,22 1,5,5 1,787 - Significância (p),881,35,943,181 - O teste do Qui-quarado para a variável sexo resultou num valor de p>,5 (insignificante) em todos os anos, o que indica ausência de uma relação direta entre sexo e a ocorrência de sífilis congênita. Não foi possível realizar o teste para o ano de 215 devido à ausência de dados. A média da idade materna das mulheres diagnosticadas com sífilis materna, variou entre 27,87 anos em 211 a 26,22 anos em 215. Em todo período a média de idade foi de 25,84 anos (GRÁFICO 3). 3, 28, 26, 24, 22, Gráfico 3 - Idade Materna Média por Ano 27,87 24,5 26,39 24,91 26,22 25,84 211 212 213 214 215 Total 6 4 2 Gráfico 4- Frequência De Gestantes Diagnosticadas com Sífilis Materna Que Realizaram Pré-natal 22 26 23 37 39 1 5 9 5 5 211 212 213 214 215 Sim Não Em 211 apenas 22 gestantes com sífilis materna realizaram o pré-natal, este número cresceu para 39 em 215 (GRÁFICO 4). Apesar disso o percentual de gestantes com sífilis materna que 4
realizaram o pré-natal caiu de 95,7% em 211 para 86,7% em 215. Em todo período analisado, 85% das gestantes com sífilis materna realizaram o pré-natal, e 15% não. Segundo Rodrigues (24) O principal fator responsável pela elevada incidência da sífilis congênita em todo o mundo é a assistência pré-natal inadequada. O autor destaca ainda outras variáveis que estão associadas a doença, como a pobreza, infecção pelo HIV, abuso de drogas e subutilização do sistema de saúde. De acordo com o Ministério da Saúde, além da garantia do acesso ao serviço de saúde, a qualidade da assistência pré-natal e no momento do parto é determinante para a redução da incidência de sífilis congênita. Em relação ao número de gestantes que fizeram tratamento para Sífilis Materna, tem-se uma alta frequência em todos os anos de gestantes que não realizaram o tratamento ou que o fizeram de forma inadequada. Das 45 gestantes diagnosticadas com sífilis materna em 215, 6 (15,33%) realizaram tratamento adequado, 25 (56%) tratamento inadequado e 14 (31%) não realizaram tratamento. (Gráfico 5) Gráfico 5 - Frequência De Gestantes Que Fizeram Tratamento Para Sífilis Materna 1 5 7782 1 13 1 9 22 1317 2 2 16 25 6 14 9 211 212 213 214 215 Total Adequado Inadequado Não realizado Uma das limitações deste estudo está relacionada à informação sobre o tratamento da gestante. Apesar do conhecimento sobre a medicação utilizada, não foi possível analisara idade gestacional, a fase da doença ou a dose prescrita, tampouco o tempo transcorrido desde o término do tratamento até o parto e o percentual de parceiros tratados, necessários para a análise dos dados. A taxa de mortalidade por Sífilis Congênita, após ter sido nula nos anos de 212 e 213, voltou a crescer nos últimos anos. Em 214 a taxa foi de,1563 por 1 nascidos vivos e em 215 de,31 por 1 nascidos vivos (TABELA 3). 5
e 215. Tabela 3 Taxa de Mortalidade por Sífilis Congênita por 1 nascidos vivos entre 211 211 212 213 214 215 Número de óbitos 1 1 2 Taxa de Mortalidade,1672,1563,31 Um dos eixos do Ministério da Saúde (Pacto pela Vida) orienta quanto à redução da mortalidade materna e infantil como uma das prioridades básicas, indicando a redução das taxas de transmissão vertical do HIV e da sífilis como estratégias para sua execução. O impacto de uma oferta adequada de serviços de saúde é mais significativo quando se considera que é a intervenção de mais curto prazo em saúde pública (duração de nove meses), com alta efetividade dos resultados, prevenindo desfechos adversos da gestação e reduzindo os gastos com a assistência ao recém-nascido. Para tanto precisa ser acessível e ter qualidade nos serviços. LITERATURA CITADA 1. ARAÚJO C.L., SHIMIZU H.E., SOUSA A.I.A., HAMANN E.M. Incidência da sífilis congênita no Brasil e sua relação com a Estratégia Saúde da Família. Revista de Saúde Pública, v. 46, n. 3, p. 479-486, 212. 2. KOMKA M.R., LAGO E.G. Sífilis congênita: notificação e realidade. Sci Med, v. 17, n. 4, p. 25-211, 27. 3. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 212 [citado 214 out 5] (Série A. Normas e Manuais Técnicos, Cadernos de Atenção Básica, n. 32). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_ basica_32_prenatal.pdf. 4. RAMOS JR A.N., MATILDA L.H., SARACENI V., VERAS M.A.S.M., PONTES R.J.S. Control of mother-to-child transmission of infectious diseases in Brazil: progress in HIV/AIDS and failure in congenital syphilis. Cad Saúde Pública OPS; 24. Disponível em: http://www.paho.org/spanish/ad/fch/ai/sifilis_cong_hi.pdf. Acesso em 5/3/215. 5. RODRÍGUEZ-CERDEIRA C, SILAMI-LOPES V.G. Sífilis congénita en el siglo XXI. Actas Dermo-Siliográficas, v. 13, n. 8, p. 679-693, 212. 6. Rodrigues CS, Guimarães MDC. Grupo Nacional de Estudo sobre Sífilis Congênita. Positividade para sífilis em puérperas: ainda um desafio para o Brasil. Rev Panam Salud Publica. 24 Sep;16(3):168-75. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço à Deus pela oportunidade de estar realizando este trabalho. Agradeço à Prof. Dr. Sandra Maria Botelho Mariano pelo apoio e orientação na execução deste projeto. 6