Educação Patrimonial e Estudo do Meio: metodologias para o ensino de história na educação básica.



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Transcrição:

Educação Patrimonial e Estudo do Meio: metodologias para o ensino de história na educação básica. Ricardo de Aguiar Pacheco 1 Resumo Os PCN s propõem que o ensino de história na educação básica parta de temas e objetos próximos ao contexto social do educando, relacionando-os a outros tempos e/ou espaços. Para atender essa perspectiva, muitos educadores utilizaram as metodologias da Educação Patrimonial e do Estudo do Meio. A primeira, segundo Maria de Lourdes Horta, é desenvolvida nas etapas da observação, registro, exploração e apropriação com vista a sensibilizar o educando para a importância da preservação dos elementos culturais. A segunda, para Circe Bitencourt, propõe a mediação didática da metodologia de pesquisa resumida nas etapas da problematização da realidade, coleta e análise dos dados, e intervenção no contexto estudado. No chão da sala de aula, contudo, estas metodologias têm se imbricado e inspirado experiências pedagógicas originais. Aqui desejamos refletir sobre as possibilidades dessas práticas pedagógicas contemporâneas. Palavras-Chave: Educação Patrimonial; Estudo do Meio; Metodologia do Ensino de História Abstract The PCN s considers that the education of history in the basic education it initiates of subjects and objects next to the pupil s social context, relating them with other times and/or spaces. To take care of this perspective, many educators had used the methodologies of the Patrimonial Education and the Study of the Way. The first one, according to Maria de Lourdes Horta, is developed in the stages of the comment, registers, exploration and appropriation to sensitize educating for the importance to preserve the cultural elements. The second, for Circe Bitencourt, it considers the didactic mediation of the research methodology summarized in the stages of the questioning of the reality, collects and analysis of the data, and intervention in the studied context. In the soil of the classroom, however, these methodologies have mixed and inhaled original pedagogical experiences. We desire to reflect about the possibilities of these practical pedagogical contemporaries. Key-Words: Patrimonial Education; Study of the Way; Methodology of History Teaching. As alterações no regramento da educação que extinguiram os currículos mínimos propostos pela antiga LDB (lei 5692/69) e que estabeleceram os Parâmetros Curriculares Nacionais (lei 9394/96) demandam dos professores o repensar de suas práticas pedagógicas. Diferentemente das gerações passadas, aos professores do século XXI não cabe repetir um programa já consagrado. Reproduzir um currículo oficial e universal para todas as escolas brasileiras. A regra agora é trabalhar o saber sistematizado pela humanidade a partir da realidade local. Os professores atuais devem selecionar saberes e fazeres que sejam significativos para a comunidade local. 1 Professor da UFRPE; Doutor em História. 1

Muitos nós e confusões após a publicação da nova LDB e dos próprios PCNs nos anos 90 e os professores ainda se perguntam como realizar tal tarefa. Longe de esgotar o assunto proponho duas metodologias de ensino que, não sendo exclusivas da disciplina escolar de história, podem auxiliar muito os professores de história. Uma o estudo do meio, proposta no próprio texto dos parâmetros curriculares. Outra, a educação patrimonial. Vejamos o que elas têm em comum e no que se diferem como metodologias de ensino escolar. Entendo que planejar a ação educativa é uma arte. Cada planejamento de ensino é uma peça única. Uma reflexão genuína que articula características únicas de um grupo de educandos aos objetivos traçados pelo educador. Esta arte, contudo, pode ser iluminada por algumas metodologias. José Carlos Libâneo ( LIBÂNEO,1990: p.152) diz que Em resumo, podemos dizer que os métodos de ensino são as ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos alunos para atingir objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo específico. As metodologias de ensino são esquemas de ações que propõem a sequência de determinadas etapas na execução de uma determinada tarefa. Utilizar uma metodologia para o planejamento e execução de uma atividade pedagógica não pode ser entendido como a anulação da criatividade do educador. Antes, significa traduzir para o campo do realizável certa sequência lógica de ações já previamente pensada e testada. Ou seja, tal como outras ciências, a Didática também tem seus métodos para atingir seus objetivos. O Estudo do Meio Circe Bittencourt (BITTENCOURT, 2005: p. 273) em seu manual sobre a metodologia do ensino escolar de história apresenta uma sistematização da metodologia do estudo do meio. Segundo a autora: O estudo do meio é um método de investigação cujos procedimentos se devem ater a dois aspectos iniciais. O primeiro deles é que esse método é um ponto de partida, não um fim em si mesmo. O segundo é que sua aplicação resulta sempre de um projeto de estudo que integra o plano curricular da escola (. )Para a realização do estudo do meio, há que se tomar uma série de cuidados, porque seus objetivos englobam três aspectos: o aprofundamento de conteúdos (conceitos e informações de cada uma das disciplinas envolvidas), a socialização dos alunos e a sua formação intelectual (observação, comparação, analogias) Para estruturar esta tarefa Circe propõe uma metodologia, uma sequência de ações logicamente estruturadas. Vejamos: 1º promover situações que conduzam os alunos a problematizar sua realidade. 2º estabelecer estratégias para a coleta e análise dos dados coletados desta realidade. 2

