Índices para catálogo sistemático: Ensino Público 379.2 Educação e Estado 379



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Transcrição:

Conselho Editorial Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt 2014 Saulo Rodrigues de Carvalho Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. C2532 Carvalho, Saulo Rodrigues de. Políticas Neoliberais e Educação Pós-Moderna no Ensino Paulista/Saulo Rodrigues de Carvalho. Jundiaí, Paco Editorial: 2014. 156 p. Inclui bibliografia, inclui tabelas. ISBN: 978-85-8148-370-2 1. Ensino 2. Neoliberalismo 3. Pós-modernidade 4. Política educacional I. Carvalho, Saulo Rodrigues de. Índices para catálogo sistemático: Ensino Público 379.2 Educação e Estado 379 CDD: 370 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

À minha Marcia, companheira de todas as horas Aos meus queridos pais

Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas. (Maiakovski,1987)

SUMÁRIO Prefácio...9 Introdução...13 Parte 1 A função social do conhecimento na sociedade capitalista: a educação para o neoliberalismo e o pós-modernismo 1. O valor do conhecimento no capitalismo...23 2. A educação no neoliberalismo: a função social do conhecimento no modelo flexível de produção...39 3. O sentido das reformas em educação: a função prática do conhecimento...49 4. A incorporação da epistemologia construtivista pela política neoliberal: a função adaptativa do conhecimento...55 5. Pós-Modernismo e a instrumentalização do conhecimento: a função ideológica da formação de competências...64 6. O conhecimento escolar e a ideologia: a função social do conhecimento para a classe trabalhadora...75 7. O conhecimento para a cidadania: a emancipação humana interrompida...82

Parte 2 A função social do conhecimento na Proposta Curricular do Governo do Estado de São Paulo 1. Principais aspectos da Educação Paulista a partir de 1990 e as ingerências da política neoliberal...91 2. A evolução e desenvolvimento dos sistemas de avaliação e controle do ensino paulista: a escola subordinada ao capital...96 3. O aprimoramento do controle: entendendo os cálculos do Idesp...103 4. A consolidação do conhecimento prático-utilitário nas avaliações do Saresp: fragmentação do conhecimento e individualização da aprendizagem...114 5. O conhecimento escolar na nova proposta curricular de São Paulo...126 6. As Orientações Curriculares do Ciclo I, para Língua Portuguesa e Matemática: uma educação centrada no cotidiano...132 Considerações Finais...139 Referências...147

Prefácio Segura de que essa obra representa uma importante contribuição para os que almejam uma educação escolar pública de qualidade, é com imensa satisfação que a prefacio. Parafraseando Sánchez Vázquez, sabemos que a teoria não transforma a realidade, mas, sem ela, torna-se impossível conferir-lhe uma direção segura. O trabalho que ora se apresenta, resultado de pesquisa de mestrado sob título Políticas Neoliberais e Educação Pós-Moderna no Ensino Paulista, defendida em 2010 no Programa de Pós Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, campus de Araraquara, coloca sob análise o ideário pedagógico hegemônico no ensino estadual paulista desvelando seus princípios norteadores e suas estreitas alianças com as demandas neoliberais e pós-modernas que engendram a ordem do capital na atualidade. Os resultados desse ideário se expressam nos infindáveis problemas que têm vitimizado professores e alunos das escolas públicas estaduais paulistas de Ensino Básico, Fundamental e Médio, colocando seriamente em risco a possibilidade de que a escola cumpra sua função precípua: transmitir os conhecimentos historicamente sistematizados e referendados pela prática social dos homens. Ademais, cabe observar que o alcance da referida orientação político-pedagógica ultrapassa as fronteiras de um estado, no caso, o estado de São Paulo, posto que ele, meramente, reproduz prescrições federais. A análise desenvolvida nessa obra é clara, objetiva e consistente, e isso não é um acaso. Seu autor reúne as condições requeridas para tanto, a saber: um real engajamento a serviço da superação do capitalismo, consubstanciado na militância política que marca sua trajetória de formação pessoal e profissional. A experiência como professor na Rede Estadual Paulista, que lhe fornece os elementos concretos para uma exegese teórica, que se faz ancorada em sua experiência docente, isto é, a partir do chão da escola. Finalmente, um rigoroso compromisso acadêmico com o desvelamento da realidade pela mediação do aporte filosófico materialista histórico dialético e de teorias da educação nele fundamentadas. Destarte, esse trabalho é tecido como síntese dessas três condições, dado que o torna acréscimo de valor na análise da educação 9