3º conduzir o aluno a desenvolver ações de intervenção no contexto social estudado. Logo vemos que o estudo do meio não é uma metodologia voltada para a memorização de um determinado saber específico, como a fases da Revolução Francesa, por exemplo. Quando se planeja e executa uma atividade seguindo esta metodologia o professor provoca seus alunos a olharem para o mundo com curiosidade, a pensarem nas estratégias para a troca e apropriação das informações necessárias à intervenção em seu meio social. O educador deve promover situações pedagógicas para o desenvolvimento das habilidades cognitivas necessárias aos alunos para solucionarem os problemas concretos que vivenciam. Ou seja, mais que a reprodução de um saber específico, aqui ganha valor o uso dos saberes para a o entendimento e a resolução de situações concretas do cotidiano do aluno. A Educação Patrimonial A Educação Patrimonial é outra metodologia de ensino, outra sequência de ações que visa orientar o professor no planejamento de suas ações pedagógicas. Para Maria de Lourdes Parreiras Horta essa metodologia tem nos museus seu lugar por excelência. Contudo, a própria autora aponta que esta metodologia pode ser aplicada a qualquer objeto cultural em qualquer contexto educativo, seja ele formal ou informal. Na definição proposta por Horta (HORTA, 2003) a educação patrimonial consistiria em (...) um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Ou seja, Maria de Lourdes Horta propõe uma metodologia de ensino que, explorando o objeto cultural, se desdobre em quatro momentos que se sucedem, muito embora possam se sobrepor. São elas: O 1º momento é a Observação do objeto quando propõe sejam feitos exercícios de percepção sensorial do objeto onde se identifica sua função e/ou significado social. O 2º momento é do Registro. Neste se solicita a anotação das informações que o próprio objeto oferece. Isso pode ser realizado de diferentes formas e com diferentes níveis de complexidade, como o desenho, a descrição verbal ou escrita, a construção de maquetes, etc. O 3º momento é o da Exploração onde se deseja que o aluno pesquise em outras fontes para completar as informações sobre o objeto. No 4º momento se conduz a Apropriação. Essa tarefa demanda uma releitura do objeto em diferentes linguagens esperando-se que o público da ação de educação patrimonial faça uma recriação dos significados do objeto e se sinta afetivamente envolvido com ele. 3

Três experiências no chão da sala de aula No cotidiano da sala de aula estas metodologias têm servido para o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas. No momento, para os efeitos deste trabalho, apresento três trabalhos pedagógicos que se utilizaram dessas referências metodológicas nos quais tive algum envolvimento efetivo. O primeiro projeto foi chamado UFRGS: lugar de memória: utilizando a metodologia da educação patrimonial nos prédios históricos. Desenvolvido com alunos da 5ª série do ensino fundamental no ano de 2004. Nesta ação os alunos foram convidados a pesquisar no site da universidade os dados históricos dos prédios do campus central da UFRGS (Porto Alegre/RS). São 14 edificações construídas entre 1896 e 1910 onde se estabeleceram as primeiras Faculdades em Porto Alegre. Num segundo momento, os alunos foram conduzidos em um roteiro a pé de visitação a estas edificações. Nesse momento cada aluno poderia utilizar uma máquina fotográfica carregada pelo professor para bater duas fotos onde aparecesse algum prédio histórico. Na volta à sala de aula as fotos foram distribuídas aos alunos. E cada aluno deveria contar oralmente sua experiência pessoal com aquele prédio da universidade. A segunda atividade que apresento é a Visita as Missões Jesuíticas (São Miguel da Missões/RS) com alunos do ensino médio no ano de 2005. Nesse projeto os alunos foram informados, em sala de aula, do processo histórico de formação das missões e das disputas pelo espaço durante o século XVII entre o Império Português, Império Espanhol, Companhia de Jesus e as nações indígenas locais. Num segundo momento, foi realizada uma visita aos sítios históricos das ruínas das missões jesuíticas em sete cidades da região noroeste do RS. Nesta saída de campo cada aluno carregava sua máquina fotográfica para registrar a atividade. Na volta à escola o professor reuniu um conjunto de fotos realizadas pelos alunos nas quais os bens patrimoniais apareciam e as publicou na web. Com isso, todo o grupo do primeiro ano, mesmo os que não participaram da atividade de campo, tiveram acesso às imagens. No momento seguinte, cada aluno deveria escolher uma imagem para realizar uma redação sobre o local visitado. A terceira atividade foi um projeto de extensão desenvolvido na FURG no ano de 2008 com alunos das licenciaturas em história e pedagogia chamado A Educação 4

Patrimonial na Cidade de Rio Grande como Estratégia Didática para a sensibilização, apropriação e significação dos bens culturais. O projeto de extensão desenvolveu dois encontros onde foi apresentada a metodologia da educação patrimonial. Após, foi feito um roteiro pelo centro histórico da cidade de Rio Grande que é o primeiro núcleo urbano do RS. Com estes elementos teóricos e práticos os participantes, em grupos, formalizaram planejamentos propondo diferentes roteiros, usos e abordagens sobre os bens patrimoniais desse sítio histórico. Por fim, como estava previamente agendado, cada grupo recebeu em Rio Grande um grupo de estudantes de história da cidade de Porto Alegre e outro da cidade de Osório executando o roteiro planejado. Os métodos no novo contexto da sala de aula Cada uma dessas atividades teve suas características, limitações e problemas operacionais próprios. Mas todas elas foram iniciativas que utilizaram as referências metodológicas da Educação Patrimonial e do Estudo do Meio. Servem, portanto, como referências para nossa reflexão sobre o papel das metodologias no ensino. 1. Um primeiro apontamento diz respeito ao público destas atividades. As atividades apresentadas foram desenvolvidas em três níveis de ensino: o fundamental o médio e o superior. Logo, entendemos que estas metodologias são aplicáveis a grupos de qualquer idade ou nível de escolarização não se constituindo em atividade lúdica, voltada apenas aos menores, ou de uma investigação por demais complexa sendo indicada apenas para os maiores. 2. Uma segunda reflexão diz respeito ao que está sendo ensinado nesses projetos. A educação numa visão tradicional é entendida como a transmissão de informações específicas. Para esse tipo de educação, é bom que se diga logo, estas metodologias não são convenientes. O estudo do meio e a educação patrimonial estão baseados numa visão de educação mais ampla. Entendida como o processo formativo do sujeito a educação deve se ocupar em desenvolver as habilidades necessárias para que os sujeitos interpretem e dêem significado ao mundo que os cerca. Nesse caso, a informação específica não é o foco, mas o apoio para a produção de saberes e fazeres mais complexos. Tais como a produção de identidades e a problematização do mundo social. 3. Um terceiro apontamento é que estas metodologias, muito embora exijam um envolvimento sujeito-objeto, não se limitam ao estudo do espaço circundante do aluno. É 5

possível e realizável atividades de estudo do meio e de educação patrimonial com objetos fisicamente distantes dos alunos. As saídas de campo bem planejadas podem e devem ser utilizadas como uma ferramenta que supera estas distâncias e possibilitam o contato com os bens culturais de locais e comunidades distantes. 4. Uma quarta observação diz respeito às etapas propostas pelas metodologias. Uma metodologia de ensino é, por assim dizer, uma proposta teórica sobre como se realizar uma atividade pedagógica. A operacionalização, a prática concreta de cada ação de educação patrimonial e/ou de estudo do meio vai ter demandas próprias que necessitam ser consideradas e superadas. Assim, entendemos as metodologias como indicativo e não como um imperativo. Concretamente falando, sabemos que, partindo de sala de aula, o contato com o objeto cultural não é o ponto de partida da ação educativa. Tal como propõe a educação patrimonial. O mesmo vale para a etapa do reconhecimento do espaço social, proposto como primeiro momento da metodologia do estudo do meio. Por fim, gostaríamos de concluir lembrando que o contexto social e político no qual se insere a escola brasileira sofreu significativas alterações nas últimas décadas. Isso faz com que muitas referências sobre o que seja uma boa aula, uma aula que atenda aos interesses sociais e políticos de nosso tempo-espaço tenha se alterado. Nesta necessária adequação da escola e do professor contemporâneo ao concreto da sala de aula do século XXI as metodologias de ensino, entendidas como o pensar sistemático sobre a ação pedagógica, são e sempre serão referências importantes para o bom planejamento de ensino. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2004. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1990. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Educação Patrimonial. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/ep/index.htm 6