Saulo Rodrigues de Carvalho escolar brasileira, uma vez que desvela as aparências das propostas educacionais oficias que ecoam, muitas vezes, como verdadeiros cantos de sereia em nome da melhoria do ensino público, mas que, em essência, o têm levado a uma triste falência, se consideramos que sua função na vida das pessoas não é a promoção de uma sociabilidade adaptativa a serviço da alienação, mas a elevação de sua humanidade. A educação escolar, como campo teórico-prático, carece urgentemente de obras como a que ora se anuncia. Em tempos neoliberais e pós-modernos, que proclamam o fim da luta de classes e porque não dizer, da própria existência de classes sociais antagônicas, demonstrar as formas e manobras pelas quais esse ideário falacioso se espraia em direção à educação escolar é mais que importante: é impreterível! Como diria Karl Marx, há que se recorrer à arma da crítica como uma das condições na luta por uma sociedade mais justa. Sem perder de vista que a educação escolar, como qualquer fenômeno, sintetiza múltiplas determinações, Saulo de Carvalho elege uma delas como esteira do exame empreendido: as relações entre formação escolar e atividade produtiva, destacando a contradição que se instala atualmente entre o dever ser da referida formação e as possibilidades concretas para sua realização. Deixa evidente que a efetivação de uma educação escolar pública a serviço da emancipação humana requer urgentemente a abolição das condições que lhe impõem obstáculos, dentre elas, o alinhamento das políticas públicas educacionais aos ditames neoliberais e pós-modernos. Sob a égide do sistema político-econômico vigente e das ideologias que lhe conferem sustentação, o ensino escolar se apresenta como estratégia importante para o atendimento das demandas hegemônicas desse sistema, no que se inclui a preparação dos indivíduos para o não trabalho para o trabalho alienado, em detrimento de uma formação para o trabalho no sentido ontogenético do termo. Tomando essa questão como objeto de análise, o autor evidencia o esvaziamento teórico tão em voga no ensino público brasileiro, conduzindo-se ao exame da concepção de conhecimento presente nos currículos resultantes das diretrizes oficiais que têm pautado o ensino e balizado a prática pedagógica. O lugar outrora ocupado por conteúdos de ensino fundamentados na ciência como teorização objetiva, histórica e universal acerca da realidade, passa a 10

Políticas Neoliberais e Educação Pós-Moderna no Ensino Paulista ser ocupado por conteúdos condicionados pelo pragmatismo e que pouco avançam em relação aos conhecimentos de senso comum. Pela via da desqualificação do conhecimento historicamente sistematizado, não cotidiano, desqualifica-se o próprio ato de ensinar, deixando professores e alunos reféns de sua própria experiência particular. Todavia, como muito bem demonstrado no livro em tela, essa nefasta tendência aparece mascarada por ideias e discursos que a afirmam voltada à formação das novas gerações tendo em vista prepará-las para as demandas sociais de um mundo em constantes transformações, para o qual mais importante que adquirir conhecimentos, dada sua transitoriedade, é o desenvolvimento de competências para se aprender a aprender. Nessa direção, a letra entoada por esse canto de sereia anuncia que por essa via serão formadas as personalidades flexíveis, criativas, autônomas e que, dentre outras coisas, saibam trabalhar em equipe e comunicar-se habilmente. Entretanto, o que se tem verificado na realidade concreta outra coisa não é, senão, uma semiformação escolar, expressa nos mais variados indicadores de qualidade que se queira adotar. Por princípio metodológico materialista dialético, a prática social é o critério de validação do conhecimento, ou por outra, da veracidade das ideias, de sorte que ela, implacavelmente, nos tem fornecido inúmeros elementos que corroboram a afirmação presente nesse estudo, segundo a qual os objetivos dos projetos educacionais oficiais coadunam-se com interesses de classe, longe de serem os interesses da classe trabalhadora. Essa é a temática que, em linhas gerais - como cabe a um prefácio, se apresenta nessa obra, que se encontra organizada em duas partes. A primeira, intitulada A função social do conhecimento na sociedade capitalista: a educação para o neoliberalismo e o pós-modernismo, volta-se ao exame do valor do conhecimento no capitalismo, com destaque à função social do conhecimento no modelo flexível de produção, ao sentido das reformas educacionais que fazem apologia da função prática do conhecimento, da formação de competências e do aprender a aprender, bem como à incorporação da epistemologia construtivista pela política neoliberal e pós-moderna. Contrapondo-se a tais orientações, o autor apresenta a real função do conhecimento para a classe trabalhadora na tensão que se 11

Saulo Rodrigues de Carvalho trava entre a educação escolar e a ideologia dominante, evidenciando quão distante a emancipação humana se encontra nos discursos e práticas oficiais, não obstante empunharem a bandeira do conhecimento a serviço da cidadania. Em sua parte dois, cujo título é A função social do conhecimento na Proposta Curricular do Governo do Estado de São Paulo, é feita a análise das principais características da educação paulista a partir de 1990 e as ingerências da política neoliberal e, nesse bojo, a evolução e desenvolvimento dos sistemas de avaliação e controle do ensino nesse estado como uma das estratégias de subordinação da escola aos ditames do capital. Nessa direção, o estudo esclarece a face oculta dos cálculos do Idesp corroborando a compreensão das contradições existentes entre seus objetivos explícitos e seus objetivos velados. Igualmente, em análise das avaliações do Saresp, deixa clara a fragmentação do conhecimento, a individualização da aprendizagem e a consolidação do conhecimento prático-utilitário que têm imperado na referida Proposta. Esse é o estofo a partir do qual a Proposta Curricular do Estado de São Paulo é apresentada, com destaque à natureza do conhecimento presente nela. Tendo em vista comprovar que a referida proposta condiciona uma educação escolar superficial e centrada no cotidiano, o autor apresenta e analisa as orientações curriculares do ciclo I para Língua Portuguesa e Matemática. Finalizando, conclui que a proposta em questão integra um projeto maior, cujo objetivo é a máxima funcionalidade do modelo produtivo capitalista, em detrimento de uma sólida formação escolar. Assim, considero que o estudo dessa obra é tarefa requerida a todos que direta ou indiretamente vinculam-se à educação escolar, na certeza que ela amplia os horizontes para as lutas contra a desvalorização da escola e do ato de ensinar e a favor de uma escola a serviço dos reais interesses da classe trabalhadora. Araraquara, 18 de julho de 2013. Lígia Márcia Martins É livre docente e doutora em Psicologia da Educação pela Faculdade de Ciências, da Unesp, campus de Bauru. (2001). Professora adjunta da Unesp, nos cursos de graduação em Psicologia (campus de Bauru) e pós-graduação em Educação Escolar (campus de Araraquara). Vice líder do Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq Estudos Marxistas em Educação. Autora do livro: A Formação Social da Personalidade do professor: Um enfoque vigotskiano (2007). 12

Introdução Nas últimas décadas, a educação escolar tem sido alvo de inúmeras críticas que põem em questionamento sua função em transmitir o conhecimento objetivo. Acusada de autoritária e retrógrada pela maioria das tendências educacionais que se pautam pela crítica à modernidade, seu ensino tem sido classificado como vazio e ineficiente. Ensinar passou a ser uma atividade prejudicial à educação das crianças. Em consequência a educação escolar tem sido direcionada a privilegiar conhecimentos cada vez mais arraigados à prática e a vida cotidiana, secundarizando e até mesmo suprimindo deste modo o saber elaborado e sistematizado das ciências. Esse movimento eclodido no interior da atividade escolar não é restrito, mas sim, parte de um conjunto de ideias que ganharam destaque nas últimas décadas do século XX. Trata-se, pois da crítica burguesa das ciências. A crítica da ciência moderna tem sido peculiarmente a crítica, crítica do nosso século e tem levado às últimas consequências o irracionalismo burguês, postulante da ausência de alternativas e da impossibilidade de se conhecer a verdade. Essa mesma crítica chega aos portões da escola causando um efeito devastador naquele que seria, em tom, gramsciano o seu núcleo de bom senso. Tal ideário reflete organicamente as bases materiais de um período de profundas transformações tecnológicas das forças produtivas do capital. Mudanças que permitem a sua rápida internacionalização e ampliação de sua capacidade de atuação. Tal fluxo da sociedade capitalista, em linhas gerais, provocou e tem provocado atualmente debates intensos em torno das atividades humanas, o que inclui a educação. Como um processo inerente ao capital, sua atuação sociometabólica não existe sem gerar crises econômicas. A crise materializada na economia capitalista reflete em outra instância em uma crise do pensamento burguês, o que nos leva a analisar bem mais de perto o problema do pensamento pedagógico contemporâneo, guardando suas proporções, como um problema da crise do capital. Vale ressaltar que o capitalismo é um sociometabolismo que realiza a mediação da transformação da natureza pelo homem (Mészarós, 2002). O capital é historicamente, uma 13

Saulo Rodrigues de Carvalho forma de produção desenvolvida pelas sociedades de classe, seu amadurecimento no século XIX institui a forma predominante de extração da natureza dos elementos necessários à constituição da vida humana. Tal forma se constituiu pela expropriação do trabalho excedente produzido por indivíduos que constituem a classe trabalhadora, por uma minoria detentora do capital. Essa forma particular de sociometabolizar 1 a natureza possibilitou a superação do período de carência da humanidade, isto é, o modo de produção capitalista, permitiu pela primeira vez na história que a produção social fosse capaz de suprir plenamente as necessidades dos indivíduos e continuar a desenvolver os meios de produção (Mészarós, 2002). Contudo, a produção capitalista desenvolveu-se sob a base de uma contradição insolúvel entre a produção social e apropriação individual da riqueza. O capitalismo conseguiu se livrar de todas as restrições da autossuficiência (presente nos sociometabolismos anteriores a ele) para se tornar no mais ativo extrator de trabalho excedente da história. Sua produção voltada para a obtenção de lucro e expansão da propriedade privada da classe dominante o transformou, na mesma medida, em um sistema que cria riquezas para a minoria e gera miséria para a grande maioria da população mundial (Mészarós, 2002) 2. A reprodução ampliada do capital baseada nas relações de propriedade, que por um período na história favoreceu o desenvolvi- 1. É interessante o uso da palavra metabolismo acompanhada pelo prefixo sócio (sociometabolismo), utilizada por Mészarós para conceituar o modo de produção humana, pois a mesma está muito mais associada ao campo da biologia, que nos remete a ideia de uma transformação constante, geradora de vida. Do grego a palavra metabolismo significa mudança, troca. Aqui tomamos emprestado o conceito de Mészarós num verbete, de modo que possibilite a compreensão da relação de produção humana, de intercâmbio com a natureza, não de maneira mecânica, mas viva, ativa e complexa, própria de um metabolismo. 2. Como descreve Marx (1985, p, 70) A economia política oculta a alienação contida na mesma essência do trabalho, porque não considera a reação direta entre o operário (o trabalho) e a produção. É evidente que o trabalho produz maravilhas para os ricos, mas para os trabalhadores produz privações e penúrias. Produz palácios, mas favelas para o trabalhador. Produz beleza, mas deformidades aos trabalhadores. Substitui o trabalho por máquinas, mas arrocha novamente a uma parte dos trabalhadores a um trabalho próprio de bárbaros e converte a outra parte deles em máquinas. Produz espírito, mas estupidez e cretinismo para os trabalhadores. 14

Políticas Neoliberais e Educação Pós-Moderna no Ensino Paulista mento das forças produtivas, de tempos em tempos dá início a crises econômicas que promulgam a decadência desse modelo de sociedade. Isso porque a concorrência capitalista e a universalização do mercado global trazem à tona o problema da superprodução de mercadorias. A produção capitalista fundamentada na propriedade privada necessita por em competição os capitalistas entre si, (o que demanda um maior investimento em máquinas e tecnologias para aumentar a produção e vencer a concorrência). Isso faz com que o capitalismo tenda a se reproduzir aumentando cada vez mais a produção, gerando maior abundância ao mesmo tempo em que aumenta a concentração da riqueza e da propriedade privada para as mãos da classe dominante. Para absorver a enorme quantidade de mercadorias produzidas o capitalismo carece prioritariamente da mediação do mercado de consumo. Historicamente essa mediação tem se tornado ineficaz, uma vez que a produção torna-se maior que a demanda. Satisfeitas as necessidades dos mercados existentes, acentua-se a tendência de queda do valor das mercadorias e de prejuízos aos capitalistas. Trocando em miúdos, quando o mercado se encontra repleto de mercadorias, a produção capitalista necessariamente diminui, gerando não só uma crise produtiva, mas uma crise social que desemboca no desemprego e diminuição de perspectivas de vida para a classe trabalhadora. Assim, as crises de superprodução não só passam a destruir um grande volume de produtos fabricados, mas também uma grande parte das forças produtivas desenvolvidas. Se antes esses ciclos se alteravam em momentos de desenvolvimento e momentos de crise, atualmente eles se tornaram mais concentrados e mais extensos. Um processo em que, para continuar se reproduzindo o capital precisa lançar mão de grandes investimentos, para aumentar o lucro em proporções cada vez menores. Isto é, a redução da taxa de mais-valia, o que gera perturbações no sistema do capital, que se arvora em formas híbridas de controle, abrindo espaço para uma produção altamente destrutiva (Ibid.) 3. 3. Neste ponto Mészarós (2002) relaciona formas que o capitalismo encontrou para se reproduzir, que aparentemente são contrárias à sua essência, como o Estado de Bem-Estar e o capitalismo chinês que se desenvolve por meio de uma 15